por Mario Sales FRC.:,S.:I.:,M.:M.:
Já que nós, maçons, fomos “inventados” (e peço que me poupem da discussão das 39 origens propostas para a Ordem maçônica citadas por Foggia em 1997 sobre uma pesquisa de 1909) pelos padres arquitetos, por volta do ano 1000 DC, desenvolvendo com eles a arte de construir catedrais, devemos mais uma vez recorrer à Igreja para compreender o risco que corremos como Ordem, se não oxigenarmos as Obediências.
A Igreja conheceu sua primeira ruptura interna com a formação da Igreja Ortodoxa de Constantinopla, o chamado Cisma do Oriente, em 1504. Sabiamente, Roma aprendeu a arte de flexibilizar e absorver diferenças, de forma a preservar sua Unidade. Ao contrário dos maçons , que se dizem uma única e monolítica Ordem, mas que estão divididos em várias e diferentes linhagens ( e eu não falo dos ritos, mas das potências) a Igreja assume-se como multifacetada, mas preserva a obediência a Roma e ao Papa de Roma.
Este fenômeno interessantíssimo de preservação da Unidade pela assunção permitida da Variedade e da Diversidade manifestou-se administrativamente nas Ordens Religiosas e permitiu que duas linhas tão antagônicas como Jesuítas e Franciscanos pudessem dividir a mesma condição de sacerdotes do cristianismo católico.(ver Quadro 1)
Quadro 1: Algumas das Ordens Católicas
- Companhia de Jesus (Jesuítas)
- Ordem do Carmo (Carmelitas)
- Ordem dos Cartuxos (Cartuxos)
- Ordem de Cister (Cistercienses)
- Ordem de Cluny
- Ordem dos Frades Menores (Franciscanos)
- Ordem dos Capuchinhos (Capuchinhos)
- Ordem dos Pregadores (Dominicanos)
- Ordem de Santo Agostinho (Agostinianos)
- Ordem de São Bento (Beneditinos)
- Ordem de Santa Clara (Clarissas)
- Ordem Trapista (Trapistas)
- Clérigos Regulares (Teatinos)
A Igreja reconheceu com a instituição das ordens que era mais fácil administrar as peculiaridades espirituais de vários grupos dando-lhes um espaço determinado para atuarem, desde que dentro de sua orientação e comando.
O mais perto disso que a Maçonaria chegou foram os diversos ritos, centenas deles, mas isto não foi suficiente para impedir as sequelas de uma estrutura monolítica e excessivamente estática. O principal rito, o Rito Escocês Antigo e Aceito, necessita hoje urgentemente de uma atualização, não quanto aos seu valores, mas quanto a sua dinâmica interna.
Quadro 2: Tipos básicos de Ordens:
Basicamente, existem quatro tipos de ordens religiosas:
as monásticas: são formadas por monges (de sexo masculino ou feminino), que vivem enclausurados num mosteiro. Exemplos: Cistercienses, Beneditinos, Cartuxos e Trapistas.
as mendicantes: são formadas por frades ou freiras, que vivem em conventos. Eles não são tão isolados como os monges, tendo por isso um apostolado mais activo no mundo secular (ex: obras de caridade, serviço aos pobres, pregação e evangelização). A sua sobrevivência depende das esmolas e dádivas dos outros, porque eles renunciaram a posse de quaisquer bens, compromentendo-se em viver radicalmente na pobreza. Exemplos: Franciscanos, Dominicanos, Agostinianos e Carmelitas.
as regrantes: são formadas exclusivamente por cónegos regrantes. Exemplos: Ordem dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho e Ordem Premonstratense.
as de clérigos regulares: são formados exclusivamente por clérigos regulares ou consagrados (os cónegos são excluídos). Eles não vivem uma vida comunitária tão enclausurada e austera como os monges ou como os frades, tornando-se por isso muito mais disponíveis para o apostolado. Com isto, eles ajudam grandemente o clero secular em áreas como a liturgia, a administração dos sacramentos, a educação e a evangelização. Exemplos: Teatinos, Jesuítas e Escolápios.
Tanto que, mantida a atual configuração, o que se dá é que pouco a pouco o engessamento do ritual torna-se insuportável e leva a rupturas traumáticas e sempre lamentáveis, com a formação de três ou quatro lojas onde antes havia apenas uma. Ou mesmo o abandono puro e simples da Maçonaria por aquêles que, desiludidos com suas expectativas iniciais, não conseguem expressar com clareza as razões de sua decepção.
Quadro 3: Alguns ritos maçônicos:
E as razões são apenas estas: os rituais são por demais morosos e excessivamente formais.
As odediências precisam respirar por que , de outro modo, sufocarão, Ir.: após Ir.:, e depois Loja após Loja, restando apenas o que é compatível com uma prática formal: uma estrutura rígida, vazia, e sem vida interior.
Peço ao GADU que este não seja o destino desta nobre Ordem,que conta com o carinho dos Rosacruzes que se esforçaram muito desde o século XVI e XVII para que ela ganhasse o destaque que hoje possui entre as Ordens Esotéricas Tradicionais e cujo papel social é indiscutivelmente importante.
Quadro 4: Obediências Maçônicas:
O Grande Oriente do Brasil (GOB) é a mais antiga Potência Maçônica brasileira (associação de Lojas Maçônicas, também chamada de Obediência Maçônica). Tendo participado ativamente em momentos cruciais da história brasileira, como a abolição da escravatura e a Proclamação da República. O Grande Oriente de França foi quem deu reconhecimento ao GOB, sendo este, à época, a única Obediência Maçônica brasileira, mais tarde o GOB se distanciou do Grande Oriente de França por admitir ateus e foi para a Grande Loja Unida da Inglaterra, e a partir de então a maçonaria brasileira teve também seu desenvolvimento, surgindo então dissidências do próprio GOB.
- Grande Oriente do Estado do Acre
- Grande Oriente de Alagoas
- Delegacia do Grande Oriente do Brasil no Amapá
- Grande Oriente do Estado do Amazonas
- Grande Oriente Estadual da Bahia
- Grande Oriente do Distrito Federal
- Grande Oriente Estadual do Ceará
- Grande Oriente do Brasil - Espírito Santo
- Grande Oriente do Estado de Goiás
- Grande Oriente do Estado do Mato Grosso
- Grande Oriente do Estado do Mato Grosso do Sul
- Grande Oriente do Maranhão
- Grande Oriente do Brasil - Minas Gerais
- Grande Oriente do Estado do Pará
- Grande Oriente do Brasil - Paraíba
- Grande Oriente do Paraná
- Grande Oriente de Pernambuco
- Grande Oriente Estadual do Piauí
- Grande Oriente do Brasil - Rio de Janeiro
- Grande Oriente do Brasil - Rio Grande do Norte
- Grande Oriente do Rio Grande do Sul
- Grande Oriente do Estado de Rondônia
- Grande Oriente Estadual de Roraima
- Grande Oriente de Santa Catarina
- Grande Oriente de São Paulo
- Grande Oriente do Brasil - Sergipe
- Grande Oriente do Tocantins
Quem for iniciado entenderá.
As Potencias e os ritos atenuam os conflitos naturais de uma unidade rígida, mas não são a única estratégia para manter a unidade e devolver a força a prática maçônica.
Estamos em um mundo dinâmico, rápido, e as pessoas estão repletas de opiniões e posturas. É preciso mudar a dinâmica interna das reuniões.
Precisam de uma tribuna para expô-las, de preferencia uma tribuna segura, que não lhes traga consequências nefastas por reações violentas às suas posturas.
Estamos em um mundo dinâmico, rápido, e as pessoas estão repletas de opiniões e posturas. É preciso mudar a dinâmica interna das reuniões.
Precisam de uma tribuna para expô-las, de preferencia uma tribuna segura, que não lhes traga consequências nefastas por reações violentas às suas posturas.
O ambiente maçônico, quando não medíocre ou restrito a debates insípidos, permite o livre debate de opiniões divergentes em ambiente fraterno, onde, em princípio, as diferenças serão ouvidas com respeito e tolerância e onde adversários filosóficos não se tornarão adversários pessoais.
E este é o grande papel da Maçonaria , hoje.
Treinar e modular o discurso.
Para isso é preciso deixar os maçons falarem, exporem suas posições, discutirem seus pontos de vista, com paixão se possível ao mesmo tempo que com moderação e cuidado.
Não há maior bem na vida social e não há também melhor instrumento para a consecução da liderança social do que este: saber expor com paixão e sem fanatismo seus pensamentos e suas idéias. Pelo menos é a minha impressão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário