Multi pertransibunt et augebitur scientia (Muitos passarão, e o conhecimento aumentará).

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

DIÁLOGOS ROSACRUCIANOS, CAPÍTULO 5: 3° SEMINÁRIO, 1a PARTE

Frater Erik Satie


Bernardo: Aqui estamos para iniciar o 3° seminário de avaliação interna e discussão de assuntos rosacruzes. Sejam todos bem vindos.
Comenius: Vamos começar deixando como fundo a musica de um grande frater de uma sensibilidade sem igual e que pode em muito nos inspirar. Esta seqüência é chamada de “Gnossienne”, de números 1 a 6. A música foi composta pelo frater Erik Satie.

Bernardo: Hoje, eu e Comenius queremos ler para vocês uma manifesto que muito nos influenciou e que vem de um frater que pede para manter-se no anonimato.
Comenius: O título deste ensaio é “Doutrina versus Orientação”. Bernardo começará a leitura e de trechos em trechos revezaremos para que não fique cansativo. Bernardo!
Bernardo: Obrigado. Comecemos.



DOUTRINA VERSUS ORIENTAÇÃO
Uma análise das bases religiosas e filosóficas das dificuldades de se lidar com a prosperidade material e uma defesa da necessidade da implantação de simpósios científicos por grau , em toda a nossa região e em outras regiões da AMORC

Introdução


Neste ensaio, por decorrência do raciocínio, faço referência a duas grandes correntes religiosas mundiais.
Embora explicite que meu interesse não é discutir o mérito de nenhuma delas, já que para o iniciado rosacruz todas as formas de expressão da religiosidade são dignas e devem ser respeitadas como caminhos legítimos para a Divindade, sempre é interessante fazer uma ressalva inicial para tentar evitar equívocos, comuns e prováveis. Como digo no ensaio, “a Rosacruz AMORC não é de modo algum uma associação sectária e jamais discriminou seus membros e aspirantes por sua opção religiosa". Esta reflexão, portanto, é uma análise, como estabeleceu o sociólogo Max Weber, “ da genealogia histórica do tipo de moral e dos valores filosóficos que acompanham cada grupo religioso.” Mesmo assim, pode ser que algum membro da Ordem e ao mesmo tempo membro de alguma destas religiões (ou escola, como preferem alguns Kardecistas) sinta-se desconfortável com estes comentários.
Neste caso, recomendo que leiam A Ética protestante e o Espírito do Capitalismo, de Weber.
O livro, escrito no séc. XIX, ainda é referência em sociologia e economia, e é amplamente aceito na comunidade científica como uma análise sóbria, e fundamentada em dados históricos, da maneira como cada grupo religioso encara os bens materiais e a sua manipulação e a relação que este tipo de perspectiva religiosa tem com a prosperidade de pessoas e nações. Muitos de meus amigos pessoais são seguidores do Kardecismo, e tenho particular gratidão a estas pessoas ligadas à linha de Pietro Ubaldi, que em muito lembra os princípios e as perspectivas filosóficas da Ordem Rosacruz, quando da minha estada em Campos dos Goytacazes, no norte do Estado do Rio de Janeiro, durante meu curso de graduação em Medicina. Posto isto, meus comentários têm exclusivamente a função de, no espírito Rosacruz de investigar o Eu Interior e estar a par das nossas mais profundas motivações comportamentais (“Conhece-te a ti mesmo”) , trazer a luz coisas que estão ocultas no cotidiano e que a meu ver dificultam a prosperidade material da Ordem na América do Sul e provavelmente no México , regiões conhecidas por serem de grande maioria católica. Gostaria de lembrar também que a simplicidade é uma armadilha teórica que encontramos constantemente entre os buscadores da Luz Maior. Não é a simplicidade do medíocre que objetivamos quando falamos em ser simples como as crianças. A simplicidade mística é semelhante ao ato simples de operar uma televisão ou um aparelho de DVD, hoje em dia, que oculta em seu manuseio toda a complexidade científica por trás de seu desempenho e fácil manipulação. O místico , por definição , é um ser altamente complexo, tem grande cultura espiritual, aperfeiçoa durante anos , em cada encarnação, seu caráter e seus dons, e com isso seu contato com Deus todo poderoso. Isto nada tem da simplicidade do medíocre. Ser simples , portanto, não é ser analfabeto, materialmente miserável, insensível ou grosseiro. Ser simples é alcançar, por meio da meditação e do esforço pessoal, uma compreensão clara do funcionamento do Universo e render-se a sua vontade com consciência e não apenas com resignação. O místico rosacruz, não Crê, mas Sabe que a Vontade de Deus sempre visa o melhor para ele e para a humanidade; sabe porque compreendeu em seu interior esta grande verdade de que nada o ameaça mais do que o Medo e a Ignorância. Portanto, no espírito de aumentar este refinamento crítico místico, escrevi o ensaio que se segue. Peço a Deus que ele enriqueça a reflexão de todos que o leiam, imploro pela tolerância rosacruz aos meus frateres e sorores e espero que ajude a todos a terem menos receio da prosperidade material.



Definições e Conceitos


A palavra doutrina , no dicionário Aurélio,1a edição, 1975, é definida na página 492 como “1.conjunto de princípios que serve de base a um sistema religioso, político, filosófico ou científico.(...) 3.ensinamento, pregação (...) 5.texto de obras escritas; 6.regra, preceito, norma” e mais a frente, na definição da palavra doutrinado, descreve o mesmo como “instruído”, bem como “ensinado, amestrado”, aí já com uma conotação menos dignificante.
Mais a frente a palavra doutrinar é caracterizada como “instruir numa doutrina, ensinar”e assim por diante.
Peço que me perdoem este momento dicionaresco e semântico, mas é preciso caracterizar com clareza o equívoco de usar uma única conotação das muitas que uma palavra pode ter em detrimento de outras mais nobres em uma campanha publicitária.
Isso aconteceu recentemente em nossa ordem ao divulgar panfletos onde se lia que “a Ordem Rosacruz não doutrina, orienta.”
Ora, esta preocupação me percorreu a espinha por que , sabedor que os dois princípios básicos do rosacrucianismo são Sistema e Ordem ,e sendo a atividade doutrinária, ou de ensino, sua mais importante função enquanto escola mística, fiquei com a impressão subjetiva, na época, de que uma Doutrina Rosacruz, no sentido de conjunto de informações técnicas , axiomas e postulados não existia e o trabalho da Ordem fosse apenas aquele dos sinais de transito, que apontam direções à direita ou à esquerda.
Acredito que a leitura de textos correlacionados ao ensinamento da Ordem seja fundamental a formação do estudante rosacruz , na ampliação de seus horizontes e para sedimentar a idéia de que a verdade é uma só, mas tem mil faces.
No entanto, isto não quer dizer que a Ordem Rosacruz em si não tenha uma doutrina própria de interpretação da realidade e da nossa relação com a realidade.
Seus estudantes , aqueles que participam de atividades templárias ou lêem suas monografias em seu sanctum , ou ambos , recebem ao longo de anos uma série de informações acerca de técnicas que se não são criação da Ordem , são pelo menos transmitidas pela Ordem de tal forma e com tal estratégia que se pode falar em uma maneira rosacruz de ver o mundo.

Comenius: (e continua o frater) E talvez o que nos falte não seja a consciência deste fato, esta maneira rosacruz de ver o mundo, mas um discurso claro sobre ele, um consenso sobre a forma de defini-lo, como se faria em um dicionário. O lema, maravilhoso, de a mais ampla liberdade na mais completa tolerância tem levado ao equívoco (velado e não expresso) de que não exista um Corpo de Doutrina no seio do ensinamento Rosacruz para alguns de nossos membros.
A Ordem , embora seja o resultado do trabalho de todas as mentes que dela participam ou participaram, não é uma colcha de retalhos filosófica.
Ela possui Ordem e Sistema.
Ordem é Sistema e Sistema, é Ordem.
E que sistema é este que temos para nos chamarmos , a nós mesmos, de uma Ordem?
São o Sistema e a Ordem que vem da informação e do conhecimento compartilhado de forma ampla por todos, ou seja, um corpo de doutrina que está dentro de cada rosacruz, o qual não deve se envergonhar de possuí-lo, nem de ter sido doutrinado, ou seja, instruído neste conjunto de informações e valores que caracteriza o conhecimento da Rosacruz.


Contexto sócio religioso dos rosacruzes do século XVI e XVII


Por exemplo, nossa tradição, enquanto místicos rosacruzes , não é proveniente do cristianismo católico, da Igreja de Roma . O provável autor do Fama Fraternitatis , Johan Valentin Andréa, no século XVII, era protestante.

Johan Valentin Andrea, autor do Fama Fraternitatis

Nosso primeiro imperator para este ciclo de atividades, Harvey Spencer Lewis , era metodista, um outro viés do movimento protestante luterano.
Vejamos o que nos diz este texto tirado da Wikipedia sobre o círculo de Tübigen, de onde se originou o Fama Fraternitatis:
“A grande maioria dos personagens relacionados com o lançamento dos "Manifestos Rosacruzes" se originaram do meio luterano alemão. É de se notar que o próprio Lutero foi um dos primeiros a utilizar uma "rosa-cruz" (o "selo de Lutero", ou "rosa de Lutero") como símbolo de sua teologia.
A Rosa de Lutero

Abaixo de muitas rosas de Lutero está a frase: “O coração do cristão permanece em rosas, quando ele permanece sob a cruz.”
É amplamente discutível se os chamados "reformadores radicais" teriam exercido uma forte influência sobre os rosacruzes, ou, como algumas evidências parecem sugerir, se teriam sido os Rosacruzes a influenciar esses reformadores. Esses pensadores e teólogos luteranos acreditavam que a Reforma de Lutero deveria ser ampliada, que a doutrina ortodoxa não era suficiente, e que o Cristão devia realizar a comunhão mística com Deus. Entre outros, é possível citar os nomes de Caspar Schwenckfeld, Sebastian Franck e Valentin Weigel.
Caspar Schwenckfeld

Johann Arndt, teólogo luterano alemão cujos escritos místicos circularam amplamente na Europa no século XVII, amigo e mentor espiritual de Johann Valentinus Andreae e amigo muito próximo de Christoph Besold, também é uma influência conhecida. Arndt foi muito influenciado pelas idéias de Valentin Weigel, e é considerado o “pai” do movimento pietista alemão.

Johann Arndt

O místico e teósofo luterano alemão Jacob Boehme e o educador Jan Amos Comenius foram contemporâneos do movimento rosacruz original do século XVII e também davam testemunho de uma mesma sabedoria. Comenius chegou a denominar a Unidade dos Irmãos da Boêmia-Morávia, da qual ele foi um dos líderes principais antes de seu desaparecimento, como "Fraternitas Rosae Crucis". Além disso, ele considerava Johann Valentin Andreae sua primeira fonte de inspiração, considerando-o “um homem de espírito ígneo e de inteligência pura”, tendo-o contactado e recebido deste "o archote" para dar continuidade à tarefa iniciada. Muitos dos que responderam ao chamado dos manifestos rosacruzes, como Michael Meier e Robert Fludd, também se ligavam à mesma fonte de força espiritual.
O historiador francês Paul Arnold foi o primeiro a considerar os três manifestos como a obra comum do "Círculo de Tübingen", ou seja, o grupo que se reuniu ao redor do (futuro) teólogo Johann Valentinus Andreae e dos juristas Tobias Hess e Christoph Besold, na Universidade de Tübingen (Alemanha). Frances Yates, no entanto, relacionou o rosacrucianismo "clássico" do século XVII unicamente a Frederico do Palatinado e sua corte inglesa em Heidelberg.”(fim da citação)



A contribuição de Max Weber

Max Weber

Bernardo: E por que tocar neste detalhes , de cunho religioso?  Afinal a Rosacruz AMORC não é de modo algum uma associação sectária e jamais discriminou seus membros e aspirantes por sua opção religiosa.
Esta reflexão, portanto, é uma análise, como estabeleceu o sociólogo Max Weber, da genealogia histórica do tipo de moral e dos valores filosóficos que acompanham cada grupo religioso.
No Brasil como na Espanha e em Portugal, a Ordem existe em ambiente predominantemente católico, religião que por séculos , PREGOU E DOUTRINOU seus seguidores na importância espiritual da pobreza e na recusa aos bens materiais , bens estes que seriam capazes de degradar a alma.
Esta mesma religião,através de seus líderes enfatizou a importância da pobreza para superarmos as tentações da carne e atingirmos a plenitude espiritual, induzindo a compreensão de que a riqueza material é pecaminosa e sempre leva a destruição do espírito.

Isto era enfatizado em seus sermões pela repetição da passagem bíblica que diz: “É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha que um rico entrar no reino dos céus.”
Ao contrário da opulência material em que vivia o Papa em Roma e seus seguidores próximos, ao povo de Deus era recomendadas a miséria e a resignação à pobreza , como estratégias para alcançar a luz.

A Venda de Indulgências e a Reforma Protestante

Em meio a tudo isto, um fenômeno compatível com a distância entre o discurso e a prática, provocou a revolta daqueles que tinham a moral e a dignidade como fundamentais à prática religiosa. Todos lembram, dos livros de história, do episódio conhecido como a Venda de Indulgências em 1517, pelo papa Leão X, onde, sob os auspícios e bênção da Igreja em Roma, vendia-se tanto o perdão como a absolvição em troca de bens materiais.
Aliás, foi por isso que Lutero instaurou a Reforma que levou seu nome, e que, por protestar contra toda esta hipocrisia da época, recebeu o título de Reforma Protestante.
Ora , os protestantes talvez fossem mais conservadores ainda do que os católicos neste ponto, quanto à importância da moral e da dignidade espiritual, mas é entre eles que surge a figura de Calvino.


João Calvino e a Santidade do Trabalho

João Calvino

Da WiKipedia “João Calvino (Noyon, 10 de Julho de 1509 — Genebra, 27 de Maio de 1564) foi um teólogo cristão francês. Calvino fundou o Calvinismo, uma forma de Protestantismo cristão, durante a Reforma Protestante. Esta variante do Protestantismo viria a ser bem sucedida em países como a Suíça (país de origem), Países Baixos, África do Sul (entre os Afrikaners), Inglaterra, Escócia e Estados Unidos da América.”
Calvino criou uma filosofia, a qual dizia que o homem provava sua fé e demonstrava sua predestinação através do sucesso material, do enriquecimento. Considerava a pobreza como sinal do desfavor divino e valorizava o trabalho, o que ia ao encontro dos anseios da burguesia, que tinha no trabalho o elemento necessário para acumular o capital. A mentalidade Calvinista , que valorizava o trabalho e a prosperidade material , influenciou países como Suíça, Inglaterra e os Estados Unidos. E não por coincidência, foi nos Estados Unidos que o atual ciclo de atividades da Ordem Rosacruz teve início.
Nosso primeiro imperator , Harvey Spencer Lewis, protestante ,metodista e americano, era um homem destemido e empreendedor, um administrador e conselheiro de empresários, em suma, um consultor, muito bem remunerado por seu trabalho.
E se orgulhava disso. O dinheiro que pudesse ganhar com os serviços que prestava redundava em condições materiais para o sustento de sua família e para continuar o seu trabalho missionário de implantação da Ordem Rosacruz em todo o planeta, trabalho este continuado por seu filho, Ralph Lewis.

A Herança Calvinista dos Rosacruzes do Século XX

 

Ou seja, os nossos recentes ancestrais administrativos eram homens que prezavam a Ordem, tinham determinação de implantar um Sistema de estudos para divulgá-la, e se empenharam, sem culpa, na busca de recursos materiais para fazê-lo.
Isto é parte da história de nossa Ordem e não podemos fazer de conta que não foi e não é assim.
Por que ao contrário do discurso católico romano de estímulo à miséria, à pobreza, e à falta de recursos materiais, a Ordem tem uma doutrina de inspiração Calvinista, que acredita que o sucesso material é prova da harmonia do homem com seu Deus e não o contrário e que o trabalho é o meio para se transformar a realidade, trabalho dedicado e intenso, e para dar um toque rosacruz, marcado pelo uso da Visualização Criativa todo o tempo.
Comenius: É neste aspecto ético (no sentido dicionaresco de estratégia de ação) que vou me basear para mostrar que existe uma doutrina Rosacruz sim, e que, por não ser devidamente discutida em seus fundamentos, dá margem a equívocos e perversão de interpretações.

Confusão entre Prosperidade Material e Materialismo

Por causa disso, quanta tristeza me causa ouvir um frater ou uma sóror de origem religiosa católica dizer que, um corpo afiliado que investe seu tempo e recursos na ampliação de sua estrutura material e na melhoria de suas instalações está por isso mergulhado num caminho perigosamente materialista e que, por isso, se afasta dos objetivos principais da Ordem.
Que profunda ignorância dos princípios Calvinistas que fundamentaram os protestantes americanos , de amor ao trabalho e à prosperidade material , que fez a riqueza de uma nação como os Estados Unidos de onde vem nossa loja mãe neste período de atividades. E por que comentários como estes prosperam às vezes, entre frateres e sorores, intelectualmente diferenciados?
Por que no fundo o que nos leva a ser do jeito que somos são nossas crenças e valores morais oriundos de nossa educação familiar e religiosa, e não a nossa formação educacional.
Por baixo do verniz acadêmico esconde-se, muitas vezes, o preconceito contra o lucro, contra a felicidade material, contra o prazer sexual, e todas as coisas que fazem o ser humano satisfeito e pleno como manifestação da abundância divina presente na riqueza dos oceanos, na imensidão de estrelas que povoam os céus ou na variedade de espécies de plantas e animais.

A importância do de Equilibrar O Material e o Espiritual em nossa Vida


O homem e a mulher foram feitos para a felicidade e para a prosperidade e o discurso da tristeza e do ranger de dentes como meio de encontrar-se a Paz e fortalecer a Espiritualidade tem que ser banido do planeta, ou pelo menos do seio de nossa ordem, e isso só se faz com uma educação voltada à implantação destes valores morais de alegria e prosperidade que só é possível por uma doutrinação (ensinamento) adequada, neste sentido.
Os rosacruzes não perguntam aqueles que batem em suas portas a sua procedência e de que valores o espírito do buscador está animado ao chegar ao nosso portal.
Não perguntam porque sabem que mesmo o próprio indivíduo não saberia responder a estas questões no instante que chega até nós.
Sua mente ainda está obscurecida pelos preconceitos (os ídolos, nas palavras de nosso Frater e ex imperator Francis Bacon) , que marcam, todos nós, com seus estigmas.
Só na caminhada , na senda mística, é que as cascas irão se desfazendo e despindo nosso corpo verdadeiramente luminoso, deixando a mostra nosso poder e nossa divina origem.


A Importância de Explicitar nosso Amor, como Rosacruzes, ao Conhecimento, ao Trabalho e à Prosperidade


O que me parece ingênuo é achar que, sem que a Ordem declare , com todas as letras, hebraicas ou não, suas concepções em relação a realidade que nos cerca, sua opção pela fé na vida, no homem, na inteligência e na ciência, na sua crença inquebrantável na capacidade do trabalho de gerar riqueza e satisfação, o indivíduo perceba por si só e com rapidez, que está se unindo a um grupo diferenciado de pessoas e não a uma outra religião de princípios semelhantes aos seus, ainda mais se ele foi educado e doutrinado para acreditar que o bem e o certo são a pobreza e a simplicidade de espírito , no mau sentido.
É compreensível então que a partir daí, creia (mesmo que não o explicite) que ser rosacruz é ser pobre e limitado, física e espiritualmente.

Nesse sentido, o papel doutrinário da Ordem é de suma importância e, portanto, a Ordem deve dar, sim , a este buscador uma descrição clara de sua doutrina , e não apenas uma simples orientação, mostrando-lhe, de forma paulatina, que ele é muito mais do que supõe sua vã filosofia, (parafraseando novamente frater Bacon, na pele de seu alter ego, William Shakespeare).

A Doutrina Rosacruz,no amor ao trabalho, é de inspiração Calvinista

A doutrina Rosacruz, de contorno Calvinista, de amor ao trabalho e ao lucro oriundo deste trabalho, gerando prosperidade material e também espiritual deve ser difundida entre os nossos membros de forma mais constante, e não de modo envergonhado, para desfazer arestas, não em busca de uma homogeneidade mental, pois isto seria nossa morte intelectual, mas para deixar clara nossa posição acerca das coisas e do mundo.


O conceito Rosacruz de Reencarnação


Bernardo: (continuando o texto de nosso frater) Assim como a Ordem, por sua própria história, não é contra o lucro ou contra a prosperidade material, e jamais associou como a Igreja Católica fez, pobreza e evolução espiritual , também, da mesma maneira, é parte da Doutrina Rosacruz o conceito de Reencarnação. A doutrina Rosacruz pressupõe a concepção reencarnacionista. Ela é parte de nossos ensinamentos e de nosso patrimônio cultural, um nome mais refinado para o termo doutrina. Mesmo assim, talvez por falta de doutrinação acerca da concepção genuinamente rosacruz nesta área, vemos muitos irmãos tentando de boa fé defender pontos de vista sobre a reencarnação, originários de outras linhas de pensamento, que entendem a reencarnação como um fenômeno ligado ao caráter cármico punitivo , ou algo que o valha, não necessariamente de caráter essencialmente evolutivo, mas principalmente ligado a que se costumou chamar de “resgate de débitos cármicos”.


A visão Kardecista

Qualquer espiritualista antigo reconhecerá nestas linhas características dos axiomas de uma doutrina conhecida como Espiritismo Kardecista , iniciada na França , no século XIX. Na Wikipedia vemos que Hippolyte Léon Denizard Rivail (Lyon, França, 3 de outubro de 1804 — Paris, 31 de março de 1869), foi um pedagogo e escritor francês. Sob o pseudônimo de Allan Kardec, notabilizou-se como o codificador do Espiritismo, também denominado de Doutrina Espírita.
Embora reconhecendo a importância do pensamento Kardecista para o conjunto do trabalho espiritualista universal, a Ordem Rosacruz , com toda a certeza não é um movimento espírita kardecista.
Portanto suas concepções da reencarnação estão ligadas aos ensinamentos das Escolas de Mistério do Egito, 2000 anos antes de Cristo.
Para a AMORC, a reencarnação é uma decorrência pura e simples da natureza do processo evolutivo, já que somos seres espirituais imortais em personalidade alma , que usam seus corpos no sentido de crescer em compreensão, ao longo de sucessivas encarnações.
E este é o final das semelhanças entre as doutrinas, espírita kardecista e rosacruciana.
Todo o restante, descritos em Céu e Inferno, O evangelho segundo o Espiritismo e outras tantas obras fundamentais para a compreensão do Kardecismo, são compreensões específicas da doutrina espírita e assim devem permanecer. As diferenças são sutis, mas importantes.
Por exemplo, na Doutrina Kardecista encontramos traços do discurso católico de elogio da pobreza e da simplicidade física como base para o crescimento espiritual quando a doutrina rosacruz, como vimos acima, é tributária das posições do protestantismo alemão do século XVI.


A Reencarnação como Oportunidade de Evolução

Outra Característica da Doutrina Rosacruz em relação à imortalidade da alma é a da alegria e do contentamento em relação às muitas oportunidades de evolução espiritual que sucessivas existências nos proporcionam e nunca de entender que este fato, a Reencarnação , tenha sob qualquer aspecto, natureza punitiva, ou seja prova de nosso atraso espiritual , como pensam também alguns seguidores do Budismo , pois segundo eles, se fossemos seres realmente evoluídos não precisaríamos reencarnar.
Comenius: Para o Rosacruz, os seres humanos não são ou deixam de ser evoluídos, mas na verdade estão todos, em processo de evolução, em diferentes trechos da jornada em direção à plenitude.
Estar neste ou naquele trecho, significa apenas uma definição espaço-evolucional e não uma punição ou uma bênção. Todos somos arrastados pela força evolutiva que nos trouxe a este plano e que nos faz atravessá-lo a fim de aumentarmos a consciência de nós mesmos e do Universo. Nascer e morrer, para o místico rosacruz, é como dormir e acordar, e, que eu saiba, ninguém amaldiçoa o momento em que o cansaço obriga ao repouso merecido e nem reclama também do instante em que acorda, já que volta a existência através do despertar e um novo dia de possibilidades se abre para ele, permitindo-lhe mais um período de experiências que aumentarão sua consciência.
Rosacruzes não devem, pois, em princípio, sentir-se embaraçados com o fenômeno da morte. E aumentar a consciência sempre é uma bênção e nunca uma punição.

Esta é a base filosófica da felicidade do Rosacruz em experimentar a Vida na Carne, usando-a em todo o seu potencial no aperfeiçoamento de sua Personalidade Alma.


A Morte como decorrência da Vida



“Qual a casa que a Morte não visitou?” perguntava o Buda numa história antiga. É, portanto, da maior importância, que a doutrina rosacruz reencarnacionista seja comentada de forma mais freqüente nos encontros culturais que promovemos em nossos corpos afiliados, para que fortalecidos pelo ensinamento, nossos irmãos não sejam vítimas de um sofrimento compreensível, mas às vezes desproporcional para um espiritualista verdadeiro.
Bernardo: Queria acrescentar aqui, para marcar posição, um trecho do livro Rosacruz História e Mistérios de Cristian Rebisse (pseudônimo) Difusion Rosicrucienne , 2004, traduzida para o português da versão francesa de 2003, onde as relações entre os dois movimentos , Kardecista e Rosacruciano, se esclarecem , historicamente. “Nessa época (1904) na América , um grupo predominava no campo das pesquisas psíquicas : a American Society for Psychical Research (Sociedade Americana para pesquisa Psíquica), de Boston. Ora, em 1904 ela estava perdendo impulso e cessou suas atividades em 1905, após o falecimento de seu diretor,o Dr Richard Hodgson. Só um ano mais tarde , com o Dr. James H. Hyslop, essa velha instituição se reorganizaria em Nova York com o nome de American Institute for Scientific Research (Instituto Americano Para Pesquisa Científica). (...Em Nova York...) surgiu o New York Institute for Scientific Research (Instituto de Nova York Para Pesquisa Científica). Sob a direção de Harvey Spencer Lewis, ele procedeu a investigações que visavam controlar as reais capacidades dos médiuns, o que o levou a desmascarar mais de cinqüenta simuladores.(...) Estas pesquisas não satisfizeram a H.S.Lewis pois ele não acreditava que os fenômenos produzidos pelos médiuns provinham da manifestação de espíritos;estava persuadido de que eles tinham origem em faculdades da mente ainda desconhecidas.(...) Durante os anos de 1906-1907, H.S.Lewis abandonou as pesquisas psíquicas, que julgou estéreis.” 

A importância da Promoção de Simpósios com demonstrações de técnicas Místicas Rosacruzes

O que me leva ao terceiro ponto deste ensaio: a necessidade de abordar de forma mais constante temas da doutrina essencialmente rosacruz em nossas palestras. A história da Ordem, suas ligações com outras ordens de reconhecida importância no meio místico, a vida e a biografia dos mestres que compõem a Grande Fraternidade Branca com ênfase na questão de que a Rosacruz assim como outras ordens místicas dignas e reconhecidas são um corredor em direção ao contato com esta Grande Fraternidade. Vejo com tristeza, grupos de seriedade duvidosa, muitas vezes um abrigo para todo tipo de desequilíbrios e fantasias , tomarem para si o mérito da divulgação do trabalho destes mestres , às vezes propagando ensinamentos descabidos como seus ou dizendo-se intérpretes de seus desejos para a Humanidade.
Não nego que, mal ou bem, estes grupos servem a divulgação do trabalho destes seres ascensionados, mas tal divulgação nem sempre é feita com a seriedade e o equilíbrio necessário a tornar mais compreensível a necessidade do iniciado buscar o contato com tais seres. Faz parte da Doutrina Rosacruz o conceito de que somos representantes da Fraternidade Branca neste plano material e que estamos aqui apenas como preparadores de homens e mulheres para o serviço desta Fraternidade. Toda vez que um frater ou uma sóror ocupa um cargo administrativo ou ritualístico está continuando seu treinamento em direção a este contato. “Quando o discípulo está pronto, o Mestre aparece” diz um aforismo místico. O que faz a doutrina rosacruz não é outra coisa se não ajudar nossos estudantes a estarem prontos para este encontro. E fazemos isto de modo extremamente elegante, consolidando conhecimento de forma gradual, num ritmo constante e adequado a cada um. É outra tristeza que carrego, contemplar este mar de charlatães que em todas as épocas obscurecem a verdade com seus truques de salão e atraem , hoje como antigamente, aqueles que vêm ouro onde existe apenas pirita. Noto em frateres e sorores fascínio por doutrinas mal fundamentadas, talvez porque não tenham estudado adequadamente suas monografias, talvez por que sejam simples de espírito , no mau sentido que esta expressão sempre carrega, talvez por que não tenham realizado os experimentos que a ordem ensina, ou se os fizeram , não observaram resultados práticos suficientes para desenvolverem confiança nestas técnicas.
É por isto que é preciso aumentar o número de encontros rosacruzes no estilo de simpósios para promover não só o aprofundamento do conhecimento e da doutrina rosacruz, mas também o aperfeiçoamento destas técnicas e experimentos que estão nas monografias e que fazem parte do treinamento básico do místico rosacruz. É comum ouvir em discursos rosacruzes que devemos praticar os experimentos com regularidade , mesmo que não percebamos conscientemente resultados de sua prática, mas até isto, realizar inúmeras vezes um experimento sem conseguir qualquer resultado consciente, é desanimador para uma mente estruturada e aceitar a necessidade de repetir tal exercício que não redunda em resultados visíveis ou perceptíveis se baseia mais em uma questão de fé do que na confiança que advém da repetição dos resultados.
Nós Rosacruzes, temos um conhecimento em nossas mãos que é de cunho prático, não só teórico. E como é uma tolice ver separação entre espiritual e material, também é uma tolice igual ou maior supor distância entre teoria e prática, no caso de cientistas místicos como nós. Toda nossa doutrinação (instrução) filosófica e espiritual visa o domínio de uma técnica prática que pode ser usada como ferramenta de mudança para melhor em nossas vidas, seja no âmbito espiritual, psicológico ou material.


O Rosacruz é Um Cientista Místico



Repitamos para deixar claro: somos cientistas místicos e precisamos ver resultados em nossas práticas para confiarmos nestas práticas.
Comenius: Por isso, nestes simpósios, experimentos devem ser realizados e os resultados devem ser demonstráveis para que, contemplando estes experimentos , possamos  refazer a confiança de nossos frateres em nossas técnicas e mostrar-lhes que não têm necessidade, enquanto rosacruzes, de enveredar por quaisquer outras linhas de pensamento, mesmo que pareçam atraentes.
Sinto-me mal, às vezes, ao ver a competência publicitária de outras linhas de pensamento e grupos religiosos.
Por isso acho que devemos dar mais assistência aos nossos membros, principalmente os de sanctum, dando-lhes oportunidade de acesso a reuniões não apenas especulativas, mas principalmente práticas e experimentais .
E quando falo experimento, não me refiro apenas a um exercício de visualização mental (que era como devíamos nomear tais empreendimentos já que a expressão experimento designa outro tipo de atividade) como é comum em nossos encontros. Falo em demonstrações de nossos recursos como nas técnicas de Terapêutica do 6o grau , Visualização criativa ou intuitividade.
Se a maioria de nossos frateres e sorores não desenvolveram suas habilidades nestas e em outras áreas do trabalho Rosacruz, alguns conseguiram , e por isso devem ser convocados a demonstrar seu sucesso , não apenas como ensinamento, mas como estímulo a outros buscadores.
Essa é minha idéia de um simpósio verdadeiramente produtivo, o qual pode ser específico para graus determinados ou mais gerais, de acordo com a vontade dos corpos afiliados.
Todo este ensaio sobre a importância da doutrina , da educação do estudante rosacruz para a prática de um bom rosacrucianismo vem da inspiração de um livro famoso de Sun Tzu, A Arte da Guerra, onde ele lembra que o êxito de uma organização, seja um exército ou uma empresa, depende de quatro condições: • Objetivo comum, • Sensibilidade ao ambiente, • Liderança capaz, • Fluxo de informações eficiente.
A AMORC tem uma liderança capaz e é sensível ao seu ambiente, mas é preciso que torne mais eficiente seu fluxo de informações para que nossos membros tenham verdadeiramente um objetivo comum.
E é minha opinião de que só poderemos conseguir tal coisa com uma doutrinação mais constante de nossos frateres e sorores em relação ao âmago de nosso conjunto de ensinamentos.
Bernardo: Este documento se encerra aqui. Gostaria agora de fazer um intervalo para que os frateres e sorores conversassem entre si para depois retornarmos ao debate. Portanto faremos um intervalo de 15 minutos.

domingo, 30 de janeiro de 2011

DIALOGOS ROSACRUCIANOS : CAPÍTULO 4: 2º SEMINÁRIO

Comenius: Queridos Frateres e sorores, estamos muito felizes com sua presença e estamos dando início ao 2° seminário de assuntos rosacruzes, fórum permanente para discussão de tudo aquilo que diga respeito a mecânica interna da Ordem.
Bernardo: Gostaria de dar também as minhas boas vindas e de dizer da alegria de estar em ambiente fraterno com membros dessa Ordem milenar, tão nobre , pra nós , tão importante.
Comenius: Tomando emprestada a fala de Bernardo, é dada a importância que todos aqui dão à Ordem que eu gostaria pedir a vocês uma participação tão intensa quanto a do primeiro seminário. Queiram por favor começar as suas colocações. Lembrem-se, não existem assuntos proibidos.
Frater Marcelo: Boa noite e paz profunda frateres, meu nome é Marcelo e gostaria de fazer algumas colocações.
Bernardo: Vamos lá.
Frater Marcelo: Eu tenho pra mim que o que mais me encantou na minha afiliação à Ordem foi a alegria de seus membros na vida profana, a maneira fraterna como se relacionam entre si. Esta alegria, na minha opinião, tem como causa primeiramente a relação madura que o rosacruz tem com a prática mística, a qual garante a falta de dogmas e princípios obscuros no discurso interno da ordem. Todo nosso corpo de doutrina,(porque os rosacruzes têm uma doutrina sim, ao contrário de uma propaganda que, faz alguns anos, foi distribuída dentro da ordem), é apoiado em dois grandes pilares: tolerância e estímulo à reflexão. Rosacruzes, por definição, são pensadores livres. Isto faz com que eles sejam céticos de forma metodológica, considerando com muito cuidado aquilo que vem da própria ordem, e testando as técnicas que lhe são ensinadas.
Comenius: Queria ter a mesma fé que o frater na capacidade crítica de nossos membros.
Frater Marcelo: O frater acha que não é desse modo que os Rosacruzes se comportam?
Bernardo: Frater, o que Comenius diz é que ele e eu também gostaríamos que fosse assim, como o frater diz, em toda a Ordem mas que o nosso corpo de membros é heterogêneo e nem sempre somos abençoados com frateres e sorores com este espírito científico e inquisitivo que o frater gentilmente descreve. Mas por favor, continue seu raciocínio.
Frater Marcelo: Entendo. Agradeço. Bom, eu queria dizer que por causa desta idéia que eu fazia até agora do perfil de nossos membros , sempre olhei com desconfiança e até com um pouco de tristeza quando membros da ordem, dentro de corpos afiliados, usam um discurso espiritualista cheio de características estrangeiras às doutrinas da ordem, com tons, e eu digo isto sem nenhum preconceito contra outras doutrinas, ora kardecistas, ora católicos, como se estes discursos fossem discursos eminentemente rosacruzes. O que os frateres acham disso? Estamos exagerando na nossa tolerância e nos tornando permissivos por omissão?
Comenius: Muito interessante sua colocação. E isto por várias razões. Eu gostaria de trabalhá-las com muito carinho.
Primeiro: o frater tem absolutamente razão ao dizer que em um ambiente heterogêneo como o corpo afiliado ouvimos os mais variados tipos de discurso, muitas vezes ligados a outras linhas de pensamento, como se fossem rosacruzes. Isto, na minha opinião, faz parte do cadinho alquímico que é a afiliação rosacruz. Provavelmente nunca será diferente.
Aqueles que procuram nossos portais estão em busca de ampliar seus horizontes espirituais e pessoais.
Deparam-se, ao entrarem na Ordem, com um dos mais formidáveis mananciais de cultura mística já reunido ao longo de centenas de anos. Este manancial de informações é o corpo de doutrina rosacruz, a soma de todos os nossos conhecimentos. Óbvio, este conjunto de informações é imenso e somente depois de alguns anos poderão falar com alguma segurança uma linguagem rosacruz propriamente dita. Ora, neste meio tempo, estes frateres e sorores recém chegados a Ordem só poderão conversar em suas próprias línguas de origem, até que, pouco a pouco, vão sendo iniciados nos segredos mais profundos, e vão naturalmente se transformando em verdadeiros rosacruzes. Alguém, na minha opinião, que chegue a Ordem sem essa bagagem espiritual anterior teria mais dificuldade de fazer esta transição, porque uma base espiritualista é necessária, seja ela qual for , para dar a partida nas transformações necessárias que levarão o homem chumbo ao homem ouro.
É claro que a mesma bagagem que fornece um estofo inicial para o processo iniciático também é um entrave a este mesmo processo, mas a depuração deve ser gradual, nunca brusca.
Os processos de cada indivíduo são diferentes, personalizados , e por isso, em cada corpo afiliado, constataremos a existência de um sem número de frateres e sorores simultaneamente em processo de depuração alquímica, relacionando-se em ambiente em princípio fraterno, protegidos pela egrégora. É por isso, que embora raras vezes, eventualmente surgem algumas rusgas que devem ser contornadas, dentro da maior liberdade possível e na mais ampla tolerância.
Frater Marcelo: Entendo. Fases de evolução diferentes, personalidades heterogêneas em relacionamento, em ambiente de tolerância. Eu compreendo isto, mas o que me chama atenção é que pessoas de níveis mais altos da Ordem, ou seja, aqueles que já não são neófitos, ainda arrastem consigo valores que não são essencialmente rosacruzes como uma certa aversão à prosperidade, uma espécie de culto a simplicidade física como base da espiritualidade, etc, que são características de outras linhas de pensamento que não a nossa.
Bernardo: Concordo. Só que a nossa interpretação continua sendo a mesma que Bernardo defendeu há pouco: pessoas diferentes em diferentes fases de evolução. O fato de terem anos de Ordem não lhes dá automaticamente a capacidade de serem chamados de rosacruzes , digamos assim, ortodoxos, embora este termo seja bastante inadequado. No momento vou usá-lo porque se ajusta a sua ponderação. Veja, frater, é esta riqueza de caracteres que temos dentro de nossa Ordem que garante a sua complexidade. E se não formos capazes de vivermos em meio à heterogeneidade humana não seremos rosacruzes verdadeiramente.
Frater Marcelo: Entendo.
Comenius: Por outro lado, não há dúvida que a falta de clareza quanto aos princípios rosacruzes pode ser conseqüência de um estudo deficiente de nossas monografias. Esta possibilidade não podemos de forma alguma afastar. Eu não digo que todos nós sejamos absolutamente rígidos com nossos estudos e que tenhamos estudado de maneira disciplinada todas as inúmeras monografias que recebemos, mas com certeza muitos de nós não chegaram nem perto do básico. Pela falta de conhecimento doutrinário específico rosacruciano, acabam criando um discurso híbrido, permeado de princípios rosacruzes misturados com suas próprias convicções religiosas ou filosóficas, em suma, um monstrengo que nada tem a ver com o rosacrucianismo verdadeiro.
Muitos , por ter habilidade e influência, falam sobre estes assuntos com muita autoridade, dando a impressão que seus comentários refletem posições oficiais da Ordem.
Isto é grave, mas eu pergunto: como evitar tal coisa? Só um ambiente facista pode ter a ilusão de tentar controlar pensamentos, palavras e condutas.
Os rosacruzes são uma escola mística, de estudantes e sábios, que, em sã consciência, jamais poderiam ter uma atitude de intolerância.
Portanto, heterogeneidade não é o problema mas os equívocos continuarão , e teremos de conviver com eles até que uma profunda reformulação em nossos meios de ensino e verificação seja implantada.
Frater Marcelo: Em que sentido?
Bernardo: Tanto eu como Comenius achamos que deveria haver uma verificação mais cuidadosa e constante da apreensão verdadeira do conteúdo das monografias.
Frater Marcelo: De que modo?
Comenius: Aplicando testes ao final de cada grau de estudo e verificando um mínimo de conhecimentos antes de permitir o progresso do estudante a níveis mais elevados. Acreditamos, eu e Bernardo, que este é o nó a ser desatado.
Bernardo: É verdade.
Frater Marcelo: Entendo.
Comenius: A qualidade teórica de nossos membros , ao nosso ver , é diretamente proporcional ao rigor com que verificamos o real aproveitamento de seus estudos, e inversamente proporcional à liberdade para prosseguir em seus estudos.
Portanto, não devemos confundir rigor na verificação da qualidade de nosso aprendizado com perda de liberdade. Minha preocupação é apenas melhorar nosso desempenho educacional. Afinal de contas, mística ou não, a Ordem Rosacruz antes de qualquer coisa é uma escola.
Bernardo: Uma coisa que eu também gostaria de comentar é que quando o trabalho das monografias é mal realizado existe um prejuízo, sim, do nosso aprendizado, que muitos acham que seja compensável pela simples convivência na egrégora e pela força dramática e didática das iniciações em templo. Eu entendo que , caso tivéssemos mais cuidado com a preparação de nossos membros, via monografia, teríamos um aproveitamento nas iniciações ainda maior do que aquele desprovido deste preparo. Nossas monografias não são apostilas intelectuais. São contribuições em texto ao desenvolvimento da sensibilidade do frater e da sóror que as estudam. Fora o fato de que a monografia é lida no Sanctum do Lar, uma situação absolutamente diferente de uma leitura casual de um jornal: existe o cerimonial de abertura, o clima criado pelo incenso e pelas velas, o estado respeitoso que os rosacruzes assumem, automaticamente, ao entrarem no ambiente do Sanctum. Tudo isso torna a monografia uma experiência mais emocional e mística que intelectual.
Comenius: O fato é que nenhum de nós, provavelmente, passaria no teste de nos submetermos a uma avaliação rigorosa para verificar se estudamos ou não,diligentemente, todas as monografias que recebemos. Isto não quer dizer que estamos fadados ao fracasso como estudantes. No entanto, o exagero do descuido, a completa ausência de verificação deste progresso no sanctum solitário do lar, repito, para marcar este ponto, deixou os membros disciplinados livres para criar o seu próprio ritmo de estudo, e os outros, não tão disciplinados, à vontade para parecer que estudam, o que faz com que muitos de nossos estudantes compareçam ao corpo afiliado sem conhecer os mínimos princípios de nossa filosofia e assim preencham as lacunas com outras informações, de outras linhas de pensamento, e criem estas “saladas” filosófico-espiritualistas que todos já tiveram, tenho certeza, oportunidade de testemunhar dentro de uma conversa no corpo afiliado.
Frater Alberto: Meu nome é Alberto e queria colocar uma sugestão. Talvez os estudos devessem ser modificados para serem todos templários. Isto aumentaria a freqüência dos corpos afiliados que hoje lutam, às vezes com dificuldade, para se manter, e garantiria que todos os presentes estudariam as monografias, como acontece na Ordem Martinista.
Bernardo: Não funcionaria, embora eu mesmo já tenha pensado nisto.
Pois isto significaria a morte do trabalho do Sanctum no Lar, uma característica pétrea de nossos estudos, além de restringir em muito a liberdade de nossos membros.
Agora, como uma alternativa, acho que seria uma grande idéia. Deixaríamos a critério do membro que entrasse a decisão de seguir os estudos de modo templário ou apenas no Sanctum do Lar, ou ambos.
Frater Alberto: E porque não implantamos esta idéia logo?
Comenius: Porque nenhum de nós, isoladamente, tem este poder, atribuído apenas ao Supremo Conselho da Ordem, em conjunto com nosso Imperator. No entanto, podemos e devemos sugerir tais coisas e colocar em discussão estes temas pois a Ordem é feita por nós, pouco a pouco, como todos sabem.
Frater Alberto: Então está feita a sugestão.
Bernardo: Que está devidamente anotada e será repassada ao Grande Conselheiro da região, que por sua vez a repassará ao Grande Mestre, que por sua vez a apresentará para debate no Supremo Conselho.
Frater Marcelo: Nada impede o frater ou a sóror de seguir seus estudos, na minha opinião, a não ser sua própria vontade.
Comenius: Em que sentido, Frater?
Frater Marcelo: No meu entender, as pessoas que não acompanham o estudo monográfico em sanctum, demonstram pouca força de vontade e determinação e esta é uma das “peneiras” que filtram os estudantes rosacruzes na sua caminhada rumo aos graus mais altos.
Comenius: Concluo então que para o frater a vontade é parcial ou totalmente fundamental para o avanço na ordem ou em qualquer atividade humana?
Frater Marcelo: O frater não pensa desse modo?
Comenius: Na verdade não, frater.
Frater Marcelo: Fiquei curioso. O que para o frater é mais determinante para o progresso do que a vontade de progredir?
Comenius: O conhecimento frater, o conhecimento.
Frater Marcelo: O frater no entanto sabe que em todas as eras recentes pensadores os mais proeminentes (Schopenhauer, Nietzche) não pensaram desta forma o que me leva a pedir que o frater elabore mais sua posição.
Comenius: Com prazer. Começo minha elaboração voltando às origens do pensamento humano, a Grécia, e ao templo de Delfos, onde em seu pórtico estava escrita a frase tão cara aos rosacruzes de todo o mundo: “Homem, conhece-te a ti mesmo e conhecerás o Universo e os deuses”.
Não é dito: “Homem , tenha vontade e conhecerás o Universo, etc...”; diz-se “conhece-te” ou seja, tenha conhecimento. É como se Delfos nos lembrasse que sem um mapa as travessias às vezes podem até ser feitas, mas serão imensamente mais difíceis. Nesta linha de raciocínio, eu comecei a questionar se a vontade, embora importante, era o mais importante. E em que medida o conhecimento não é o motor da vontade ou melhor seu parceiro, seu complemento.
Foi quando conversei com meu amigo aqui e meu frater, Bernardo, e ele me trouxe considerações semelhantes que ele fez a partir de sua profissão, a Medicina e que eu queria, se o frater Alberto permitir, pedir que o próprio Bernardo falasse sobre elas.
Frater Marcelo: Pois não.
Bernardo: Obrigado. Sim, é verdade. Conversei com Comenius sobre isso. O voluntarismo foi no século XIX de muita importância. É verdade que em seu trabalho filosófico, Schopehauer atribui a vontade grande importância, se bem que para ele Vontade era uma força, e não só uma virtude humana, mas um modo de ser da criação; mais, ele dizia que esta Vontade que movia a humanidade era cega e arrastava a todos os seres em direção a um destino desconhecido.
Na verdade eu tenho uma pesquisa aqui da WiKipedia sobre o assunto que mostra bem as posições ao longo das épocas sobre a Vontade:
“Vontade é a capacidade através da qual tomamos posição frente ao que nos aparece. Diante de um fato, podemos desejá-lo ou rejeitá-lo. Ante um pensamento, podemos afirmá-lo, negá-lo ou suspender o juízo.
Para os filósofos Santo Agostinho e Descartes, vontade e liberdade são a mesma coisa: a faculdade através da qual somos dignos de louvor, quando escolhemos o bom, e dignos de reprovação, quando escolhemos o mau.
Agostinho e Descartes concordam em que o fato de nós humanos termos vontade nos torna responsáveis pelas nossas decisões e ações. A dimensão moral do homem decorre do fato dele ter vontade.
Em Agostinho, a escolha digna de reprovação é pecado. Em Descartes é erro. O pecado é uma falta religiosa oriunda da vontade. O erro é uma falta moral ou epistêmica. Moral quando a falta oriunda da vontade é prática. Epistêmica quando a falta oriunda da vontade é teórica.
Agostinho e Descartes também concordam em afirmar que o fato de termos vontade não só nos torna responsáveis por nossos atos e decisões como também livra Deus de qualquer responsabilidade sobre a mesma, tal como explica a teodicéia.”
“Teodicéia é um ramo da teologia que trata da coexistência de um Deus bom com o mal.
O termo teodicéia provém do grego θεός - theós, "Deus" e δίκη - díkē, "justiça", que significa, literalmente, "justiça de Deus". O termo foi criado em 1710 pelo filósofo Alemão Gottfried Leibniz num trabalho intitulado Essais de Théodicée sur la bonté de Dieu, la liberté de l'homme et l'origine du mal. O propósito do ensaio era demonstrar que a presença do mal no mundo não entra em conflito com a bondade de Deus — ou seja, não obstante as diversas manifestações de iniqüidade no Mundo, este é o melhor dos mundos possíveis”
Gottfried Leibniz e Descartes eram Rosacruzes.
Já Alice Valente nos lembra que , “ No sistema de Schopenhauer, a vontade é a raiz metafísica do mundo e da conduta humana; ao mesmo tempo, a fonte de todos os sofrimentos. Sua filosofia é, assim, profundamente pessimista, pois a vontade é concebida como algo sem nenhuma meta ou finalidade, UM QUERER IRRACIONAL E INCONSCIENTE. Sendo um mal inerente à existência do homem, ela gera a dor, necessária e inevitavelmente, e aquilo que se conhece como felicidade seria apenas a interrupção temporária de um processo de infelicidade e somente a lembrança de um sofrimento passado criaria a ilusão de um bem presente. Para Schopenhauer, o prazer é momento fugaz de ausência de dor e não existe satisfação durável. Todo prazer é ponto de partida de novas aspirações, sempre obstadas e sempre em luta por sua realização: “Viver é sofrer”.
Já para Nietzche, a vontade é antes de qualquer coisa, Vontade de Poder. Diz ele que “a vida só se pode conservar e manter-se através de imbricações incessantes entre os seres vivos, através da luta entre vencidos que gostariam de sair vencedores e vencedores que podem a cada instante ser vencidos e por vezes já se consideram como tais. Neste sentido a vida é vontade de poder ou de domínio ou de potência. Vontade essa que não conhece pausas, e por isso está sempre criando novas máscaras para se esconder do apelo constante e sempre renovado da vida; pois, para Nietzsche, a vida é tudo e tudo se esvai diante da vida humana.
Aqui temos a Filosofia e o termo Vontade elevado a condição de categoria filosofica; esta Vontade sempre foi considerada uma indiscutível faceta da natureza do mundo e do homem. Então surgiram os antidepressivos.E o primeiro grupo foram os tricíclicos.






AMITRIPTILINA


Diz a Wikipedia: “Os primeiros tricíclicos foram desenvolvidos em 1949 como anti-psicóticos. No entanto não foram eficazes no tratamento da maioria das psicoses, nomeadamente na Esquizofrenia.
Começaram então a ser utilizados clinicamente como anti-depressores na década de 1950.A Teoria das Monoaminas, das origens bioquimicas da depressão por déficit de noradrenalina, dopamina e serotonina, foi proposta em 1965.” Foi nesse momento que se percebeu que a perda da Vontade era a mais importante manifestação da Depressão, ou seja, a Vontade não era apenas um fenômeno moral mais neuro químico também.Tudo portanto é muito recente. Foi por causa destas drogas que começamos a tentar entender o mecanismo da vontade, não como categoria filosófica, mas como fenômeno neuroquímico psicológico. E o que antes era apenas um traço de caráter tornou-se compreensível como um mecanismo bioquímico sobre o qual poderíamos ter uma parcial ou total intervenção, modificando-o, e modificando assim a vida daquele que recebia esta intervenção.Isto me levou a especular que Vontade, embora decantada em prosa em verso, não é tudo. É apenas parte do problema. Para que o homem crescesse e evoluísse ele precisava antes de tudo ter saúde neurológica, o que garantiria sua saúde mental, e aí sim, as Virtudes, entre elas a Vontade, poderiam se manifestar. Veja, eu percebi que a saúde física poderia estar debilitada, mas se a parte cerebral estivesse bioquímicamente íntegra, a vontade e a determinação de um indivíduo estariam preservados e ele superaria qualquer desafio, independente das condições adversas que ele enfrentasse.Já, ao contrário, se o corpo estivesse aparentemente íntegro, e a mente debilitada, por causa de um cérebro bioquímicamente doente, este indivíduo precisaria não de lições de moral ou discursos, mas de um médico.
Foi o conhecimento destas drogas e de seu provável mecanismo de ação que mudou a vida de milhares de pessoas em todo o mundo, que não estariam hoje em condições de atender a nenhum chamado a consciência ou ao trabalho produtivo sem o concurso desta intervenção farmacológica. Ou seja, nós não sabemos nada de nosso cérebro e por conhecê-lo mal, atribuímos a Vontade humana uma importância descabida.
O corpo é uma máquina maravilhosa, mas não perfeita. Tem defeitos de fabricação, por assim dizer, que se corrigidos, inserem milhares de pessoas no que podemos chamar de ambiente social produtivo, do qual não estavam afastadas por vontade própria, mas por uma deficiência bioquímica, deficiência esta corrigida pelo conhecimento científico.
O que salvou estas pessoas sem vontade? O conhecimento. Qual dos dois pesou mais? É difícil dizer, mas com certeza, o conhecimento teve seu papel.
O que se tira desta conversa? Não há força de vontade sem a força de um conhecimento poderoso por trás dela.
Melhor dizendo, se sem vontade, o conhecimento conseguido é pouco, sem o conhecimento, a vontade é uma energia cega e mal aproveitada.
A era da vontade como primeira e única força cessou; agora ela deve dividir a cena e ceder o comando ao conhecimento, como diretor do espetáculo da evolução.
Comenius: Não sei se o Frater Marcelo comunga conosco em nossas considerações.
Frater Marcelo: Em parte, frater. Eu ainda não posso imaginar que sem determinação um indivíduo possa fazer qualquer coisa.
Comenius: Com o que concordamos, acho que Bernardo não negará isto.
Bernardo: Não nego.
Comenius: O que estamos dizendo é que antes de serem esclarecidos estes mecanismos neuro-químicos da vontade, achávamos que ela era apenas uma questão de escolha e esforço pessoal quando na verdade podem haver defeitos neurológicos a serem corrigidos e para isto o conhecimento trouxe um novo alento. Da mesma maneira que a morte de milhares de seres humanos por pestes, antes da era do antibiótico, era apenas, na época, a vontade de Deus, hoje se sabe que, além disto, era conseqüência da nossa ignorância médica, que estamos superando a duras penas. A vontade de Deus, a nosso ver, é eterna, mas o conhecimento do homem muda, evolui. O conhecimento, é pois, um divisor de águas. Por mais vontade que tivéssemos de salvar vidas naquela época, não conseguiríamos um décimo do que fazemos hoje rotineiramente nos hospitais. Não faltava vontade, mas conhecimento.
Frater Marcelo: Concedo ao frater a importância do conhecimento na nossa evolução. Entendo agora seu ponto de vista. No entanto, esta conversa começou com uma declaração minha de que as pessoas que não acompanham o estudo monográfico em sanctum, demonstram pouca força de vontade e determinação, o que continua sendo verdade, como antes.
Bernardo: Fato. O que muda é que agora sabemos que devemos nos preocupar em esclarecer estes indivíduos sobre este aspecto neurológico fundamental que é a saúde mental, orientando a todos que busquem de maneira entusiástica uma melhoria de sua qualidade de vida junto com o estudo rosacruz. Talvez este devesse ser um adendo do nosso grau de Terapeutas, o sexto grau, onde considerações já existentes sobre a importância do respeito ao corpo, templo da alma, deveriam ser enriquecidos com detalhes sobre a importância do equilíbrio psicológico e da sua necessidade antes do avanço psíquico, considerando que psicológico diga respeito a mente profana, ao mental, e psíquico diga respeito ao aspecto esotérico místico, o desenvolvimento das habilidades mais sublimes do estudo esotérico.
Sem que estimulemos nossos membros a procurar através da medicina ortodoxa, do esporte, da alimentação e dos hábitos de vida, a construção de uma estrutura mental e psicológica sadia, a senda mística não será possível e será sabotada, já que o aspecto neurológico estará prejudicado.
Comenius: Veja frater Marcelo, os místicos de todas as épocas têm achado suficiente a busca do espiritual.
Isto nunca foi suficiente para os rosacruzes que sempre defenderam o equilíbrio, com um outro ditado grego: “mens sana in corpore sano” o que quer dizer mente sã em corpo são.
Hoje , com as novas descobertas da neuropsiquiatria este lema fica ainda mais forte. A estrutura física que mantém a mente, o cérebro, também pode e deve ser melhorada na busca desta saúde, a saúde mental.
Bernardo: Queria dizer mais uma coisa. Nós falamos, eu e Comenius, que a Vontade Humana sem conhecimento é cega e que por isso ter vontade não é suficiente, só que existem outros níveis a considerar na administração de nossas vidas quanto ao grau de influência da Providência Divina sobre nós, os quais são compatíveis com a interpretação chinesa do Tao.
Frater Marcelo: Em que sentido?
Bernardo: Veja, desde que os gregos descobriram que o homem, e não os deuses, era o responsável por seu destino, grande foi o progresso da consciência humana. Sua maturidade expandiu-se. De fato, libertar-se dos deuses, fez o homem achar que não precisava de nada ou de ninguém além dele, para compreender a si mesmo e o universo. Só que o tempo mostrou que não é bem assim. Existe, e todos aqui nesta sala são místicos e sabem disso, uma força, uma energia que vaga pelo infinito e que representa a presença de Deus em tudo que existe, energia esta que é o próprio Deus em si. Nós, místicos, que experienciamos esta presença todos os dias em nossos exercícios e em nossa própria vida, sabemos que não estamos sós em nossas decisões mas que dependemos desta inspiração para nos guiar e tudo que fazemos e queremos é uma maior e progressivamente mais intensa participação desta energia divina em nós nos guiando, como Consciência, nos orientando, como Inspiração, e nos sustentando e fortalecendo com sua intensidade e vigor.
E o que diz a filosofia do Tao, codificada por Lao Tse?
Que existe sim este fluxo com o qual temos de nos harmonizar, chamado Tao, e que para que isto aconteça, precisamos relaxar e colocar nosso ego , nossa vontade de lado, entregando-nos confiantemente nos braços deste fluxo, desta corrente de abundância e prosperidade que corre pelo Universo.
E o que aprendemos no Ocidente? A pensar por nós mesmos, a duvidar sistematicamente de tudo, a criar um Ego estruturado, aparentemente autônomo, que nos dê uma noção intensa da experiência do Eu.
Mas o fluxo não permite o Eu. Ele, fluxo, pede que nos neguemos como independentes para que possamos fluir perfeitamente. Como gotas de água que caem na corrente do rio. Fluindo com ele, fundidas com ele, sem distinção, em completa absorção.
Essa é uma experiência assustadora para o Ego, mas é o estágio mais avançado que um místico em busca desta União pode alcançar. Este rio sabe para onde vai; nós, não.
Somos simples gotas, mas ele é o rio que flui.
Então, como místicos, não é nosso objetivo cultivar o voluntarismo, a força de ou da vontade, já que precisamos de conhecimento para que esta força possa ser útil e construtiva. E mesmo o conhecimento, embora possa dar um objetivo a nossa vontade, ainda assim nos tornará mais confiantes nas nossas próprias convicções, o que por si fortalecerá nosso Ego. Só que, por último, para que avancemos na senda mística, teremos que abandonar, pelo menos metodologicamente, este mesmo Ego que tanto lutamos para construir, de forma que Deus possa se manifestar em nós, e assumir o comando, guiando-nos literalmente em seu fluxo. Este é o dilema místico rosacruz que bem lembra Heráclito: ser e não ser, a um só tempo, de forma a estar no mundo, sem pertencer a este mundo.
Comenius: É isso. Acho que depois desta belíssima intervenção de Frater Bernardo, podemos encerrar este seminário por aqui. Agradeço aos frateres e as sorores pelas intervenções. Que todos tenham aproveitado tanto quanto eu e que retornem a seus lares imbuídos da paz profunda dos rosacruzes em seus corações. Assim Seja.
Todos respondem: Assim Seja!

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

DIÁLOGOS ROSACRUCIANOS: CAPÍTULO 3 : 1° SEMINÁRIO

Bernardo: Frateres e sorores (irmãos e irmãs). Estamos hoje reunidos para dar início a um exercício que esperamos sejam rotineiros em nossa região, e que, se mostrarem utilidade e aceitação na comunidade rosacruz internacional, poderão ser estendidos a todas as jurisdições de outros idiomas, em todo o Mundo, tornando-se um referencial do trabalho rosacruz tão importante quanto o material que vocês estão acostumados a receber em suas casas, pelo correio, ou os livros, os quais todo rosacruz habitualmente consulta, para aprimorar seus conhecimentos místicos.
Comenius: Nossa idéia, minha e de Bernardo principalmente, é oferecer um espaço de Fórum de Discussão Perene aos nossos frateres e sorores, de maneira a permitir, em tempo real, a elaboração coletiva de conceitos fundamentais a formação dos rosacruzes. Talvez isto pudesse ser feito pela Internet, mas começaremos por aqui, neste organismo afiliado.
Bernardo: Sendo assim o fórum está aberto.
Frater 1: Paz profunda frateres. Meu nome é João e gostaria de colocar em discussão a eficácia das técnicas rosacruzes.
Bernardo: Pois não.
Frater João: A questão é a seguinte: somos ensinados como estudantes rosacruzes a ter tolerância, entre outras coisas, com a demora de obter resultados em nossas experimentações, por exemplo, a prática da projeção astral. Não acho que esta seja a técnica mais importante das muitas que a ordem trabalha, mas começarei por ela para poder ancorar meu argumento. Sei que o domínio desta técnica, como de ordinário todas as técnicas sutis, implica prática e perseverança. Sei também, além disto, que nem todos nós temos as mesmas habilidades ao entrar na ordem. Muitas pessoas que não são rosacruzes, apresentam habilidades místicas superiores à de alguns antigos estudantes rosacruzes.
Isto me parece um pouco frustrante e desanimador, mesmo levando em consideração a compreensão que eu tenho do processo. Gostaria que os frateres e as sorores me ajudassem a elaborar esta questão que suponho não é só minha.
Comenius: Não é, com efeito. Eu gostaria de iniciar a elaboração do tema se o frater me permite.
Frater João: Pois não.
Comenius: Começarei pelo final. Pessoas que não são rosacruzes, é fato, apresentam às vezes, habilidades místicas (leia-se dons) que são superiores aos de muitos rosacruzes antigos. A questão é: qual o objetivo mais importante de nossa filiação: tornarmos-nos exímios projecionistas e leitores de pensamentos ou seres humanos mais elaborados e perfeitos?
Eu concordo que as técnicas rosacruzes consideradas heterodoxas no cotidiano (o uso regular da intuição nos negócios, as técnicas de projeção não espiritual, mas mental, sem sair do lugar físico em que estamos, etc) são uma espécie de chamariz para a afiliação, mas eu enfatizo que estes não são os únicos e nem os principais benefícios desta afiliação.
Nenhum esforço de aprimoramento é perdido, mas pode ser necessário mais de uma existência para desenvolver certas habilidades, desde que este seja nosso objetivo e persigamos esta meta de maneira obstinada.
Bernardo: Queria fazer uma intervenção.
Frater João: Diga.
Bernardo: Gostaria de dizer da minha alegria e solidariedade com sua frustração e eu explico porque.
Só pode haver frustração naquele que tentou várias vezes sem sucesso e isto denuncia que o frater persegue este objetivo com obstinação. Não há frustração em quem não se esforça. Não há derrota para quem não participa da competição, mas apenas a assiste, da arquibancada.
Todo cientista conhece a frustração e a irritação que a busca científica pode causar, porque ciência é para poucos, não para todos. Ciência é para aqueles que possuem a obstinação e a organização de, metodicamente, testar uma teoria à exaustão, mesmo que seja para depois abandoná-la como inútil e fantasiosa. E é desse material que deve ser feito o bom rosacruz. Ele não deve e não pode aceitar aquilo que a Ordem lhe propõe como verdadeiro apenas por que a Ordem disse que era verdadeiro. É preciso que ele teste em seu cotidiano todas as técnicas que recebe, senão para validá-las, pelo menos para aprimorar sua aplicação. E se uma delas não mostrar um desempenho satisfatório, resta indagar se ela realmente nos faz falta no cotidiano ou se nossa própria ansiedade não está bloqueando a manifestação do dom. Muitas vezes, é a vontade de descobrir que nos afasta da descoberta.
Comenius: É verdade. Uma das condições sine qua non para que determinada técnica mística seja dominada é a ausência de ansiedade em fazê-lo. Faz parte da técnica.
Frater João: Entendo.
Sóror Maria: Meu nome é Maria e gostaria de dizer outra coisa sobre isso.
Bernardo: Diga sóror.
Sóror Maria: Eu compreendo e aceito o argumento de que a ansiedade nos bloqueie, mas me pergunto se o que mais nos bloqueia não é o direcionamento errôneo de nossos esforços.
Comenius: Explique melhor sóror.
Sóror Maria: Veja, eu acredito que nosso karma nos proporcione uma linha de trabalho, uma tendência, que nos será mais favorável e propícia, logo que chegamos a uma nova encarnação. Talvez o mais importante seja deixar que esta percepção brote em nós, e não caçá-la, como se caça uma raposa na floresta. A raposa, é lógico, fugirá do caçador. Em contrapartida, se nos aproximamos dos animais com bondade, podemos fazer com que eles venham a nós. E provavelmente aquele animal que se aproximar mais depressa será o animal com quem temos mais afinidade.
Dizendo de outra maneira, temos que vasculhar nosso interior e caracterizar com clareza quais são as nossas características e tendências pessoais mais significativas e mergulhar na existência por este caminho: musica, literatura, educação, engenharia, etc. E assim também , no universo de técnicas que a Ordem nos fornece, observar quais são aquelas que executamos com mais facilidade, e começarmos a aprimorar estas técnicas, para depois passarmos aquelas aparentemente mais difíceis de dominar.
Bernardo: Interessante colocação.
Sóror Maria: Não acredito que haja um caminho único, embora todos os caminhos levem ao cume da montanha, mas acredito que cada caminhante tem o seu próprio caminho.
Comenius: É verdade.
Sóror Vera: Meu nome é Vera e gostaria de colocar outra coisa.
Bernardo: Diga sóror.
Sóror Vera: Na verdade o que eu vou falar pode soar como blasfêmia.
Comenius: Só existem blasfêmias entre religiosos. Suponho que aqui só existam cientistas místicos, por isso sinta-se à vontade.
Sóror Vera: Obrigado. Eu queria dizer que não acho que o sistema de monografias no lar ainda seja capaz de cumprir o seu papel educacional.
Bernardo: Elabore, por favor.
Comenius: As monografias são enviadas a todos que mantenham em dia seus pagamentos, mesmo aqueles que nunca abrem seus pacotes. Já presenciei dentro de um capítulo da Ordem um frater dizendo que ia abrir o pacote para ver em que grau estava.
Bernardo: E este frater ainda está na Ordem?
Sóror Vera: Não sei dizer. Só sei que não freqüenta mais o corpo afiliado.
Comenius: O que a sóror propõe como alternativa?
Sóror Vera: Proponho aulas dadas pela Internet com horário flexível, mas nas quais pudéssemos ver nosso mestre de classe. Haveria uma vez por semana um fórum de qual todos daquela classe participariam em tempo real. Eu digo mais: lembro que quando entrei na ordem, as monografias diziam que devíamos nos comportar como se estivéssemos frente a frente com o nosso mestre de classe na Grande Loja. Naquela época, não podia ser de outra forma. O tempo, entretanto, passou. A Internet se difundiu. Câmeras para Internet são extremamente baratas e a maioria das pessoas, e centenas de países, tem um computador e um acesso à rede. Portanto, hoje é possível estar na presença de nosso mestre de classe,à distância, com imagem e som.
Só a metodologia da Ordem não acompanhou este movimento e isto me preocupa.
Comenius: Em termos educacionais, a sóror tem a minha total simpatia por sua colocação. Em termos operacionais, no entanto, suponho que o acesso à rede ainda não é um fenômeno universal .
Sóror Vera: O frater me perdoe, mas não existem dados que sustentem esta afirmação; ao contrário: as estatísticas mostram que o número de pessoas com acesso a rede têm aumentado exponencialmente. Estamos portanto , no meio da virada.
É a hora de aproveitarmos e melhorarmos nossos recursos. Até porque, com aulas pela Internet, podemos verificar a clareza de um irmão sobre a monografia estudada e obrigá-lo a estudar esta monografia, controlando seu aproveitamento, verificando este aproveitamento e não apenas promovendo-o grau a grau, baseado apenas no pagamento ou não pagamento das mensalidades.
Comenius: Concordo com a sóror, repito, do ponto de vista da verificabilidade da consistência do aprendizado, mas , mesmo concordando que o acesso à rede aumenta dia a dia, a sóror deve concordar que nem todos os nossos frateres e sorores dispõem deste acesso, do ponto de vista mundial.
Sóror Vera: Sim eu concordo, o que mais uma vez não nos obriga, nem justifica que não promovamos este salto qualitativo. Acho que a hora é esta.
Bernardo: Eu queria fazer uma intervenção.
Comenius: Diga Bernardo.
Bernardo: Eu concordo com a sóror no ponto de vista educacional, e também no operacional. As condições tecnológicas já estão dadas, aí, a nossa disposição. Também acho que devemos aproveitá-las. Creio até, que era isto que Spencer Lewis teria feito. Ele era antes de tudo, um homem de seu tempo.
Comenius: Entendo.
Bernardo: De qualquer forma considero que o mais importante da fala da sóror é quando ela se refere à qualidade de nossos estudantes. Acredito que tenhamos nos tornado, não tolerantes, mas condescendentes com uma qualidade inferior a desejável.
Comenius: Talvez este seja o motivo mais importante deste seminário.
Bernardo: É verdade. E eu queria esclarecer que há um perigo na afirmação pura e simples de que a qualidade de nossos membros piorou. Pode parecer que este é um discurso elitista e que o critério seja intelectual, para fazer a linha de corte. Não é isso. O critério, o grande critério sempre será o critério ético e místico. Temos irmãos dignos e assíduos, regulares em seus estudos, os quais são também particularmente cultos.
Da mesma maneira, temos irmãos de formação universitária com os quais a convivência é muito, muito difícil, pela visível falta de sensibilidade e princípios.
Ou seja, nenhum de nós isoladamente pode definir o que é ser um bom rosacruz interiormente, mas apenas pelo comportamento externo, pelo seu desempenho na prática do rosacrucianismo, como estudante que envia relatórios regulares ou como membro ativo e colaborativo de um corpo afiliado. Por isso eu concordo com a Sóror que deveríamos aumentar o controle sobre o grau de absorção do conteúdo das monografias, até mesmo com a aplicação de testes de verificação regulares, sem os quais os estudos e o envio de monografias seriam interrompidos.
Comenius: Entendo.
Bernardo: Acredito que alguns poucos irmãos (espero) nem perceberiam que não estavam recebendo monografias novas a não ser depois de muito tempo.
Comenius: Espero sinceramente que você esteja errado, mas temo que esteja certo.
Bernardo: O corpo do conhecimento rosacruz é produto do somatório das contribuições de todos os nossos membros que ao longo de séculos acrescentaram pouco a pouco, suas contribuições pontuais a este tesouro místico e cultural.
Cuidar para que tenhamos membros cada vez melhores é construir alicerces mais sólidos para estas contribuições.
Somos uma ordem poderosa porque somos produto de um esforço espiritual e intelectual coletivo. Precisamos de todos. No entanto também precisamos de qualidade nestas contribuições.
Sóror Vera: Quero fazer outra pergunta. Seria possível aprofundarmos o estudo das técnicas da terapia rosacruz, como descrita e detalhada no 6°grau de templo? Poderia a grande loja cuidar de organizar cursos de terapeutas rosacruzes nos corpos afiliados?
Comenius: De forma alguma , sóror!
Sóror Vera: E por que não?
Bernardo: Como eu sou o médico, eu gostaria de responder esta questão.
Comenius: Pois não.
Bernardo: Se eu bem me lembro sóror, e acredito que a senhora também lembra, uma das frases introdutórias do 6° grau de templo dos rosacruzes é “... a rosacruz não treina terapeutas nem estimula que seus membros empreguem as técnicas rosacruzes em substituição as técnicas e conhecimentos da medicina ortodoxa...”; a sóror lembra deste trecho?
Sóror Vera: Pensando bem eu lembro, mas acho que poderíamos fazer mesmo assim um aperfeiçoamento em relação a este grau treinando nossos frateres. E se alguém quisesse usar este conhecimento poderia fazê-lo de modo altruístico.
Bernardo: Para isto já existem os fóruns de grau, Sóror, e eu vou repetir o que o frater Comenius disse: esta idéia de formar terapeutas em cursos regulares dentro da Rosacruz, não pode ocorrer de modo nenhum. E direi porque em duas palavras : é ilegal. Os rosacruzes não têm respaldo legal para treinar seus membros no exercício de quaisquer práticas que sejam redundantes a terapias já estabelecidas legalmente na sociedade organizada. Não podemos formar filósofos, embora todos nós pensemos, todo o tempo; não podemos formar professores, pois isto é atributo de uma faculdade organizada de educação; não podemos formar médicos pois esta é uma profissão definida, legalmente, e que para que possamos exercê-la é preciso anos e anos de formação e informação, em escola especializada.
Por último , sóror, eu gostaria de ter a fé que a senhora deposita na humanidade, mas duvido muito de que, munido de um certificado dado pela Ordem, um de nossos membros não se sentisse autorizado a abrir um “consultório rosacruz de práticas terapêuticas e esotéricas”.
E bastaria que um só de nós fizesse isto para a reputação de toda a Ordem fosse manchada e comprometida.Veja, sóror, embora eu reconheça que sua intenção é boa, a Ordem como instituição e organização não pode , por força da lei que ela jurou respeitar em todos os países, tornar-se facilitadora de práticas que, facilmente podem desbancar no mais baixo charlatanismo.
Se nosso esforço maior, e é este o propósito desses fóruns, é lutar de forma intolerante contra a superstição, contra a simplicidade de espírito no mau sentido, temos que, ao contrário, estimular nossos membros que queiram expandir seus horizontes terapêuticos a se dedicar a isto do modo ortodoxo, cursando uma faculdade de fisioterapia, de medicina, ou de enfermagem, e apenas enriquecer seus conhecimentos ortodoxos com o diferencial da terapia rosacruz do 6°grau.
Além disto, repito, já existe dentro da Ordem um espaço próprio para aprofundarmos o 6°grau: chama-se revisão de grau e é feita regularmente em todos os nossos corpos afiliados.
E digo mais: nem todas, mas muitas delas são feitas por profissionais médicos, que além disto são rosacruzes, o que garante fundamentação e qualidade nestas revisões, sem que se precise destacar o 6° grau do corpo de ensinamentos da ordem e transformá-lo num curso a parte.
Sóror Vera: Entendo. O frater me perdoe, mas em momento algum eu quis propor que a terapia rosacruz pudesse substituir o tratamento médico moderno, com seus enormes recursos. Desprezar todo o conhecimento médico moderno não passaria de obscurantismo.
Comenius: Muito me alegra que a sóror pense deste modo. Às vezes, nós mesmos não percebemos quando abrimos a porta para a passagem do obscurantismo. Observem, e não fui eu quem observou isto em primeiro lugar: nas histórias em quadrinhos, ou em filmes , o herói tem músculos e força física e o representante do mal é sempre um homem de saber, um cientista. Isto sempre me afligiu. De certa forma a fantasia humana denuncia o pensamento de que o intelectual, o homem de ciência, por trabalhar com conhecimentos esotéricos para a maioria das pessoas, só pode ser um representante de algo malévolo, já que o desconhecido nos assusta e, via de regra, o desconhecido nos ameaça.
esconfiamos de tudo que não compreendemos. Tememos tudo que não entendemos.
O medo gera raiva e a raiva o ódio. O homem comum odeia o conhecimento elaborado, não suporta argumentos longos, não quer o esforço de construir uma sólida formação.
Para o indivíduo comum tudo deve ser feito de modo rápido, sem muito trabalho, porque o simples, para ele, é bom, e o complexo , por ser complexo, é objeto de suspeita.
Nós, como rosacruzes, a mesma Ordem de homens de ciência e fundadores do modelo científico moderno como Newton, Descartes, Francis Bacon e meu homônimo, Comenius, devemos refletir nossa nobre herança procurando nos afastar de soluções fáceis e simplistas e investindo em nosso aperfeiçoamento mental e intelectual, tanto no campo místico como no profano.
Bernardo: Eu queria dizer que isto implica até em não se deixar levar por crenças não fundamentadas, que já foram analisadas e pesadas pelo crivo científico e foram reprovadas nesta avaliação.
Comenius: É verdade. Isto quer dizer que não devemos transformar a Ordem no santuário de saberes não aceitos pelo meio científico, como se qualquer coisa que a ciência recusasse, o fizesse por preconceito contra o novo ou por falta de visão. Na verdade, é preciso entender que recusar o método científico na análise de saberes ou linhas de pensamento heterodoxas pode nos levar a proteger , dentro de nossa ordem, o ovo das serpentes que não conseguira nascer em outras searas.
Sóror Vera: Eu gostaria que o frater desse algum exemplo.
Bernardo: Com todo o prazer. Existe em voga na sociedade uma prática conhecida como Medicina Ortomolecular. É definida como “o ramo da ciência cujo objetivo primordial é restabelecer o equilíbrio químico do organismo. Este acerto (orto = certo) das moléculas se dá através do uso de substâncias e elementos naturais, sejam vitaminas, minerais, e/ou aminoácidos. Estes elementos,além de proporcionarem um reequilíbrio bioquímico, combatem os radicais livres.”
Em primeiro lugar, tal ramo “científico” não existe. Diz-se científico porque todo movimento que busca se legitimar perante a sociedade chama a si próprio de científico, alegando que tem provas de sua eficiência.
E o que é científico?
Chama-se assim a todo processo de investigação que possui um conjunto de características abaixo descritas:
• Observação - Uma observação pode ser simples, isto é, feita a olho nu, ou pode exigir a utilização de instrumentos apropriados.
• Descrição - O experimento precisa ser replicável (capaz de ser reproduzido).
• Previsão - As hipóteses precisam ser válidas para observações feitas no passado, no presente e no futuro.
• Controle - Para maior segurança nas conclusões, toda experiência deve ser controlada. Experiência controlada é aquela que é realizada com técnicas que permitem descartar as variáveis passíveis de mascarar o resultado.
• Falseabilidade[1] - toda hipótese tem que ser falseável ou refutável. Isso não quer dizer que o experimento seja falso; mas sim que ele pode ser verificado, contestado. Ou seja, se ele realmente for falso, deve ser possível prová-lo.
• Explicação das Causas - Na maioria das áreas da Ciência é necessário que haja causalidade. Nessas condições os seguintes requerimentos são vistos como importantes no entendimento científico:
• Identificação das Causas
• Correlação dos eventos - As causas precisam se correlacionar com as observações.
• Ordem dos eventos - As causas precisam preceder no tempo os efeitos observados.
Quanto a Medicina Ortomolecular, os cientistas perguntam: quais provas demonstram sua cientificidade? Que experimentos mostram, de maneira inegável e reprodutível em outros laboratórios, que este tipo de abordagem funciona? Aonde foram publicados os resultados destes trabalhos? Quais as revistas científicas que os publicaram?
E sabe o que se segue a estes questionamentos? Silêncio.
Por que tais perguntas não podem ser respondidas.
Alguns poderiam dizer que isto é apenas má vontade da ciência ortodoxa, que existem interesses escusos por trás desta não aceitação, etc. Basta, entretanto, ver o preço deste tratamento vendido como a Panacéia de Paracelso, capaz de curar tudo que a medicina não cura, para ver que o interesse de lucro não é só das grandes corporações médicas e laboratórios.
Na verdade, seu status cientificista advém do introdutor do conceito ninguém mais, ninguém menos que Linus Pauling, duas vezes prêmio Nobel, de Química e da Paz.
Eu queria ler o seguinte relato, tirado de um site favorável a medicina ortomolecular:
"A Terapia Ortomolecular é ainda pouco conhecida. Não se trata de uma especialidade nova, mas de um modo de gerenciar a saúde física e mental, (o grifo é meu) cuja regra áurea é prevenir para não remediar, propondo detectar e corrigir os desequilíbrios das funções celulares a nível bioquímico-molecular (o grifo também é meu) antes que se estabeleçam as doenças, e na vigência destas, somar suas propostas aos tratamentos convencionais de forma que sejam mais eficazes, por períodos menores e com menos efeitos colaterais."
A Medicina Ortomolecular visa à normalização do equilíbrio químico do organismo através de substâncias naturais ao próprio organismo, como as Vitaminas, Minerais e Aminoácidos e “esse equilíbrio é mantido principalmente pela destruição dos Radicais Livres”.
O termo Ortomolecular foi introduzido por Linus Pauling (1901-1994), prêmio Nobel por 2 vezes (Química em 1954 e da Paz em 1962) na revista Science (160:265-271,1968), propondo que distúrbios mentais poderiam ser tratados pela correção de desequilíbrios ou deficiências de constituintes cerebrais tais como vitaminas e outros micronutrientes, como uma alternativa à administração de drogas psicoativas sintéticas. Linus Pauling é considerado o pai da Biologia Molecular.
Em 1930 passou a estudar as vitaminas, defendendo o uso destas como a base bioquímica das reações celulares em todo o organismo.
Em 1945, com a monografia sobre alteração da molécula de hemoglobina na anemia falciforme, primeira doença molecular, dá início a Medicina Molecular. Dentre as doenças moleculares podemos citar a Fenilcetonúria, cujo tratamento consiste na retirada do aminoácido Fenilalanina e na Galactosemia que consiste na retirada do leite.
Em 1960 passou a desenvolver a Bioquímica da Nutrição.
Em 1970 extendeu o conceito Ortomolecular a medicina em geral, como sendo moléculas certas em concentrações certas, caracterizando uma abordagem de prevenção e tratamento de doenças e, alcançar a saúde baseada em ações fisiológicas e enzimáticas de nutrientes específicos, como vitaminas, minerais e aminoácidos presentes no organismo.Então, por definição, pode-se dizer que a Medicina Ortomolecular trata da orientação terapêutica que tem por objetivo restaurar, no plano molecular, as concentrações normais de substâncias como vitaminas, minerais, aminoácidos, "smart-drugs", etc, normalmente presentes no organismo.
Bernardo: De lá para cá, as pesquisas se sucedem, sem que a comunidade científica consiga entender como operacionalizar coisas como a “...correção de desequilíbrios ou deficiências de constituintes cerebrais tais como vitaminas e outros micronutrientes...” já que até hoje não se conhece terapêutica eficaz contra distúrbios psiquiátricos apenas baseado na mudança alimentar. Mesmo assim, sem comprovação, sem fundamentos sólidos, sem responder a perguntas simples de modo claro e irrefutável, tão ao gosto do pensador científico, a chamada medicina ortomolecular prospera, enriquecendo aqueles que a praticam, dado o alto preço das consultas, e empobrecendo os que a buscam de boa fé, dado o custo dos procedimentos envolvidos. E o que ocorre entre os rosacruzes? Pessoas que se dizem praticantes desta linha de abordagem terapêutica recebem reverência e atenção como se fossem portadoras de um raro saber, respeitado internacionalmente e cientificamente fundamentado , quando , no máximo, junto a ciência ortodoxa, é apenas considerado um charlatanismo chic.
Comenius: Uma classificação assim não é demasiadamente radical para um rosacruz?
Bernardo: Não, se for feita na defesa intransigente da qualidade do pensamento crítico dos membros de nossa Ordem. Antes que alguém atravesse nossos portões, com mensagens extravagantes, bombásticas, com informações sobre práticas revolucionárias de auto domínio da mente, é preciso que encontrem no lado de dentro da Ordem a mesma capacidade crítica, o mesmo pensamento investigativo, curioso, mas cuidadoso, de um cientista ortodoxo.
Muitos de nossos frateres e sorores têm uma boa fé ingênua no examinar de teorias que surgem aos borbotões por toda a parte , auto proclamadas como capazes de mudar as vidas das pessoas em alguns meses, enquanto todos nós, pessoas de bom senso, sabemos que a alquimia da vida é lenta e que é preciso maturidade e tempo para que consigamos a união entre uma mente intelectualmente sólida com uma espiritualidade profunda.
Sóror Vera: Eu entendo o ponto de vista do frater, e comungo com a sua preocupação, mas não poderíamos cair em um outro erro de querer de todos os rosacruzes um comportamento intelectual típico apenas de pessoas com formação universitária? Rosacruzes com menos títulos acadêmicos poderiam acompanhar este tipo de modelo que o frater propõe?
Comenius:Esta eu queria responder.
Bernardo: Fique à vontade.
Comenius: Veja, sóror, o que Bernardo defendeu não se referia a uma visão acadêmica de mundo. Deus sabe, e os membros com formação acadêmica ortodoxa, aqui presentes, concordarão comigo, que na Universidade como fora dela encontraremos pessoas de pouco discernimento. Isto porque a sagacidade não se desenvolve com a leitura e com a formação acadêmica, mas se aprimora com a maturidade.
A imagem do caipira esperto, tão comum no folclore de nosso país, representa esta sagacidade espontânea, não construída, possível de ser encontrada em quaisquer níveis das camadas sociais. O que eu espero, e acho que Frater Bernardo também, é que os rosacruzes não sejam ingênuos em suas avaliações do mundo, e considerem tal ingenuidade um verdadeiro pecado científico.Viveka, o discernimento, nos protege do engano, do erro e nos ajuda, tanto na vida profana como na vida mística.
Bernardo: Vejam, frateres e sorores, é preciso discernimento para tudo que fazemos, ou para usar um termo próprio dos ensinamentos da Ordem, prudência, tanto na análise de toda a informação que nos chega quanto na valorização desta informação. Estou convencido de que tudo aquilo que é fundamental para nossa formação mística já está no seio dos conhecimentos distribuídos generosamente pela Ordem em suas monografias, e se algo estiver de fora, a Ordem não medirá esforços para trazê-lo para o seio de seus ensinamentos, publicá-lo e torná-lo disponível para todos os seus membros.
Comenius: Acredito que podemos encerrar este fórum por aqui.
Bernardo: Agradecemos a todos pela presença e participação. Que a paz profunda dos rosacruzes esteja com todos.
Todos respondem: Que assim seja.