Multi pertransibunt et augebitur scientia (Muitos passarão, e o conhecimento aumentará).

sábado, 9 de abril de 2016

AS BARBAS DE DEUS 2: DOBRANDO A ÁRVORE DA VIDA OU O PODER DA ORAÇÃO.


Por Mario Sales FRC,SI,MM


É comum em qualquer exercício intelectual, trabalharmos com símbolos que nos ajudem a fixar conceitos.
É assim com figuras geométricas como o triangulo retângulo, que ato contínuo nos traz a mente a equação pitagórica, ou escadas como a de Jó na representação da ascensão evolutiva, geralmente de cunho espiritual.
Escadas ou triângulos são aparentemente figuras estáticas e símbolos definidos espacialmente, de maneira que, ao trabalhar com um ou outro conceito correlacionado, imediatamente a imagem daquele símbolo síntese nos vem a mente.
Na intenção de pensar, no entanto, devemos extrair mais dos símbolos, da mesma maneira que quando mais esprememos a laranja mais suco conseguimos.
Símbolos devem ser maltratados, burilados, para produzirem o máximo de suas possibilidades.
Foi assim quando estudamos o QUADRO UNIVERSAL, o resumo imagístico do Tratado da Reintegração dos Seres, de Martinez de Pasqualy, desenhado por seu fiel secretário , Louis Claude de Saint Martin.




Ao olhar para um símbolo é preciso torna-lo elástico, flexível, capaz de ser deformado sem perder suas características. E foi assim que, deformando e inflando o QUADRO UNIVERSAL de Saint Martin, em princípio plano, chegamos à compreensão de que não se tratava de um círculo, mas de esferas justapostas, uma para a imensidade divina acima e outra para os níveis inferiores, por sua vez preenchidas por esferas menores que delimitavam espaços específicos, Mundo Supra Celeste, Celeste, Eixo Fogo Central Incriado e Reino.
O que era um círculo virou uma esfera, e conseguimos intuir que a borda do Eixo Fogo Central Incriado não era a única região onde este Fogo Central Incriado estava, senão em toda a sua região interna, dando-lhe vida e substância, papel realizado por uma energia que para os rosacruzes tinha outro nome, embora a função fosse a mesma, o Nous.
Da mesma forma, existem outros símbolos passíveis de deformações em busca de maior riqueza conceitual.
O mais clássico de todos é a Árvore da Vida.
A Árvore, em sua apresentação ortodoxa tem à disposição em que Keter, a sefira mais alta, mais perto do Ain Sof Aur, está na extremidade superior oposta à Malkuth que está na outra extremidade inferior.
É comum, diante disso, a impressão conceitual imagística de que não teremos chance de alcançar tal sefira em uma encarnação ou mesmo duas, pela distância e aparente inacessibilidade; mais: não poderemos, se consideramos esta forma, alcançar nem a sefira Bina, a 3ª, correspondente ao conhecimento. Por mais que estudemos a Torah, o Talmude e os escritos de Isaac Luria, jamais ultrapassaremos Yesod, esta sefira conhecida como Sefira da Fundação, que sustenta a estrutura da Árvore e está imediatamente acima de Malkuth. Em um ensaio chamado “Grupo de Estudos de cabala: as projeções da Árvore da Vida”, de oito de novembro de 2014 discuti esta possibilidade de mudar a posição da Árvore para entender que não se chega a Keter subindo degrau por degrau as sefiras, mas dominando o sentido do conjunto.





Podemos e devemos deitar a Árvore para entender por que Malkuth é espelho para o Ain (Arik Anpin que contempla Zeir Anpin); mas além disso, devemos dobrar a Árvore, para entender como é possível que um espiritualista possa atingir a iluminação ainda vivendo em Malkuth.


Assim, quando a Árvore se dobra, Malkuth toca em Kether. Isto ocorre em estado de conexão espiritual só possível de ser alcançado pelo enlevo devocional da oração, a verdadeira oração, aquela que vem do coração e não da língua.
É através da oração que a forma da Árvore se torna elástica e plástica e a Árvore assume posições antes inimagináveis.
É da mesma maneira que é possível entender que não iremos até Kether lentamente, mas que pela oração estaremos em Kether enquanto orarmos, como também em Hockmah e Binah.
O Arik Anpin deve ser entendido como um templo, uma dimensão do sagrado, não temporal, nem espacial. Estaremos no Arik Anpin quando estivermos em comunhão com o divino. Sairemos e retornaremos a Malkuth ao terminarmos nossa prece, nossa conexão.
Nós que estamos em Malkuth somos dedos da mão de Deus mexendo nas coisas a nossa volta como se Deus remexesse em Seus pertences, em Sua criação.
Às vezes, no entanto, Deus fica intrigado com um fenômeno qualquer e cofia a barba, pensativo.
É nestas horas, de reflexão divina, que somos levados a um estado de grande intimidade com o altíssimo, que durará o tempo da perplexidade divina, pois enquanto oramos, Deus nos escuta, perplexo com nossas dúvidas, e neste momento, apoia-se em seu punho e nos olha, misericordioso e consolador.
A prece, sem dúvida, nos torna mais próximos de sua Divina Barba.

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