Multi pertransibunt et augebitur scientia (Muitos passarão, e o conhecimento aumentará).

sábado, 27 de agosto de 2011

O ENCERRAMENTO




Por Mario Sales, FRC.:,S.:I.:,M.:M.:



Daqui a pouco às 15 e 30 começa o encerramento da Convenção Mundial da AMORC em Curitiba e aí o próximo evento será o jantar mais tarde à noite. Voltamos todos aos nossos lares com a sensação da egrégora reforçada pelas discussões , palestras e rituais que assistimos e dos quais participamos.
Que todos retornemos em paz aos nossos lares e reencontremos nossos familiares na mesma paz profunda com a qual saímos daqui.
Se for a Vontade dos Mestres, está feito.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

NA CONVENÇÃO



Por Mario Sales, FRC.:, S.:I.:,M.:M.:

Curitiba não está tão fria. Aliás, os termômetros falam em 17 graus agora.
Ao que tudo indica, o calor humano da confraternização de 2000 rosacruzes alterou as características climáticas do lugar.
Encontro finalmente depois de quase dois anos de amizade virtual, mestre Reginaldo, distribuindo simpatia e absolutamente a vontade entre todos.
Encontro ainda Antonio de La Maria, seguidor do blog que simpaticamente me reconhece, na multidão.
Para minha desdita, adoeço logo ao chegar. Saio em meio a cerimônia de abertura e só retorno agora a tarde para as atividades : uma palestra sobre os essênios e o conventículo geral martinista.
O ambiente não poderia ser melhor.
Não há dúvida de que será uma excelente convenção.
Parabéns aos organizadores.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

SEGUINDO PARA A CONVENÇÃO



Por Mario Sales, FRC.:,S.:I.:,M.:M.:


Publico este texto agora à noite, terça feira, 23 de agosto.
Amanhã, às 3 horas, com a ajuda dos Mestres, nosso avião estará decolando para Curitiba, junto com outros frateres e sórores, rosacruzes e martinistas, para a Convenção Internacional cujo tema é “O Sagrado”.
Pela primeira vez vou encontrar meu mestre e amigo Reginaldo, companheiro da ARLS In Vino Veritas, uma reunião de apreciadores do vinho da qual ele participa às quartas feiras, regularmente, via Skype.

Nestes encontros, 2 rosacruzes, eu e Reginaldo, e 2 maçons, Fernando Castro e Yiuti Carlos Yamashita, nos sentamos para discutir assuntos gerais e particulares com a liberdade que nossa vontade impõe a nossa agenda de compromissos, tornando uma obrigação o desfrute da existência e a convivência fraterna.
Em Curitiba, a partir de amanhã, o mesmo ocorrerá.
Todos nós rosacruzes, vindos de todas as partes do mundo, estaremos reunidos no Teatro Guaíra, em Curitiba, para confraternizar e ouvir as preleções de todos os Grandes Mestres, do Imperator, Frater Cristian Bernard, em ambiente com certeza de fraternidade e carinho mútuo.

Temos em cada encarnação, duas famílias, ambas kármicas: a de sangue e a de afinidade espiritual.
Minha segunda família estará reunida de quarta até sábado, em Curitiba.
Rogamos todos, cada um em sua língua de origem , que a Paz Profunda dos Rosacruzes inunde Curitiba e nos envolva em sua egrégora protetora.
Boa Convenção a todos.

A IMPORTÂNCIA DA MAÇONARIA NOS DIAS DE HOJE


Por Mario Sales, FRC.:,S.:I.:,M.:M.:


Neste dia comemorativo da nossa Ordem, cabe indagar o que é a Maçonaria , hoje.
Como prática de grupo, com características iniciáticas, a Maçonaria Moderna parece ir na contramão da história moderna, a qual mostra cada vez menos formalismo e mais transparência nas suas instituições de cunho social.
Na verdade, o legado maçônico hoje como sempre, é a formação de líderes pela educação da sua prudência ao falar, da sua capacidade de sentir, e da libertação de seu pensamento de dogmas que o aprisionem e sufoquem seu espírito.
As Lojas Maçônicas não são escolas filosóficas, mas sim escolas éticas, centros de treinamento para aprimoramento humano, que disciplinam seus membros na capacidade de calar, de conter as emoções, de, enfim, canalizar suas energias de forma organizada, tornando cada maçon senhor de seu espírito e de seu destino.

Todo indivíduo que cruza os portais da maçonaria tem a chance de , após algum tempo, transformar-se de homem chumbo em homem-ouro, sofrendo a única transformação alquímica que importa, aquela que aperfeiçoa o Ser Humano, que o melhora como cidadão e como indivíduo.
Queira o Grande Arquiteto do Universo que possamos, nós, membros desta Tradicional Ordem, levar a muitos mais a mensagem e a prática maçônica, melhorando com isso, em qualidade, toda a Humanidade.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

O SENTIDO DA VIDA

Deixe o vídeo carregar primeiro e depois assista de uma vez; depois ria ou chore, você decide, mas emocione-se, com certeza, ao encontrar-se aqui.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

REVISÕES


Por Mario Sales, FRC.:,S.:I.:,M.:M.:

É estranho. Da idéia de uma sóror na Morada do Silêncio em 2009 até agora já se vão dois anos.
O Blog consolidou-se e tornou-se uma parte importante de contato entre eu e meus amigos, místicos ou não. Com temas muito diferenciados e dirigidos ao meio iniciático, supus que muito poucos o lessem, mas o fato é que já atingimos mais de 10000 hits o que quer dizer, se considerarmos apenas 1/3 disso como leitores, já que a grande maioria vem em busca das imagens, mais de 3000 pessoas leram ou consideraram os temas aqui propostos. Foram até agora, 84 ensaios místicos, 26 ensaios psicológico-comportamentais e 40 vídeos nestes 17 meses de jornada.
Acredito que seja uma boa hora para revisões e por isso, republicarei, abaixo, um pouco mais incrementado com imagens o que não era padrão naquela época, o primeiro ensaio colocado no blog, no dia 3 de março de 2010, com o título de “As Três Virtudes Teologais”.
Boas leituras.

CONSIDERAÇÕES MÍSTICAS: A VISÃO MÍSTICA DAS TRÊS VIRTUDES TEOLOGAIS DE PAULO, APÓSTOLO


AS TRÊS VIRTUDES TEOLOGAIS DE PAULO APÓSTOLO: A VISÃO MÍSTICA

Mario Sales,FRC,SI,MM


Se pudermos elencar os problemas do Misticismo Ocidental para evoluir, no discurso e na penetração de corações e mentes, o pior dentre todos os obstáculos talvez seja a falta de distinção clara entre o discurso místico e o discurso religioso.
Por muitos anos, na falta de uma revisão competente e exaustiva, o texto que apóia do ponto de vista ideológico o Misticismo em suas manifestações as mais variadas, compõe-se de uma colcha de retalhos formada por textos sagrados das diversas religiões criadas pela sensibilidade humana, sobre os quais a visão mística lança sua interpretação original, extraindo destes textos os significados que lhe dizem respeito.
Mesmo assim, em muitas das vezes, o texto místico é apenas a repetição das palavras dos Iluminados nestes textos, colocadas estrategicamente em outros textos, sob a forma de citações que devem, dessa forma, apoiar a compreensão de uma idéia.
Melhor dizendo, quando queremos falar sobre a importância da caridade ou da conduta ética, lançamos mão de discursos do Cristo; se queremos falar sobre desapego, usamos citações do Buda ou de outros líderes espirituais.
Supõe-se que, usando estes discursos prontos, estejamos sendo suficientemente respaldados pela palavra das autoridades deste campo (o campo místico) e que por isso nossa tese será melhor fundamentada.
Existe, entretanto, um problema conceitual nesta estratégia: sua ingenuidade. Ao basear suas idéias em discurso religiosos, os místicos correm o risco de confundir os dois discursos e ter que defender valores que não são seus.
Talvez por isso seja muito comum que idéias força do kardecismo e da Igreja Católica penetrem constantemente o discurso das escolas místicas como a AMORC, como se fossem idênticos, suficientes e satisfatórios para explicar o que o misticismo defende.
Ledo engano.
Não há talvez visão mais original em relação à noção religiosa que a visão mística.
Misticismo não é religião, é uma compreensão absolutamente diferente do mundo como o vemos. Está em relação ao discurso religioso na mesma proporção que o discurso científico está o discurso do senso comum.
Por exemplo, se para a religião é preciso existir um profeta, no misticismo cada um é o seu próprio profeta.
Se na religião necessita-se da crença em um Deus pessoal, espacialmente localizado, na visão mística Deus é um fenômeno amorfo e descentralizado, panteista, verdadeiramente onipresente.
Se, finalmente, para a religião, é fundamental a discussão da questão da Morte e da Vida além da Vida, o místico responde que não existe Morte, mas transição e que não existem dois tipos de Vida, mas apenas uma tipo de Vida.
Ou seja, pensar misticamente é cambiar valores que vão além de meras informações intelectuais. É preciso mudar a forma de pensar e, admito, as escolas esotéricas têm enorme dificuldade de lidar com este problema.
A limitação não é apenas espiritual, mas também filosófica.
Quando o misticismo fala de um Deus onipresente, o homem tenta representá-lo pelo modelo Cristão ortodoxo de um velho barbudo sentado em um trono do Apocalipse de João, o Evangelista. Este ser assim, espacialmente localizado, na representação de uma mente ingênua do ponto de vista filosófico, terá grandes poderes, e por isso será Onipresente.
Em nenhum momento passa pela mente deste neófito do pensamento que representar um Deus Onipresente como presente em um lugar qualquer, em algum momento, é um contrassenso lógico.
Não importa o conceito que trabalhemos. A imagem que usarmos para representá-lo em nossa mente denunciará a compreensão ou não deste mesmo conceito.
E como o misticismo trabalha com conceitos muito avançados em relação às religiões, que precisam para manter o poder e facilitar o acesso das massas aos seus discursos de imagens maniqueístas, simples, palatáveis, facilmente assimiláveis, gera-se um conflito na maior parte das vezes intuído, mas não compreendido muito menos expresso.
Este é o câncer do Ensino Místico. A falta de clareza sobre seus elementos fundamentais, sobre as linhas de seu contorno, sobre os seus conceitos básicos, sobre as suas idéias força.
O discurso místico, na ânsia de ser didático, faz concessões à falta de clareza e aos discursos de outras linhas de pensamento, não místicas, mas religiosas, na tentativa de atrair a compreensão de seus novos membros, oriundos de outras doutrinas e de outras linhas de pensamento.
Supõe, novamente de forma ingênua, que deve-se deixar ao coração de cada um, compreender aquilo que há de profundo, misterioso, portanto místico, por baixo do discurso religioso, no tempo próprio de sua compreensão particular, sem se dar conta que ao oferecer ao neófito místico um discurso incompleto e pouco claro, ele apenas retarda esta compreensão que seria muito mais rápida se, de início, fosse colocado que ao entrar no mundo da compreensão mística é preciso romper com valores de compreensão e que é nisso que o trabalho alquímico do iniciado deve se concentrar.
Isto também leva tempo, mas ao contrário da outra hipótese, tem uma direção, uma bússola, um foco no qual se concentrar.
Não tenho dúvidas de que o que tem afastado muitos indivíduos do misticismo moderno não é apenas o imediatismo de nossos dias, mas esta indefinição filosófica que permeia nossos ensinamentos, e que os confunde com uma Nova Religião.
Não os textos oficiais, básicos, elaborados com cuidado, mas sim as interpretações feitas por pessoas que deveriam representar o pensamento místico mundial.
Por exemplo, gostaria de citar um trecho importante do discurso religioso que tem sido assumido como místico, provando minha tese de que falta alguma espécie de filtro filosófico na transliteração de valores entre estas áreas.
É conhecido de todos o conceito de “Virtudes Teologais”, que encontramos em Paulo, o Evangelista.
Está na Carta aos Coríntios, 1, cap. 13:
“Agora, pois, permanecem a fé, a esperança, a caridade, estes três; mas o maior destes é a caridade.”
O discurso místico muitas vezes incorpora como seus estes valores, sem crítica ou cuidado explicativo.
Façamos então uma análise mística destas três virtudes e vejamos como ficariam após a filtragem dos valores que pregam.


A Fé




A fé é considerada na maioria das vezes como virtude mística, porém isto não é verdade. Quando eu digo que tenho fé em alguma coisa, quero dizer que creio sem comprovação, sem nada que me dê sustentação a minha crença. É um fenômeno de entrega, uma aposta digamos assim, uma convicção, que brota do íntimo ou de um condicionamento educacional, doutrinário, portanto adquirida, de que alguma coisa é de uma maneira, independente de fatos que suportem estas convicção.
Já o Místico trabalha com outro valor, o da confiança. Ele confia em coisas que experimentou bem ao estilo do cientista ortodoxo, só que em um campo de percepção mais sutil. É da natureza do místico pesquisar a si mesmo e não aquilo que está fora dele.
Portanto, quando os místicos afirmam crer em algumas coisas, querem dizer que sabem que elas são assim porque experimentaram de modo pessoal e íntimo a percepção dessas convicções. Sua crença resulta de uma experiência interior, de uma vivência, e não de um convencimento feito de fora para dentro. O exemplo clássico é o do nascer do Sol. O místico não tem fé no fato de que o Sol vai nascer, mas sabe que assim será, já que experimentou este fenômeno inúmeras vezes. E da sua experiência repetida, extrai sua confiança em que este fenômeno se repetirá, respeitando seu caráter cíclico.
Fé é uma crença infundada. Confiança é uma crença fundamentada. Quem tem fé crê naquilo que não sabe se é real. Quem confia,por outro lado, crê em coisas que sabe serem do jeito que são.




A Esperança


“A esperança gera a crença e, em seguida, a busca. Essa esperança é produto do desespero – o desespero de todos os que nos cercam neste mundo. Do desespero nasce a esperança –(...) duas faces da mesma moeda. Quando não há esperança, há o inferno, e o medo ao inferno dá-nos a vitalidade da esperança.”[1]
“Viver feliz é viver sem esperança. O homem que se deu à esperança, não é um homem feliz; ele conhece o desespero. O estado de desesperança 'projeta ' a esperança ou o ressentimento, o desespero ou o futuro feliz.
Só estamos livres da esperança quando somos felizes. É quando nos vemos infelizes, enfermos, oprimidos, explorados, é então que o amanhã se torna importante”[2].
É com essas considerações de Krishnamurti que quero começar minha discussão desta palavra, desta idéia força da religião, que alguns místicos tomam como sua.
A visão krishnamurtiana é muito útil em denunciar este jogo de espelhos que palavras como esperança criam dentro de nós. Manifestação da ansiedade e não da espiritualidade, o termo define um estado passivo de espera por alguma coisa que desejamos que aconteça, sem especificar nenhum tipo de ação para que tal coisa ocorra. É a versão da vida cotidiana, mundana, para o conceito expresso na palavra Fé, na relação com o Divino.
É uma crença infundada, de que algo acontecerá sem que tomemos nenhuma atitude para que tal ocorra, como se os fatos estivessem separados de nós, como se o karma não existisse.
Existem causas e existem conseqüências destas causas, isto o sabe qualquer místico. A esperança é um conceito destituído desta compreensão. Espera-se por alguma coisa independente de quaisquer causas que tenhamos gerado. Esta é apenas uma das manifestações da ansiedade, a outra face do desespero, como bem lembra Krishnamurti.
Ao contrário, o místico não vive no futuro, não espera pelo que vem, mas mergulha no presente eterno, preparando e modificando o porvir no agora, na ação, na transformação provocada pelas palavras, pensamentos ações e visualizações do que deseja.
O místico não tem esperança, mas consciência do aqui - agora que o cerca e sabe que não há futuro sem o presente e que a própria noção de tempo é um engodo em si.
E tudo o que nasce de um erro, é erro também, diz um princípio de sustentação da lógica.
Portanto, místicos não tem esperança nem podem ter, já que são seres conscientes de seu papel como forças de transformação e da sua ligação com tudo que o cerca. Sua vida, ele sabe, será aquilo que ele determinar, em sua mente e em seu coração, convicções estas que moldarão suas ações e comportamentos.
Deus está dentro de cada místico. Portanto é preciso crer em si, no que está dentro de si, e não em algo distante pelo qual devemos, passivamente, esperar.
O amanhã é agora. Não existe futuro. Com certeza nenhum de nós tem nenhum futuro. Só o presente eterno.


A Caridade


Por último, questionemos a caridade. Virtude cantada em prosa em verso, ela é fundamental como critério de avaliação do grau de bondade de um coração.
O que é no entanto a Caridade, que Paulo considera a mais importante das três virtudes? É o ato de dar aos que necessitam, sempre e sempre, tornando-se “um rio que corre para aqueles que precisam”[3].
O dicionário Houaiss, de 2009, Ed Objetiva diz que
Caridade é: 1.virtude teologal que conduz ao amor a
Deus e ao nosso semelhante; 2 Derivação: por metonímia.: ato pelo qual se beneficia o próximo, esp. os pobres e os desprotegidos( o grifo é meu); 3.disposição favorável em relação a alguém em situação de inferioridade (física, moral, social etc.); compaixão, benevolência, piedade.


Ora, por definição, ser Caridoso é ser bom com alguém mais fraco, inferior, e por isso, supõe-se, necessitado.
Aquele que dá por caridade, dá porque vê o outro como inferiorizado diante dele. Esta, pasmem, não é uma visão tipicamente mística.


Tal afirmação, que parecerá surpreendente a muitos, intoxicados pela confusão teórica entre misticismo e religião, apóia-se em um livro sagrado, não a Bíblia, nem o Corão, mas o Bhagavad Gita, que diz no capítulo 5, versículo 18:


“Os sábios humildes, em virtude do conhecimento verdadeiro, vêem com a mesma visão um brahmana erudito e cortês, uma vaca, um elefante, um cachorro e um comedor de cachorro (pária).”


Ora, se substituirmos a expressão “sábios humildes” pela palavra “místicos”, teremos uma noção correta da visão mística da prática do bem.
Quando o místico ajuda alguém não o faz por Caridade, já que em momento algum vê aquele que auxilia como inferior a ele seja material ou espiritualmente.
O que o místico faz, faz por que assim deve fazer, já que vê naquele que auxilia uma extensão de si, e não alguém diferente dele. Sua atitude é de Solidariedade com um igual e não de caridade com um ser diferente e inferior a ele.
Para o místico, dado ao seu conhecimento, não podem existir pessoas inferiores, ou abandonadas. Todos os seres humanos são filhos de Deus como ele mesmo, todos tem dentro de si a mesma centelha divina, a mesma força e se, apenas aparentemente, encontram-se em estado de sofrimento, isto se deve a sua compreensão limitada de seu próprio poder interior e não porque realmente estejam enfraquecidos.
Portanto em nenhum momento um místico ajuda um necessitado por pena, mas sim porque esta é sua obrigação como membro da raça humana, da qual aquele necessitado faz parte, em condições de igualdade, embora não aparente tal coisa. Digamos que ele tem misericórdia sem pena daquele que auxilia.
Esta é uma maneira extremamente diferente de compreender o ato de Bondade, não como uma concessão de alguém em condições melhores para outro que não as tem, mas de alguém que divide com aquele que auxilia as bênçãos que Deus nos deu para que fossem repartidas com nossos irmãos.
Místicos não dão coisas porque são pessoas boas; dividem com aqueles que ajudam apenas o que receberam para administrar e distribuir e que em nenhum momento acham que é seu. São canais de fluxo da Fonte de todas as coisas e não fontes em si. Isto é Solidariedade. Uma ação entre irmãos, entre iguais. Isto os faz escapar de um grave pecado: a Soberba, já que seguem a risca o dito de que a mão direita não deve saber o que a esquerda faz. Agem no silêncio e no sigilo para evitarem o pecado do Orgulho, ou o desconforto que causa a alguém sentir-se em dívida com outra, sem poder retribuir.
Desta forma, a expressão religiosa Fé, Esperança E Caridade, do ponto de vista místico seriam substituídas por Confiança, Consciência e Solidariedade, sem nenhum prejuízo da ação em si, mas com grande lucro na transmissão de valores genuinamente místicos em detrimento de outros tomados por empréstimo do discurso religioso.
Este é apenas um exemplo como poderíamos ter mais cuidado na orientação daqueles que buscam os portais do misticismo, para não retardarmos como disse, desnecessariamente, sua evolução espiritual.
[1]Krishnamurti , “A luz que não se apaga”, Pag. 17 a 20 – publicado pela ICK
[2] Krishnamurti, O Verdadeiro Objetivo Da Vida - págs. 92 a 94 - Edit. Cultrix
[3] Anthony Quinn , através da boca de seu personagem , Auda abu Tayi, no filme Lawrence da Arábia, com Peter O´Toole no papel principal,de 1962 , dirigido por David Lean

sábado, 13 de agosto de 2011


“As coisas materiais com insistência se oferecem a nós; as coisas espirituais devem ser buscadas com insistência”.

enviada por e-mail pelo Frater Amadeu

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

PENSANDO A CRIAÇÃO E SEUS PROBLEMAS



Por Mario Sales, FRC.:,S.:I.:,M.:M.:



“AZ -Então, o que dizer a quem qualifica a sua experiência como uma crise de fé e que ela realmente não acreditava em Deus, ou a quem sugere que a sua escuridão era um sinal de instabilidade psicológica?
BK - Ela não teve crises de fé, ou falta de fé, mas teve uma prova de fé na qual experimentou o sentimento de que ela não acreditava em Deus. Esta prova requereu muita maturidade humana, porque, se não, não teria sido capaz de suportá-la. Teria ficado desequilibrada.
Como disse o padre Garrigou Lagrange, é possível experimentar simultaneamente sentimentos contraditórios entre si. É possível ter uma "alegria cristã objetiva", como a chamou Carol Zaleski, e ao mesmo tempo entrar na prova ou sentimento de não ter fé.
Não há duas pessoas aqui, mas uma pessoa com sentimentos em diferentes níveis.
Podemos realmente estar a viver a cruz de algum modo – é dolorosa e faz doer– e, ainda que a espiritualizemos, isto não tira a dor. Agora, ao mesmo tempo, podemos estar alegres porque estamos a viver com Jesus e isto não é falso.
Aqui está o como e o porquê a Madre Teresa viveu uma vida tão cheia de alegria”


"Teresa de Calcutá: A luz desde a escuridão : Entrevista do postulador da causa de canonização, Pe. Kolodiejchuk, à Agência Zenit sobre o livro. O Pe. Brian Kolodiejchuk, postulador da causa de canonização de Madre Teresa de Calcutá, é o autor do livro "Come Be My Light", que recolhe os escritos da beata, em parte inéditos, revelando o sofrimento de não experimentar o amor de Deus. Em entrevista à Agência Zenit (Roma), o autor fala desta "noite escura", que tanta polémica tem gerado.”
http://missionariasdacaridade.blogspot.com/2009/12/teresa-de-calcuta-luz-desde-escuridao.html


Hoje de manhã, acordei cansado. Durante a noite, acho que um espirro ou coisa que o valha, ampliado em intensidade pelo silêncio da casa, me fez olhar em todos os quartos e cantos, no meio da madrugada, no quarto da minha filha, na lavanderia da casa.
Não era nada, apenas um ruído incomum na noite, mas meu sono foi interrompido.
De manhã, portanto, eu me sentia cansado, e atribuí o mau humor ao sono interrompido. Pouca paciência não é o meu normal, mas nessas horas é como me sinto. Inquieto e impaciente.
Voltei minhas baterias de mau humor contra tudo, até contra os fundamentos do Universo.
Fiquei pensando na dor do mundo, e na irreversível dualidade da manifestação. E pensei no quanto o Universo é imperfeito e mal acabado.

       
Principalmente este probleminha, este pequeno aspecto da criação, a dualidade de qualquer coisa que se manifeste aqui, e a impossibilidade de uma felicidade física e espiritual completa para todos no planeta, este defeito de fabricação identificado por Schopenhauer e que em bom Carioquês Filosófico se traduziria pela expressão “tem jeito não”.
Schopenhauer

E hoje estava absolutamente crítico em relação a isso.
As pessoas em geral pensam a mesma coisa, mas costumam raciocinar de modo mais ligado a aldeia do que ao Todo. Julgam que seus problemas são seus, e de mais ninguém, ou que só elas tem problemas, e ninguém mais.
Na verdade, místicos sabem que não é um problema particular, mas ligado a própria natureza da criação.
Maya era divertida, mas não é mais. É uma sucessão de sustos imaginários, feito a casa do horror de um parque de diversões, mas até os parques de diversão enjoam quando são demais.


Maya
As guerras não param há séculos, os conflitos humanos são intermináveis, o sofrimento das pessoas é constante.
Até Madre Teresa de Calcutá, digamos assim, perdeu a paciência com a irreversibilidade da dor.

Trabalhando com os pobres, queixava-se vez por outra de que um Deus misericordioso permitisse tanto sofrimento.
Consta que não foi canonizada até hoje, embora tenha tido uma vida de dedicação aos pobres e necessitados exatamente por causa desses comentários que chegaram a Santa Sé. E a Santa Sé, seriíssima, sentiu-se inibida em santificar alguém que tivesse dúvidas da misericórdia divina.
Graças ao bom Deus, não pertenço a nenhuma religião com uma hierarquia. O Hinduísmo é um conjunto de crenças seguido de forma absolutamente livre. Não tenho de prestar contas de meu relacionamento com o Altíssimo a não ser a Ele mesmo e a minha consciência, meu Mestre Interior.

E concordo com Madre Teresa, tanto sofrimento já está demasiado.
Que é culpa do homem ou não é uma falsa questão.
O que está em discussão é que fomos criados em um modelo imperfeito e instável, que hoje consideramos interessante, mas que para mim é ruim e ao qual nos acostumamos e depois tentamos justificar filosoficamente, apenas por não haver alternativa.
Se, hipoteticamente, a Criação fosse uma Loja, tivesse um gerente, e constatássemos nesta Loja o sem número de problemas operacionais com seus produtos, como a curta duração do período de existência no corpo, que impede o desenvolvimento de uma consciência e uma cultura mais sólida e uma civilização mais refinada, a irregularidade na distribuição de alimentos, a enorme deficiência espiritual da maioria dos visitantes da loja, etc., iríamos ao gerente reclamar, e dizer: “Olha, como um cliente, eu queria reclamar da qualidade da sua Loja e gostaria de sugerir mudanças na maneira de administrar os produtos e até da qualidade destes produtos”.

Só que não existe ninguém a quem se queixar.
O Universo é gigantesco, e a administração, aparentemente, muito distante. Não no espaço, mas na Consciência. Para que possamos interagir com a Consciência Fundadora e Mantenedora precisaremos ainda de alguns séculos de evolução mental e espiritual. Talvez quando formos mais refinados possamos fazer queixas diretamente, não através de orações lamurientas, mas por um diálogo amigável entre a nossa mente e a mente cósmica, comunicando nossas insatisfações e imediatamente através de nosso poder mental, mudando a natureza das coisas na massa plástica de Maya.

E tais ações sendo um atributo democraticamente distribuído entre todos os seres humanos em toda a parte de forma que, dotados de uma evolução mental satisfatória, possamos realmente transformarmo-nos em senhores de nossas vidas, e não peregrinos teimosos que avançam com dificuldade centímetro após centímetro, encarnação após encarnação, com apenas uns poucos de nós atingindo a Iluminação e, ao mesmo tempo, sendo incapazes de iniciar um número suficientemente grande de discípulos.
Assim, o progresso místico, mental e espiritual do mundo é lento, irritantemente lento, e consciências as mais primitivas ainda atuam na criação causando distúrbios no Oceano de Consciência e marolas para todos os lados.

Tudo é Ilusão, é verdade, mas parafraseando Calvin, o personagem dos quadrinhos, a Ilusão poderia ser ilusória ao nosso favor de maneira mais freqüente.
Os conflitos humanos, ilusórios ou não, as pequenas frustrações da existência, a impossibilidade, em níveis evolucionais medianos, de manter uma qualidade de vida aceitável, é desanimadora.
E eu não sou Santo Agostinho, não vou defender o Gerente da Loja, até porque, aliás, creio que todos somos “O Gerente”. E mesmo crendo nisso, existem muitos problemas que devem ser creditados à Inteligência Resultante do Encontro de Todas estas Inteligências, a qual primitivamente, soprou este Mundo de Sonho e elaborou este Pensamento Criativo em que vivemos.
Sempre dizemos “o universo e a criação são perfeitos; o ser humano é que é imperfeito”.
Eu digo que “tudo é imperfeito, tudo está em construção, existem cones de borracha por todo o Universo, ouvem-se britadeiras e tratores energéticos trabalhando em toda a parte, portanto, com certeza, esta não é uma obra acabada, mas um trabalho em elaboração”.
Sempre aceitamos que nossa evolução é pequena porque nós não temos ainda o conhecimento suficiente, porque precisamos evoluir mais, mas, por Deus, tanta dor, tantos conflitos, por tanto tempo e não evoluímos o suficiente?
O problema, provavelmente, é do modelo, não do desempenho de A, B ou C.
Estamos, como sempre defendi ( ver sobre isso o ensaio “O Mergulho”) em missão neste plano.
E “quem dá a missão, dá os meios”.
E o que temos?
Uma visão limitada, uma audição limitada, um intelecto hipertrofiado e uma sensibilidade hipotrofiada.
Pássaros nascem sabendo voar. Mais: sentem uma profunda harmonia com as correntes da Natureza, os fluxos da energia, os Leys, como Blavatsky dizia.

Nós nem podemos ver as energias que nos cercam.
Vemos apenas coisas densas e supomos, obviamente, que a realidade se resume a essas coisas.
Discutimos muito, sentimos pouco. E queria dizer, sofremos demais.
Não estou falando de mim ou da minha vida.
Nada tenho do que me queixar. Meu mau humor é com a Criação e com seu desempenho pífio na geração de Bem Estar e Felicidade para os seus filhos.
Tenho, neste momento, alguns bons amigos muito doentes, um deles em coma, há quatro meses.
Alguns de meus pacientes sofrem de patologias incuráveis que afetam seu desempenho pessoal. E são dotados de tantas limitações, psicológicas, intelectuais ou físicas, ou todas estas juntas, que pouco ou nada conseguirão mudar do sofrimento que antecipo para suas vidas, independente de minha intervenção com conselhos e drogas e técnicas terapêuticas.
Tenho uma boa colega com problemas graves de saúde na família, problemas que lhe acarretarão enorme sofrimento psicológico no futuro.
E qual o sentido de tudo isso? Não sei.
Antes pensei saber, mas não sei. Ainda acho que estamos em meio a uma peça teatral, como lembrava Richard Bach em Ilusões, mas hoje penso que o enredo é ruim.



Culpa dos atores? Não, da Direção, do escritor, do produtor.
Richard argumentava em seu livro, feito e escrito para iniciados, que o produtor, o escritor e o diretor éramos nós mesmos. Sim, concordo; mas o processo criativo e produtivo não foi gerado por eles, mas já estava dado quando começaram a escrever a peça, do mesmo modo que as letras de um alfabeto sempre serão as mesmas, independente das muitas combinações que faremos com elas para gerar narrativas as mais diferentes.
O Universo, como Criação, tem várias limitações, como um alfabeto também é limitado pelo número de suas letras.

Não sou um religioso, repito, sou um místico.
Minha União com a Consciência Cósmica é irreversível e tende a aumentar encarnação após encarnação, como de resto qualquer ser humano em evolução.
Não posso ter crises de fé como uma religiosa do porte de Madre Teresa de Calcutá, mas reconheço em suas crises, (que ela chamava de “escuridão”), algo do que sinto, uma insatisfação com a situação das coisas no mundo, na criação e no Universo. Como ela, no entanto, não desejo de que a dor se expanda ou se manifeste em mim para que eu me aprimore. Nem sinto esta alegria em meio ao sofrimento. O sofrimento das pessoas apenas me aborrece , seja pela minha incapacidade em aliviá-lo ou desfazê-lo de forma adequada, seja porque certas situações são além de irreversíveis, muito dolorosas.
Não acredito em Dor como base da Evolução, só como base do Sofrimento. A dor apenas dói, não ensina nada; apenas avisa, como um alarme, que algo está errado, mas eventualmente qualquer alarme deve ser desligado.
Meu desconforto é que, aparentemente, todos os alarmes estão tocando ininterruptamente sem que ninguém os desligue e sem que ninguém descubra a razão.
Nada disso faz sentido.

Provavelmente, os aperfeiçoamentos que desejo, ficarão para o próximo Universo, já que nada, absolutamente nada indica que alcançaremos, todos, não eu e outros, mas todos os seres humanos, o grau de felicidade que gostaríamos que todos tivessem.
Paciência.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

CREDULIDADE VERSUS CETICISMO EM AMBIENTES ESOTÉRICOS



Por Mario Sales FRC.:,S.:I.:,M.:M.:




Confesso que meu espírito científico não aumentou durante meu trabalho como médico, mas como repulsa aos disparates que testemunhei enquanto místico. A vivência das escolas esotéricas nos coloca em contato com as personalidades as mais variadas, desde pessoas crédulas e de poucas luzes até seres altamente refinados espiritualmente, verdadeiras luzes na humanidade, como é o caso de meu querido amigo, mestre e frater Reginaldo Leite. Existem, claro, os meros eruditos, aqueles que estão tão entupidos de informações que não conseguem realizar sínteses conceituais, mas que se deleitam em discutir filigranas nas informações que lhe chegam aos ouvidos com uma veemência que, os que testemunham suas falas supõem que o assunto em discussão é uma questão de vida ou morte.
O que me chamou atenção nestes anos, no entanto, é a pouca capacidade crítica da maioria dos membros destas mesmas ordens.


Não que a capacidade crítica e o bom senso sejam uma obrigação para ser membro de uma escola esotérica. Pessoalmente, no entanto, acho que deviam ser.
Um ambiente como o ambiente esotérico, que lida com ensinamentos extremamente sutis, sobre assuntos altamente subjetivos, deveria ser banhado por uma enorme dose de objetividade.
Isto retiraria das escolas esotéricas qualquer sombra religiosa que ainda persista na mente e no espírito do iniciado, deixando o campo livre para a religiosidade pura.
A Religião não é o problema. Ela é uma etapa importante do refinamento espiritual de todos nós. A questão é que junto com as religiões vem o pensamento dogmático, amarrado, e talvez o melhor místico seja o religioso em crise de fé com suas crenças, porque neste instante, torna-se flexível quanto a aceitar novos paradigmas. E o mais importante: se não houvesse qualquer sombra de religião nas escolas esotéricas não correríamos o risco de termos um esoterismo também dogmático, pois se a mente dos membros de determinada Ordem não se mantiver flexível com a troca, teremos apenas transformado um dogmático religioso num dogmático místico. E isto é a morte do misticismo.

Por isso, junto com a iniciação, que trabalha o mais profundo da sensibilidade de cada um deve haver a preocupação de trabalhar as habilidades reflexivas do iniciado, para municiá-lo contra discursos autoritários disfarçados de esoterismo.
Ora, tudo isto me vêm a mente enquanto leio um trecho de uma carta de Spinoza à um amigo, Boxel, onde ele faz reflexões sobre a importância do discernimento diante de declarações sobre fatos que careçam de demonstração.
Na carta, Spinoza comenta:
“O homem pereceria de sede e fome se se negasse a beber ou a comer antes de haver demonstrado plenamente que a bebida e a comida lhe caem bem; mas não acontece o mesmo na contemplação. Pelo contrário, devemos evitar admitir como verdadeiro o que é apenas verossímil, pois uma vez admitida uma falsidade, seguem infinitas. (...) concedendo que, na falta de demonstrações, devemos contentar-nos com verossimilhanças. Digo que a demonstração verossímil deve ser tal que, ainda que possamos duvidar dela, não podemos contradizê-la, já que aquilo que se pode contradizer não é semelhante ao verdadeiro, mas ao falso.”[1]
Muitas vezes, em escolas esotéricas, somos confrontados com declarações as mais ingênuas sobre assuntos os mais variados, geralmente tópicos do próprio esoterismo, sem que aquêle que faz tais declarações sequer suponha necessário qualquer prova daquilo que está sendo afirmado, por mais fantástica que seja sua afirmação. Parte do princípio de que, por estar em ambiente afável e em harmonia com suas crenças, não precisará de tais demonstrações. Só que, via de regra, trata-se de um raciocínio falso, com conclusões falsas, relembrando Aristóteles, porque parte de premissas falsas.
Uma delas é de que todos ali naquele ambiente acreditam nas mesmas coisas que ele acredita.
A outra é que todos ali são tão pouco criteriosos quanto ele quanto a aceitar como fato o que na verdade é apenas uma declaração de uma crença ou o simples repassar de uma informação não demonstrada.
Só que em escolas esotéricas isto é comum. Não é algo estimulado pelas escolas, mas acontece.
Fala-se de acontecimentos impressionantes, de fenômenos parapsicológicos que um ou outro diz ter experimentado e mostra-se admiração pela capacidade deste frater e desta sóror sem que, em momento algum, tais “poderes” tenham sido testemunhados.

Certa feita, ainda no tempo da Academia de Yoga, em Campos dos Goytacazes, no Rio, passei por uma experiência bastante didática em relação a estes assuntos.
Em frente a Academia existia um cinema chamado Cine Goitacá, cujo dono era um rosacruz inativo, mas que tinha atingido graus acima do nono. Não me lembro do seu nome, mas certa feita, curioso, viera me visitar. Sentamos no carpete da sala de prática enquanto ele me contava sua afinidade pelos assuntos do misticismo e me dizia que gostaria de se reativar na Rosacruz porque tinha aprendido coisas muito interessantes e até desenvolvido algumas habilidades parapsicológicas através dos exercícios. Ato contínuo, disse-me que tinha dotes telecinéticos e, amarrando um barbante em uma moeda, demonstrou-me esses dotes. A moeda, parada e pendendo pela força da gravidade na linha presa em seus dedos imóveis, após algum tempo em que ele ficou contemplando-a, começou a oscilar e depois a descrever círculos cada vez mais amplos, que demonstravam, já que a mão de meu interlocutor estava imóvel, que movia-se apenas pelos seus impulsos mentais e não por razões mecânicas.
Não fez ele, desta demonstração, algo especialmente importante. Apenas mostrou-me sua habilidade como parte de seu argumento, de modo desinteressado, como deve ser a atitude de quem sabe que poderes telecinéticos em nada modificam a vida de quem os tenha para melhor. Mas hoje me lembro com nitidez deste episódio porque exemplifica a atitude que devíamos ter, uns com os outros, dentro dos muros de nossas ordens, apenas por respeito a inteligência de nosso interlocutor. Este rosacruz  demonstrou algo em vez de afirmar que podia fazer alguma coisa que não fosse demonstrada. Não que as coisas relatadas entre místicos e esoteristas sejam estranhas a este meio, mas exatamente por isso, pelo fato destas declarações, sem quaisquer demonstrações, serem freqüentes, deveríamos insistir em mudar o nosso procedimento e só falar daquilo que pudéssemos demonstrar, para refrear a nossa própria língua e melhorar a qualidade de nosso trabalho esotérico.
A Prudência é um dos mais importantes degraus da Escada de Rá. Seria prudente que mantivéssemos nossa cabeça aberta, mas não tão aberta, como dizia Carl Sagan, que nosso cérebro caia.

[1] Carta 56 de Spinoza a Boxel, G IV,PP.260-1, citada no artigo “A Negação do Livre Arbítrio” de Marilena Chauí, in “O Mais potente dos Afectos: Spinoza e Nietzsche”, pág.77

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

PORQUE A LIBERDADE E A IGUALDADE SÃO IMPOSSÍVEIS DE SE CONSEGUIR E SÓ A FRATERNIDADE NOS SUSTENTA



Por Mario Sales, FRC.:;S.I..:;M.:M.:

Recebi, e agradeço, o comentário de um leitor do blog que, infelizmente, não deixou um email de contato e para o qual não posso responder diretamente. Faz uma crítica ao meu comentário sobre as incongruências em expressões usadas no cotidiano das escolas esotéricas, no caso, como exemplo, a expressão "Livre e de bons costumes". Em seu comentário, o leitor acaba resvalando em considerações sobre a liberdade. Eu ia redigir uma resposta específica, a título de estabelecer o debate, quando me lembrei de um antigo ensaio meu, bem sintético, que eu acreditava já ter publicado aqui no blog. 
Em uma rápida pesquisa, descobri para meu espanto, que não.
Como é pertinente, e apenas para termos um início de conversa, que eu espero se estenda como a interessantíssima conversa que tive com Fernando, outro leitor, há algumas semanas atrás, publico este texto. 

À Glória do Grande Arquiteto do Universo


Quando nós maçons, conspiramos para implantação da república francesa e destruição do Absolutismo obsoleto e injusto, recebemos da revolução um lema para seguir:
Liberdade, Igualdade, Fraternidade.

Com o passar dos anos, terminadas as ilusões e tendo percebido que não a REVOLUÇÃO, mas só a EVOLUÇAO pode melhorar o homem, percebemos a limitação de nosso lema.

Sobre a liberdade já falei aqui neste espaço.
Kant, pensador alemão pergunta: Liberdade para que? Esta é a questão.
Para que queremos ser livres?
Do que buscamos nos libertar?
Naquela época, trezentos anos atrás, falava-se em liberdade do jugo do Rei.
Depois, com a República, veio o jugo da Lei.
Em última análise, já que somos homens livres e de bons costumes, temos que prestar contas a nossa consciência.
Somos, pergunto, verdadeira e totalmente livres?
Seria realmente bom que fosse assim?


Igualdade


Já quanto à igualdade, também não passa de uma falácia.
Deus não faz cópias. Nivelar todos os homens a um mesmo plano é impossível.
Igualdade de direitos, sim; igualdade de pessoas, não.
Só o que o Universo consagra são as Diferenças: uns são altos outros baixos, uns tem mais habilidade, outros menos habilidade; uns conhecem a face de Deus, outros sentem náusea ao ouvir falar de seu nome.
Assim são as coisas. Não há sinais de que possam mudar.
Vivemos mergulhados na heterogeneidade. E, cá entre nós, é bom que assim seja.

Fraternidade


É possível, no entanto vivermos como irmãos. Respeitando as diferenças e conscientes da limitação de nossos atos que a consciência do homem e da mulher que são dignos, impõe. Esta não é outra senão a mais importante função da Maçonaria: fazer com que cada um de nós aprenda a harmonia dinâmica da convivência fraterna.