por Mario Sales, FRC.:,S.:I.:,M.:M.:
Estava agora a pouco aproveitando a paz de um sábado perfeito para assistir uma das aulas de Salman Khan sobre orbitais atômicos, conceitos ligados ao trabalho de Niels Bohr, aonde Khan descreve com maestria e didática a dinâmica interna das partículas componentes do átomo, prótons, nêutrons e elétrons.
Bohr
E nas suas elucubrações sobre o mundo do muito pequeno, Khan cita o Princípio da Incerteza de Heisenberg para afirmar que, embora imaginemos a órbita dos elétrons como semelhante a órbita de planetas, não é isso que ocorre já que a posição do elétron apenas pode ser determinada probabilisticamente e não de modo preciso. As nuvens que se formam em torno do núcleo de um átomo, nuvens essas formadas pelo movimento constante dos elétrons, são uma imagem mais fiel da imprecisão inevitável que encontraremos em estabelecer a posição deste elétron em determinado instante de tempo, ou mesmo o orbital em que ele estará.
Heisenberg
O próprio ato de tentar observar esta posição influenciará a posição do elétron, pois ao contrário do mundo das coisas grandes, no mundo do muito pequeno a luz é de uma densidade extremamente alta e, relativamente, empurra os objetos do mundo subatômico como empurraríamos uma poltrona, no nosso mundo.
Existe uma analogia que está na página da WiKipedia (http://pt.wikipedia.org/wiki/Princ%C3%ADpio_da_incerteza_de_Heisenberg) dedicada ao princípio da incerteza que gostaria de transcrever, para esclarecimento do princípio: “Para se descobrir a posição de uma bola de plástico dentro de um quarto escuro, podemos emitir algum tipo de radiação e deduzir a posição da bola através das ondas que "batem" na bola e voltam. Se quisermos calcular a velocidade de um automóvel, podemos fazer com que ele atravesse dois feixes de luz, e calcular o tempo que ele levou entre um feixe e outro. Nem radiação nem a luz conseguem interferir de modo significativo na posição da bola, nem alterar a velocidade do automóvel. Mas podem interferir muito tanto na posição quanto na velocidade de um elétron, pois aí a diferença de tamanho entre o fóton de luz e o elétron é pequena. Seria, mais ou menos, como fazer o automóvel ter de atravessar dois troncos de árvores (o que certamente alteraria sua velocidade), ou jogar água dentro do quarto escuro, para deduzir a localização da bola através das pequenas ondas que baterão no objeto e voltarão; mas a água pode empurrar a bola mais para a frente, alterando sua posição. Desta forma torna-se impossível determinar a localização real desta bola pois a própria determinação mudará a sua posição. Apesar disto, a sua nova posição pode ser ainda deduzida, calculando o quanto a bola seria empurrada sabendo a força das ondas obtendo-se uma posição provável da bola e sendo provável que a bola esteja localizada dentro daquela área.”
Interessante. Esta pequena revisão das características, não das órbitas, já que estas, à semelhança das planetárias, são regulares, mas dos orbitais, este caos de elétrons que circula o núcleo do átomo dialogando apenas com as forças de atração dos prótons dentro dele, me fez pensar de novo na instabilidade de todas as coisas, sua íntima e estrutural condição de nuvens polimorfas, como as nuvens do céu, a definir, pela complexidade e interação de campos e cargas elétricas o que nos acostumamos a chamar de sólido, de mundo real.O que é mais impressionante é a aparente estabilidade que possuímos nestes corpos, que deveria se desfazer com um sopro, e aos quais costumamos nos apegar ao longo as existência de uma encarnação.
“Tudo que é sólido desmancha no ar”, dizia Karl Marx, ou deveria se desmanchar, mas, por motivos que para mim ainda não foram suficientemente esclarecidos, as coisas ditas sólidas mantém uma forma e um contorno aparentemente estável, por anos. Embora, pelo que a física de partículas nos ensina, sejamos nuvens que caminham pelas calçadas como as nuvens vagam pelo céu, mantidos no solo pela força invisível da gravidade, que nos dá peso, que nos dá a impressão de densidade, tudo, absolutamente tudo que nos mantém, assim como estamos, é extremamente diáfano, vago e sem consistência.
Tudo isso deveria nos fazer sentir mais leves, mais desapegados, mas o salto, o “leap of faith”, não é tão fácil.
A ilusão é muito poderosa, e sugere, absurdamente, que nós, nuvens, sejamos pedras.
Mantemos esta sensação de solidez graças a uma espécie de auto sugestão, uma hipnose quântica que nos faz tocar nosso corpo e dizer: “Eu existo, eu estou aqui.”
Não, diriam os físicos, a densidade é o produto da multiplicação ao infinito das interações de campos dentro de nós, gerando as moléculas, que por sua vez também se multiplicarão gerando células, tecidos e órgãos.
Aí eu penso: “Mesmo assim, são campos tão instáveis, desde a mais diminuta subpartícula, tão caóticos, que é impossível que esta solidez aparente, esta estabilidade que experimentamos, não seja nada mais, nada menos do que uma sensação meramente psicológica, quase uma crença em uma aparência, sustentada pelas interações entre coisas tão sutis quanto a luz e os elétrons, ou seja, pelos pensamentos”
Sim, idéias, noções de mundo, crenças em suma que determinam nossa existência, qualidade de vida, saúde, resistência à doenças, ou mesmo o efeito placebo dos remédios feitos apenas de açúcar e fé.
São coisas pra se matutar.
Querido e estimado frater e mestre,
ResponderExcluireste texto me fez lembrar uma explanação sua que chamou a atenção em 2010. Coisas concretas ou tidas abstratas seriam variações de uma mesma coisa e não coisas distintas. Realmente é algo para se pensar várias e várias vezes pois com certeza, cada vez que pensamos e repensamos já transformamos algo. O pensamento seria o caminho para entender esta força? estas variações?
PP
Mário,
ResponderExcluirEstava com saudades de seus textos, havia algum tempo que não visitava seu blog, mas logo de cara me deslumbrei com um excelente artigo.
Irei matutar... Principalmente quando fizer minha "proteção cósmica"...