Por Mario Sales, FRC, SI, MM
As reflexões ligadas ao ensaio “O Certo e o Fácil” me
levaram a alguns outros aspectos da pratica mística e das fantasias ligadas a
esta prática.
Freud identificou já há cem anos a tendência dos
analisados desenvolverem devoção e, certas vezes, atração pelos seus
analisadores, num fenômeno que ele chamou de “Transferência”, ligado a situação
de fragilidade em que os pacientes em terapia se encontram, com a suposição da existência de um poder e de
uma segurança anormais naquele que cuidaria em princípio de sua dor
psicológica.
A “Contra transferência” seria o fenômeno do Analista que se deixa
envolver pela fantasia de seu analisando e crê na possibilidade deste analisando e
ele desenvolverem uma relação até mesmo física baseada nestes sentimentos nascidos da
circunstância fugaz de influência e poder que ele teria sobre seu cliente.
A transferência, hoje é possível extrapolar, embora
seja um fenômeno bem definido e relativo ao processo analítico, pode acontecer
em outros tipos de relacionamento humano.
Relacionamentos com líderes espirituais, professores, orientadores de tese, clientes e seus médicos, às vezes estão
sujeitos às mesmas fantasias baseadas em falsas impressões e na crença de
que, a pessoa a sua frente é um ser humano anormal e dotado de saber
transcendental.
O professor Leandro Karnal, Historiador da Unicamp e
no momento um dos palestrantes mais cotejados e divulgados na Internet,
desabafou no Facebook em sua página que sentiu-se embaraçado ao receber
propostas as mais variadas, em função de sua atual fama, de natureza sexual e
matrimonial de ambos os sexos, fora o curioso pedido de ajuda para a compra de
uma, pasmem, dentadura.
Obviamente, isto tem a ver com a errônea conclusão de que seu
conhecimento intelectual, sua habilidade em raciocinar, fruto do esforço de
anos dedicados a docência e leitura de vários textos, por prazer e por
necessidade, façam dele detentor de algum tipo de capacidade sobre humana em
todos os campos da existência, uma fantasia descabida, mas não inesperada de
pessoas com menos elaboração intelectual e, sem dúvida, psicologicamente
imaturas.
E é aqui que chego ao meu tema, neste ensaio.
Uma pessoa que, intuitiva ou tecnicamente, conheça a
capacidade de induzir pessoas, valendo-se desta fragilidade da mente humana, a
acreditar que ele não é apenas bom, mas excelente; não é apenas inteligente,
mas sim dotado de uma sabedoria inigualável; ou que, como domina bem a oratória
em algum campo, é a maior autoridade neste campo e em qualquer outro, pode
facilmente controlar e manipular uma ou várias pessoas usando clichês
psicológicos e se aproveitando da imaturidade emocional de grande parte da
humanidade.
Se o faz de modo consciente, entra na categoria dos
criminosos psicológicos, mesmo que não mate ninguém; são líderes do mal, já que
usam sua verve e seu carisma para levar um ou vários indivíduos a atenderem
seus próprios interesses egoístas, por vaidade, interesse financeiro, ou ambos.
Esse fenômeno não é místico, mas psicocomportamental,
e alguém ateu poderia lançar mão deste recurso sem problema, como acontece
diariamente na política, nas finanças e nas relações sociais.
Quanto mais no meio religioso.
Aleister Crowley
Portanto, casos como o de Aleister Crowley, ou o falso
conselheiro de John Dee, Edward Kelley, quinhentos anos antes, ou do pastor Jim Jones, (o
qual levou a morte 918 pessoas, entre elas 270 crianças), ou mesmo dos líderes
pentecostais que infestam as televisões em todo o planeta, são apenas uma das
formas desta maligna estratégia se manifestar.
Tanto quanto a religião, o esoterismo oferece um ambiente favorável a demagogos, manipuladores da mente de outras pessoas e oportunistas. O simples adjetivo "esotérico", às vezes, de per si, autoriza comportamentos absurdos e descabidos.
Portanto por ser uma Ordem Esotérica um agrupamento de pessoas, do mesmo modo que as chamadas Igrejas de franquia, não exime aquele que dela se aproxima de fazer uma analise racional, dentro do possível, dos discursos e praticas deste grupo, antes de fascinar-se ingenuamente com vestes ritualísticas, aventais coloridos e ambientes na penumbra aonde velas, que podem ser as chamas do charlatanismo, tremeluzam.
A prática mística deveria ser um atividade avançada, do ponto de vista pessoal e psicológico.
Religiões querem ser planetárias mas só o Misticismo Verdadeiro o é.
Tanto quanto a religião, o esoterismo oferece um ambiente favorável a demagogos, manipuladores da mente de outras pessoas e oportunistas. O simples adjetivo "esotérico", às vezes, de per si, autoriza comportamentos absurdos e descabidos.
Portanto por ser uma Ordem Esotérica um agrupamento de pessoas, do mesmo modo que as chamadas Igrejas de franquia, não exime aquele que dela se aproxima de fazer uma analise racional, dentro do possível, dos discursos e praticas deste grupo, antes de fascinar-se ingenuamente com vestes ritualísticas, aventais coloridos e ambientes na penumbra aonde velas, que podem ser as chamas do charlatanismo, tremeluzam.
A prática mística deveria ser um atividade avançada, do ponto de vista pessoal e psicológico.
Religiões querem ser planetárias mas só o Misticismo Verdadeiro o é.
É preciso esclarecer que muitos estudantes rosacruzes
se confundem com a ideia de Ordem Esotérica, por não saberem exatamente do que
se trata e, como tal, tentam compreendê-la a partir de um ponto de vista
pessoal, e para tal, utilizam o modelo da religião a que pertençam.
Isto torna ainda mais difícil a aceitação de valores
planetários ou transreligiosos, que são partes da perspectiva mística, posto
que, do ponto de vista esotérico, religiões e crenças são apenas as vestes
antropológicas locais, geograficamente determinadas, da necessidade íntima de todos de um contato mais perfeito com o
mais profundo dentro de si mesmo. Essa região íntima presente em todos, cuja localização jamais foi
objeto de consenso, é uma dimensão transpsicológica, imaterial e, com certeza,
não intelectual. Para quem gosta de Cabala, seria a região de Chokmah, a 2ª
sefira da árvore da vida, sede da sabedoria.
Como o Google espiritual, a Chokmah interna nos
conecta com a sabedoria de todo o universo, libertando-nos do esforço de
explicar, por nós mesmos, aquilo que é ou que está diante de nós.
Só a Sabedoria nos liberta dos equívocos ligados a
crença de que nosso Ego e nossa consciência é independente do Universo que nos
cerca, ou nas palavras do neurocientista kardecista, Sergio Felipe de Oliveira,
crer que nossos pensamentos nascem apenas em nossa cabeça, como se as imagens
do televisor saíssem de dentro do aparelho e não fosse apenas o resultado da
recepção de um sinal enviado de uma estação transmissora de TV distante muitos
e muitos quilômetros de nossa casa.
E retornando ao nosso tema anterior, só a nossa ignorância
do nosso próprio poder interno e/ou nossa fragilidade emocional supõe que
precisamos de auxílio de alguém, além de nossa própria sabedoria interior, para
conhecer a Deus e ao Universo.
Tudo que precisamos saber está em nós.
Todo o poder que precisamos está em nós, e só não é
plenamente manifesto porque culturalmente fomos treinados para rejeitar, desde
a infância, as informações que nos chegam deste núcleo de saber interno, e a
acreditar que, o que nos chega ao cérebro, vem apenas pelos sentidos.
A crítica brilhante de Schopenhauer a Kant, no
prefácio de “O Mundo como Vontade e Representação”, não sem antes desculpar-se
pelo que ia falar por quinze páginas, mostrou que o mestre de Konisberg havia
menosprezado o papel dos instintos que nos trazem informações do próprio corpo
através da medula e dos nervos aferentes e de propriocepção, a percepção de nós
mesmos.
Não apenas aprendemos na horizontal (o que vemos, o
que ouvimos, o que tocamos), mas também na vertical (o que vem de nossos
intestinos, pulmões, bexiga, glândulas e hormônios, ferormônios, etc.)
Estas milhares de informações atingem nosso cérebro de
forma simultânea, nos transformando e ampliando nossa compreensão do mundo.
Agora, o esoterismo nos traz o próximo passo, a
compreensão de um terceiro aspecto perceptivo, não só nos sentidos, não só
proveniente de nossos órgãos e metabolismo interno, mas sim da percepção dos
pensamentos e imagens que não são nossos, mas os quais somos capazes de captar
se estivermos adequadamente preparados e disponíveis.
Tudo que o rosacrucianismo deseja é que despertemos
para este poder interno.
Não precisamos de mestres, de orientadores, de gurus,
de santos aos quais prestar devoção.
Não que seja proibido manifestarmos crenças ou nosso
senso do sagrado através de uma religião X ou Y. Qualquer caminho para Deus é
bom.
Só digo que não é necessário já que não temos que
caminhar até Deus: Deus, ou como quer que o chamemos, está dentro de nós, em
nosso íntimo, ou como alguns gostam de dizer, em nosso coração. Toda impressão
de distância em relação ao Ser Supremo é, insisto, produto de séculos de
condicionamento cultural de religiões, na maioria derivadas da Igreja de Paulo
e de Pedro, igrejas que divulgaram a tese de um Deus Antropomórfico, cheio de
paixões e qualidades humanas como misericórdia, ou de forma antagônica, desejo
de vingança.
Na verdade tal distância entre nós e a Fonte, chamemos
assim, não existe.
A situação real é mais parecida com o nosso próprio
nariz o qual está tão próximo de nós e tão perto de nossos olhos que tendemos a
esquecê-lo e só visualizá-lo ao espelho.
Assim, recuperar esta percepção desta, como Blavatsky
gostava de dizer, poeticamente, “Voz do Silêncio”, é o verdadeiro objetivo da
educação em qualquer escola esotérica séria, voz que uma vez desperta nos
liberta da necessidade de perguntar a alguém e esperar que ele nos responda
qual é a natureza da Verdade.
Fujamos dos fenômenos psicanalíticos de transferência
psicológica. Aceitemos corajosamente a responsabilidade não só de pensar com
nossa própria cabeça, mas principalmente de sentir com nosso próprio coração.
O resto é silêncio.
Excelente caro Mário.
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