por Mario Sales, FRC.:, S.:I.:;M.:M.:
Mais triste do que não ser um iniciado é ser um iniciado supersticioso.
Maçons, rosacruzes e martinistas por obrigação de seu refinamento espiritual, deveriam estar, todos, livres desta nódoa chamada superstição, que mancha nossos aventais e obscurece nossa razão, rebaixando indivíduos ditos esoteristas e ocultistas à condição de meros praticantes de algum tipo de Vudu.
No caso da Numerologia vemos este problema. Todas as tradições fazem referência a algum tipo de simbolismo baseado nos números, prática que começou, salvo engano, com os membros da escola Pitagórica e se difundiu em várias direções culturais.
Infelizmente, no início deste estudo, não é dado um indispensável aviso, que evitaria muitos e desnecessários equívocos.
E o aviso é este: assim como o homem não foi feito para o sábado, mas o sábado para o homem, assim também os números foram feitos para os homens, e não os homens para os números.
Dito isso, a partir de agora, a nenhum de nós é permitido achar que um 2 ou um 5 são mais importantes que a nossa capacidade de trabalho ou nosso cabedal intelectual, muito menos que nossa vida não dá certo por causa de um 7 ou de um 13 e não por causa de nossa própria incompetência.
Agora, livres das amarras da ignorância, continuemos.
Falemos do 1, do 2, do 3 e do 4.
O NÚMERO 1
Quando se fala em numerologia, todos supõem que quem discorre sobre o tema mostrará como usar os números para conseguir felicidade nos três objetivos mundanos dos publicitários: saúde, sexo e fortuna.
Como fomos prevenidos, de antemão, sobre a necessidade de uma abordagem equilibrada do assunto, fujamos desta perspectiva.
Pitágoras, muito provavelmente, quando recorreu aos números para representarem idéias, não via neles nenhum poder mágico. Apenas sabia, como todos nós sabemos, que eles são extraordinariamente fecundos como base simples para a prática da simbologia.
Antes dos números e depois deles, muitas tentativas de representar idéias por símbolos foram tentadas: quadros imensos com um enorme número de figuras e desenhos, sinais como setas, cruzes, círculos e, não satisfeitos com isto, pequenos textos enfiados entre estes outros, como a direcionar o interpretador no caminho correto.
Com os números, nada disso era necessário. Primeiro através de formas geométricas (pontos, traços, cones para o 1, barras em dupla para o 2, triângulos para o 3 e assim por diante) ; depois através de algarismos, um enorme avanço na representação das quantidades, com o império romano; e finalmente com os algarismos arábicos, que chegaram ao ocidente no século XIII, cada número em si será suficientemente capaz de encerrar uma enorme gama de possibilidades representativas.
Vejamos o caso do 1.
Desde os sumérios e os egípcios, a unidade foi usada para fins administrativos. O interesse no uso do número era a contagem de animais e a justiça no comércio e na distribuição de grãos. Não existiam algarismos, mas a idéia de unidade já havia surgido.
O simbolismo vem como consequência do trabalho de Pitágoras, que estabelece a relação entre números e valores filosóficos.
Pitágoras
Esqueçamos tudo isso e deixemos que nossa imaginação e intuição nos leve em suas asas.
O 1 é, essencialmente o símbolo da Unidade.
É dele, na sociedade humana, que se extrai o simbolismo necessário a coesão de religiosos, de exércitos, de reinos, de movimentos filosóficos. Buscamos a Unidade em nós, seres divididos por nossas próprias contradições internas.
Buscamos a Unidade no caos dos acontecimentos, na multiplicidade fenomênica, que segundo Kant só era reduzida a algo compreensível pela Mente, na transformação progressiva desta multiplicidade de sensações na unidade do conceito.
Vemos, portanto, a Unidade no Caos, e buscamos a Unidade em todas as coisas.
A Unidade é o ponto focal. Achamos todos que viemos dela e que retornaremos a ela, mas enquanto estamos em deslocamento ela não nos serve por que não tem manifestação, não gera conseqüências.
O Um por ser Um é imanifesto. Ele precisa de mais alguma coisa para manifestar-se.
Pressionado por este clamor do tornar-se, o Um, a Unidade, divide-se, internamente, e gera o surgimento do número 2.
O NÚMERO 2
Dois é oposição e ao mesmo tempo, complementariedade. Nele está encerrado o princípio da Dualidade, a essência do Homem e da criação, pois “o homem é dual em essência e trino em manifestação”.
Nesta mesma dualidade espelha-se a maneira como vemos o mundo e como o mundo nos vê. Bem e Mal, esquerda e direita, alto e baixo, guerra e paz, homem e mulher, certo e errado, sagrado e profano, tudo segue a lei da dualidade, base da manifestação na matéria, essência desta mesma manifestação.
Não é possível haver manifestação que não seja dual. Sempre que tivermos em mão um aspecto, devemos procurar seu complemento. Toda mão tem outra mão, todo ser tem outro ser que o continua e complementa.
Entender isto é aceitar a realidade como ela é, sem idealismos ou fantasias que nos trazem mais sofrimento do que qualquer coisa. Precisamos da compreensão binária. Ela nos traz a maturidade necessária para atravessar sem desgaste as oscilações naturais e inevitáveis das ondas da existência.
Toda a nossa vida não passa de uma oscilação binária.
Compreender aceitar esta verdade reduz imensamente o sofrimento.
Ainda não estamos plenamente satisfeitos, na Criação, se tivermos apenas dois pólos se relacionando.
A tensão gerada pelo gradiente de energia entre eles aumenta progressivamente até explodir na consecução mais gloriosa do Binário, o Três.
O NÚMERO TRÊS
Dual em essência, trino em manifestação.
Se a base da realidade são as duas colunas paralelas que geram tensão entre elas, o seu conflito criativo desencadeia a revolução do terceiro ponto, o ponto de criação, o terceiro lado do triângulo.
Deus, pai, espírito santo; sabedoria, força e beleza; Bhrama, Vishnu e Shiva; de muitas maneiras a trindade está representada na vida esotérica.
Também na vida mundana, entretanto, podemos encontrá-la: Pai, mãe e filho; nascimento, vida, morte; infância, maturidade, velhice; passado, presente, futuro.
O três marca nossa existência do início ao fim e demonstra a necessidade do 2 ao mesmo tempo que demonstra sua insuficiência. É a instabilidade do 2 que gera o 3, aonde ele é absorvido e desaparece, em silêncio.
No três não existem oposições em conflito, só a manifestação. Só que a realização sempre culmina em solidão. E o Três, o número do mestre, o número do manifesto, busca novamente o apoio da Unidade, que passeia ao longo da década auxiliando seus descendentes e os transformando.
E assim como o 1 arrancou de si mesmo o 2, transformou-o acrescentando-lhe seu próprio corpo, dando-lhe o caráter e a forma de três, da mesma maneira, percebendo a solidão do três , manifesto e solitário, com pouco equilíbrio, vai a este e acrescentando-lhe mais uma vez seu próprio corpo no madeiro entrecruzado, a Unidade transforma seu filho 3 na glória da estabilidade do 4.
O NÚMERO 4
O 4 tem várias possibilidades representativas. Esqueçam que ele é o número da Força, do Homem para Martinez de Pasqualy, ou da Realização.
Pensem geometricamente. Bases sólidas são quadrados. Antes do algarismo 4 representar a idéia do quatro, sua representação era uma forma geométrica, o quadrado.
E o quadrado é a base da pirâmide, símbolo da ascensão, da busca pelo alto. Vejam, não se pode construir uma pirâmide realmente sólida a não ser com uma base quadrada. Uma vida de sucesso apóia-se em bases sólidas. A pirâmide vai para o alto, representa nossa própria ascensão.
Muitas vêzes pensamos que nossa vida está estagnada, porém lembrando-nos do 4 , sentimo-nos mais pacientes e compreensivos. Nada é tão importante como construir em bases sólidas e a base quadrada está no solo, no princípio da obra, é plana, não tem oscilações. Plana, como às vêzes nossa existência parece estar, sem crescer, só se alargando para os lados.
Podemos estar apenas consolidando nossas bases.
O 4 então, poderá ser chamado de vários nomes, como por exemplo, aperfeiçoamento profissional, acumulação de informações intelectuais e técnicas, acúmulo de experiência. Lembremos de Karl Marx: só após o acúmulo quantitativo podemos ter um salto qualitativo.
Por isso, paciência. Estamos às vezes atravessando um quadrado de fundamentação, não estamos estagnados, nem estamos regredindo, nem deixamos de progredir.
Desenhar a nossa existência no plano, na horizontal, em um quadrado amplo e sólido, pode ser apenas a preparação da ascensão vertical vertiginosa, a contração para o salto, a base que solidifica e garante uma ascensão segura.
Fiquemos por enquanto com estes 4 números, mas fiquemos atentos para não incorrer no erro do fatalismo infundado. Números são apenas símbolos de idéias, não amuletos religiosos.
Aqui, portanto, estão outras possibilidades para o uso da Numerologia, sem fazermos dela uma ridícula e descabida construção de mitos e fantasias, onde a razão é enterrada e só a superstição prospera.