por Mario Sales, FRC,SI,CRC 18°
Especulemos.
Nenhuma imagem é melhor para descrever causa e efeito que o
reflexo de um raio de luz emitido em direção a um espelho.
Se um raio de luz se propaga solitário no vazio, ele se
perde na infinitude.
Por outro lado, se um único raio de luz for emitido de um
ponto central de uma esfera espelhada ( o "Tehiru" Luriano) este raio
refletirá e refletirá múltiplas vezes em suas paredes, criando uma magnífica
teia de luz aonde a criação pode se apoiar e se manifestar.
Este raio inicial é Kav, o primeiro estímulo, a primeira
luz, a primeira ação.
Assim, a medida que Kav se multiplica em milhares e milhares
de reflexos, Carma avança.
Não com função de punição, mas como um movimento inevitável
deste ambiente, que estimula a reflexão das emissões, uma após outra.
Sendo assim, a primeira ação do Carma foi a própria Criação
de tudo que existe.
Tudo é vibração na Criação, seja luminosa ou sonora, mas
como reflexos e ecos de priscas eras e causas, impossíveis para nós, pobres
humanos, identificar.
Esta é uma aplicação possível da "Ótica
Esotérica", à questão do Carma.
Na luz refletida nos corpos tudo se esclarece e torna-se visível.
Em um quarto como aquele de nossa experiência imaginária,
descrito como um local onde todas as paredes são espelhadas, capturamos os
raios de luz produzidos neste ambiente e os fazemos reverberarem infinitamente
no ambiente, num reforço positivo das formas ali presentes, tornando-as nítidas
e distintas.
Da mesma forma, na Criação, a reflexão infinita do Carma não
cessa em nenhum momento
Com essa luz refletida e re-refletida a claridade do
ambiente é multiplicada exponencialmente e, neste sentido, aumenta também o esclarecimento
das formas e dos contornos destas formas, garantido pela emissão, mas também (e
talvez principalmente) pela reflexão dos raios de luz no ambiente espelhado do
quarto imaginário.
E tudo que precisamos, nós, os eternos observadores, é de Luz.
Carma é, desta forma, uma manifestação da Luz, que provoca a
exposição do oculto, revelação do velado.
Na natureza, é o raio de luz que, refletido nos corpos,
retorna sobre nossos olhos e permite que, assim, enxerguemos as coisas.
No Carma, da mesma forma, não há reflexo - consequência que
não esclareça sua causa, seja quanto à sua natureza ou sua intenção.
Como sabem, em minha opinião, não existe o propalado
"livre arbítrio" agostiniano, a não ser na mente arrogante e
orgulhosa do homem. Nossos atos são determinados por nossas necessidades
instintivas, sociais ou por razões ligadas à nossa consciência. Só por sermos
humanos estamos determinados por nossa humanidade a necessitar de algumas
coisas e a recusar outras. O Carma vem a ser a segunda força de modulação de
nossas atitudes.
E assim, além de nos movermos induzidos por forças sobre as
quais não temos como contrariar (a busca do ar, da água, do alimento, do abrigo
e do afeto) ainda nos curvamos às correções de conduta que o Carma nos impõe e
nos revela com sua Luz.
Isto nos coloca em uma única direção evolutiva e não em duas
ou três como pensam alguns esoteristas.
Não existe o caminho do Mal ou do Bem, mas sim salmões e
surfistas, uns subindo o rio, ao contrário da correnteza e outros aproveitando
a Onda, harmonizando-se com ela, usufruindo de sua força.
Eventualmente até os salmões descerão o rio, após desovarem.
A correnteza é uma só e é mais sábio e confortável nadar a seu favor, se bem
que até os salmões tem a sua razão de ser.
Carma é esclarecimento, orientação, e não apenas e tão
somente retribuição. Assim ele nos mostra a direção correta do fluxo da
corrente de vida universal, constrangendo-nos no sentido correto.
Entendê-lo como um corretor de desvios é mais fiel ao seu
propósito do que pensá-lo no "modelo tribunal", tão difundido entre
os esoteristas do século XIX.
Sua única função é ajustar rotas e não punir; orientar e não
torturar. O desconforto que ele provoque faz com que o indivíduo recue daquela
direção e experimente outras mais agradáveis e acolhedoras. E quanto mais
estivermos harmônicos com a adequada conduta, com a adequada direção e sentido,
coisa impossível de descrever, porém possível de conceituar, mais protegidos
estaremos pelo próprio curso das forças que nos arrastam como uma correnteza
espiritual.
Como um barco que se torna veloz quando desce a correnteza e
por causa de sua velocidade escapa fácil de flechas lançadas da margem.
Somos fortes com "A Força" do fluxo.
Nós mesmos nada somos.
É "A Força" do fluxo que nos faz
parecer fortes. Como o surfista que parece flutuar sobre as ondas e na verdade
é apenas arrastado por elas, equilibrando-se e apoiando-se sobre as ondas. Carma não é punição, mas orientação e proteção para aqueles que entendem suas mensagens, suas instruções, e que sabiamente as obedecem.
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