Por Mario Sales, FRC,SI,MM
Eu assumi um cargo maçônico, de dois anos, na minha Loja,
que diz respeito ao aprofundamento dos estudos dos altos graus da Maçonaria, do
4 ao 18.
Trata-se (não riam, por favor) da função de “Três Vezes Poderoso
Mestre” do Capítulo de Perfeição do Cavaleiro Rosacruz “Jorge Antonio Fernandes”,
função na qual coordeno debates sobre
temas mais refinados do que a beneficência social, à qual as Lojas Maçônicas
dos três graus simbólicos estão habituadas. Como o nome diz, trata-se de um
colegiado que visa a busca, pelo debate, da perfeição interior.
Não é um tema atraente ou que arrebate as atenções de todos.
Não há ali, necessariamente, o característico encontro social, com a
confraternização decorrente, com alimento e vinho, comum às reuniões ordinárias
da Loja Base.
A esses encontros que ocorrem, dentro ou fora da área física
da Loja, após as reuniões, chamamos em Maçonaria de “O Copo D’água”, referência
ao momento em que os trabalhadores faziam uma pausa para descanso de seu
extenuante trabalho de pedreiros medievais.
Voltando ao tema, tenho tido dificuldade de ter quórum para
as reuniões do capítulo.
A quantidade de membros é exígua, e às vezes, no inicio
deste ano, foi insuficiente para a realização de um ritual ortodoxo.
Mesmo assim, coordenei com os que estavam presentes discussões
sobre temas que achei serem fundamentais à reflexão dos maçons, entre eles,
Liberdade, Fraternidade e Igualdade, que sempre são passados como coisas dadas
e que, ao contrário, demandam uma elaboração um pouco mais profunda, de forma a
revelar as contradições internas destes paradigmas, como o caso da Igualdade
entre todos, em si impossível de acontecer, já que somos seres heterogêneos, ou
da Liberdade, a qual só pode ser compreendida no seu aspecto físico, que se
refere a estar ou não atrás de grades, a ser ou não vítima da escravidão.
Considerando que em princípio, a escravidão está praticamente extinta,
persistindo em áreas desoladas do planeta como prática criminosa apenas, e que
o fato de pertencer a uma Loja Maçônica, já estabelece que o indivíduo não seja
portador, na maioria das vezes, de graves pendências judiciais, resta a
discussão da Liberdade como aspecto psicológico e pessoal, o que torna a
discussão muito, mas muito mais complexa.
Achei que tinha feito por onde abraçar temas apaixonantes ou
que gerassem considerações e inquietações importantes, função ligada a um
chamado “Capítulo de Perfeição”.
Ontem, entretanto, tivemos mais uma reunião e, como sempre,
elaboramos sobre temas de peso, tendo como tema “A Relatividade dos conceitos
de Bem e de Mal”.
Ao contrário de outras reuniões, havia um quórum
satisfatório, e a reunião prosseguiu de forma protocolar.
Após o encontro, fomos todos jantar em um restaurante perto,
realizando o “Copo D’Água”, como de hábito fazemos após os encontros.
Durante o jantar, vira-se um irmão para mim e diz
satisfeito:
“Hoje fizemos um bom Capítulo!”, referindo-se a presença em
número maior dos Irmãos.
Questionei-o se as outras reuniões não tinham sido também,
igualmente boas, ao que ele retrucou:
“- Claro que não, não tinha ninguém!”.
Ao que eu respondi, inspirado:
“-Como ninguém? Você não estava presente? A sua presença é a
única coisa que importa”, afirmação que o fez ficar embaraçado e perplexo.
Não quis ser gentil. Não estava tentando agradá-lo, em
detrimento de outros.
Queria chamar a sua atenção para o fato de que elaborações
profundas sobre temas filosóficos necessitam, no mínimo, de apenas uma pessoa,
aquela que medita dentro de sua consciência, sobre o tema proposto.
Embora exista um ritual a ser cumprido, o numero de pessoas
presentes não diminui a necessidade de que cada um isoladamente seja um Templo Interior dentro do Templo Exterior, Templo Interior este no
qual os verdadeiros trabalhos de aprofundamento do tema são feitos.
Para Maçons é muito difícil entender esta diferença. Seus
olhos estão postos no que está fora, no mundo visível, sendo quase impossível
divisarem o invisível com a mesma nitidez. Daí apegarem-se tanto a forma, ao
Continente, o chamado “Ritual”, que tentam com grande esforço proteger de
adulterações, missão quase impossível em uma Ordem que possui mais de duzentos
ritos diferentes, fora as alterações que cada Potência, em todos os países, promove
aqui e ali, pontualmente, alterações estas que visam estabelecer uma
caracterização e uma marca própria de sua visão ritualística, muitas vezes
banal e sem significado.
Os Maçons estão se afogando na forma, sem o ar da essência.
Adoram como a um deus pagão o Continente, sem se dar conta
que a Vida da Ordem, a qual eles chamam de Sublime, depende muito mais do
Conteúdo.
E eu sinceramente não sei como isso possa ser diferente, ou
com de alguma maneira pode ser revertido. Toda a orientação do discurso e da prática
maçônica foca seus esforços em detalhes bizantinos, em mover as peças no
tabuleiro para a esquerda ou para a direita, como num xadrez interminável, o
qual embora rico em variações não pode jamais ultrapassar os limites do pequeno
tabuleiro aonde ocorre.
A consequência disso é uma espécie de inquietação
cerimonial, de obsessão com detalhes, da perda da conexão entre o símbolo e
aquilo que o símbolo quer e deveria representar.
Quem imaginou este ritual o fez na intenção de enviar uma
mensagem às gerações futuras. Uma mensagem aprisionada nos gestos, toques e
sinais, que estão em nossos rituais.
Uma mensagem que, ao que tudo indica, foi esquecida,
emudecida, e que jaz aprisionada dentro do envelope em que foi colocada.
Ou abrimos esta carta, ou espiritualmente pereceremos, como
Ordem, Sublime ou não, e como indivíduos que fazem parte desta Ordem.
Precisamos, novamente alerto, redescobrir a mensagem oculta nos
símbolos, antes que o Continente, o aspecto Externo, a Forma, nos devore e nos
faça crer que o Fenômeno é mais importante que o Númeno, nos transformando em
cascas vazias, sem alma, cadáveres esotéricos insepultos, a assombrar lojas
cada vez mais vazias, como tétricos castelos abandonados, com certeza por causa
disso mesmo.
http://filosofiaaberta.weebly.com/blog/esclarecimento
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