Por Mario Sales
Existem algumas reflexões, que por serem óbvias não se tornam mais fáceis de serem aceitas como verdadeiras.
Uma delas é sobre a Criação.
Acompanhem meu raciocínio: se Deus é tudo que existe, e está
na Sua obra, como cada artista se faz presente em sua arte por completo, não
existe uma parte do Universo manifesto que não seja manifestação do Altíssimo.
De forma que o corpo, a sexualidade, as vicissitudes da existência
são manifestações do Divino, e por isso, igualmente divinas.
Atribuir o adjetivo de impuro a qualquer ato sob os céus, céus
que foram criados pelo mesmo Deus, é achar que existe algo na Criação, ou seja,
algo em Deus, que não é digno.
Dito de outra forma, para essas pessoas, uma parte de Deus é
ruim e não é digna.
Um absurdo lógico, uma contradição, que só é possível em
mentes limitadas pelo preconceito e pela ignorância.
E tudo parte da incompreensão do papel de Maya. Chamar o
mundo invisível de puro e Maya de impuro; caracterizar a vida fora do corpo
como real, e aquela dentro do corpo como uma “perigosa ilusão”, beira as raias
do ridículo.
Supor que esta dimensão de existência é menos importante do
que as outras segue a linha de pensamento que vê Deus como algo distante
espacialmente falando, e não uma presença imanente e permanente. Supor que o
local onde se dá a formação das almas, sua educação, seus exercícios no campo
da misericórdia e do serviço é o mais baixo dos planos da Criação, é um
equívoco atávico em textos esotéricos de várias épocas.
Correndo o risco de ser redundante, repito que Maya é uma
área tão real como todas as outras dimensões de manifestação, pois a noção de
realidade evoluiu com a evolução do pensamento esotérico.
Real não é aquilo que é palpável, nem para o Ocultismo e nem
para a ciência. Real é aquilo do que temos consciência de existir, que
percebemos como tal, não importa se é uma simulação de computador ou se estamos
em meio a natureza.
Os estudos de neurofisiologia funcional demonstram que para
nosso cérebro, a imagem de uma maçã e a maçã em si causam o mesmo impacto e
desencadeiam as mesmas respostas orgânicas.
É real o que é real para nós. Portanto, tudo aquilo de que temos
consciência é real para nós e tem a mesma densidade comparativamente de uma
pedra, pedra esta que já foi antigamente um referencial de solidez e realidade.
Ou aceitamos a criação como ela é, inteira, e a consideramos
como a única realidade que nos importa, enquanto nela estivermos, ou não
usufruiremos de nosso direito de habitar este Universo e extrair das
experiencias aqui vividas toda a gama de aprendizado que formos capazes de
absorver.
Maya não é o problema. Confundir-se com Maya, sim.
Assistir um filme de cinema não é o problema, mas supor que
os personagens fictícios do filme são reais, sim.
Não é por sabermos que a fantasia é uma ficção que não
podemos nos divertir e aprender com ela.
Não é porque achamos certas coisas melhores e mais dignas do
que outras que elas automaticamente assim serão. Nossa percepção modifica a
realidade que testemunhamos, como o molho muda o sabor do macarrão.
Sem ausência de preconceitos, a completa aceitação do que é
será sempre uma impossibilidade. Sem aceitar uma parte de Deus, nunca
aceitaremos Sua presença em nós de forma completa.
Pois é Frater, minha evolução alcançou um nível de consciência em que não vejo a Terra como purgatório, mas como um verdadeiro paraíso. Infelizmente, é a humanidade que transforma a Terra em um inferno!
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