por Mario Sales, FRC.:, C.:R.:+C.:, S.:I.:(membro do CFD)
Fazem algumas semanas eu publiquei aqui no blog um arrazoado
sobre os problemas de compreensibilidade e mesmo sobre a presença de
contradições internas que eu percebia no texto da Doutrina Secreta.
Um frater deve ter me achado tão angustiado que me mandou
por email dois links excelentes para ajudar no estudo de revisão em que me
envolvi nestes últimos meses, pelo que agradeço.
Lembro-me que falei que havia uma incongruência em um trecho
de Blavatsky que afirmava existirem senhores do carma que correspondiam aos
quatro pontos cardeais, segundo ela responsáveis pela administração deste
carma coletivo dos homens. Pouco mais a frente ela dizia que este carma era
automático, numa aparente contradição, seguindo a Lei Cósmica de Ação e Reação,
sem aparentemente nenhuma necessidade de intervenção deste ou daquele Mestre
Cármico. E nisso fundamentei minha crítica.
Saí do computador com essas considerações em mente. Mestres
Cármicos, Senhores do Carma, por assim dizer, não poderiam existir já que a Lei
do Carma funciona de modo autônomo, sendo algo inerente a Criação e se
existisse um Mestre para a Lei do Carma, este seria o próprio Criador, pois ele
a constituíra como parte da mecânica Universal.
Alguns dias mais tarde, domingo passado, um dia tranquilo para ler os jornais com todo o
vagar, comentei com minha esposa a imensidão do sofrimento humano e a minha
insatisfação com um modelo de universo como o nosso, em que, pelo menos neste
plano, a evolução parece tão, para dizer o mínimo, rude. A equação
erro-dor-conscientização- mudança de rumo- prazer nunca me satisfez. Sempre fui
favorável ao modelo erro - reflexão-conscientização- mudança de rumo - etc,
aonde o fator Dor não fizesse parte do contexto.
Se houvesse uma intervenção possível, esta seria a educativa, e isso sem nenhum aspecto de sofrimento.
Falava com minha esposa que não entendia, já que existiam
Mestres que zelavam pela vida da Humanidade, que não impedissem tantas guerras
e tragédias, o que para eles seria extremamente mais fácil do que para esta
massa caótica que forma a nossa espécie, que paga um preço alto pela sua
ignorância, ignorância que só poderia ser desfeita pela informação que ela não
recebe.
Entendo a explicação baseada na Ação e Reação, de que pela
experimentação e erro bem como pelo sofrimento causado pelo erro em si, o
ensinamento é fixado e consolidado pela emoção e garante uma evolução da
consciência mais sólida e fundamentada. Só que acho tudo isso muito lento e
muito doloroso e se eu, que não sou um mestre, me encho de misericórdia ao ver
irmãos de espécie passando por todas essas privações e desastres pessoais e
coletivos, suponho que a mesma misericórdia amplificada esteja no coração
daqueles e daquelas que atingiram o grau de Maestria. Só que mesmo, acredito,
consternados como eu, eles não intervém, em respeito a Lei de Carma, em
respeito a evolução natural da Humanidade.
E isto, repito, não me satisfaz, embora reconheça que é
assim que as coisas são e que, quer queira ou não, assim sempre serão.
Talvez em um próximo Universo as coisas mudem, mas neste,
não tem jeito.
Com esses pensamentos no espírito, e sem solução à vista, me
deixei levar na corrente do cotidiano e não pensei mais no assunto.
Segunda feira a noite, recebo mais um simpático email do
querido Frater José Marcelo, de Pernambuco. Na verdade não era um email para
mim, especificamente, mas emails que ele manda regularmente aos artesãos da Loja
Recife, e que me envia num gesto de cortesia. Nestes emails , cujo modelo poderia ser
seguido por todos os Mestres de classes de artesãos, Frater Marcelo antecipa os
temas da próxima reunião e prepara os espíritos com textos inspirados de vários
autores. Desta feita, não mandou um texto apenas, mas um livro inteiro, e um
belo livro, "Encontros com o Insólito", de Raymond Bernard, um clássico das
literatura rosacruz moderna.
E o tema do livro é exatamente "O Governo Oculto do Mundo",
seu papel na administração dos problemas da humanidade e de seu carma coletivo.
Curiosamente o mesmo problema que assolava minha cabeça no dia anterior.
Coincidência? Não acredito nisso.
Ainda mais que embora sonolento, mal chegou o email abri no
IPad, e mesmo deitado , comecei a ler sem parar até o final do quarto capítulo,
aonde me deparei ( não me lembrava mais deste diálogo, li o livro 25 anos
atrás) com uma conversa entre o autor e um dos mestres com quem se encontrou,
aonde questionava, pasmem, o enorme sofrimento da humanidade e se os mestres
não poderiam intervir para amenizá-lo.
O trecho em questão é o seguinte:
"R.B.: "E as guerras que devastam a Humanidade? E os povos que sofrem miséria e
fome? Por que os senhores não intervém em circunstâncias tão trágicas?"
Ele continuou:"Eu esperava sua pergunta, e parece-me que é bom fazer imediatamente um esclarecimento a esse respeito, relacionando-o a esta nossa conversa de hoje. Primeiramente, se o senhor levar em conta o papel do Alto Comando, do A..., tal qual ele lhe foi longamente explicado durante as sucessivas conversas que o senhor teve, por privilégio, com os nossos, o senhor compreenderá que nós não podemos intervir no processo incessante de desintegração e de reconstrução ao qual a Humanidade, no seu conjunto, está sujeita. Nós não podemos restringir o livre arbítrio humano, nem impedir que, em virtude desse livre arbítrio, catástrofes sejam produzidas, por culpa da Humanidade. De diversas maneiras, seguramente, nós suscitamos advertências aos homens; nós lhe sugerimos o horror da guerra. Se, apesar de tudo, eles soçobram no cataclismo, nosso papel consiste em fazer que seus erros não interfiram de modo algum no ritmo cíclico propriamente dito. Por outro lado, nós suscitamos obras positivas, associações de socorro, movimentos de caridade que contrabalançarão o ato negativo engendrado pela Humanidade. É evidente, também, que nós tudo faremos para reduzir a duração de fatos tão trágicos, mas a Humanidade deverá primeiro aprender suficientemente a lição que ela se impôs. Não esqueça que o mundo é um cadinho de experiências de onde sai a própria evolução. Isso é tão verdadeiro no plano individual quanto no coletivo. Há leis universais que nosso primeiro dever é respeitar, pois elas visam à evolução da Humanidade. Ora, entre essas leis, há o que se chama o carma, tão mal compreendido pela maioria. A Humanidade, assim como o indivíduo, deve aprender pelo carma, que não é, de modo algum, uma punição. O carma tem sua origem na Humanidade e nela encontra o seu resultado. A guerra é uma manifestação do carma coletivo. Resulta das ações, bem como dos pensamentos dos homens. A solução da guerra, a Instauração de uma paz permanente dependem somente dos homens. O mesmo se aplica a todas as perturbações sociais e outras, e se, em última análise, o mundo continua, apesar de seus erros, é sobretudo à nossa ação positiva que ele deve. Em tempos de paz, nós não cessamos de agir para instruir os homens, para semear neles, por todos os nossos meios, sementes de compreensão que lhes evitarão ir ao encontro de novas catástrofes. Mas a Humanidade deve aprender a progredir. Ela terá sempre problemas a superar, para aí chegar. Eles são, para ela, o estímulo necessário, assim como o são, num grau menor, os problemas pessoais para a evolução individual. Há em todo o universo, em todas as escalas, concordância perfeita. No dia em que o indivíduo, assim como a Humanidade, se conformarem com as leis universais, todos os problemas serão resolvidos e a história deste planeta se concluirá.O problema da miséria e da fome se explica da mesma maneira, mas não há a menor dúvida de que o carma é acumulado pelos povos ricos que se desinteressam pelos que têm fome e que não fazem tudo para resolver esse problema. Cedo ou tarde, resultará daí um conflito, embora, deste lado, o Alto Conselho faça tudo para suscitar soluções e estabelecer um justo equilíbrio. Nossa ação, há anos se exerce nesse sentido. É necessária, naturalmente, a cooperação dos homens. Se eles são refratários aos impulsos que lhes damos por todos os nossos meios, terão a responsabilidade por uma situação pior que degenerará em catástrofe. Devemos prever todas as eventualidade e, pode crer, elas são previstas. O maior pecado do homem é o egoísmo. Enquanto ele não for extirpado de seu seio, a Humanidade enfrentará graves problemas e, quanto ao Alto Conselho, ele deverá manter sua vigilância."
Ele continuou:"Eu esperava sua pergunta, e parece-me que é bom fazer imediatamente um esclarecimento a esse respeito, relacionando-o a esta nossa conversa de hoje. Primeiramente, se o senhor levar em conta o papel do Alto Comando, do A..., tal qual ele lhe foi longamente explicado durante as sucessivas conversas que o senhor teve, por privilégio, com os nossos, o senhor compreenderá que nós não podemos intervir no processo incessante de desintegração e de reconstrução ao qual a Humanidade, no seu conjunto, está sujeita. Nós não podemos restringir o livre arbítrio humano, nem impedir que, em virtude desse livre arbítrio, catástrofes sejam produzidas, por culpa da Humanidade. De diversas maneiras, seguramente, nós suscitamos advertências aos homens; nós lhe sugerimos o horror da guerra. Se, apesar de tudo, eles soçobram no cataclismo, nosso papel consiste em fazer que seus erros não interfiram de modo algum no ritmo cíclico propriamente dito. Por outro lado, nós suscitamos obras positivas, associações de socorro, movimentos de caridade que contrabalançarão o ato negativo engendrado pela Humanidade. É evidente, também, que nós tudo faremos para reduzir a duração de fatos tão trágicos, mas a Humanidade deverá primeiro aprender suficientemente a lição que ela se impôs. Não esqueça que o mundo é um cadinho de experiências de onde sai a própria evolução. Isso é tão verdadeiro no plano individual quanto no coletivo. Há leis universais que nosso primeiro dever é respeitar, pois elas visam à evolução da Humanidade. Ora, entre essas leis, há o que se chama o carma, tão mal compreendido pela maioria. A Humanidade, assim como o indivíduo, deve aprender pelo carma, que não é, de modo algum, uma punição. O carma tem sua origem na Humanidade e nela encontra o seu resultado. A guerra é uma manifestação do carma coletivo. Resulta das ações, bem como dos pensamentos dos homens. A solução da guerra, a Instauração de uma paz permanente dependem somente dos homens. O mesmo se aplica a todas as perturbações sociais e outras, e se, em última análise, o mundo continua, apesar de seus erros, é sobretudo à nossa ação positiva que ele deve. Em tempos de paz, nós não cessamos de agir para instruir os homens, para semear neles, por todos os nossos meios, sementes de compreensão que lhes evitarão ir ao encontro de novas catástrofes. Mas a Humanidade deve aprender a progredir. Ela terá sempre problemas a superar, para aí chegar. Eles são, para ela, o estímulo necessário, assim como o são, num grau menor, os problemas pessoais para a evolução individual. Há em todo o universo, em todas as escalas, concordância perfeita. No dia em que o indivíduo, assim como a Humanidade, se conformarem com as leis universais, todos os problemas serão resolvidos e a história deste planeta se concluirá.O problema da miséria e da fome se explica da mesma maneira, mas não há a menor dúvida de que o carma é acumulado pelos povos ricos que se desinteressam pelos que têm fome e que não fazem tudo para resolver esse problema. Cedo ou tarde, resultará daí um conflito, embora, deste lado, o Alto Conselho faça tudo para suscitar soluções e estabelecer um justo equilíbrio. Nossa ação, há anos se exerce nesse sentido. É necessária, naturalmente, a cooperação dos homens. Se eles são refratários aos impulsos que lhes damos por todos os nossos meios, terão a responsabilidade por uma situação pior que degenerará em catástrofe. Devemos prever todas as eventualidade e, pode crer, elas são previstas. O maior pecado do homem é o egoísmo. Enquanto ele não for extirpado de seu seio, a Humanidade enfrentará graves problemas e, quanto ao Alto Conselho, ele deverá manter sua vigilância."
Vejam,
nestas poucas linhas, duas perguntas que me afligiam a alma foram respondidas.
Uma, ligada a minha crítica ao texto de Blavatsky em que eu dizia que era
impossível existirem mestres de Carma e ao mesmo tempo o Carma funcionar de
modo automático. Flávio já tinha me proposto esta solução apaziguadora de
Mestres que tem por função atenuar os efeitos cármicos naturais para que o
sofrimento do homem fosse atenuado; e outra, a razão pela qual os Mestres não
intervém no sofrimento humano, mesmo quando este sofrimento e o grito dos
aflitos é ensurdecedor.
Fui dormir
pensando que este antigo texto, do qual eu fazia tempo não lançava mão, tinha
vindo de modo oportuno às minhas mãos, quase como num esforço de resposta
aos meus questionamentos. E como sei que os Mestres, com os quais jamais tive
nenhum contato pessoal, costumam intervir na vida dos Iniciados, trazendo-lhes
subsídios vez ou outra para suas reflexões, senti como se alguém me observasse
todo o tempo, atento as minhas dúvidas e disposto a dialogar sobre elas, como
só um Mestre sabe fazer.
A impressão
é forte de que a presença dos Mestres é muito forte na vida dos Iniciados da
Rosacruz, ordem muito elogiada no texto de Raymond Bernard por eles.
Fico pensando
se nesse momento em que escrevo eles não estão monitorando e inspirando meu
texto, para melhorá-lo e para melhorar-me. Me pergunto se esta presença não é
mais ostensiva do que eu supunha. Será que é assim mesmo? Que embora estejamos
aparentemente sós com nossos pensamentos, nossos pensamentos nunca estão a sós
no Universo das mentes, aonde ecoam e geram marolas que vão bater na mente de
outros, às vêzes Mestres, desencadeando respostas e explicações automáticas?
Será que o aprendizado como eu desejaria já é automático, sem dor, e que o
diálogo com esses Mestres Silenciosos e Invisíveis é muito mais permanente do
que supõe a minha vã filosofia?
Será?
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