Por Mario Sales,FRC,SI,MM
Rainer Maria Rilke
Cá estou a ler os textos de um leitor.
Carinhosamente, confidenciou-me seus escritos pessoais na intenção de que eu fizesse sugestões e um trabalho de copydesk de seus ensaios.
É comovente.
Lembrei-me de Rilke e de suas palavras no seu conhecido opúsculo “Cartas a um jovem Poeta”, em que fala da sua “necessidade imperiosa de escrever, acometendo-o na calada da noite, forçando-o ao gesto da escrita, e confessa, sinceramente, que morreria caso lhe fosse vedado escrever. Uma obra de arte só é boa quando nasce desta necessidade”.
Vejo neste ensaísta que me manda em confiança seus textos a mesma necessidade. E isso, só isso, já garante que, em alguns anos, tornar-se-á um escritor fecundo, produtivo, e ajudará, como fazem todos os escritores, outras almas a organizarem seus sentimentos ao lerem seus textos.
Porque é isso que um texto faz: ele disciplina emoções, aprisiona-as em letras e, magicamente, dá-lhes a forma possível que o texto permite.
O escritor sopra sobre a página em branco e ela ganha vida. Seu hálito são as palavras silenciosas que ele não pronuncia, mas desenha na folha à sua frente.
Acredito que a necessidade de expressão seja o laço comum entre todos os seres humanos; todos precisam superar, transcender esta imensa solidão que nos caracteriza, seja através da pintura, da retórica ou da escultura.
Precisamos dar voz ao nosso silêncio.
E no princípio, isso é difícil. Depois torna-se um vício e uma compulsão e daí pra frente não somos mais nós mesmos que escrevemos ou criamos, mas o Universo que se apossa de nós, e através de nós manifesta sua vontade e suas ânsias.
Acredito que este seja o segredo da criação profícua: permitir que as energias que nos sustentam e circundam, invisíveis, fluam livres por nossa mente e busquem nossas mãos ou nossa boca, seja qual for a natureza de nossa habilidade, para ganhar a liberdade da prisão do silêncio e do anonimato, aprisionando-se, ato contínuo, na forma de um texto, uma dança ou um quadro.
Arte é o congelamento das emoções.
Não para limitá-las, mas para dividi-las com outros, compartilhá-las, e levar beleza aos olhos e aos ouvidos de todos, já que a beleza gera bem estar e deleite.
Aquele que cria beleza é sempre um benfeitor da sociedade.
Ver o nascimento de um desses seres é sem dúvida um fenômeno que emociona como a própria vida em si nos fascina.
Embora me sinta honrado com o gesto deste leitor, é preciso no entanto deixar claro que ninguém, muito menos eu, poderá fazer por ele aquilo que só ele poderá fazer por si. Escrever é e sempre será um trabalho solitário e para encerrar, cito mais uma vez Rilke, que descreve aonde o indivíduo deve procurar sua verdadeira orientação:
“Uma única coisa é necessária: a solidão. A grande solidão interior. Ir dentro de si e não encontrar ninguém durante horas, é a isso que é preciso chegar. Estar só, como a criança está só.”
Este é o segredo de todo verdadeiro criador.
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