Multi pertransibunt et augebitur scientia (Muitos passarão, e o conhecimento aumentará).

domingo, 19 de fevereiro de 2017

CHOKMAH x BINAH

Por Mario Sales





Flavio fez um reparo muito perspicaz, como é de hábito, ao ensaio “A Existência, o Tempo e o Acetato”, de 15 de fevereiro deste ano. Referindo-se a uma passagem onde eu comentava que “... sobre a natureza do conhecimento comparado das várias linhas de tradição místico esotérica, ...minha posição (é) que as correntes com certeza tem uma origem comum ... . A pergunta é se ver essas semelhanças (e ficar fascinado por isso) traz alguma vantagem esotérica prática, ... . A meu ver, não traz, e pode se tornar uma espécie de vórtice que engole pessoas sinceras em sua busca, mas desviadas de seus objetivos mais profundos pela falsa luz do intelecto. Erudição e Sabedoria são condições absolutamente distintas e, em certos contextos, antagônicas...”.
Quanto a esse trecho, diz Flavio:
“Não sei se o estudo de textos esotéricos, que inevitavelmente vai gerar erudição, e a percepção das relações entre todas as correntes de esoterismo não tem impacto no desenvolvimento espiritual daquele que o faz. Algum refinamento vem daí; alguma melhoria deve ser consequência daquele que se dedica ao estudo destes textos” comentário com o qual, concordei.
Acho, portanto, que o texto, em função deste instigante comentário, merece um reparo.
Quando eu falava de erudição versus sabedoria pensava na Árvore da Vida, e já que era sexta-feira, dia do estudo de Cabala, fui por aí. Binah é a sefira do Conhecimento. Lembrei do trecho da primeira Epístola de Paulo aos Coríntios, capítulo 3, versículo 19, que diz: "Porque a sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus; pois está escrito: Ele apanha os sábios na sua própria astúcia."
Acumular informações é necessário para que o pensamento se expresse com objetividade e nossas sensações emocionais também possam ser esclarecidas.
Mas ela, Binah, precisa da supervisão de Chokmah, a Sefira da Sabedoria, que está em frente, em situação oposta a Binah.
Existem, pois, aqueles que fazem seus estudos com a presença de Deus a suas costas, (como é o caso dos Veneráveis Mestres Martinistas Flávio e Hackmey), como o Anjo que anuncia o casamento alquímico puxando a camisa de Cristian Rosenkreutz.


E há outros que fazem suas leituras como se estivessem a sós diante do texto, e que supõem que sua inspiração, ao extrair sentido de um texto hermético, baseia-se em mérito próprio e não por terem a cumplicidade de milhares de mentes com as quais se harmonizam em sua ânsia de conhecer, as quais compartilham inconscientemente com ele sua compreensão.
Não é o homem culto que se torna sábio, mas é o sábio que busca a cultura.
Não é o conhecimento adquirido nos textos que nos torna iniciados melhores, mas por termos a iniciação somos buscadores que vão aos textos em busca de ferramentas para expressar a espiritualidade que já nos foi dada, pela iniciação. Reconheço a superioridade espiritual de meus amigos e companheiros de estudos e, na minha opinião, é apenas isto que os move em busca deste conhecimento.
O Bahir[1] diz lindamente: “Primeiro vem a Sabedoria e depois vem a Compreensão”.
Era isso que eu queria dizer.




[1] Bahir, o Livro da Iluminação, Ed IMAGO.1980, pág 103

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