Por
Mario Sales FRC,SI,MM
É comum em qualquer exercício intelectual, trabalharmos
com símbolos que nos ajudem a fixar conceitos.
É assim com figuras geométricas como o triangulo
retângulo, que ato contínuo nos traz a mente a equação pitagórica, ou escadas
como a de Jó na representação da ascensão evolutiva, geralmente de cunho
espiritual.
Escadas ou triângulos são aparentemente figuras
estáticas e símbolos definidos espacialmente, de maneira que, ao trabalhar com um
ou outro conceito correlacionado, imediatamente a imagem daquele símbolo
síntese nos vem a mente.
Na intenção de pensar, no entanto, devemos extrair
mais dos símbolos, da mesma maneira que quando mais esprememos a laranja mais
suco conseguimos.
Símbolos devem ser maltratados, burilados, para
produzirem o máximo de suas possibilidades.
Foi assim quando estudamos o QUADRO UNIVERSAL, o
resumo imagístico do Tratado da Reintegração dos Seres, de Martinez de Pasqualy,
desenhado por seu fiel secretário , Louis Claude de Saint Martin.
Ao olhar para um símbolo é preciso torna-lo elástico,
flexível, capaz de ser deformado sem perder suas características. E foi assim
que, deformando e inflando o QUADRO
UNIVERSAL de Saint Martin, em princípio plano, chegamos à compreensão de
que não se tratava de um círculo, mas de esferas justapostas, uma para a
imensidade divina acima e outra para os níveis inferiores, por sua vez
preenchidas por esferas menores que delimitavam espaços específicos, Mundo Supra
Celeste, Celeste, Eixo Fogo Central Incriado e Reino.
O que era um círculo virou uma esfera, e conseguimos
intuir que a borda do Eixo Fogo Central Incriado não era a única região onde
este Fogo Central Incriado estava, senão em toda a sua região interna,
dando-lhe vida e substância, papel realizado por uma energia que para os
rosacruzes tinha outro nome, embora a função fosse a mesma, o Nous.
Da mesma forma, existem outros símbolos passíveis de deformações em
busca de maior riqueza conceitual.
O mais clássico de todos é a Árvore da Vida.
A Árvore, em sua apresentação ortodoxa tem à
disposição em que Keter, a sefira mais alta, mais perto do Ain Sof Aur, está na
extremidade superior oposta à Malkuth que está na outra extremidade inferior.
É comum, diante disso, a impressão conceitual
imagística de que não teremos chance de alcançar tal sefira em uma encarnação
ou mesmo duas, pela distância e aparente inacessibilidade; mais: não poderemos,
se consideramos esta forma, alcançar nem a sefira Bina, a 3ª, correspondente ao
conhecimento. Por mais que estudemos a Torah, o Talmude e os escritos de Isaac
Luria, jamais ultrapassaremos Yesod, esta sefira conhecida como Sefira da
Fundação, que sustenta a estrutura da Árvore e está imediatamente acima de
Malkuth. Em um ensaio chamado “Grupo de Estudos de cabala: as projeções da
Árvore da Vida”, de oito de novembro de 2014 discuti esta possibilidade de
mudar a posição da Árvore para entender que não se chega a Keter subindo degrau
por degrau as sefiras, mas dominando o sentido do conjunto.
Podemos e devemos deitar a Árvore para entender por
que Malkuth é espelho para o Ain (Arik Anpin que contempla Zeir Anpin); mas
além disso, devemos dobrar a Árvore, para entender como é possível que um
espiritualista possa atingir a iluminação ainda vivendo em Malkuth.
Assim, quando a Árvore se dobra, Malkuth toca em
Kether. Isto ocorre em estado de conexão espiritual só possível de ser
alcançado pelo enlevo devocional da oração, a verdadeira oração,
aquela que vem do coração e não da língua.
É através da oração que a forma da Árvore se torna
elástica e plástica e a Árvore assume posições antes inimagináveis.
É da mesma maneira que é possível entender que não
iremos até Kether lentamente, mas que pela oração estaremos em Kether enquanto
orarmos, como também em Hockmah e Binah.
O Arik Anpin deve ser entendido como um templo, uma
dimensão do sagrado, não temporal, nem espacial. Estaremos no Arik Anpin quando
estivermos em comunhão com o divino. Sairemos e retornaremos a Malkuth ao
terminarmos nossa prece, nossa conexão.
Nós que estamos em Malkuth somos dedos da mão de Deus
mexendo nas coisas a nossa volta como se Deus remexesse em Seus pertences, em
Sua criação.
Às vezes, no entanto, Deus fica intrigado com um
fenômeno qualquer e cofia a barba, pensativo.
É nestas horas, de reflexão divina, que somos levados
a um estado de grande intimidade com o altíssimo, que durará o tempo da
perplexidade divina, pois enquanto oramos, Deus nos escuta, perplexo com nossas
dúvidas, e neste momento, apoia-se em seu punho e nos olha, misericordioso e
consolador.
A prece, sem dúvida, nos torna mais próximos de sua
Divina Barba.
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