por Mario Sales, FRC,SI,CRC
Mais uma vez compareço, como testemunha e ao mesmo tempo
participante, à um ritual de posse de um Venerável Mestre da Maçonaria, dessa
vez em minha própria Loja.
Contemplo as pessoas se deslocando e as falas protocolares e
penso comigo que esses homens ali presentes julgam-se membros de uma escola
esotérica.
Digo "julgam-se", porque o próprio conceito de "escola
esotérica" muda com o indivíduo, de acordo com seu grau de conhecimento e
cultura, quanto mais a noção do "esotérico" em si.
Uso, como sabem, e repito aqui , mais uma vez, para fixar
bem, que esoterismo, misticismo e ocultismo são coisas absolutamente
diferentes, embora relacionadas: ocultismo, um exercício voltado para fora,
englobando o conjunto de práticas mágicas ou teúrgicas com o intuito de
interferir na realidade cotidiana e nos relacionamentos humanos.Entram neste
grupo rituais de invocação de espíritos terrenos, palavras mágicas,
encantamentos, etc.; misticismo, o conjunto de práticas que visam a comunhão
com o Divino em nós, um exercício voltado para dentro, de natureza
eminentemente psicológica e espiritual (palavra que eu uso como sinônimo de psíquico).
Por exemplo, a Oração é uma técnica Ocultista, teúrgica, aplicável a prática
Mística. Nem todas as práticas ocultistas visam objetivos místicos, no entanto.
Por fim, entendo o esoterismo como a instituição do segredo
sobre as todos os estudos acima descritos ou ainda a característica de difícil
compreensão e interpretação dos muitos textos considerados sagrados e que fazem
parte de um campo de saber específico do conhecimento humano conhecido como Tradição.
A Ordem Maçônica tem, segundos estes critérios acima, quase
nenhum Misticismo, nenhum Ocultismo, e muito menos pode ser considerada uma
instituição cercada pelo Esoterismo, já que todos os seus textos e segredos são
encontrados expostos em os mais variados livros que podem ser comprados por
iniciados, mas principalmente por profanos, em quaisquer livrarias comerciais.
Como todos sabem, muitos irmãos de Maçonaria, que juraram
guardar segredo de tudo que ocorre dentro de uma loja, vivem hoje de vender
estes segredos e símbolos e suas significações em inúmeras publicações.
Existem mesmo editoras inteiras dedicadas ao que, ao pé da
letra e da lei pode ser classificado exercício organizado e sistemático de
profanação.
Muitos perguntar-se-ão, agora, porque alguém teria interesse
de pertencer a uma instituição que se diz esotérica, secreta, que na verdade
não é nem uma nem outra coisa.
A resposta e explicação deste fenômeno é que textos são
muralhas a serem escaladas e alguns tem mais vigor que outros e muito poucos
tem o vigor e o interesse necessários, juntos em uma única pessoa, de forma a
usar esses textos de forma sistemática para conhecer o que sucede por trás das
colunas de um templo maçônico.
Muitos maçons, para tristeza de esoteristas verdadeiros,
nada ou muito pouco sabem sobre a história da Maçonaria, seus símbolos e seus significados,
fora aqueles que, tomados por um pseudo eruditismo, arrogantemente criam suas
próprias e arbitrárias interpretações e as publicam como se fossem uma verdade
universal.
Para estes pseudo pesquisadores, capazes de colocar de forma
organizada seus delírios em textos e, além disso conseguir quem os publique,
com capas e apresentação esmeradas, seus exercícios mentais fantasiosos
transformam-se em fonte de lucro.
Não posso citar, por motivos legais e de prudência, títulos
ou nomes, mas apenas para quem acompanha de certa forma o ritmo e o teor de
algumas editoras de viés maçônico, dou o exemplo de um longo texto escrito a
quatro mãos em que os autores atribuem a origem da Ordem Maçônica a seres
extraterrestres que teriam visitado a Terra há milhares de anos atrás. E é tal
a riqueza de detalhes estapafúrdios que derramam em cada página que me causou
curiosidade saber quem compra estas tolices.
E alguém compra; não só compra, mas lê; lendo, crê sem
questionamentos no que lê, como produto de um conhecimento profundo.
Mesmo assim, entre tantos títulos expondo e desnudando as
entranhas simbólicas da Ordem Maçônica, que insiste na visão fantasiosa de ser
uma organização secreta (ou discreta, como querem alguns), encontramos por
vêzes textos eruditos, como os de Rizzardo del Camino ou de Nicolas Aslan, de
quem me considero um aluno dedicado.
Lá, nas obras de Aslan, embora possam haver algumas poucas
controvérsias, encontramos a base teórica e simbólica da maçonaria em geral,
uma pesquisa ampla e detalhada de todos os graus maçônicos e seus significados,
infelizmente hoje disponíveis apenas em sebos ou pela internet.
E não vendem, porque não possuem apelo publicitário. São
textos de um pesquisador apaixonado, um incansável ordenador de informações
alagoano, que nos deixou um tesouro literário esotérico inestimável.
Sim, esotérico como só textos verdadeiros profundos podem
ser, já que a resposta para a questão acima formulada ("porque alguém teria
interesse de pertencer a uma instituição que se diz esotérica, secreta, que na
verdade não é nem uma nem outra coisa?") é esta: o esoterismo da maçonaria
está na complexidade de sua história e cultura, o qual inibe aqueles que não
tem músculos intelectuais de ler, ler e ler, dia após dia, os muitos textos
disponíveis sobre a Ordem; mais que isso, inibe aqueles que não tem sequer o
discernimento para separar as tolices e fantasias de verdadeiros textos
esotéricos.
É esta preguiça intelectual que defende o esotérico do profano,
não o esoterista, muito menos qualquer ato de tentativa prática de esconder os
textos ou as informações próprias da maçonaria.
É por isso que, mesmo para iniciados na Maçonaria, a
Maçonaria continua sendo um mistério. Ao entrar em um templo são incapazes de
ler as paredes cheias de símbolos e referências a história da Tradição, ou aos
símbolos pendurados nas colunas, ou atrás da cadeira do Venerável Mestre.
Todo templo maçônico é um livro feito de pedra, tinta e
símbolos sólidos, mas sua linguagem é uma linguagem lida por poucos.
A grande maioria dos irmãos de Loja sofrem de analfabetismo simbólico
e são incapazes de ler as paredes, o chão ou o teto do Templo, aonde nossa
história está descrita em detalhes para quem quiser ler.
O Templo é esotérico até para aqueles que o frequentam uma
vez por semana, porque o esoterismo não está em evitar que olhemos para alguma
coisa, mas sim na dificuldade de entender aquilo que contemplamos.
Compreensão e contemplação são a mesma coisa. Só contempla
adequadamente, só se vê , aquilo que se compreende. O que não compreendemos nos
causa medo ou é invisível para nós.
Textos e símbolos esotéricos são esotéricos de per si, sem
necessidade de que alguém precise zelar pelo seu segredo.
O esoterismo dos textos e dos templos não precisa de
esoteristas. É apenas uma característica de tudo que é profundo e que necessita
de diferenciação intelectual e espiritual para ser adequadamente compreendido.
Essa é a única razão porque mesmo exposta da forma que tem
sido, a Maçonaria ainda consegue vender a idéia de que abriga em seu seio algum
segredo que ainda não tenha sido publicado ou exposto no Youtube.
Por isso é certo que as Ordens conhecidas como esotéricas
extinguir-se-ão, pouco a pouco, por pura perda de função, mas o Esoterismo em
si sobreviverá a elas e provavelmente será base de novos tipos de associações
em torno de seus ensinamentos, menos secretas e mais produtivas que as atuais.
Pelo menos assim espero.
Prezado frater Mario, para que então perder tempo com a maçonaria? è preferível estudar o grande tesouro sob o qual seus irmãos estão sentados do lado de fora... Para beber, basta ir a um bar... para fazer um social, frequente um clube de serviços ou coisa parecida... Infelizmente a maçonaria tornou-se uma grande perda de tempo para os buscadores de verdade! Cheia de charme, glamour, pompa e circunstância ela cativa os incautos e os atira em rituais vazios de emoção e de egregora (que egregora?). O interesse maior é no tal copo d´água.... no corporativismo que as vezes nos enoja! que pena!!! Quanta coisa linda tem lá! Pena que está sob quilos e quilos de poeira e desinteresse, sem falar na ignorância dos seus irmãos instruídos por outros que poucos ou nada sabem da instituição que frequentam. Se você reclama da falta de conhecimento e interesse dos Membros da AMORC, acho que perdemos de 7x1 da maçonaria, ou mais....
ResponderExcluirGostaria de saber o que você, um pesquisar zeloso, membro sério, ainda faz lá...Um abraço e paz profunda!
Agradeço por seu comentário e peço desculpas pela demora em responder, mas estava na Morada do Silêncio e lá a internet ainda não chegou, graças a Deus em parte. Recebi seu comentário no celular e não tinha como responder adequadamente.
ExcluirQuanto ao seu comentário e a sua pergunta "porque então perder tempo com a maçonaria" a resposta é simples: eu não perco tempo na Maçonaria, eu ganho na convivência com os maçons. Relacionamentos humanos, este é o diferencial, aquilo que convive com a Maçonaria como abstração. Por dentro de questões culturais e esotéricas existem as pessoas, com as quais criamos ligações humanas e carinho e às quais devemos algo como gratidão e afeto, por mais piegas que isso possa parecer. Meu comentário só parece arrogante se for visto sem este complemento. O que aliás devo a voce, embora anônimo, a oportunidade de fazer. Ordens esotéricas com 1000, 2000 ou 3000 anos não são eternas como a própria humanidade também não é. Mas relacionamentos humanos sempre existirão, sob as mais diversas rubricas. Não se trata apenas e tão somente de um convívio social como o amigo coloca, se trata de vínculos, que transcendem as cerimônias grandiloquentes e obviamente obsoletas que a Ordem Maçonica cultiva e que chama de Tradicionais, como os toques e sinais, motivo de risos mesmo entre os membros da Ordem. Meus comentáros também não são dirigidos a todos os maçons indistintamente. Existem mentes pelas quais é importante lutar e meu papel como rosacruz, se tenho alguma coisa a oferecer, culturalmente, é servir com meu conhecimento a estas mentes e dar-lhes o que puder , compartilhando o máximo possível da herança dos rosacruzes, a mais sublime herança do esoterismo internacional. Por isso, embora me entristeça ver o tesouro descrito nos símbolos tendo que ser resgatado a todo instante, da mesma maneira sei que não existe esforço totalmente inútil e que plantar é uma atividade solitária e inconsciente dos seus desdobramentos no futuro, que estão aos cuidados da Consciência Cósmica, a única capaz de antever os desdobramentos de uma intervenção qualquer que façamos durante uma reunião na Loja. Tenho a esperança meu caro de que possa ajudar em algo e quanto a sair ou permanecer na Maçonaria, tanto faz, eu não sou importante para a Ordem, embora todos os relacionamentos humanos que eu construa ao longo desta encarnação sejam preciosos para mim. Tendo não confundir as coisas de maneira a não pensar a Maçonaria como algo real e aqueles que a constituem, os maçons como algo abstrato. Na verdade é o contrário. E é por ele, meus amigos e irmãos, que a minha permanência na Maçonaria se justifica. Grande Abraço.
M