por Mario Sales, FRC.:;C.:R.:+C.:;S.:I.:( Membro do CFD)
Eu publiquei há pouco no blog um vídeo de Glória Arieira. No site de seu Instituto , o Vidya Mandir, lê-se que " Gloria Arieira é a Diretora Presidente do Vidya Mandir. Em janeiro de 1974 foi para a Índia estudar com Swami Dayananda, que tornou-se seu mestre. Com ele estudou até julho de 1978, retornando então ao Brasil. Além de permanecer no Ashram Sandeepani Sadhanalaya, um local de estudo e vivência com o mestre, em Mumbai, também estudou em outros ashrams em Uttarkashi e Rishikesh, norte da Índia. Viajou também para lugares nas várias regiões da Índia, para participar de cursos, palestras e visitas a lugares sagrados, como os templos de Tamil Nadu e Kerala, conhecendo melhor a tradição cultural e religiosa dos Vedas. Desde seu retorno, vem ensinando Vedanta e Sâsncrito no Rio de Janeiro e em outras cidades do Brasil e também no Porto, em Portugal."
Neste resumo se vê a importância desta mulher pequena e
aparentemente frágil para hinduistas brasileiros, professores de Yoga e
interessados pela tradição dos Textos Védicos.
O tema de seu depoimento é também um tema da mais alta
profundidade, a diferença entre o Eu e sua Experiência do Mundo, o Isso. No
conhecimento védico é enfatizado a necessidade de entender a separação entre
uma coisa e outra.
Falei pra Yamashita sobre o assunto agora há pouco, na Loja Maçônica,
após o ritual semanal. Notei sua perplexidade e enveredei por um esforço
didático para explicar o conceito.
Fiz com que ele considerasse a experiência de quem vai ao
cinema. A imagem não é minha, mas de Richard Bach, que tive a chance de
conhecer pessoalmente em São Paulo em uma das bienais por pura coincidência,
alguns anos atrás.
Bach, em Ilusões, usa o modelo do cinema para fazer a
distinção sem separação entre o Eu Verdadeiro, o Ser Imortal em nós, e os
diversos "Istos" com os quais somos envolvidos em cada encarnação.
Lembra ele, e eu repetia para Yamashita, que ao entrarmos em
uma sessão de cinema, concordamos em vivenciar um estado emocional fantasioso,
levados pela construção dramática do filme, com o qual riremos se for uma
comédia, e choraremos se for um drama, que nos assustará se for um filme de
terror e que nos fará suar e gritar se for um suspense.
Embora vivenciemos todas essas emoções durante o período de exibição
, estamos todo o tempo aptos a afirmar que aquilo é uma fantasia, uma ilusão,
antes que um sofrimento uma diversão que pagamos para desfrutar e com a qual
concordamos em "fazer de conta" que é real, por algum tempo.
Mesmo quando nos assustamos com os filmes ou nos emocionamos
com os finais tristes, estamos vivenciando uma experiência lúdica, prazerosa,
e, antes de tudo, educativa.
O mais importante é que, nesta experiência cinematográfica,
sabemos todo o tempo que não estamos vivendo uma experiência real, mas uma
fantasia, e em momento algum, mesmo nos momentos de maior envolvimento
emocional com o filme e com o espetáculo perdemos este aspecto de vista.
Para o hinduísmo, o raciocínio em relação a vida é o mesmo.
Podemos e devemos viver mas não nos identificarmos com a experiência, tentando
da melhor maneira possível manter a atitude correta que é aquela de entendermos
que somos expectadores da experiência, mesmo da nossa experiência dentro da
realidade que nos cerca e que emocionalmente nos atinge.
Esta concepção é extremamente difícil em um mundo que nos ensinou a
acreditar que as coisas palpáveis são reais durante séculos antes que a física
quântica nos mostrasse que ninguém toca em nada mas apenas interage com campos
de energia de coisas e pessoas, e que nada do que achamos denso e concreto, é,
no nível atômico, mais do que um grande vazio.
Tudo a nossa volta é vazio e aparência de solidez.
Como um filme de cinema.
Difícil é entender isso. É disto que Glória fala no breve
trecho de sua entrevista. E ao mesmo tempo é o conhecimento de toda uma
existência. Uma sabedoria para poucos, não do ponto de vista intelectual, mas
do ponto de vista vivencial.
É algo pra se pensar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário