Por Mario Sales
Os materialistas julgam que muitos espiritualistas creem na
sobrevivência do espírito para suportar melhor a inevitabilidade da morte. Ao
contrário, materialistas e ateus seriam pessoas mais equilibradas, que lidam
com o inevitável de forma mais realista e que por isso não necessitam de
crenças em vidas diferentes desta que experimentamos na carne.
Ledo engano.
Se os materialistas soubessem que para um espiritualista,
viver na carne não é o fundamental, mas uma necessidade evolucional saberia que
compreender-se como eterno para além da carne é um convite ao suicídio. Já que
a carne não é a vida, que motivo teria o espiritualista para viver?
E o motivo é este: que a vida na carne traz a chance da
evolução, da experimentação emocional, da prática das virtudes e da queima
alquímica dos defeitos.
Viver na carne é uma oportunidade única de crescer como
indivíduo, de evoluir como personalidade alma.
A Matéria, para o místico, ao contrário do religioso, não é
o inferno de dor e sofrimento, de ranger de dentes, como descrito por alguns
medievalistas.
Para o Místico, pasmem, tudo é matéria, só que em densidades
diferentes, o que torna invisível certas manifestações materiais, o que em
hipótese alguma significa não-existência.
Sem os recursos da microscopia eletrônica alguém já
contemplou o átomo?
Sem os recursos da microscopia ótica, alguém já percebeu, de
relance que seja, o movimento de uma bactéria?
E os gases que nos mantém vivos, nossa atmosfera? São
visíveis ou mesmo palpáveis?
Não.
Nas brilhantes palavras do Buda, é o invisível que sustenta
o visível. E eu diria que o etéreo sustenta a matéria mais densa.
E tudo que é denso eventualmente desvanecer-se-á no espaço,
da mesma forma que os metais mais pesados são derretidos no interior de uma supernova
em colapso e são arremessados em seguida pelo espaço, numa chuva de metais e
outros elementos sobre centenas de
mundos, alimentando-os, de modo discreto e imperceptível, com substâncias que
sem esta chuva jamais surgiriam de modo espontâneo nestes planetas.
Densidade, diz a física quântica, não é igual a existência; da
mesma forma que ausência de densidade, não significa não existência.
Ao dizer-nos materialistas não estamos errados ou certos, apenas
obsoletos.
A noção de matéria e existência representada neste conceito
se aplica apenas à física clássica, aquela do século XIX, no tempo em que
apenas a mecânica de Newton ocupava a cabeça dos físicos.
É a física que nos diz hoje o que os místicos defendem há
séculos: tudo é matéria, independente da densidade.
O que nos falta, hoje, é tecnologia de observação que nos
leve a estes planos mais recônditos daquilo que chamamos natureza.
Pensar em uma separação entre matéria e espírito é ser pré
espinozano, que já no XVI avisava sobre o que hoje a quântica descreve, em
detalhes.
Espiritualistas não creem na vida após a morte, sabem que o
que está aí, denso e aparentemente sólido, é apenas a aparência externa de um
fenômeno inserido no tempo e que está em constante mutação, desgastando-se e
perdendo pouco a pouco, de maneira inexorável, essa densidade de que tanto se
orgulha.
Crer que o que se toca e se vê é real, e o que não se vê não
é, com o conhecimento científico atual chega a ser infantil.
Quanto a isto, creio, não existe polêmica.
Resta saber se alguma coisa sobrevive ao desgaste derradeiro
do que chamamos de corpo físico.
Aí entramos no terreno do esoterismo, hoje, enquanto não
temos tecnologia que possa quantificar a presença do pensamento e da mente após
a saída do corpo chamado material.
Portanto, em respeito as pessoas inteligentes e por isso
céticas, não defenderei teses que não possa demonstrar.
O que afirmo, entretanto, é que não é por medo da morte que
os espiritualistas e místicos aceitam como fato indubitável a continuidade da
consciência após o término da existência ordinária.
Não.
Nas palavras de Shakespeare, “morrer, dormir; dormir, talvez
sonhar”. Se assim for, que mal pode
haver nisso?
A frase mística é “morrer, dormir: despertar”.
Este é o verdadeiro sonho, este sonho de carne e sangue.
Nem por isso devemos deixar de desfrutá-lo.
Como vimos, o conceito de realidade, hoje, é muito mais
amplo do que já foi.
Nenhum comentário:
Postar um comentário