Por Mario Sales FRC.:,S.:I.:,C.:R.:C.:
Em 13 de setembro de 2010 publiquei aqui no blog um artigo
com o título "O Misticismo necessariamente não traz felicidade" em
que abordava a falácia de vender o rosacrucianismo e a filiação a Ordem
Rosacruz como uma opção simples e fácil pelo domínio da existência e da prosperidade
física, emocional e espiritual.
Os problemas de compreensão de certos conceitos entre
fratres e sorores são imensos e persistentes e é da natureza humana que assim
seja, mas certas omissões em esclarecer alguns conceitos começam às vêzes, no
discurso institucional.
Não vejo má fé necessariamente nisso. Não é este o ponto.
Estamos partindo do pressuposto de que todos, aos poucos,
perceberão, sem que seja explicitado, que a consecução dos mais elevados graus
de harmonia espirituais e materiais são produto de esforço continuado e
ininterrupto, e não de um simples passe de mágica.
Lembro-me, eu que sou um dinossauro da Ordem , de uma campanha
muito interessante em que alguns folhetos foram distribuídos com pessoas sorridentes
e saudáveis em suas capas, na maioria jovens, curiosamente, nos quais
propagava-se a idéia de que haviam muitos benefícios na filiação rosacruz.
Quanto a isso não há dúvida. Mas uma propaganda tem sempre
algumas afirmações subliminares, com as quais o publicitário conta, embora
ninguém possa acusá-lo de tê-las feito. E isto gera equívocos óbvios.
O primeiro era de que a propaganda em questão lembrava, eu
me recordo de ter dito isto na época, uma propaganda de um banco, aonde a
harmonia e a beleza dos traços físicos e a juventude que exalavam estimulavam a
crença de quem tinha o folheto em mãos de que, ao se filiar a AMORC
tornar-se-ia também alguém jovem, saudável e com dentes brancos e brilhantes.
Ao contemplar as nossas confrarias, heterogêneas como só os
agrupamentos humanos podem ser, vemos em primeiro lugar que na média, o
estudante rosacruz é um indivíduo discreto e extremamente comum, sem atributos
físicos especiais, e se algo o distingue é aquilo que sai por sua boca, e a
vontade de escutar certas coisas das bocas de outros seres humanos. Muitos são
adultos e idosos.
Uma representação física, portanto, de um estudante ou de um
postulante rosacruz como alguém jovem, bonito e exuberante fisicamente, foi no
mínimo infeliz, superficial e pouco fidedigna.
Muitos dirão que tal comentário é descabido, já que
tratava-se apenas de um folheto de propaganda, um "folder" como se
convencionou chamar, e que é ser severo em excesso criticá-lo dessa forma; que a propaganda não é necessariamente fiel ao produto, mas sim busca vendê-lo, torná-lo atraente
para produzir resultados de mercado com aumento de vendas daquele produto ( ou
das filiações a Ordem, no caso).
Muito bem, concedo .
Só que, na minha humilde opinião, uma propaganda mística mais eficaz seria exatamente aquela que apelasse a uma sinceridade absolutamente inusitada em propaganda , e que exatamente por isso, destacar-se-ia entre outras que seguem o padrão comum.
Só que, na minha humilde opinião, uma propaganda mística mais eficaz seria exatamente aquela que apelasse a uma sinceridade absolutamente inusitada em propaganda , e que exatamente por isso, destacar-se-ia entre outras que seguem o padrão comum.
Explico. Se ao invés de, senso comum, propagar-se a idéia,
falsa, de que a simples filiação a Rosacruz nos livra da velhice (juventude),
da feiura (beleza física dos modelos da propaganda) e da doença (todos são
saudáveis e parecem felizes, sugerindo saúde mental) propagássemos com
franqueza a idéia de que a única e mais marcante vantagem da filiação rosacruz
fosse, como a meu ver é, o aumento da consciência espiritual, do grau de
clareza na compreensão das razões do sofrimento e da alegria humanas, do
verdadeiro sentido de estar vivos, independente das muitas vestes (ou corpos)
com que desempenhemos esta vida, esta existência, independente das circunstâncias
sociais, econômicas e psicológicas nas quais estejamos mergulhados, acredito
que teríamos um diferencial de publicidade marcante, que seria mais fiel aquilo
que a filiação rosacruz é e conseguiríamos atrair muito mais pessoas realmente
afins com nossas intenções e não apenas curiosos bem intencionados, mas
desprovidos da determinação necessária para continuar os estudos em uma Ordem
que é composta de, pelo menos no meu caso, de 3 graus de neófito, 1 de
postulante, 12 de templo e 7 de plano, ou seja 23 graus de estudo, alguns com
centenas de apostilas ou monografias, coisa para uma vida inteira.
A idéia de que se trata, à semelhança daquela propagada por grupos
religiosos neo pentecostais, de uma Ordem que fornecerá técnicas para que todos
que a ela se filiem consigam saúde física e mental e riqueza material e
intelectual, independente de seu karma particular ou de seu esforço, além de
falsa e descabida, é um estelionato psicológico. E se desde o princípio nos
preocupássemos em deixar claro estes detalhes com uma propaganda diferenciada
em que ficasse claro a mais importante das informações, aquela que diz que toda
felicidade de um ser humano é produto de seu próprio esforço espiritual e da
qualidade de suas opções ao longo da existência, e não de palavras mágicas ou
de técnicas secretas, estaríamos sendo fiéis aquilo que acreditamos, como rosacruzes,
e nos afastando, em termos de publicidade, da vala comum onde campanhas de
outras tendências espiritualistas se encontram.
É preciso lembrar a todos os nossos membros que a Ordem não pode e não assume responsabilidade pelas limitações pessoais de cada um, (para citar o último capítulo do livro "Princípios Rosacruzes para o Lar e para os Negócios", da edição da Coleção Renes da Biblioteca Rosacruz, estranhamente desaparecido desta nova edição), como lembrado em um livro de Lewis no capítulo chamado "O Esqueleto no Armário", aonde ele alertava que todos os métodos que haviam sido descrito ali, como o uso da visualização criativa, a aplicação de técnicas psicológicas de reforço positivo nos relacionamentos humanos e outras, não poderiam ter sucesso desde de que o estudante não resolvesse questões íntimas , que ele chamou à época, usando uma expressão típica da cultura americana de "o esqueleto no armário", nossas inseguranças pessoais, nossas pequenas deficiências de auto estima, nossos defeitos morais quanto a falta de determinação, constância, de fé nos desígnios divinos, etc.
Talvez na época de Spencer, os anos 20 do século passado,
não houvesse tanta consciência da importância destas coisas na qualidade da
vida de cada um e o quanto elas são mais importantes que obstáculos externos ou
dificuldades materiais. Fazendo coro com o pensamento budista, tudo sempre
esteve e está na mente, e se não melhoramos a nossa condição mental, sáude,
juventude, beleza e sucesso são impossíveis.
Além disso, saúde, juventude, beleza e sucesso também não
são, normalmente, ininterruptos. O mundo e a vida são "duais em natureza e
trinos em manifestação", como diz um antigo axioma da AMORC.
O que resultará na alteração, de tempos em tempos, das
condições de nossa existência material, com o surgimento de problemas pessoais,
seguidos de sucessos, seguidos de novos problemas e, às vêzes, de perdas
pessoais.
Não existe, e qualquer pessoa sensata sabe, esta
estabilidade proposta em cartazes de propaganda, onde todos são flexíveis, ou
musculosos, ou belos fisicamente.
Tudo é processo e nesse caso, tudo é passageiro.
O único lucro verdadeiro de um treinamento místico é
desenvolver serenidade e capacidade de encarar com equilíbrio períodos bons e
os aparentemente maus e inevitáveis, de forma a que não sejamos reféns do
desespero, e depois, da revolta e da amargura.
Fazer, desde o início, para o interessado em se tornar neófito,
um propaganda honesta, afirmando com todas as letras que afiliar-se a AMORC não
é afiliar-se a uma religião, mas sim à um grupo de homens e mulheres dedicados
a conhecer-se melhor interiormente e, a partir deste conhecimento, conseguir
encarar com equanimidade as inevitáveis oscilações da existência, é dizer, com
franqueza, nossas intenções , que são, eu creio, as melhores possíveis.
Não precisamos equivocadamente dizer, ou mesmo de maneira
velada sugerir, que a afiliação trará sucesso comercial ou psicológico no meio
social.
Seria um diferencial até publicitário, isto sim, se
concentrássemos nossos esforços de divulgação em uma descrição fiel do que os
23 graus rosacrucianos provocarão naqueles que se afiliarem e que forem perseverantes
na sua afiliação.
Pelo menos seria um grande avanço se conseguíssemos deixar
claro que a Ordem procura pessoas dispostas a servir e não pessoas dispostas a
se servir do rosacrucianismo.
Desde o início já estaríamos selecionando um grupo de seres
humanos de grande qualidade espiritual e, quem sabe, nosso recrutamento
melhoraria em qualidade e força.
Precisamos sim de novos membros, mas que sejam capazes de
ultrapassar o 4° lote de monografias, a grande muralha em que muitos esbarram e
abandonam a senda do rosacrucianismo, segundo estatísticas internas.
Bom dia.
ResponderExcluirRecentemente me filiei a AMORC e desde então acompanho o teu blog faz um tempo e acho muito interessante ler as opiniões e a vivência de alguém com muitos anos na mesma. Desde a adolescência tinha vontade de me afiliar pois sempre me interessei e estudei misticismo por conta própria e na época haviam alguns amigos meus que eram membros, porém depois de muitos percalços, só agora com 31 anos (meio tarde, mas antes tarde do que nunca) que fui realmente me afiliar. Me identifiquei muito com esse post, pois quando vi as propagandas da AMORC achei um teor muito comercial e fiquei com um sentimento de desconfiança pois a maioria das ordens iniciáticas que vejo é difícil até de saber quem são membros pois são muito fechadas, muito menos possuem propagandas abertas e com esse padrão. Isso me fez até ficar um tempo grande na câmara externa antes de decidir realmente me afiliar. Não que esteja falando que seja errado, mas acredito que como eu outras pessoas acabam tendo esse mesmo sentimento e isso acabe fazendo o oposto, repelindo algumas pessoas que estejam interessadas em conhecer.
Obrigado e me desculpe se me alonguei muito ou por algo que tenha escrito, pois só estou transmitindo uma experiência pessoal.
Paz profunda!
Obs.: Desculpe o comentário anônimo, ma assim que puder me identifico pois estou em um computador público.
Soy miembro desde hace décadas de Amorc, la orden tiene sus grados por los que vas pasando. Si tus dudas no te permiten avanzar, la enseñanza superior no se revelará a ti. A menos que hayas nacido como un maestro. Pero si tocaste a la puerta como aspirante es que aún no lo somos.No cualquiera llega aquí, aún menos son los que continúan y aún menos los que avanzan mucho, y hablo de fraters prácticos, que no encontrarás muy fácilmente. Así que si crees que eres uno de los que llegara, felicidades.
ExcluirO por que de sermos trinos em natureza e duais em manifestação:
ResponderExcluirVale a pena ouvir este áudio.
https://youtu.be/vPDpyYUdY6Y
Desculpe. Não é áudio, é vídeo.
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