Multi pertransibunt et augebitur scientia (Muitos passarão, e o conhecimento aumentará).

quarta-feira, 24 de novembro de 2021

A COMPLETA ACEITAÇÃO

 

Por Mario Sales



Existem algumas reflexões, que por serem óbvias não se tornam mais fáceis de serem aceitas como verdadeiras.

Uma delas é sobre a Criação.

Acompanhem meu raciocínio: se Deus é tudo que existe, e está na Sua obra, como cada artista se faz presente em sua arte por completo, não existe uma parte do Universo manifesto que não seja manifestação do Altíssimo.

De forma que o corpo, a sexualidade, as vicissitudes da existência são manifestações do Divino, e por isso, igualmente divinas.

Atribuir o adjetivo de impuro a qualquer ato sob os céus, céus que foram criados pelo mesmo Deus, é achar que existe algo na Criação, ou seja, algo em Deus, que não é digno.

Dito de outra forma, para essas pessoas, uma parte de Deus é ruim e não é digna.

Um absurdo lógico, uma contradição, que só é possível em mentes limitadas pelo preconceito e pela ignorância.

E tudo parte da incompreensão do papel de Maya. Chamar o mundo invisível de puro e Maya de impuro; caracterizar a vida fora do corpo como real, e aquela dentro do corpo como uma “perigosa ilusão”, beira as raias do ridículo.

Supor que esta dimensão de existência é menos importante do que as outras segue a linha de pensamento que vê Deus como algo distante espacialmente falando, e não uma presença imanente e permanente. Supor que o local onde se dá a formação das almas, sua educação, seus exercícios no campo da misericórdia e do serviço é o mais baixo dos planos da Criação, é um equívoco atávico em textos esotéricos de várias épocas.

Correndo o risco de ser redundante, repito que Maya é uma área tão real como todas as outras dimensões de manifestação, pois a noção de realidade evoluiu com a evolução do pensamento esotérico.

Real não é aquilo que é palpável, nem para o Ocultismo e nem para a ciência. Real é aquilo do que temos consciência de existir, que percebemos como tal, não importa se é uma simulação de computador ou se estamos em meio a natureza.

Os estudos de neurofisiologia funcional demonstram que para nosso cérebro, a imagem de uma maçã e a maçã em si causam o mesmo impacto e desencadeiam as mesmas respostas orgânicas.

É real o que é real para nós. Portanto, tudo aquilo de que temos consciência é real para nós e tem a mesma densidade comparativamente de uma pedra, pedra esta que já foi antigamente um referencial de solidez e realidade.

Ou aceitamos a criação como ela é, inteira, e a consideramos como a única realidade que nos importa, enquanto nela estivermos, ou não usufruiremos de nosso direito de habitar este Universo e extrair das experiencias aqui vividas toda a gama de aprendizado que formos capazes de absorver.

Maya não é o problema. Confundir-se com Maya, sim.

Assistir um filme de cinema não é o problema, mas supor que os personagens fictícios do filme são reais, sim.

Não é por sabermos que a fantasia é uma ficção que não podemos nos divertir e aprender com ela.

Não é porque achamos certas coisas melhores e mais dignas do que outras que elas automaticamente assim serão. Nossa percepção modifica a realidade que testemunhamos, como o molho muda o sabor do macarrão.

Sem ausência de preconceitos, a completa aceitação do que é será sempre uma impossibilidade. Sem aceitar uma parte de Deus, nunca aceitaremos Sua presença em nós de forma completa.

Um comentário:

  1. Pois é Frater, minha evolução alcançou um nível de consciência em que não vejo a Terra como purgatório, mas como um verdadeiro paraíso. Infelizmente, é a humanidade que transforma a Terra em um inferno!

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