por Mario Sales, FRC.:, C.:R.:+C.:, S.:I.:(membro do CFD)
Por uma questão de hábito ou de desconhecimento da história
das religiões do mundo, ou ainda por supor que os fatos de sua aldeia se
reproduzem em todas as aldeias, a maioria dos homens supõe que a Bíblia seja o
mais importante ou mesmo o único livro sagrado da humanidade. Na verdade, a
Bíblia ou conjunto de livros divididos em Velho e Novo Testamento refere-se a
tradição religiosa de apenas um povo, o povo hebreu, praticante do Judaísmo, e
por isso também chamado de povo Judeu.
A tradição religiosa deste povo, no entanto, não é pura na
sua origem, mas produto do cruzamento de vários povos.
É importante lembrar que o pai histórico desse povo,
Abrahão, era Caldeu, já que não existia o povo Hebreu. Por outro lado o mesmo
Abraão aparece como fundador de outra tradição religiosa, o Islamismo, sendo
ele pai de Ismael, pai dos árabes filho de sua escrava, Agar, a quem fecundou
por que sua mulher não podia lhe dar filhos.
Lembremos também que o livro fundamental da literatura
judaica foi escrito por um príncipe egípcio, Moisés, que narra a lenda tinha
origens judaicas, mas foi educado e nutrido pelos ensinamentos das escolas de
mistério do Egito Antigo, que frequentou, graças a sua condição de nobre
pertencente a corte, na época em que se supunha ser ele neto do Faraó.
Este livro de Moisés consta de 5 textos, conhecidos entre os
Judeus como Torah, e em grego como Pentateuco, intitulados de Gênesis, Êxodo,
Números, Levítico e Deuteronômio.
É em cima deste texto básico que outros livros foram
acrescentados, com um Antigo Testamento composto por 46
livros na visão católica e ortodoxa e 39 na visão protestante, e um Novo
Testamento de 27 livros em ambas, transformando este conjunto de livros
(bíblia) no que hoje se costuma chamar de apenas um livro, fora os livros
considerados apócrifos, ou seja, cuja orientação e constituição não estavam em
harmonia com a linha de pensamento dos concílios e que por isso foram
sumariamente retirados do conjunto. Isso explica a enorme quantidade de
perspectivas e estilos diferentes encontrados dentro da Bíblia, uns violentos,
outros românticos e outros de elevado cunho devocional.
Muitas vezes essas variações de estilo e de linha de pensamento são encontradas em um único livro, como os Salmos de Davi, que
oscilam de preces de louvor a discursos em busca de vingança.
Para os judeus, o livro santo se concentra, portanto, na
Torah, sendo que os outros lhe foram acrescentados no sentido histórico da
preservação da memória de um povo que não teve, na maior parte dos últimos 20
séculos, um país, embora tenha se conservado unido graças a preservação de sua
cultura como nação.
Só que a Bíblia não é o único livro santo nem o mais
importante como muitos querem fazer crer.
Sua aparente força e seu apelo em nosso hemisfério
planetário tem raízes em dois fatores culturais.
O primeiro, o fato de que a cultura ocidental, a qual
pertencemos, é calcada em duas tradições: a Greco-Romana, que não produziu
grandes textos religiosos, mas sim importantes textos filosóficos e legais; e a
Judaico Cristã, esta sim produtora de literatura de cunho religioso,
concentrada no conjunto de livros conhecido como Bíblia.
E como a marca histórica religiosa mais importante do
Ocidente e da Cultura Ocidental é o nascimento e a vida de Jesus, o Cristo, a
ponto de a história ser marcada em antes e depois dele ( AC e DC), e sua
história ter-se transformado na segunda parte dos Evangelhos, (palavra que
significa "boa nova") , chamado de “Novo Testamento” em oposição a
coleção de obras pré cristãs, conhecida como “Velho Testamento”, supõe esta
mesma parte do planeta, o Ocidente, profundamente influenciada pela Igreja de
Roma, que nos últimos dois séculos divulgou a palavra do Cristo, que o texto
bíblico seja não só o mais importante como às vezes o único texto chamado
sagrado que merece atenção.
Outros textos, como citei, por ignorância ou preconceito,
são considerados menos importantes ou no mínimo exóticos.
Os números, no entanto, são tirânicos. Existe em todo o
mundo, por exemplo, um forte crescimento da religião islâmica em quantidade de
seguidores.
Se em 2004 existiam quase 2.000.000.000 de cristãos no
mundo, sendo 1.000.000.000 de católicos e quase 350.000.000 protestantes,
haviam 1.200.000.000 muçulmanos e 812.000.000 hindus. Estes últimos cultuam
como seu livro sagrado o Gita. Se somarmos com os 1 .200.000.000 de muçulmanos,
só aqui temos mais de 2.000.000.000 de pessoas no mundo para os quais a Bíblia
não é senão o livro de outra religião, um texto exótico para seus costumes e
para muitos deles, estranho, tanto quanto achamos os seus exóticos e estranhos
para nós.
E embora por influência americana e europeia a mente mais
desavisada tende a associar Islamismo e Terrorismo, isto é falso. O terrorismo
não tem cor ou pátria, ele nasce da ignorância e do preconceito. O terrorismo chamado
doméstico e branco, neonazista, recentemente atacou e matou 7 pessoas em um
templo da religião Sikh, uma variação do hinduísmo, dentro de território americano.
Ao contrário, devemos aos árabes nossa Astronomia (Al
Vicena), nossa Medicina (Al Biruni) e nossa Matemática ( os números que usamos
são os algarismos arábicos).
Um dos textos mais importantes do esoterismo ocidental, a
Tábua de Esmeralda, que é atribuído a Hermes Trimegistus, onde está escrito que
"o que está em cima está embaixo e o que está embaixo está em cima",
foi traduzido para o latim no século XIII de uma enciclopédia árabe.
Além de tudo isso que é ciência, devemos aos árabes também
um livro sagrado : o Corão.
Este maravilhoso livro que é o Livro Sagrado de milhões de
muçulmanos em todo o mundo tem passagens extremamente inspiradoras . São 114 capítulos
chamados Suratas. E para os que ignoram, seus temas são em muito semelhantes
aos do Velho Testamento Judeu.
Vejamos a 2a surata, a Surata da Vaca, com 286 versículos.
Diz ela na sua segunda parte, do versículo 29 em diante:
"Recorda-te ó profeta, de quando teu Senhor disse aos
Anjos: Vou instituir um herdeiro na Terra. Perguntaram-Lhe: estabelecerás nela
quem ali fará corrupção, derramamento de sangue, enquanto nós celebramos Teus
louvores, glorificando-Te? Disse o Senhor: Eu sei o que vós ignorais.Ele
ensinou a Adão todos os nomes ( de seres e coisas) e depois apresentou-o aos
Anjos e lhes falou: Nomeai-os para Mim se sois verazes. Disseram: Glorificado
sejas! Não possuímos mais conhecimento, além do que tu nos proporcionaste,
porque somente Tu és Prudente, Sapientíssimo. Ele ordenou: Ó Adão, revela-lhes
seus nomes. E quando ele lhes revelou seus nomes, asseverou Deus: Não vos disse
que conheço o mistério dos céus e da terra, assim como o que manifestais e o
que ocultais? E quando disse aos anjos: Prostrai-vos ante Adão! Todos se
prostraram, exceto Lúcifer que ensoberbecido, se negou e incluiu-se entre os
incrédulos"
E finalmente, no versículo 35, narra o Corão que Deus disse: "Determinamos: ó Adão,
habita o paraíso com tua esposa e desfrutai dele com a prodigalidade que vos
aprouver; porém, não vos aproximeis desta árvore, porque vos contarei entre os
iníquos."
Pasmem, até a mitologia do Paraíso está presente em ambos os
textos, como se fossem um só.
Na verdade não existem dois povos que mais se confrontem,
que mais se combatam.
No entanto, o pai de cada uma destas civilizações é o mesmo,
Abraão, e o texto sagrado de ambos faz menção ao mesmo tipo de Mito de
Fundação, como se fossem escritos pela mesma mão.
Isto dá o que pensar.
Mas isto não é tudo.
Existem passagens de rara beleza
Como esta na Surata da Luz, que diz:
"Não vês que Deus é glorificado por todos os seres no
céu e na terra , até pelo pássaro em vôo?
Cada qual tem seu próprio modo de orar e louvar: Deus é
ciente de tudo o que se faz. Pois a Ele pertence o reino do Céu e da Terra; e a
jornada pertence a Deus."
Este não é o texto de loucos terroristas, é o texto de
devotos do mesmo Deus que adoramos.
Mas o Corão não é o único outro livro sagrado.
Existe um livro particularmente, que é parte de outro, ao
qual me reporto com mais frequência, desde a juventude.
Este trecho digamos assim é chamado de A Sagrada Canção do
Senhor, que em sânscrito traduz-se por Bhagavad Gita. o Gita, como é chamado, é
o coração de um poema de 10000 versos, o Mahabharata, a Grande história dos
Bharatas, escrito, como se diz, pelo deus protetor dos escritores e dos
artistas, o Deus de Cabeça de Elefante, Ganesha, e narrado pelo sábio Vyasadeva.
O Gita é um texto inspirador. Ele nos fala de um Deus
poderoso, que vem a Terra na forma de um pastorzinho, que como veio do céu, tem
a pele toda Azul, cor que se torna seu nome, em sânscrito, Krishna, o Azul,
aquele que veio do céu. Toda a cena está sendo descrita por um vidente, Sanjaya
que vê tudo que se passa no campo distante mentalmente, para um rei cego, Dhritarastra,
pai de uma das dinastias em conflito.
Não há como fazer um resumo fiel do Gita, mas tentaremos.
O Gita é a narração de um diálogo de uma hora entre o
cocheiro de uma quadriga, uma carruagem de quatro cavalos, e o seu passageiro,
um príncipe da dinastia dos Bharatas, Arjuna, um de cinco irmãos.
Eles, cocheiro e passageiro da carruagem, estão parados
entre dois exércitos. Uma batalha, no campo de Kuruksetra, está prestes a
acontecer.
Ao ver do lado inimigo, parentes, ex professores e tios,
Arjuna, o herói, o Arqueiro Perfeito, sente-se inseguro e diz que não pode
ferir amigos e parentes, que aquilo não é justo, e que sente vontade de
desistir. Declaração a qual responde o cocheiro da carruagem, revelando-se não
um simples cocheiro mas o Deus Krishna, o Azul, uma encarnação de Vishnu na
Terra que diz: Meu querido Arjuna, como foi
que estas impurezas desenvolveram-se em ti? Elas não condizem com um homem que
conhece o valor da vida. Elas não conduzem aos planetas superiores, mas à
infâmia. 3. Ó filho de Pritha, não cedas a esta impotência degradante. Isto não
te fica bem. Abandona esta mesquinha fraqueza de coração e levanta-te, ó
castigador dos inimigos. 4. Arjuna disse: Ó matador dos inimigos, ó matador de
Madhu, como é que na batalha posso contra-atacar com flechas homens como Bhisma
e Drona, que são dignos de minha adoração? 5. É preferível viver mendigando
neste mundo que viver à custa das vidas de grandes almas que são meus mestres.
Embora desejem conquistas terrenas, eles são superiores. Se forem mortos, tudo
o que desfrutarmos estará manchado de sangue. 6. Tampouco sabemos o que é
melhor – vencê-los ou ser vencidos por eles. Se matássemos os filhos de
Dhritarastra, não nos importaríamos de viver. Contudo, eles agora estão diante
de nós no campo de batalha. 7. Agora estou confuso quanto ao meu dever e perdi
toda a compostura devido à torpe fraqueza. Nesta condição, estou Te pedindo que
me digas com certeza o que é melhor para mim. Agora sou Teu discípulo e uma
alma rendida a Ti. Por favor, instrui-me. 8. Não consigo descobrir um meio de
afastar este pesar que está secando meus sentidos. Não serei capaz de
suprimi-lo nem mesmo que ganhe na Terra um reino próspero e inigualável com
soberania como a dos semideuses nos céus. 9. Sañjaya disse: Tendo falado essas
palavras, Arjuna, o castigador dos inimigos, disse a Krishna, Govinda, não
lutarei, e ficou calado.10. Ó descendente de Bharata, naquele momento, Krishna,
no meio dos dois exércitos, sorriu e disse as seguintes palavras ao
desconsolado Arjuna. 11. A Suprema Personalidade de Deus disse: Enquanto falas
palavras sábias, estás lamentando aquilo com que não precisas te afligir. Os
sábios não lamentam nem os vivos nem os mortos. 12. Nunca houve um tempo que Eu
não existisse, nem tu, nem todos esses reis; e no futuro nenhum de nós deixará
de existir. 13. Assim como, neste corpo, a alma corporificada seguidamente
passa da infância à juventude e à velhice, do mesmo modo, chegando a morte, a
alma passa para outro corpo. Uma pessoa ponderada não fica confusa com essa
mudança. 14. Ó Filho de Kunti, o aparecimento transitório de felicidade e
aflição, e seu desaparecimento no devido tempo, são como o aparecimento e o
desaparecimento das estações de inverno e verão. Surgem da percepção sensorial,
ó descendente de Bharata, e é preciso aprender a tolerá-los sem perturbar-se.
15. Ó melhor entre os homens (Arjuna), quem não se deixa perturbar pela
felicidade ou aflição e que permanece estável em ambas as circunstâncias
decerto está qualificado para alcançar a liberação.
Em suma, no momento em que fraquejamos, em que hesitamos, erramos.
Para o hinduísmo, o único pecado é a omissão. Temos de agir, de realizar, mesmo
que erremos, e principalmente confiar que no fundo e na superfície, nossas
ações não são nossas mas são as ações de Deus através de nós e de que Ele sabe
a razão de nossos atos antes que os pratiquemos. Somos apenas energias de Deus
que transformam a realidade em seu nome e por sua vontade e é isto que ele diz
ao nosso ouvido quando fraquejamos:
Levante-se e lute, não desanime, não se confunda pois não é você
que está no comando, sou Eu, teu Deus e Senhor. Toda e qualquer idéia em contrário
é apenas uma manifestação da ilusão do Ego e deve ser rechaçada.
Este é um livro sagrado para pelo menos 900.000.000 de
pessoas em todo mundo, incluindo eu mesmo, e tem de mim a mesma veneração que
os cristãos têm pela sua bíblia, um dos livros , mas não o único aonde os
homens angustiados procuram inspiração para seguir em frente e desempenhar um
papel bem sucedido no grande desafio que enfrentam todos os dias: encontrar a
serenidade e a realização espiritual em seus corações no cotidiano.
O artigo ficou muito bom, acho q dará boas palestras.
ResponderExcluirBom dia ,gosto muito do seu blog,como estudioso da A M O R C,queria saber porque o HSL,se esforçava muito para provar a legitimidade da ordem,se ele foi iniciado e dado a ele autorização para um novo clico da ordem nas Américas?
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