Multi pertransibunt et augebitur scientia (Muitos passarão, e o conhecimento aumentará).

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

O SILENCIO


por Mario Sales FRC.:,S.:I.:,M.:M.:



Não tenho conseguido escrever estes dias. Acompanho com alegria a contagem de leitores ou pelo menos visitantes do blog aumentar a números que jamais imaginaria, mas não consigo escrever mais nada.
O calor me abate de uma tal maneira que mesmo no ar condicionado em casa a lembrança dos momentos em temperaturas escaldantes para mim, me tiram o animo e a disposição.
Minha cabeça continua inquieta e minhas ideias para possíveis ensaios continuam a passear pela minha imaginação, só que daí a transformá-las em um texto organizado vai um grande espaço, que o clima abafado ou sua mera lembrança não me deixam atravessar.
Este é meu silencio: a inexpressividade, a incapacidade de realizar o texto, satisfatoriamente.


Não estou em silencio quando me calo, pois ainda assim ouço minhas ideias, que não são na verdade sons, mas imagens que me atravessam ao longo do dia.
Meu silencio é não poder escrever, não conseguir congelar minhas ideias em símbolos, em letras, transformá-las em algo compartilhável com todos que puderem decifrá-las, e aguardar as reações.
Confesso que para mim não é uma sensação agradável.
Paciência. Até os rádios desligam em algum momento, o que não quer dizer que não existam sons, apenas que o aparelho que capta e traduz estes sons não está ligado.



Nestes dias de calor intenso, neste mês em que o verão resolveu aparecer, sinto-me como um rádio sem pilhas, sem condições sequer de acender uma luzinha no mostrador das estações, aquilo que nós brasileiros costumamos chamar, à maneira terceiro mundista, de “dial”.
As estações estão lá; as músicas, os jornais, as transmissões de eventos ao vivo, tudo está lá.
Só eu é que não estou, neste silêncio operacional, aguardando o momento em que o dono do rádio venha, e por sua vontade , ligue-me novamente.
Paciência, digo pra mim mesmo.
Paciência.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

AS DUAS VOZES



Por Mario Sales, FRC.:,S.:I.:,M.:M.:






F: “Estávamos eu e a Rúbia refletindo sobre o seu texto hoje no café... pensamos que existe um problema... que está justamente no modo como a Inspiração nos chega... às vezes nem chegamos a perceber que uma Inspiração Divina está em andamento... é necessário estar "pré disposto" de determinada maneira... é necessário "ver" este ou aquele fato como a Inspiração... o fato de ser Inspiração ou não reside em interpretar "como Inspiração" este ou aquele fato ou percepção... ou sensação... ou pensamento... O texto é belo e inspirador... mas o "problema" da vida está num mero detalhe... o problema de todos os grandes ensinamentos também é este mero detalhe: o "como".”



M: “Atitude adequada, ausência de orgulho, entrega total e incondicional. Este é o "como".”



Ao receber este comentário de meu amigo lembrei da história de Muinudin Chishti, o músico, narrada por Shree Rasheneesh, ou Osho, em um livro memorável que guardo como um tesouro, chamado Raízes e Asas, editado pela Cultrix Pensamento a partir da edição original de 1975. 






Esta é mais uma história das muitas que são narradas neste texto incomparável que Rajeneesh dedicou ao estudo do Zen.
Rajeneesh era um grande psicólogo e educador místico, mas não tinha qualquer respeito por convenções. Inventaria qualquer história para ilustrar seus ensinamentos e dar-lhes um caráter lúdico.
Achei que esse era o caso da história de Muinudin Chishti, o músico. Só que eu estava errado.
Ao escrever este ensaio, pesquisei sobre ele e existem relatos históricos de sua existência, se bem que o episódio que descreverei a seguir carece de confirmação.
Diz Rajeneesh: 




Ajmer, Rajastão, noroeste da Índia 



“Contaram-me uma história. Aconteceu em Ajmer. Você já deve ter ouvido falar a respeito de um músico sufi, Muinudin Chishti, cujo dargah, cujo túmulo, está em Ajmer. Chishti era um grande místico, um dos maiores que já existiu, e era músico. Ser músico” diz Rajeneesh, “é ser contra o islamismo, pois este proíbe a música. Chishti tocava cítara e outros instrumentos. Era um grande músico e isso lhe dava grande satisfação. Cinco vezes por dia, quando os muçulmanos tem de fazer seus rituais de oração,esse místico não orava, mas simplesmente tocava seu instrumento. Essa era a sua oração.
Isso era absolutamente anti-religioso, mas ninguém podia dizer nada para Chishti. Muitas vêzes as pessoas tentavam lhe falar, mas ele começava a cantar. E a canção era tão bela que as pessoas se esqueciam do motivo por que tinham ido procurá-lo. Ele começava a tocar seu instrumento, e isso era feito com tanta devoção que mesmo os estudiosos, pânditas e maulvis, que tinham ido para reclamar, não conseguiam fazê-lo. Só se lembravam de suas objeções quando voltavam para casa; lá lembravam porque tinham ido ver Chishti.
A fama de Chishti espalhou-se pelo mundo. De todos os cantos, as pessoas começaram a chegar. Um homem, Jilani, também um grande místico, foi de Bagdá só para ver Chishti.
Quando Chishti soube que Jilani estava chegando, pensou: “-Por respeito à Jilani, será melhor não tocar meus instrumentos. Ele é um muçulmano tão ortodoxo que não será uma boa acolhida. Ele poderá sentir-se magoado”.
Então somente naquele dia, em toda a sua vida, ele decidiu não tocar e não cantar. Ficou esperando desde a manhã, e à tarde Jilani chegou. Chishti tinha escondido seus intrumentos.
Quando Jilani chegou e os dois sentaram-se em silêncio, os instrumentos começaram a tocar sozinhos. A sala inteira encheu-se de sons. Chishti ficou sem saber o que fazer. Nem mesmo ele ouvira aquela música antes.
Jilani riu e disse: as regras não são para você. Você não precisa esconder seus instrumentos. As regras são para as pessoas comuns. Não são para você.
Você não devia esconder nada. Como pode esconder a sua alma? Suas mãos podem não tocar, você pode não cantar com a sua garganta, mas todo o seu ser é musical. E esta sala está repleta de tanta música, de tantas vibrações, que, agora, ela está tocando sozinha.”
Essa história maravilhosa está na página 74 deste livro.
E ela me encanta por várias razões.
Talvez, no entanto, a principal razão seja aquela que está resumida nesta frase de Jilani: “- As regras são para as pessoas comuns. Não são para você.Você não devia esconder nada. Como pode esconder a sua alma?”
Este é o erro fundamental de toda a nossa educação, a negação de nossa própria natureza.
Todos nós, cada um a seu modo, tem uma missão muito bem definida na existência. E quem dá a missão dá os meios. E quem é este que dá a missão? É o Altíssimo.
Sua voz está em nós, desde que chegamos a este mundo até a nossa transição para o plano espiritual, mas fazemos de conta que não a ouvimos, somos treinados para não ouvirmos sua voz, para desprezar sua orientação. Todos nós, por pudor, equivocadamente, “escondemos nossa alma e nossos instrumentos” na presença de outras pessoas, às vezes até mesmo em nossa própria presença; mas o que é a nossa “presença” a não ser a soma de nossas convicções e pré-conceitos, resultantes de nossa educação? Quando estamos “presentes” jamais estamos “a sós”, mas sempre estaremos acompanhados de ideias e conceitos com os quais fomos empanturrados por pais, mestres, e padres, todos eles com a melhor das intenções.
É preciso antes, então, buscarmos nos afastar deste Eu Construído para nos aproximarmos do Eu Verdadeiro.
E para isso é importante entender o Fenômeno das Duas Vozes.
Existem duas vozes em nós: uma que vem de fora e uma que vem de dentro.
A que vem de fora é a voz da educação mundana, das opiniões dos outros, dos valores de nossa cultura e família.
A que vem de dentro é a Voz de Deus, a inspiração.
A primeira é atordoante, não apenas um som, mas um grito que não cessa; a segunda é muito baixa, quase inaudível, quase imperceptível, e necessita para ser ouvida, que fiquemos absolutamente quietos, absolutamente calmos.
A primeira, a Voz de Fora, causa ansiedade de desempenho, angústia de realização, sensação de incompletude.
A segunda, a Voz de Dentro, só causa alegria, nos tranquiliza e nos invade com uma poderosa sensação de segurança diante de tudo e de todos, em suma, nos faz sentir completos.
A pergunta é esta: se somos música até a raiz de nossos cabelos, se existe música até em nossos ossos, por que “escondemos nossos instrumentos”? Por que não escutamos a Voz que vem de Dentro, porque fomos ensinados a não ouvi-la, a prestar atenção no que está Fora de Nós e não no que está Dentro de nós. É impressionante como sobrevivemos ao tempo de formação escolar.
Na escola, de todos os modos e maneiras, somos ensinados a “esconder nossos instrumentos”.
Nossa criatividade é soterrada por um sem número de informações que não tem outro objetivo a não ser “esconder nossos instrumentos”.
Isto gera grande sofrimento psicológico e frustração.
Somos o que somos e precisamos manifestar nosso modo peculiar de ser. Esta é a nossa contribuição ao mosaico humano da sociedade, e nosso talento, como tantos outros talentos individuais, é tão fundamental ao conjunto social quanto qualquer outro; e quando “escondemos nossos instrumentos” deixamos uma parte do mosaico em aberto, ou incompleta.
Toda a estrutura humana se ressente desta falha, e por isso, por que alguém não manifestou plenamente sua habilidade, não se realizou como Criador neste mundo, toda sociedade sofre. A infelicidade gerada por esta inadequação psicológica e criativa atormentará este indivíduo que, uma vez atormentado, atormentará outros a sua volta. E tudo por que não deu ouvidos a Voz que vem de Dentro, que Blavatsky chamava “A Voz do Silêncio”.
Estas habilidades dentro de nós não podem ser menosprezadas sem que paguemos um preço por isso. Às vezes são tão intensas que escapam de nossos armários e como os instrumentos da história, manifestam-se sozinhas, e os instrumentos tocam sozinhos, sem que o músico seja necessário.
Como ouvir estas coisas dentro de nós? Basta que fiquemos quietos. Basta calar nossa língua, nossos pensamentos, e ouviremos nitidamente os pensamentos de Deus em nós. Simples? Não, nem um pouco.
A educação mística é uma deseducação progressiva de maus hábitos adquiridos na vida mundana.
Pode levar tempo para esquecermos as tolices que aprendemos; mas vale a pena o esforço.
Nunca esquecer foi tão importante para que possamos, finalmente, nos lembrar da razão pela qual estamos aqui, neste mundo.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

A IMPORTÂNCIA DA PRESENÇA DE DEUS EM NOSSAS VIDAS



por Mario Sales FRC.:,S.:I.:,M.:M.:


Acredito na importância do trabalho, na capacidade de realização daqueles que creem em seu próprio poder de transformar a realidade a sua volta para seu próprio bem ou para o bem de toda uma comunidade.
Da mesma maneira creio que o trabalho em si é a parte menos importante da ação humana no mundo.
É como o eco de um som lançado sobre um paredão à frente.
Aquilo que chamamos de Mundo Real é na verdade a consequência do chamado Mundo da Imaginação, aonde as verdadeiras transformações acontecem, interagindo com a criação material de forma ininterrupta, mas tendo primazia temporal, acontecendo sempre antes, ideia gerando atitude, convicção gerando o fato.
Alguns dirão que se trata de um retorno à uma filosofia Idealista, agora em nosso momento histórico, no mínimo démodé.
Não é bem assim. Essa, na verdade, é uma visão de mundo bastante avançada, que pode ser rotulada como psicológica comportamental ou mística, tanto faz.
Tal perspectiva pressupõe que as inspirações para nossas ações provenham sempre do Altíssimo, direto da Consciência Cósmica, a Fonte de Tudo o que Existe, das quais somos meros receptores.
Só o orgulho intelectual negaria tal coisa. Só a Síndrome de Prometeu, vamos inventar esta patologia agora, pode fazer supor ao ser humano que sua vida, sem a Inspiração Divina, sem a presença divina constante seria possível ou executável com um mínimo de funcionalidade.
A conexão entre a Fonte e suas, digamos assim, gotas, espargidas em todas as direções, está na raiz da semelhança de natureza entre elas.
A Fonte é "Fonte da Água Eterna", aquela da qual se bebermos, jamais teremos sede outra vez; nós somos gotas desta mesma Água Sagrada, líquidos, adaptáveis e maleáveis, e apenas fortemente iludidos nesta aparência de solidez e estabilidade molecular por motivos educacionais e teatrais.
Pois aprendemos nos divertindo e fingindo sermos o que não somos. Nossos personagens nos ensinam muitas lições sobre comportamento, emoções, limites e possibilidades afetivas que sem o Teatro do Karma, o Teatro de Maya, não conseguiríamos aprender.
Este é um teatro educacional, portanto, não há riscos, nem dores verdadeiras, mas apenas recursos cênicos.
É no ambiente protetor desta peça, cercado de Mestres e Diretores de palco, que estamos em ensaio permanente em busca da perfeição dramática e artística.
Viver com satisfação e realização é, na verdade, não uma questão de esforço, mas uma questão de Arte.
E parte desta Arte, também sagrada, depende da Inspiração de nosso Sublime Diretor, que nos orienta a todo momento sobre o melhor meio de desempenharmos nosso papel, no Teatro da Existência.
Estes pequenos toques do Altíssimo são o que chamamos de Inspiração, que não inocentemente em português significa também a entrada do Ar em nossos pulmões.
Quando respiramos, Deus entra em nós.
A todo momento, a todo instante. E precisamos deste alento vital desesperadamente porque sem ele, física e espiritualmente, a existência no plano material seria impossível.
A Graça de Deus é esta presença constante com suas instruções e orientações, às quais precisamos estar atentos para dirigir nossa existência, nossa performance teatral na direção mais adequada, mais bem sucedida.
Agimos, se agirmos bem, segundo a inspiração divina.
A Ação Transformadora vem após a Orientação da Inspiração Divina, esta sim fundamental, sem a qual a sua contrapartida, a Ação no mundo material, ficaria vazia de sentido e valor.
Agir sempre a partir da Inspiração é caminhar com botas de sete léguas, deslizar pela vida e não viver um dia após o outro.
Gibran Khalil Gibran dizia que “águias não sobem escadas”.
Isto é fato. Precisamos reaprender a voar, não galgar montanhas, não ascender degrau por degrau, mas abrir nossas asas esquecidas e deixar que o Sopro de Deus nos empurre para o Alto, mais e mais, sempre.
E quando estivermos cansados de voar, repousemos em seu fluxo, planando no Alento Divino, nossa verdadeira fonte de sustentação.
Portanto, meus caros, atuemos, mas estejamos todo o tempo atentos às instruções que nos chegam sobre como deveremos atuar, às orientações do Altíssimo, nossa bússola neste sonho em que estamos todos mergulhados.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

A σχιζοφρενία MARTINISTA


por Mario Sales, FRC.:,S.:I.:,M.:M.:

“São necessárias todas essas coisas para orar a Deus?”
Louis Claude de Saint Martin,
comentando criticamente a complexidade interna
dos rituais da Ordem dos Ellus Cohen

                                                              
O que é a busca espiritual interior?
É aquela que prescinde da erudição, do acúmulo de informações que vêm dos textos, possível de ser praticada por cultos e incultos, egocêntrica, já que centrada no indivíduo, este buraco negro espiritual aonde tudo é absorvido.
Nada tem a ver com intelecto, nada tem a ver com o aprendizado de técnicas, nada, enfim, tem a ver com o coletivo.
É uma busca individual, solitária, e por isso, ao contrário de Willermoz, Saint Martin não procedeu em vida à organização de Lojas, semelhantes às Lojas Maçônicas, para o estudo da espiritualidade.
Dava ele mesmo, uma iniciação única a cada interessado, e, à semelhança da nobre Ordem Indiana dos Swamis, os portadores do Manto Laranja, um a um, cada novo martinista, uma vez iniciado, tornava-se um livre iniciador, que obtinha desse modo a autoridade de transmitir a quem quer que fosse a mesma iniciação.
Tal transmissão de conhecimento, solta, fluida, construiu uma estrutura que foi recuperada centenas de anos depois por Papus, na França, na sua retomada dos trabalhos organizados da Ordem.
E quais os princípios que regem esta prática chamada de Martinismo?
Em um curto e belíssimo artigo “O Martinismo”, no site Hermanubis, um irmão que se nomeia Saryh, SI, descreve assim os elementos fundamentais da prática dos martinistas:
“As sete virtudes que devem praticar: Sinceridade, Paciência, Coragem, Prudência, Justiça, Tolerância e Devotamento. O Martinista tem como premissa de vida, o Amor ao Grande Arquiteto do Universo, e o Amor ao seu próximo.”

Saint Martin

Ora , o “amor ao próximo” é uma práxis terrena, social, mas o “amor ao GADU” entra no terreno teúrgico, e como já tive oportunidade de comentar, não há outra técnica teúrgica mais poderosa do que a Oração do Coração.
Esta atividade, a prece, dispensa outros requisitos a não ser a entrega incondicional daquele que a executa nas mãos de Deus.
Esta entrega pode sim, e deve ser objeto de exercício, pois só aprendemos a confiar confiando, e só aprendemos a amar, amando.
Só que já temos em nós tudo o que é preciso para tal exercício e se fossemos privados de todos os nossos bens materiais e de nossas roupas, nada nos faltaria para que entrássemos no estado de prece, de oração.
Visto isto, e considerando que o Martinismo não é o Martinezismo, embora um e outro estejam historicamente ligados, não se entende que ainda hoje, a herança de Papus tenha sido uma espécie de liga entre os dois tipos de prática.





Louis Claude de Saint Martin

Considerando a diferença intrínseca entre as duas vertentes, uma que buscava em técnicas de Teurgia, hoje obsoletas, a materialização de um intermediário entre Martinezistas e a Divindade, segundo os relatos de Papus que podem ser lidos no site da Hermanubis, o caminho para a o conhecimento, e outra, que se fundamenta no contato direto, sem intermediários, com esta mesma Divindade, através da prece, bem mais ao estilo rosacruciano e cátaro, não faz sentido que ambas as vertentes, mesmo consideradas sob a perspectiva histórica, sejam embrulhadas em um mesmo pacote e oferecidas como um único modus operandi.
São, em síntese, como óleo e água.
Uma é complexa; a outra simples.
Uma é rebuscada; a outra despojada.
Uma, no contato com Deus, é indireta; a outra é direta.
Não há como ocultar esta contradição, esta esquizofrenia (do grego σχιζοφρενία; σχίζειν, "dividir"; e φρήν, "phren", "phrenés", referente ao músculo frênico, no antigo grego, parte do corpo identificada por fazer a ligação entre o corpo [abdômen] e a alma [tórax], literalmente "diafragma") que acompanha os estudantes de Martinismo em todo o mundo, seja em qual denominação se abriguem.
O termo esquizofrenia foi cunhado por Bleuler no final do século XIX e refere-se a uma mente dividida, separada em duas, sem conseguir harmonia entre as duas metades.
E é exatamente isso que se vê: uma prática indecisa entre uma linha de trabalho e outra, na ilusão de que são complementares quando na verdade são excludentes.
Ou bem se assume como Martinismo a Via Cardíaca, que não precisa nem mesmo de palavras, quanto mais de rituais, ou bem retornamos às práticas martinezistas, e enveredaremos de novo por uma Teurgia Complexa e impraticável modernamente, com graves prejuízos à sanidade mental daqueles que trilham este caminho, como dito pelo próprio Saint Martin, ao abandonar estas práticas após a morte de seu Mestre.
Minha humilde opinião é que a opção de Saint Martin foi um avanço conceitual para sua época além de estar harmonizada com o pensamento da AMORC, de Espinoza, e dos Santos da Igreja Primitiva, como além disso do próprio Cristo, Jesus, de que é dentro do homem que estão as forças que precisam ser trabalhadas, e não fora dele.
A frase de Saint Martin que inicia este ensaio é límpida e cristalina e já tem 300 anos.
Às vêzes tenho a sensação de que é tão clara que ofusca os olhos de quem a lê. Se ao contrário prestarmos atenção a cada letra, a cada palavra da frase, veremos que, mal comparamos, existe um castelo de cartas esotérico pronto a desabar, ao mínimo sopro.
São palavras duras, mas precisam ser ditas.
Quem tenha ouvido para ouvir, que ouça.

SABE COM QUEM VOCE ESTÁ FALANDO?

sábado, 4 de fevereiro de 2012

NUVENS

por Mario Sales, FRC.:,S.:I.:,M.:M.:


Estava agora a pouco aproveitando a paz de um sábado perfeito para assistir uma das aulas de Salman Khan sobre orbitais atômicos, conceitos ligados ao trabalho de Niels Bohr, aonde Khan descreve com maestria e didática a dinâmica interna das partículas componentes do átomo, prótons, nêutrons e elétrons.


Bohr

E nas suas elucubrações sobre o mundo do muito pequeno, Khan cita o Princípio da Incerteza de Heisenberg para afirmar que, embora imaginemos a órbita dos elétrons como semelhante a órbita de planetas, não é isso que ocorre já que a posição do elétron apenas pode ser determinada probabilisticamente e não de modo preciso. As nuvens que se formam em torno do núcleo de um átomo, nuvens essas formadas pelo movimento constante dos elétrons, são uma imagem mais fiel da imprecisão inevitável que encontraremos em estabelecer a posição deste elétron em determinado instante de tempo, ou mesmo o orbital em que ele estará.


Heisenberg

O próprio ato de tentar observar esta posição influenciará a posição do elétron, pois ao contrário do mundo das coisas grandes, no mundo do muito pequeno a luz é de uma densidade extremamente alta e, relativamente, empurra os objetos do mundo subatômico como empurraríamos uma poltrona, no nosso mundo. 

Existe uma analogia que está na página da WiKipedia (http://pt.wikipedia.org/wiki/Princ%C3%ADpio_da_incerteza_de_Heisenberg) dedicada ao princípio da incerteza que gostaria de transcrever, para esclarecimento do princípio: “Para se descobrir a posição de uma bola de plástico dentro de um quarto escuro, podemos emitir algum tipo de radiação e deduzir a posição da bola através das ondas que "batem" na bola e voltam. Se quisermos calcular a velocidade de um automóvel, podemos fazer com que ele atravesse dois feixes de luz, e calcular o tempo que ele levou entre um feixe e outro. Nem radiação nem a luz conseguem interferir de modo significativo na posição da bola, nem alterar a velocidade do automóvel. Mas podem interferir muito tanto na posição quanto na velocidade de um elétron, pois aí a diferença de tamanho entre o fóton de luz e o elétron é pequena. Seria, mais ou menos, como fazer o automóvel ter de atravessar dois troncos de árvores (o que certamente alteraria sua velocidade), ou jogar água dentro do quarto escuro, para deduzir a localização da bola através das pequenas ondas que baterão no objeto e voltarão; mas a água pode empurrar a bola mais para a frente, alterando sua posição. Desta forma torna-se impossível determinar a localização real desta bola pois a própria determinação mudará a sua posição. Apesar disto, a sua nova posição pode ser ainda deduzida, calculando o quanto a bola seria empurrada sabendo a força das ondas obtendo-se uma posição provável da bola e sendo provável que a bola esteja localizada dentro daquela área.”



Interessante. Esta pequena revisão das características, não das órbitas, já que estas, à semelhança das planetárias, são regulares, mas dos orbitais, este caos de elétrons que circula o núcleo do átomo dialogando apenas com as forças de atração dos prótons dentro dele, me fez pensar de novo na instabilidade de todas as coisas, sua íntima e estrutural condição de nuvens polimorfas, como as nuvens do céu, a definir, pela complexidade e interação de campos e cargas elétricas o que nos acostumamos a chamar de sólido, de mundo real.O que é mais impressionante é a aparente estabilidade que possuímos nestes corpos, que deveria se desfazer com um sopro, e aos quais costumamos nos apegar ao longo as existência de uma encarnação.
“Tudo que é sólido desmancha no ar”, dizia Karl Marx, ou deveria se desmanchar, mas, por motivos que para mim ainda não foram suficientemente esclarecidos, as coisas ditas sólidas mantém uma forma e um contorno aparentemente estável, por anos. Embora, pelo que a física de partículas nos ensina, sejamos nuvens que caminham pelas calçadas como as nuvens vagam pelo céu, mantidos no solo pela força invisível da gravidade, que nos dá peso, que nos dá a impressão de densidade, tudo, absolutamente tudo que nos mantém, assim como estamos, é extremamente diáfano, vago e sem consistência.
Tudo isso deveria nos fazer sentir mais leves, mais desapegados, mas o salto, o “leap of faith”, não é tão fácil.
A ilusão é muito poderosa, e sugere, absurdamente, que nós, nuvens, sejamos pedras.
Mantemos esta sensação de solidez graças a uma espécie de auto sugestão, uma hipnose quântica que nos faz tocar nosso corpo e dizer: “Eu existo, eu estou aqui.”
Não, diriam os físicos, a densidade é o produto da multiplicação ao infinito das interações de campos dentro de nós, gerando as moléculas, que por sua vez também se multiplicarão gerando células, tecidos e órgãos.
Aí eu penso: “Mesmo assim, são campos tão instáveis, desde a mais diminuta subpartícula, tão caóticos, que é impossível que esta solidez aparente, esta estabilidade que experimentamos, não seja nada mais, nada menos do que uma sensação meramente psicológica, quase uma crença em uma aparência, sustentada pelas interações entre coisas tão sutis quanto a luz e os elétrons, ou seja, pelos pensamentos”
Sim, idéias, noções de mundo, crenças em suma que determinam nossa existência, qualidade de vida, saúde, resistência à doenças, ou mesmo o efeito placebo dos remédios feitos apenas de açúcar e fé.
São coisas pra se matutar.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

HOMOGENEIDADE X HETEROGENEIDADE: CONSIDERAÇÕES MÍSTICAS E ADMINISTRATIVAS


por Mario Sales, FRC.:,S.:I.:,M.:M.:





Lembro-me de que 30 anos atrás, se não me falha a memória, tínhamos dentro da AMORC o hábito de recomendar aos recém chegados que, “caso desejassem unir-se à pessoas de mentes afim com o ideal rosacruz, poderiam procurar os corpos afiliados ( na época chamados corpos subordinados) e freqüentar suas atividades”.
O que se dizia nas entrelinhas era que em ambiente rosacruciano o membro encontraria uma homogeneidade de interesses e uma multiplicação de esforços na direção do objetivo comum, o desenvolvimento do estado de Consciência Cósmica.
Muitas foram as decepções na época, as quais redundaram em progressivo afastamento de muitos neófitos da Ordem. Nem todos tiveram uma experiência ruim, mas é fato que, supondo que um corpo afiliado abrigasse uma coleção de pessoas de nível mental diferenciado, quando constatavam que estavam em meio a simples seres humanos, alguns, mais imaturos, não tão raramente, sentiam frustração e desalento.
Outro fator de aceleração do afastamento era a convocação precoce, às vêzes ou quase sempre por falta de opções numéricas, para um cargo ou administrativo ou ritualístico.
Principalmente os cargos administrativos geraram, como ainda geram, grandes dores de cabeça para as administrações locais e à Grande Loja.
Alguns membros antigos diziam que estes fatos não deveriam ganhar destaque, pois faziam parte dos testes de aptidão, as famosas “peneiras” a que cada estudante rosacruz é submetido ao longo da senda dentro ou fora do corpo afiliado.
O fato é que os dois problemas citados permanecem até hoje, e o que vemos é, ao invés de Homogeneidade, uma intensa Heterogeneidade no desempenhos dos nossos pronaoi, capítulos e lojas, sendo que alguns poucos tem um curso e um desempenho administrativo e/ou ritualístico brilhante enquanto um grande número amarga condições difíceis, mal conseguindo dar conta de suas obrigações.
Neófitos que compareçam a esses locais, levados pela crença de que encontrarão um ambiente como costumamos dizer, harmonioso, surpreendem-se com o sem número de embaraços que o Mestre do corpo afiliado tem às vêzes para proceder a um simples ritual rotineiro. 






São muitas exigências, muitos compromissos, muitas reuniões, muitos ensaios, o que pressupõe que o membro que assuma um cargo no corpo afiliado ver-se-á precocemente às voltas com um sem número de obrigações que não consegue às vêzes satisfazer.
Existe sempre um grupo de resistência, um núcleo duro de frateres e sorores que de maneira permanente sustentam financeiramente a estrutura física, e muitas vêzes também, a ritualística do corpo. Só que as pessoas não são eternas no aspecto físico e uma renovação é fundamental, de forma a que novas energias venham se juntar as antigas e continuar o trabalho templário.
Temos de lá pra cá tido uma piora deste quadro e, se ao mesmo tempo, aumentou o número de afiliados em todo o Brasil, e muitos buscam os portões da Ordem, trazidos por afinidades de outras vidas ou por mera curiosidade, muitos são 
também os que desistem da senda, geralmente a partir da quarta remessa de monografias. 
Acredito sinceramente que esta rotatividade, esta população flutuante e em fluxo, não se sente tão à vontade de sair apenas porque possuam falta de determinação ou porque não tenham ultrapassado as tais peneiras de que falam alguns. Nem muito menos aceito o argumento de que a qualidade dos capítulos é apenas fruto da capacidade da comunidade local em desenvolver adequadamente os procedimentos protocolares do nosso manual administrativo.
Sou rosacruz e membro de AMORC há 37 anos.
Conheci, ao longo destes anos, raras e inesquecíveis pessoas com quem tive a honra de dividir a condição de afiliados da Ordem. São pessoas absolutamente dedicadas à causa rosacruz e que, como eu, serviram a Ordem como oficiais administrativos e ritualísticos abnegados, com a mesma seriedade com que cuidavam dos interesses de sua própria família, convencidos de que seu altruísmo já era em si sua própria recompensa.
Do mesmo modo, contemplei as flutuações de qualidade ao longo das administrações, de forma que uma equipe de grande competência nem sempre era substituída por um grupo com a mesma habilidade e energia.
E, na minha opinião, isto não se deve apenas ao destino, mas ao pouco profissionalismo e amadorismo com que o trabalho de administrar os corpos afiliados sempre foi feito.
Sempre acreditamos que bastava a boa vontade do membro para que o trabalho fosse bem feito.
Não é tão simples. Aspectos legais e financeiros, logística de transporte para eventos de todo um corpo ritualístico, transporte seguro e confortável para eventos da Ordem Juvenil, tudo isso demanda um tipo de abordagem o mais profissional e padronizada possível, isto tudo sem falar no aspecto mais delicado de nossos corpos afiliados: sua viabilidade financeira, que hoje depende exclusivamente de eventos festivos e da mensalidade dos membros pagantes.
Minhas idéias sobre como solucionar essas questões são as mais variadas, desde o estabelecimento de uma quarentena para neófitos, que os impeça de assumir quaisquer cargos antes da primeira iniciação de templo, até a terceirização de funções administrativas para uma equipe estável e profissional, remunerada, que cuide das questões administrativas de modo rotineiro, deixando o mestre e seus oficiais livres para dedicar-se a assuntos reflexivos e filosóficos.
Isto não quer dizer que nenhum de nossos membros tenha capacidade para desempenhar esse papel, mas apenas que não se verá obrigado a desempenhá-lo quando não se sentir apto a isso, e nem o Mestre do corpo afiliado precisará preocupar-se com detalhes cada vez mais numerosos que, dependendo do secretário, serão extremamente penosos de cuidar.
Se a Ordem considera arriscado o aspecto de criação de vínculos empregatícios com pessoas que poderão trazer grandes dores de cabeça na Justiça Trabalhista, ao mesmo tempo deve considerar a possibilidade de que a profissionalização de nossos procedimentos gerará uma uniformidade de condutas que só o profissionalismo traz.
Precisamos urgentemente de uma informatização selvagem de nossos procedimentos, o meio mais adequado e rápido de homogeneização de condutas em todo o país, mantendo a possibilidade de acompanhamento em tempo real pela Grande Loja.
Isto permitiria que Curitiba não se arriscasse aqui e ali com funcionários locais, mas criasse a sua própria empresa de administração, com funcionários treinados para fazer o serviço necessário para a manutenção administrativa do corpo afiliado. E isto em caráter nacional.
Devemos ainda considerar o assunto tabu de como transformar nossos corpos afiliados em empreendimentos prósperos como é da doutrina rosacruz preconizar para todas as nossas atividades ao contrário destes numerosos.
Coordenado sempre pela Grande Loja, um esforço para implantação de atividades rentáveis ligadas a cada grupo rosacruz em cada comunidade na face da Terra, seria muito bem vindo.
Embora alguns estudantes rosacruzes sintam-se mal com a idéia do lucro, como um total apaixonado pela AMORC o que me incomoda profundamente é a penúria material de alguns corpos afiliados, indigna daquilo que os rosacruzes pregam em seus discursos.
Se um neófito chegar as nossas portas deve ao menos ser recebido com dignidade material mínima.
O tal “ambiente harmonioso” começa em condições materiais adequadas e considerando que não somos um grupo religioso, mas uma Ordem iniciática, com um viés Calvinista, para nós estudantes rosacruzes, mesmo em um país católico, a miséria não é o cartão de visitas da santidade, muito pelo contrário.
Como, no entanto, tornar um capítulo ou uma Loja um ambiente próspero e auto-suficiente?
Parece-me que a saída é a implementação de Livrarias Místicas em todo o país, uma rede com sede em Curitiba, de venda de materiais tanto rosacruzes como de outras tradições, como a tradição judaica, a tradição sufi ou a tradição zen budista.
O comércio de livros e objetos ligados a práticas místicas é uma parte importante dos fundos de um corpo afiliado, mas como nem sempre, ou melhor, na maioria das vêzes não é conduzido com o profissionalismo de mercado necessário, não resulta em lucro e em fundos para dar a tal dignidade material ao capítulo.
Prosperidade atrai prosperidade e acredito que com essa guinada profissionalizante, a motivação dos membros será revitalizada e não teremos uma flutuação tão intensa quanto temos hoje. Muitas mensalidades serão pagas de maneira mais regular, já que boletos bancários substituirão os discursos que hoje chamam o membro a responsabilidade de não interromper suas contribuições.
E embora para muitos, desacostumados com disciplina financeira, possam supor que estas medidas vão contra a noção de fraternidade, argumento que a irregularidade e a desatenção com as necessidades materiais de seu corpo afiliado a que muitos estão acostumados, esta sim é uma atitude que não condiz com a ética rosacruz
O estranho é que quando temos membros que pertencem a duas Ordens iniciáticas, ou seja, são rosacruzes e maçons ou rosacruzes e membros de outra escola espiritualista, segundo testemunhei, só esquecem de manter em dia suas contribuições (bem mais baixas que em outras ordens) na AMORC, orgulhando-se de comentar que pertence a esta ou aquela entidade que, com certeza, tem menos escrúpulos de lembrá-lo de suas obrigações.
Não é justo.
Precisamos repensar estas coisas.
Minhas sugestões são apenas isso, sugestões, e estão abertas a críticas e comentários, mas de qualquer forma precisamos mudar a maneira de cuidar de nossos corpos afiliados e, se possível, abandonar o amadorismo administrativo, perdendo a inibição e os escrúpulos de influência católica, de gerar prosperidade material para nossa Amada Ordem.
A heterogeneidade de nosso mundo demanda essa postura.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

AGRADECIMENTO

Pela primeira vez o blog atinge a marca de 2688 acessos, no mês de janeiro de 2012, superando novembro de 2011 quando recebeu 2609 acessos.
Obrigado a todos.


Mario Sales