por Mario Sales,FRC, SI, CRC
Falamos para descrever o que pensamos. A fala representa, através
de símbolos compostos de letras e palavras de uma língua, as idéias que a mente
produz em seu exercício de imaginação, linear, encadeado, ou não.
A imaginação, como o nome diz, não produz palavras, mas
imagens. Todo escritor é um descritor.
E o que ele tenta descrever é uma imagem, dinâmica como um
filme, ou estática, como uma fotografia.
A palavra desencadeia vibrações no ar em volta daquele que a
profere.
Estas vibrações, quando chegam aos ouvidos de outras pessoas
e são devidamente decodificadas, desencadeiam por sua vez reações emocionais.
Os Magos acreditavam poder desencadear os mesmo efeitos emocionais em seres
invisíveis, através de palavras especiais, que representavam idéias e
convicções conhecidas em conjunto pelo nome de Ocultismo.
A palavra, naquela época, no período entre o século XV e
XVIII, era o mais importante instrumento do Mago.
Ele a usava de modo especial, em orações, invocações,
instruções ao mundo invisível que, em sua concepção, conseguiriam mobilizar
energias e seres que, em contra partida àqueles estímulos, materializar-se-iam
em cerimônias complexas e confusas, às vêzes solitárias, às vêzes coletivas,
com resultados nem sempre satisfatórios ou confiáveis.
Acreditava-se que quanto mais espetacular fosse a
manifestação do invocado, mas confiáveis e poderosas seriam as suas
declarações, e uma vez que alguém estivesse de posse destas, teria em suas mãos
um conhecimento diferenciado que lhe daria uma visão da vida ou do Universo
mais completa e mais profunda.
Considerando a qualidade de vida daqueles que enveredaram
por este caminho e que deixaram registros pesquisáveis, na verdade nem sempre,
ou melhor, frequentemente , as coisas não eram bem assim.
É como entrar num espetáculo de Ilusionismo ou num balé de
dezenas de participantes e supor que após maravilhar-se com as cenas e os
truques ou com a música e o desempenho dos dançarinos, sairíamos dali,
necessariamente, seres humanos mais místicos ou mais maduros.
Não, a grandeza de um espetáculo não representa sua
importância pessoal para cada um que o assiste.
E assim as palavras foram aos pouco emudecendo para dar
lugar as imagens que elas representavam. Houve um inversão de sentido e se
antes os Magos se esmeravam para comentar em voz alta seus presságios e
invocações, na virada do século entenderam aquilo que o Oriente já sabia: é
cuidando do Interior que se produz poder e sabedoria, é ouvindo a voz que vem
do coração para a cabeça, a mesma cabeça que, através da mente, produz imagens
captadas pela sensibilidade, que realmente alteramos a realidade que nos cerca.
Assim, o Ocultismo, baseado em fórmulas e palavras,
exteriorizado como um espetáculo grandioso, de luzes e cores, de símbolos,
transformou-se no exercício interno e silencioso do auto aperfeiçoamento, da
busca pela construção íntima de uma consciência, de si mesmo e de tudo que nos cerca, mais ampla e mais profunda.
Li uma frase atribuída a Jung, que independente da autoria,
é muito bela. Diz que "quem olha para fora, sonha; quem olha para dentro,
desperta."
Nenhuma síntese poderia ser mais bem feita do que hoje
chamamos de O Trabalho Místico.
A Palavra, hoje, ainda tem, entretanto, poder. Ela
revelou-se como instrumento mágico por outros modos, na indução política das
massas, na indução comportamental de um indivíduo, na expressão da Fé dos
religiosos.
A Palavra é o conceito congelado, o pensamento audível.
A Palavra desencadeia reações físicas, arrepios, lágrimas,
palpitações. Ela é um instrumento de poetas, cantores, filósofos, professores e
religiosos.
A Palavra ainda é, portanto, Mágica, embora não seja mais a
base da Magia. Hoje, a Magia é A Arte do Silêncio, da Imaginação.
Mesmo assim, reconhecendo sua importância, nós, seus devedores, já que sem a Palavra não existiria a
Cultura ou mesmo a Sociedade como a conhecemos, agradecemos, comovidos, pelo
seu suporte e cumplicidade.
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