Por Mario Sales
Nas reflexões que fiz no ensaio “Fé, Karma e Realização Pessoal”,
pela primeira vez, de forma clara, percebi o dano que o discurso romântico traz
ao pensamento místico. Em uma monografia de graus avançados, Spencer Lewis é
claro: “O rosacrucianismo não é uma religião. ”
E, do ponto de vista psicológico, qualquer religião encarna uma romantização da espiritualidade, independente de que tal coisa seja ou não inevitável em determinada fase da aproximação de Deus, no sentido de que cria protocolos, ritos, dogmas, vestes para um fenômeno que, em si, não tem forma.
E, do ponto de vista psicológico, qualquer religião encarna uma romantização da espiritualidade, independente de que tal coisa seja ou não inevitável em determinada fase da aproximação de Deus, no sentido de que cria protocolos, ritos, dogmas, vestes para um fenômeno que, em si, não tem forma.
Só que a capacidade de viver um relacionamento
místico com a Consciência Cósmica sem lhe dar contornos religiosos é muito,
muito difícil.
Vemos isto, por exemplo, no que concerne aos
chamados Mestres Cósmicos.
Muitos estudantes acreditam que seu papel em nossas
vidas é semelhante aquele que os santos ou entidades simbólicas de credos
religiosos os mais diversos têm.
Supõem, pois foi assim que aprenderam, que ao olhá-los, olham para seres sem passado, sem uma história humana, sem experiências
pessoais e sociais, semelhantes aquelas que nos alegram ou constrangem todos os
dias.
Porque assim os santos são vistos, como pessoas sem
humanidade, sem erro, sem falhas.
Perfeitos, portanto. Daí sua santidade.
Esta é uma visão romantizada da construção da
iluminação.
Ninguém alcança o cume sem arranhar-se em pedras pelo
caminho, sem escorregar e se machucar, sem cansaço, sem crises de fé ou de
impaciência.
As condições evolutivas são não só fatigantes como
desgastantes. E isto nos testa, todo o tempo.
Testa principalmente nossa obstinação, nossa
determinação em avançar, avançar sempre, na construção de uma realidade mais
luminosa e digna espiritualmente.
A qualquer instante, diante de qualquer dificuldade,
somos insistentemente convidados pelo cansaço e pelo desânimo a abandonar a
subida, a desistir, a aceitar que tanto esforço assim é desnecessário e provavelmente
inútil, já que os sinais de que estamos realmente progredindo não são claros
nem constantes.
A voz do Adversário não é marcial, nem rude. Pelo
contrário, convida-nos ao repouso, ao descanso, ao prazer. Sugere educadamente
a dúvida quanto as nossas convicções.
No pensamento romântico do discípulo, do Chella,
nenhum mestre atual, ou como Blavatsky os chama, nenhum estudante mais
avançado, conheceu tais coisas.
Nasceu pronto, com sua luz transbordando por seus
dedos, fruto de uma bênção do Cósmico, sem que houvesse um esforço de
contrapartida.
É uma forma de estabelecer que jamais atingiremos esta
perfeição, da mesma maneira que os religiosos apontam para o Cristo e dizem: “Ele
era o filho de Deus; eu não sou. ”
A negação em entrar neste rol de personalidades que
fazem esta humanidade um pouco melhor, em parte vem da preguiça, em parte vem de
truques psicológicos com os quais a maioria das pessoas tentam se enganar a si
próprias.
Não assumindo sua natureza divina, excluem-se da
responsabilidade pelo Universo e por sua qualidade.
São apenas, segundo sua visão romântica, seres sem importância no drama Cósmico e, portanto, não tem maiores responsabilidades senão sobreviver a cada dia dentro de suas, para eles, indiscutíveis limitações.
São apenas, segundo sua visão romântica, seres sem importância no drama Cósmico e, portanto, não tem maiores responsabilidades senão sobreviver a cada dia dentro de suas, para eles, indiscutíveis limitações.
Como nas religiões, então, mestres e discípulos são
como devotos e santos, separados pela enorme distância entre homens comuns e
aqueles tocados pela graça de Deus.
Tudo assim, parece mais claro, mais definido, mais separado.
Existe a área dos homens e mulheres comuns e aquela dos iluminados, e aqueles
jamais tornar-se-ão estes, porque são o que são, de maneira estática e
imutável.
É assim nas religiões.
Muitos acham que no misticismo
deve ser parecido.
Trata-se apenas e tão somente de um equívoco.
Todo místico é chamado a responder por toda a Humanidade, por toda a Criação e por sua qualidade.
Abster-se desta responsabilidade santa é contribuir
por omissão para a piora da qualidade de vida de todos sobre a face da Terra.