Por Mario Sales, FRC,SI, MM
Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino,
discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem,
acabei com as coisas de menino.
Paulo, Coríntios 1, 13-11
Foi
sob a égide dessa fala do apóstolo na carta aos Coríntios que me alegrei ontem com a
intervenção de um irmão em Loja Maçônica, questionando em uma instrução oficial
de minha potencia a origem egípcia da maçonaria.
Primeiro
por que não esperava. Abomino estas citações fantasiosas de relacionamentos
improváveis com culturas historicamente significativas que tanto contaminam as
Lojas Maçônicas, em um mundo, acredito, sem glamour, o qual para se tornar minimamente
aceitável dedicou-se, a partir do discurso do Cavaleiro de Ransay, em 1738, a inventar
mitos e viver dentro destes mitos para se sentir melhor com suas próprias
origens.
O
que aconteceu na França, naquele ano, foi que uma Ordem baseada na Pedra, Bruta
ou Polida, transformou-se num produtora de fumaça e lenda.
A
Maçonaria, como a mulher de Lot, olha para trás e corre o risco de tornar-se
uma estátua de sal.
Não
falo isto com mágoa, mas com tristeza. Gosto da Ordem Maçônica a qual pertenço nestes
10 ou 11 poucos anos. São pessoas boas, generosas, que acreditam na caridade e
na ação social.
Comungo
com isso e já me sentiria satisfeito de pertencer a esta tradição de
construtores de templos, sem necessidade de me imaginar descendente de
assassinos religiosos como os Templários, homens de uma brutalidade sem par,
hoje transformados em símbolos da pureza e da defesa da Fé Cristã, talvez por
recrudescimento do pensamento fundamentalista que fez com que as igrejas
pentecostais e os partidos conservadores recuperassem prestigio.
A busca por valores realmente cristãos foi substituída pelo espetáculo.
Nunca
a mediocridade teve tantos recursos tecnológicos a sua disposição para difusão
de suas tolices como hoje. Não existe mais critério diante da noticia e da
informação e é comum, via rede, passar-se adiante inverdades e fantasias como
velocidade monumental.
A
Maçonaria, a meu ver, só perdeu com o culto destas lendas. Precisamos voltar ao
que éramos, sem vergonha de nossas verdadeiras origens, de simples
trabalhadores braçais, especialistas no corte do mármore, na elevação de torres
ao céu, no estilo Gótico que nos consagrou.
Somos
e devemos ser maçons, pedreiros, homens com os pés fincados no que é sólido e
não sonhadores inconsequentes que sabem ficar de pé, à ordem, mas imóveis, sem
se mexer, sem verdadeiramente interferir na realidade.
Olho
minha loja em cada seção com vontade de falar certas coisas, mas me controlo
para não demonstrar tudo o que penso em um ambiente que me parece, às vezes,
despreparado para lidar com o mundo real.
E
isso me incomoda, pois somos adultos, homens, e na minha cabeça, deveríamos
estar agindo, já, como pessoas adultas, lúcidas, como pede Paulo em sua célebre
carta.
Por
isso me alegrei por outro que não eu fazer esta intervenção. Oxalá isto signifique
que para outros como eu a era da fumaça e da lenda já deu o que tinha que dar.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirLendo seu artigo, pensei se o rosacrucianismo teria uma história parecida, onde um grupo de pensadores europeus se reuniu no século XVI para fundar uma fraternidade de ideais nobres. Pergunto se relação dos rosacruzes com o Egito não teria surgido depois da criação da AMORC.
ResponderExcluirSe vale pra maçonaria, tem de valer para a AMORC, você está correto. Quando falamos de afirmações sem provas, falamos de crenças. Então vale o mesmo raciocínio. Independente de nosso passado ser este ou aquele, precisamos fazer de nosso presente algo digno de ser lembrado daqui a cem anos. É o momento atual que importa.
ExcluirPaz Profunda e obrigado por seus comentários.
"...a Maçonaria perde-se nas eras". "Adão foi Maçon no jardim do Éden".
ResponderExcluirQuerido e admirado Mário, neste momento em que estou me deleitando ao atualizar-me em teu blog após um longo tempo de deserto acadêmico, aproveito para fazer um questionamento/expressar um ponto de vista:
Parece-me que o problema da questão reside na incompreensão do Esoterismo.
Lendo Oswald Wirth é possível observar a preocupação e a grandeza desse mestre ao indicar em seus livros que o Iniciado deve sempre buscar ver além dos véus, ou seja, compreender o simbolismo. É por meio dessa sensibilidade que se permite adentrar nos mistérios menores.
Sob essa perspectiva, que me parece que não foi a abordada pelo seu Irmão de loja, é possível sustentar relação da Maçonaria, Amorc, R+C Cabalística,..., com correntes como o orfismo, mistérios egípcios, pitagóricos, gnósticos, templários, etc... pois todos referem-se, ao fim e ao cabo, à Cabala em seu sentido literal, qual seja, "tradição" esotérica.
A citação bíblica foi precisa, pois a literalidade na interpretação lembra muito as crianças e quem aborda o esoterismo sob uma perspectiva materialista e não uma perspectiva simbólica tem grande chance de errar.
Com efeito, quem sabe daqui algumas eras, digam que os católicos idolatravam uma pomba, um supliciado e um velho barbudo, nesse momento ter-se-á perdido o símbolo que subjaz no simbolizado.
Por fim, apenas advogado pelos Templários no sentido de que em sua história há muito de caridade e esoterismo sério. Por isso muitos historiadores classificam como Templários os iniciados - pobres cavaleiros ... e os Cruzados como os bárbaros sanguinários.
Um grande abraço