Por Mario Sales, FRC, SI, MM
Um
leitor do blog me procurou particularmente para dividir suas angustias sobre um problema pessoal. Tratava-se de uma questão de saúde, na verdade de
saúde mental, e me perguntava qual a posição da Ordem Rosacruz sobre isso.
Expliquei
que assuntos daquela natureza não eram objeto de considerações esotéricas e por
isso a Ordem não tinha nada a falar sobre o caso. Que se tratava de um problema
médico e que como tal o frater deveria procurar auxilio medico e psicoterápico,
com uma boa perspectiva de melhora nos sintomas.
Ato
contínuo, ele me indaga: “Frater, eu não posso fazer esse tratamento, é muito
caro.” Respondi que poderia ser feito através da saúde pública, sem ônus
financeiro. Mesmo assim ele questionou: “- Mas não existe um procedimento
velado (esotérico) para resolver isso?”.
Enquanto
desfazia este último esforço de não dar a atenção necessária ao problema, vi em
seus comentários expresso o sentimento de que o Esoterismo, principalmente sua
parte operacional, o Ocultismo, esconde soluções simples e rápidas para todas
as questões mundanas e cotidianas.
Como
ele é leitor do blog e como essa dúvida ou esta falsa convicção, de que no
Ocultismo existe uma série de maneiras para evitar o Carma ou as atribulações
da existência, deve ser uma impressão não tão incomum, resolvi elaborar mais
sobre o tema para complementar minha resposta para ele em particular e para
fratres e sorores em geral, que compartilhem dessa perspectiva.
Na
verdade, a vida não é fácil para nenhum de nós, seres humanos. E recursos
comprovados que possam atenuar nossas dificuldades pessoais não devem ser
menosprezados em detrimento de condutas sem suporte nos fatos e nos
experimentos, ou mesmo sem domínio de nossa parte.
Se
alguém se opuser a essas afirmações dou alguns exemplos de humanidade e limitações presente
entre alguns indivíduos acima de qualquer suspeita.
Comecemos
pelo Buda, Sidarta Gautama, que conheceu prazer e deleite durante toda a
juventude, e que ao se deparar, pela primeira vez, com os três problemas da
existência, a doença, a senilidade e a morte, foi tomado de uma emoção tão
intensa que embrenhou-se na mata durante uma madrugada, trocando seu palácio
por cinco anos de privações, desconforto e meditação. Esses cinco anos não
foram cinco dias. Foi um período de dor e cansaço, de momentos de
tentação, instantes de dúvida, de sofrimento físico e psicológico. Sua
dignidade, sua determinação e firme convicção de busca da iluminação foram suas
armas para atravessar sua noite negra e emergir mais sábio ao final.
Assim vemos que ele, o Buda, passou por problemas e optou por aprofundar seu auto conhecimento
através do esforço meditativo, com determinação e sacrifício, até que pudesse transcender
suas limitações. Sua santidade que se manifestaria a posteriori não livrou-o de
pagar o preço da sabedoria.
Pode-se
argumentar que após a iluminação sua vida tornou-se mais serena e fácil, o que
provavelmente não é verdade, pois "a vida vem em ondas" e manter-se sereno sobre
as águas revoltas do Oceano sempre será um exercício permanente, que requer prática e uma convicção que não é comum na maioria das pessoas, como demonstra a passagem bíblica envolvendo Pedro apóstolo, um barco e Jesus.
E para que não restem dúvidas, entretanto, chamo ao palco o mesmo Jesus, o Cristo, outro nobre líder espiritual,
agora do Ocidente, embora nascido também no Oriente, já que “a luz vem do
leste”.
Homem de rara percepção, capaz de conhecer o futuro e os
desígnios divinos, pouco antes de seu martírio ele passa a noite no Getsêmani,
um monte perto de Jerusalém, em oração e prece, tomado pelo medo e pela
angústia. Atravessa ali momentos de intensa ansiedade; sua sangue. Mesmo assim, não
evita, se bem que, supõe-se pudesse tê-lo feito, o destino que julgava
ser o mais adequado a criar, historicamente, as bases para um novo conceito de
espiritualidade.
É
preso, torturado, morto e, após três dias, transcende sua noite negra, como
chamam os rosacruzes, ressuscitando transfigurado, em corpo glorioso, e retornando ao convívio dos discípulos, para comer com eles e mostrar a superioridade do
espírito sobre a matéria.
De
forma alguma seu sofrimento foi menor por causa de seus conhecimentos
esotéricos e de seu poder místico.
Os
verdadeiros místicos e esoteristas sabem que não podem abrir mão de fazer o
certo e trocá-lo pelo caminho mais fácil e que o verdadeiro milagre está em
render-se às vicissitudes da existência, de modo estoico, confiando em que Deus
tem um plano para nós, mas cumprindo nossa parte nesta relação e buscando,
dentro da nossa circunstância, os meios e maneiras de atingir o melhor
resultado possível, para nós e para a sociedade.
Pensar
que existe um atalho, uma via rápida que nos exime de atravessar as
experiências que Deus julga necessárias ao nosso aperfeiçoamento é não
compreender adequadamente a razão de nossa passagem por este plano de evolução.
Estamos aqui para desfrutar das situações que nos são apresentadas pela
vida, podendo ou não sermos bem sucedidos ao tentar resolvê-las com suas nuances
e dificuldades inerentes, mas, e o mais importante, empenhando nosso melhor
esforço tentando vencer nossos desafios diante de nossas limitações.
Ah!
O Cristo e o Buda não são exemplos satisfatórios já que são seres de grande e
indiscutível evolução. Muito bem então. Vamos reduzir nossas expectativas a
pessoas também importantes no esoterismo e no Ocultismo, mas sem a luz dos
indivíduos citados acima. Falemos de três pessoas, dois rosacruzes e um
esoterista francês. Os rosacruzes: Francis Bacon, imperador da Ordem no século
XVII e o Conde de Cagliostro, conhecido ocultista do século XVIII. E o
Esoterista francês será Papus, o reorganizador da Ordem Martinista com
Chaboseau, no final do século XIX.
Bacon
conheceu glória e respeito, produziu literatura filosófica e esotérica, mas
mesmo assim, não evitou passar por um período de sofrimento, vergonha e prisão,
mesmo que por pouco tempo, tendo sido afastado de seu cargo de Chanceler sob a
acusação de corrupção. E Cagliostro, perseguido por inimigos invejosos,
terminou seus dias de bondade e conhecimento na prisão da Bastilha, aonde
faleceu.
E finalmente, o grande vidente Papus, não foi capaz de evitar a sua própria morte de tuberculose em uma trincheira na 1a guerra mundial, para muitos demonstrando assim uma incapacidade de antever o perigo e desviar do perigo.
Todos tinham grande conhecimento esotérico e ocultista.
Não consta que tenham usado este poder para fugir aos acontecimentos que os atingiram; nem consta que recusaram seu destino através de meios mágicos e secretos.
Talvez não soubessem como; talvez não quisessem. Acredito que nunca saberemos.
Prefiro
creditar estes procedimentos aquele fator imponderável, mas presente em todas
as situações difíceis que atravessamos ao longo de uma encarnação: nossa
própria humanidade, esta mesma humanidade que como qualidade inerente ao estado
de ser humano, nos liga e conecta ao Conde Cagliostro, à Bacon, Papus, Cristo e Buda.
Todos
somos homens ou mulheres, todos nós devemos usar tudo que sabemos e o que
outros sabem em prol de nossa melhoria de qualidade de vida física e
espiritual.
Porque
não há atalhos e viver dá trabalho .
E o mais seguro é seguir o caminho
ortodoxo, do esforço pessoal, da humildade em receber orientações que nos
ajudem a melhorar, de ouvir o outro e a si mesmo, e, se formos sinceros,
marcharmos decididos em direção à solução de todos os nossos problemas.
Nem
que levem cinco anos ou nos cause uma dor intensa.
Emergiremos
depois aperfeiçoados, ressurrectos, pois aquilo que não nos mata (e, às vezes,
o que nos mata) nos fortalece, como dizia Nietzsche.
Não
podemos abrir mão de nosso esforço pessoal, já que este esforço, físico ,
intelectual e espiritual, é, ao fim e ao cabo, a maior magia transformadora que
temos a nossa disposição.
E concluamos este ensaio com este pensamento: só está pronto para ser um Mago aquele que não procura resolver tudo pela Magia.
Bom dia Mário e a todos que curtem este blog.
ResponderExcluirMe afiliei na Ordem em meados de 2001 quando me deparei com uma publicação na terceira capa da Revista Galileo que caíra em minhas mãos. Tempos depois, fiquei sabendo que talvez esta foi a única oportunidade que a Ordem custeou uma publicação nesta revista de grande circulação.
Se o objetivo era de fazer com que mais pessoas tomassem conhecimento da Ordem, para mim pelo menos foi eficaz.
Logo que tive meus primeiros contatos com os ensinamentos r me apaixonei pela Ordem, entretanto, trazia comigo o hábito de flertar constantemente com as bebidas (lugares de alta badalação) o que me causava evidentemente alguns problemas, principalmente em relação com os preceitos propostos pela Ordem, ou seja, não era bom nem para mim e nem para a Ordem ter em seus quadros um membro portador de uma vida de excessos, e disso eu tinha ampla consciência.
Em meu modo de ver ( aqui faço uma comparação dentro do possível, pois as motivações acredito serem outras), pensava semelhantemente ao frater que lhe procurou, ou seja, cria que nos ensinamentos haveria ainda oculta para mim, uma "formula" que uma vez praticada me faria domesticar o consumo de álcool; ledo engano.
Então, frustradas minhas expectativas, me afastei um pouco que decepcionado tornando-me inativo. Lembro-me que na época tentei compartilhar reservadamente do assunto com um frater no organismo que frequentava, mas não houve por parte deste a devida sensibilidade, se era pra haver ou não, não sei.
Procurei então auxílio nas especialidades, o que foi importante para uma tomada de consciência da seriedade da questão do abuso de substâncias, seja ela qual for. Hoje não consumo mais bebidas, sem dramas, rs.
Em 2015 me reintegrei a Ordem e procuro apreciar o que há de mais belo em seus ensinamentos e a não esperar mais que as coisas magicamente aconteçam.
Os ensinamentos continuam sendo de vital importância para meu crescimento pessoal e consequentemente transformação, realmente são um tesouro.
Hoje com serenidade diante das vicissitudes da vida e muita reflexão procuro identificar a parte que me cabe realizar neste processo de aprimoramento do ser.
Resolvi dar minha contribuição por aqui, mas necessito participar dos comentários como anônimo por motivos óbvios.
Paz profunda.
B.R - FRC
Bonito depoimento.Agradeço por compartilhar. PP
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