14 de novembro de 2010
“A Vida e a Terra são uma só. Disso nunca devemos nos esquecer.”
“Querer aprender sempre mais reflete a nossa curiosidade. Acreditar poder saber tudo reflete apenas uma ilusão.”
“Parafraseando Einstein (que parafraseava Kant), teoria sem experimentos é cega, e experimentos sem teoria são aleijados.”
“A ciência que criamos é apenas isso, nossa criação. Mesmo que maravilhosa, será sempre limitada pelo que podemos conhecer do mundo. E como nunca poderemos conhecer tudo que existe, nossa ciência será sempre incompleta”
Estas frases acima, colhidas do livro de Marcelo Gleiser, “Criação Imperfeita” (Ed.Record, 1ª edição,2010) são de um tal primor filosófico que chama atenção deste místico.
Longe de mim atribuir-lhe um sentido que no original não trazia, mas as ilações que resultam desta apresentação franca e humilde do conhecimento intelectual e científico expressam bem a postura que eu gostaria presente nos frateres e sórores da Ordem Rosacruz.
Primeiro a humildade diante das limitações operacionais do intelecto. Os cientistas são vistos de modo estereotipado como arrogantes e intolerantes com tudo aquilo que não seja cientificamente fundamentado. O texto de Marcelo mostra que os cientistas podem ser de tipos os mais variados, já que arrogância, intolerância e vaidade são idiossincrasias ligadas a traços de caráter e não a profissão do indivíduo em si.
Muitas vezes conheci arrogância, intolerância e vaidade entre espiritualistas, homens que se diziam envolvidos com o sagrado.
Segundo, o senso de pertencimento a raça humana, independente de quaisquer sub-características que a diferenciem.
Terceiro, em função disto, o senso de respeito ao fenômeno humano no seu conjunto, a Vida, várias vezes no livro, referida como rara e surgida em condições muito peculiares, independente da aparente hostilidade das circunstâncias, mas produto de uma combinação feliz e delicada. Em moral isto se chama altruísmo, a importância do outro, não no sentido de manifestação de bondade especial, mas pelo reconhecimento da interconexão social entre todos os habitantes deste planeta.
Portanto, este elegante ensaio mostra que podemos chegar às mesmas conclusões ( a importância da Vida, o respeito ao meio ambiente e a todos os seus habitantes, a busca por um conhecimento sólido e livre de preconceitos, a busca por um pensamento sensato, ciente de suas limitações atuais e futuras, como instrumento par conhecer a Verdade)através de caminhos absolutamente diversos e, às vezes, considerados opostos e antagônicos.
Místicos são pessoas ligadas ao invisível, à trabalhar valores intangíveis e difíceis de demonstrar, mas que são possíveis de sentir, de perceber através do aparelho mais elaborado já construído: o corpo humano.
Cientistas precisam de demonstrações ou cálculos matemáticos que demonstrem a realidade das coisas que postulam e que após as demonstrações que os comprovam, tornam-se axiomas. A sensibilidade pode ser um problema dentro desta visão, já que a subjetividade pode impedir a clareza das conclusões.
O tempo e o trabalho científico mostrou que sim, realmente o observador influencia o observado, que o experimentador modifica apenas com a sua presença o rumo da experiência, pelo menos em física quântica, mas também em antropologia, na psiquiatria pré psicofármacos, ou em uma área de saber não considerada científica, mas que alcançou grande prestígio intelectual ao longo do século XX: a psicologia.
Ciência e Misticismo são áreas que caminharam separadas desde o advento do positivismo de Auguste Conte, mas é bom lembrarmos, sempre, que os pais do pensamento cético metodológico, do cálculo infinitesimal que fundamenta muitos dos trabalhos científicos modernos e da metodologia científica eram membros de Ordens Esotéricas Místicas, e , para meu orgulho , Roacruzes.
Eu me refiro a Francis Bacon, Renée Descartes, Leibnitz e sir Isac Newton. Eram homens extremamente racionais , avessos à superstições, mas absolutamente comprometidos com o trabalho de melhorar a humanidade e preservar a tradição esotérica que talvez não seja outra coisa senão a ciência de uma outra época, hoje esquecida em meio a cataclismos geológicos e rupturas da linha histórica da sociedade.
Provavelmente entre cientistas e entre místicos, existam pessoas conectadas com a mensagem desses quatro homens citados, que não viram barreiras entre o uso de suas sensibilidades (Descartes sempre citava a importância dos sonhos em suas elaborações filosóficas) e o trabalho racional e fundamentado.
Não há conflitos entre místicos e cientistas, mas entre seres humanos diferenciados, estejam aonde estiverem, representando na sociedade o papel que representarem, e outros seres, medíocres espiritualmente, em todos os sentidos que a palavra espírito possa representar.
Marcelo Gleiser é um desses espíritos diferenciados.
Sua mente clara e sua sensibilidade inspiram o que há de mais fantástico na espécie humana: seu amor ao conhecimento, sua curiosidade, e sua capacidade de querer entender seu papel neste Universo imenso que o cerca, aparentemente em estado de profunda solidão.
Neste sentido, místicos e cientistas são parecidos: ambos estão em busca de sentido para suas existências, e de consciência, já que nas palavras de um antigo pensador alemão Husserl, a “consciência é doadora de sentido”.