Por Mario Sales FRC, SI, MM
Dr Silvana
A razão pela qual demonstrei, no ensaio anterior, que é de
fundo romântico a noção de que a violência e as chacinas dos cruzados eram, de alguma forma, nobres ou dignas, visava corrigir teoricamente uma grave distorção de
valores na sociedade.
E esta é aquela que atribui na mitologia clássica (crenças e
lendas dos gregos, romanos e hindus) e na mitologia moderna (histórias em
quadrinhos com seus super-heróis) valor e importância e respeito aos violentos
e hostilidade ou temor aos cultos.
Dou um exemplo, ou melhor, dois: um clássico e outro
moderno.
Quem é o típico herói bíblico? Sansão. Qual sua qualidade
mais importante? Força física. E qual o herói grego padrão? Aquiles, ou
Hércules, ambos capazes de matar seus inimigos com habilidade e competência e
caracterizados por importante força e resistência física.
Qual a importância na Bíblia, de um homem culto e sensível
como José de Arimatéia, o qual segundo o próprio Cristo, não estava distante do
Reino dos Céus? Secundária.
Aonde, pergunto eu, entre os gregos, construiu-se a idéia de
que, o criador dos primeiros raios de defesa, os espelhos ustórios, poderosas
lentes que refletiam os raios do sol contra os barcos de Alexandre o Grande, no
cerco a Siracusa?
E nas histórias em quadrinhos? Recorramos a um herói da
minha infância cujos gibis já desapareceram das bancas, o Capitão Marvel.
Lembremos: o Capitão Marvel era um super-herói, dotado de super força física. Ele
é o alter ego de Billy Batson, ao que me lembro, um rapaz bondoso, mas portador
de uma deficiência física que o faz usar muletas para caminhar. Ao pronunciar
uma palavra mágica (shazam) ele se transforma neste super-herói. Até aí, nada
de demais.
Capitão Marvel
O preconceito se manifesta no vilão deste super-herói.
Trata-se de um cientista, Dr. Silvana, com o indefectível guarda pó branco dos
homens de ciência.
O mesmo padrão se repete na mitologia do Super Homem
americano, Kar-El. Seu inimigo mais importante é nada mais, nada menos que um
homem dotado de grande inteligência, Lex Luthor.
Concluindo: seres inteligentes, cultos, diferenciados intelectualmente
são seres do Mal, enquanto os rudes e fisicamente bem-dotados são seres do Bem.
O inconsciente humano olha a cultura e o conhecimento com
repúdio e receio e a força física com admiração e respeito, numa clara evocação
de padrões de qualidade ligados aos primórdios da humanidade, quando eram os
mais fortes que mantinham a malta ou conseguiam mais comida para o grupo de
caçadores ou, mais tarde, dos coletores.
Era destes parâmetros atávicos que eu falava ao analisar
como valores românticos ganharam força na avaliação dos séculos XVII e XVIII
quanto a glamourização da guerra e dos embates sangrentos entre as forças da
igreja e dos muçulmanos nas cruzadas.
Tal perspectiva precisa ser superada. Só o tempo e a educação,
entretanto, fará com que isto aconteça.
Boa tarde Mário e leitores.
ResponderExcluirLendo seu texto, me lembrei da série Jornada nas Estrelas, o capitão Kirk faz uso de seus muitos atributos, é galanteador da mulherada e quando a coisa aperta acaba saindo no braço com seus oponentes, mas quanto ao uso da racionalidade, isso fica a cargo do Dr Spock.
E Guerra nas Estrelas então, o Lucas Skywalker tem tudo na mão enquanto o coitado do Darth Vader tem que enfrentar seus problemas físicos com aquela máscara e além de tudo gastar neurônio para organizar, e manter a unidade de todo aquele Império.