por Mario Sales, FRC, SI, CRC gr.18°
Este período que marca uma das mais acirradas disputas
eleitorais que o país já viu, que literalmente dividiu o país ao meio, é
necessariamente um momento onde a serenidade desaparece. Até meu primo posta
mensagens pedindo que as pessoas tenham menos empenho em suas defesas de seus
candidatos, assustado com a intensidade das emoções envolvidas.
A manifestação livre da emoção sempre foi considerada um
risco à espiritualidade. Todo comportamento religioso primava e ainda em alguns
lugares prima por procurar o recato, a discrição, o silêncio. O próprio Saint
Martin tem uma famosa frase (aprendi que o Bem não faz alarde e o alarde não
faz bem) que estimula o recolhimento em prol da espiritualidade.
De certa forma, este recolhimento transformou-se em
tristeza, de forma que tristeza tornou-se sinônimo de espiritualização.
Nunca entendi bem este aspecto do recolhimento, se bem que
entendo o contexto em que surge este discurso.
Digo isso porque tenho grande simpatia pela alegria entre
jovens monges e autoridades budistas, sejam do Budismo Tibetano ou do Budismo
Zen. Não há tristeza em seus discursos.
Recentemente, publiquei aqui no Blog um longo vídeo dedicado
a Sua Santidade o Dalai Lama, quando em visita ao Brasil. Sua fala, ao longo de
três palestras, de mais de uma hora e meia de duração, em nenhum, vejam, nenhum
momento, tece quaisquer considerações sobre moral, hábitos ou costumes, pecados
e castigo, sofrimento e santidade. Sua fala foca em aspectos operacionais ou
históricos do Budismo, suas raízes, seus princípios, a natureza da mente e das
ilusões que ela fomenta.
As paixões humanas não são combatidas, mas aceitas como uma
parte e uma expressão da natureza humana comum. À um questionamento, em
determinada altura, sobre se ele, Dalai, também se aborrecia, sua resposta foi
como sempre preenchida de bom senso e sinceridade:
"- Claro que sim, há momentos em que meu temperamento
se altera, como qualquer ser humano."
O Dalai é avesso à separação mental entre santos e
pecadores, comum na visão cristã ocidental. Bons e maus, nobres e plebeus,
materialistas e espiritualistas, são divisões que não fazem sentido para um
budista que sabe que o dualismo é a mais importante ilusão da mente.
O Mundo não é apenas dual, ele parece Dual, porque o que
contemplamos, contemplamos com nossa mente, através de nossa mente, nossa lente,
através da qual, se a lente/mente for verde, tudo será verde, ou se ela for vermelha,
tudo será avermelhado.
As paixões, são manifestações legítimas de sentimentos entendidos
como passivos, nas palavras de Renée Descartes, em seu livro "As Paixões
da Alma".
Paixões são erupções de fluxos de emoções as quais dão
substância e colorido às nossas vivências na carne, mediadas por nossos
hormônios e sistema nervoso.
Não podem ser represadas sem que paguemos um alto preço
psicológico por isso, da mesma forma que represar um rio caudaloso é aumentar
sua pressão em um milhão de vêzes.
Se um indivíduo sabe que ele e o corpo não são a mesma
coisa, e sabe respeitar essas diferenças, não terá escrúpulos em manifestar
suas paixões no cotidiano, nem sentirá nenhuma culpa cristã por isso.
O Cristo, que dá nome a esta linha religiosa, não tinha ele
mesmo este pudor. Lembro-me de um episódio do Novo Testamento em que ele
expulsa os vendilhões do templo de uma maneira que, a meu ver, nada tinha a ver
com discrição ou falta de alarde.
Não, o mesmo cristianismo que, na visão de Friderich
Nietzsche, transformou a todos os seus seguidores em seres apáticos e sem
vigor, foi fundado por um homem vigoroso, corajoso, social e gregário.
Não vejo pois conflito em ter e manifestar paixões e buscar
ao mesmo tempo a evolução espiritual.
A vida no corpo não impede nossa alma de evoluir, apenas
acelera nossa evolução, assim como o fluxo da água de um riacho é mais rápido
quando ele contorna uma pedra em seu caminho.
Penso que quando voltar ao estado não manifesto não poderei
mais sentir o sol em meu rosto, nem o calor da tarde, nem o frio da noite, e
dessas coisas, sentirei saudade. São sensações banais, mas tão agradáveis e
provocam em mim uma tal felicidade, que não posso evitar de lamentar a ausência
desses momentos.
Não tenho vergonha pois de perder temporariamente minha
serenidade para minhas paixões, desde que meu motivo seja justo e nobre.
Estas paixões não nos desmerecem, mas dignificam nossa
condição humana.
Indignar-se é a última manifestação de liberdade humana. Desfrutemos,
sem culpa, pois, da vida e das paixões geradas por quaisquer indignações justas.
Prezado, faz uma bela salada com conceitos budistas e cristãos, porém, revela (desvela?) um desconhecimento sobre o budismo. Não se reprime as emoções, mas se trabalha com elas! E se trabalhar com elas não é dar livre fluxo e poder! Veja alguns exemplos:
ResponderExcluirhttp://www.budavirtual.com.br/o-trabalho-com-emocoes-negativas-na-vida-diaria-por-robinas-courtin/
http://www.budavirtual.com.br/todas-as-emocoes-negativas-se-baseiam-na-ignorancia/
http://www.budavirtual.com.br/psicologia-budista-oitenta-e-quatro-mil-emocoes-negativas/
http://www.budavirtual.com.br/emocoes-perturbadoras-os-remedios/
Por favor, tenha mais responsabilidade com o ensinamento ancestral de buda. Não incentive as pessoas a serem vítimas da paixão, ainda mais deturpando o ensinamento budista o usando como justificativa!!!
"Você é livre para fazer suas escolhas, mas é prisioneiro das consequências"
ResponderExcluir"De Canto Doze: Liberação
ResponderExcluirEm suma, toda a percepção sensorial consciente,
E tudo o que é inconsciente ou transcendente,
Tudo já está liberado no espaço de agora,
Assim, qualquer tentativa de liberar qualquer coisa de novo é supérflua.
É inútil tentar fazer um esforço no sentido de liberação!
Portanto, não tente! Não tente! Não lute e se esforce na prática!
Não procure! Não procure! Não busque a verdade intelectual!
Não medite! Não medite! Não invente meditação!
Não analise! Não analise! Não analise dentro ou depois de um evento! Não pratique! Não pratique! Não pratique o resultado de esperança e medo!
Não rejeite! Não rejeite! Não rejeite carma emocional!
Não acredite! Não acredite! Não acredite em religião justa! Não se prenda! Não se prenda! Não engaiole sua mente!"
Keith Dowman - Espacialidade
Belíssimas observações sobre Cristo e o Buda.
ResponderExcluirTão superiores que em momento algum fomentariam uma guerra de vaidades pra te contar:
-Veja em minha história como sou melhor!
Comportamento muito humano pra quem alcançou o nível de ambos.
Mas as críticas são necessárias pois é aí que ponderamos a verdadeira lição.
...Paixões...
Orquídea Lilás