por Mario Sales, FRC.:, M.:M.:,S.:I.:
Num artigo publicado originalmente na revista "The Mystic Triangle" em maio de 1929, e republicado em O Rosacruz do primeiro trimestre de 2005, em tradução de Cecilia Erthal, SRC, Spencer Lewis discute alguns aspectos ligados a vida e a obra de Madame Blavatsky e seu relacionamento pessoal com dois dos mais importantes mestres da Fraternidade Branca.
Blavatsky
Quase ao final do artigo, Lewis comenta:
"Numa das cartas famosas dos grandes mestres, endereçada a um companheiro de Mme Blavatsky, que constantemente exigia demonstrações e manifestações, nos deparamos com o grande Mestre Morya repreendendo esse cético nas seguintes palavras:
"Sim, e atualmente estamos no meio de um povo conflituoso, de um povo obstinado e ignorante;podemos exigir a verdade e, no entanto, não sabermos como encontrá-la, pois cada um a busca para seu próprio benefício e gratificação particulares sem pensar nem um pouco nos outros."
Morya
Em outra carta - continua Lewis - o Mestre Morya repreendeu o mesmo homem por causa de seus desejos de demonstração, com as seguintes palavras:
"Também tente romper essa ilusão contra a qual os estudantes de ocultismo, pelo mundo todo, sempre foram advertidos pelos seus professores - o desejo ardente pelos fenômenos. Como a sede pela bebida e pelo ópio, ela cresce de forma gratificante. Se você não consegue ser feliz sem os fenômenos, nunca vai aprender nossa filosofia. Se você quiser pensamento filosófico saudável, e consegue se satisfazer com isso, vamos nos corresponder. Vou lhe contar uma verdade profunda dizendo que se você não escolher nada mais do que a sabedoria, todas as outras coisas vão lhe ser dadas por acréscimo - quando chegar a hora. Força alguma é acrescentada às nossas verdades metafísicas pelo fato de nossas cartas caírem do espaço e aterrissarem sobre o seu travesseiro. Se nossa filosofia estiver errada não é um milagre que vai corrigi-la. Ponha essa convicção na sua consciência e vamos conversar como homens sensíveis. Porque deveríamos brincar de caixa de surpresa?"
Transcrevo essas linhas para embasar mais uma vez meus argumentos a favor de uma visão mais moderna do esoterismo, onde os rituais e os objetos destes rituais não sejam mais importantes do que as verdades e conceitos que eles buscam representar.
Existem pessoas, não iniciadas e mesmo iniciados que não aprenderam esta simples lição: magia não é pirotecnia, luzes e cores como num show de rock. A verdadeira herança dos Mestres é mais profunda do que isso, alquímica pela delicadeza e lentidão com que se instala em nosso ser e em nosso espírito, um tempo precioso que não deve ser acelerado, o que acarretaria uma produção menos sólida, menos estável, da mesma maneira que um prédio, sem os devidos cuidados de fundação e engenharia tende a desabar depois de pronto.
Blavatsky cercada por seus mentores
Iniciados verdadeiros vão entender o que vou dizer.
O fluxo de força que atravessa o verdadeiro mago é tão poderoso que é preciso e absolutamente necessário que não haja nele, neste mago, nenhum tipo de obstrução a este fluxo, como aquela causada pelo ego e pelo apego às coisas materiais. Nenhum poder existe em nós que não tenha sido dado pelo alto. Nenhuma força possuímos que não seja parte da grande força universal que a tudo e a todos alimenta.
Esse Nous não pode e não deve ser subestimado. Se o canal por onde flui a força não está apto a suportar a pressão deste fluxo, será destruído por ele, da mesma maneira que o filamento frágil se rompe quando a energia elétrica que o percorre é superior a sua capacidade de resistência.
É isto que Morya diz em sua carta, é esta a advertência que faz aos tolos que querem colocar o carro na frente dos bois.
Lembremos Lucas 12:31:"-Buscai antes o reino de Deus, e todas estas coisas vos serão acrescentadas."
Por isso a intolerância com um misticismo de autoaperfeiçoamento e a obsessão por um Ocultismo de efeitos especiais.
Todos querem ver Anjos, mas ninguém quer ter o trabalho de ser um deles.
Isto não leva a bom termo. Só ao sofrimento e a decepção. Segundo Saint Martin, muitos membros da Ordem de Martinez de Pasqually perderam a razão. E mais atrás, antes de Sir Francis Bacon, a história de John Dee mostra como um homem inteligente e erudito pode se transformar num tolo e escravo de outro tolo, Edward Kelley, cínico e charlatão.
Como diz o ditado, sábio é aquele que aprende com o erro dos outros, não com os seus.
Sejamos sábios.
Caro Frater,
ResponderExcluirConsidero muito suas considerações a respeito dos enfeites que colocamos para chamar a atenção dos desavisados, neófitos do misticismo. Entretanto, também depende do grau do neófito: alguns necessitam, como encontramos nas parábolas de Jesus, uma forma doce e suave de transmitir mensagens profundas aos postulantes e artisticamente elaboradas, envoltas de belezas e pureza aos discípulos e neófitos.
Paz Profunda
CrisCilento
Caríssima, paz profunda
ResponderExcluirDesde já agradeço sua ponderação. Voce ao que me parece colocou uma opinião acerca das manifestações ditas incomuns ou paranormais como um mal menor e passíveis de ser utilizadas até como método didático, com o que aliás, eu concordo. Provavelmente não fui feliz na clareza da abordagem pois um outro frater e amigo fez uma observação semelhante a sua, em seus próprios termos, alegando que ninguém está isento de curiosidade. Acredito mesmo que o método rosacruz seja este, de fornecer técnicas que facilitem o cotidiano, enquanto elabora um novo indivíduo do ponto de vista ético, humano e intelectual.
É como a cenoura na frente do cavalo que o move para a frente enquanto tenta alcançá-la, um estímulo, se bem que não inalcançável como no exemplo.
A questão portanto, está na dose e o comentários de Morya, os quais me parecem são encampados por Lewis, referem-se a dose e a intensidade com que essas coisas são trabalhadas.
Tudo na vida é questão de dose. E a preocupação é com o excesso, que vicia e distrai dos objetivos reais . Era disso que o artigo falava, o exagero, o erro quanto ao foco da educação mística e, neste caso, ocultista.
Por que eu chamo misticismo os meios e maneiras de entrar em comunhão interna com Deus, enquanto reservo o termo ocultismo para o estudo e aplicação das práticas mágicas ou técnicas ditas incomuns, paranormais. Existe o risco do vício e do fascínio excessivo por estes expedientes, e em vez de técnicas para melhorar a vida se transformam em alternativas a vida cotidiana.
Como videogames, que distraem e absorvem a nossa concentração e nos afastam da outra parte da vida real, onde estão os seres humanos e os relacionamentos, estes sim mistérios profundos e de difícil elucidação e domínio.
E já que vc usou um exemplo cristão e bíblico, a título de enriquecer minha imagem, considerando o dia que hoje se comemora, lembrarei de Pentecostes, que deu origem a manifestação equivocada de um Mago, Simão, que procurando os apóstolos, ofereceu-lhes moedas de ouro se lhe revelassem o segredo daquelas línguas de fogo sobre suas cabeças., no que foi prontamente repelido. Pois embora aquele fosse o aspecto visível da iluminação dos apóstolos, o que realmente importava era o passado recente dos apóstolos e os dias de convivência com o Cristo Jesus, que lhes elevou a consciência espiritual a tal ponto em que foram capazes de receber esta graça e esta aceleração de seus dons, no intuito de facilitar seu ministério. Se receberam dons, receberam-nos dentro de um contexto ético e estratégico e não como fenômenos isolados, da maneira como entendia Simão, o Mago, que apenas prestava atenção no que podia ver e não no que estava por trás, toda preparação que ocorreu antes do Pentecostes, o quinquagésimo dia depois do domingo da páscoa, o dia do nascimento da Igreja de Cristo.
Já me estendi por demais e peço desculpas por este longo email. É que gosto por demais de discutir sobre estes temas e gosto muito de suas intervenções por me darem esta chance.
Mais uma vez obrigado e Paz profunda para vc e para Francisco, bem como a toda a comunidade de Atibaia.
Mario