Por Mario Sales
“E, entrando Jesus em Cafarnaum, chegou junto dele um centurião, rogando-lhe,
E dizendo: Senhor, o meu criado jaz em casa, paralítico, e violentamente atormentado.
E Jesus lhe disse: Eu irei, e lhe darei saúde.
E o centurião, respondendo, disse: Senhor, não sou digno de que entres debaixo do meu telhado, mas dize somente uma palavra, e o meu criado há de sarar.
Pois também eu sou homem sob autoridade, e tenho soldados às minhas ordens; e digo a este: Vai, e ele vai; e a outro: Vem, e ele vem; e ao meu criado: Faze isto, e ele o faz.
E maravilhou-se Jesus, ouvindo isto, e disse aos que o seguiam: Em verdade vos digo que nem mesmo em Israel encontrei tanta fé.
Mas eu vos digo que muitos virão do oriente e do ocidente, e assentar-se-ão à mesa com Abraão, e Isaque, e Jacó, no reino dos céus;
E os filhos do reino serão lançados nas trevas exteriores; ali haverá pranto e ranger de dentes.
Então disse Jesus ao centurião: Vai, e como creste te seja feito. E naquela mesma hora o seu criado sarou.”
A metafísica não pode ser uma ciência, diz Kant.
Posso conhecer objetos que me são dados no espaço e no tempo,
mas não aqueles que são subjetivos, como idéias, princípios morais ou
sentimentos.
Essas são as limitações percebidas por Kant.
Assuntos metafísicos, além da área física, como o nome diz,
estão também além da minha capacidade de conhecer, pensa Kant na “Crítica da
razão pura”.
A minha relação com você, meu mestre, meu mentor, é uma
relação metafísica; portanto, hoje, não há a rigor nenhuma relação, não há
encontros pessoais a relembrar, a descrever; em nenhum momento apertei sua mão,
isso pressupondo que em seus costumes de origem, as pessoas tenham o hábito de
apertar as mãos como gesto de cordialidade social. Tudo o que tenho em relação
a você, meu mestre, baseia-se em crenças e não em fatos.
Já na crítica da razão prática, no entanto, Kant lembra que
idéias podem nos mobilizar psicologicamente, de fato, existam ou não, de modo
absoluto, em algum lugar ou época; não se trata, neste caso, de demonstrar uma
existência como a dessa mesa em que escrevo, da qual posso dar testemunho
quanto à sua solidez e estabilidade; trata-se de indagar qual o efeito real que
o “objeto mesa” tem sobre mim.
Ele está aí na minha frente, existe diante de mim, se bem
que não interaja comigo.
E esta interação, essa ação entre dois entes a mesa e eu, se
define apenas de modo quantitativo (a mesa tem tamanho, peso, espessura), mas
não representa uma coexistência, de caráter qualitativo, que me mobilize como
ser humano, como indivíduo na sociedade, no mundo.
Trata se apenas de uma mesa, que nada simboliza, nada
representa.
Aliás, essa representação dependeria de um contexto
histórico explicativo, que instauraria sobre o objeto um significado, como a
mesa dos cavaleiros de Camelot, com sua forma circular, a TÁVOLA REDONDA,
sem cabeceira, aonde todos ocupam ao sentarem a mesma posição.
Assim, auxiliado pela narrativa, pela descrição de uma
tradição, aquilo que antes era sem vida ganha significado, palpita.
A palavra mais uma vez gera a criação.
O som, apenas audível, cria o que é sólido, palpável,
visível.
Foi assim no Gênesis e é assim até hoje, no impacto dos
textos em nossa imaginação.
E segundo Kant, agora no texto “Crítica da Razão Prática”, o
que me mobiliza intimamente, (a ideia de que existe um Deus, a idéia da justiça
ou da alma por exemplo) na prática ganha uma existência real manifestando-se
como força modeladora do comportamento no mundo social, da mesma forma que a
palavra o “FIAT” cria tudo o que existe, segundo, a Torá, em Bereshit.
Você, mestre, é, pois, uma idéia que me mobiliza,
independente da sua existência física, independente de que essa existência
física possa ou não ser demonstrada.
Saber, ou melhor, crer que existe alguém ou alguns seres que
podem orientar nosso crescimento espiritual e mental é algo mobilizador e molda
nosso comportamento e nossas expectativas acerca da existência, do viver.
Existir não é mais apenas o período em que respiramos neste
corpo que nos foi designado pelo Karma; viver, vive-se antes, durante e depois
da experiência da carne, e o que fazemos ou não, nossas ações e opções, são
constitutivas dessa existência contínua, ininterrupta, embora sujeita a
metamorfoses cíclicas, como a da lagarta.
Como lembra Kant, o efeito de uma idéia sobre mim é tão real
como a mesa para os meus sentidos.
Dito isto, a idéia da existência da Grande Fraternidade Branca,
com seus nobres membros, entre eles você, mestre, me afeta de modo positivo,
real e indiscutível. Vê-lo ou não, deixa de ter importância.
Basta saber que você está aí em algum lugar como lembra a
passagem do evangelho em epígrafe.
Isso é o que importa.
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