“...e vivo, não mais eu, mas Cristo
vive em mim”
Paulo Apóstolo, Epístola aos Gálatas
2:20
Embora seja um tema repetitivo nos meus ensaios, talvez
porque seja incomodo e cíclico, a ausência de conexão é fator de angústia para
mim.
De tempos em tempos a Voz Interna desaparece, cessa, embora
eu não possa dizer silencia porque trata-se de uma voz sem som. É mais como uma
sensação vaga de presença de algo inefável em mim, indescritível, mas que se
faz notar mais pela sua ausência do que por sua presença.
Uma vez que se ausente, torno-me casca oca, uma Klipa
Cabalística, sem vida, apenas andando pelas ruas ou dirigindo até o trabalho e
voltando sem rumo ou vínculo psicológico com meus atos, um Golen temporário,
aguardando o próximo sopro de vida.
E os dias correm inertes e insípidos, como se eu fosse um cadáver
insepulto. Então, da mesma forma como desaparece, a presença retorna e eu me
reconecto, e posso escrever, conversar, discutir assuntos como se meu coração súbito
se aquecesse.
É muito estranho, mas é assim.
Alguns anos atrás, na Heptada Martinista Guarulhos, fui
surpreendido por um discurso lido por nosso Mestre Provincial àquela época.
Falava, quase num tom apaziguador, que a noção de Fé martinista não era igual a
noção de Fé religiosa, de crença em algo não experimentado ou conhecido.
Na verdade, associava o termo Fé ao conceito de Conexão, e não ao de crença. Para mim ficou naquela oportunidade a sensação de que minhas queixas sobre o Martinismo,(como apresentado no modelo da TOM, de Papus e Chaboseau, não configura complemento ao Rosacrucianismo, mas mesmo, em alguns momentos, lhe é antagônico), não eram só minhas.
E que tantos outros rosacruzes sentiram o desconforto de serem expostos a conceitos como o de Fé, opostos à prática rosacruciana, mais semelhantes às religiões do que ao esoterismo, que as Ordens, tanto a Rosacruz quanto a Martinista, sentiram-se na obrigação de achar uma explicação atenuadora deste evidente conflito.
Na verdade, associava o termo Fé ao conceito de Conexão, e não ao de crença. Para mim ficou naquela oportunidade a sensação de que minhas queixas sobre o Martinismo,(como apresentado no modelo da TOM, de Papus e Chaboseau, não configura complemento ao Rosacrucianismo, mas mesmo, em alguns momentos, lhe é antagônico), não eram só minhas.
E que tantos outros rosacruzes sentiram o desconforto de serem expostos a conceitos como o de Fé, opostos à prática rosacruciana, mais semelhantes às religiões do que ao esoterismo, que as Ordens, tanto a Rosacruz quanto a Martinista, sentiram-se na obrigação de achar uma explicação atenuadora deste evidente conflito.
Rosacruzes não foram treinados para ter Fé, mas Conexão com
o Altíssimo, que são, sim, conceitos diferentes.
Aproximá-los é na verdade, uma elaborada construção retórica, de linguagem, mas um verdadeiro estelionato intelectual e espiritual.
É óbvio que quem tem Fé acaba desenvolvendo Conexão com seu objeto de devoção, mas em momento algum a Conexão em si depende de uma Fé prévia. Aliás, no bom e velho discurso de Spencer Lewis, é a experiência que leva a Conexão, fortalecida pela Confiança desenvolvida por essa experimentação.
Aproximá-los é na verdade, uma elaborada construção retórica, de linguagem, mas um verdadeiro estelionato intelectual e espiritual.
É óbvio que quem tem Fé acaba desenvolvendo Conexão com seu objeto de devoção, mas em momento algum a Conexão em si depende de uma Fé prévia. Aliás, no bom e velho discurso de Spencer Lewis, é a experiência que leva a Conexão, fortalecida pela Confiança desenvolvida por essa experimentação.
Por exemplo, pular em uma água fria em um dia quente a primeira vez é
sempre um choque, mas à medida que os mergulhos se repetem, a sensação de medo
do impacto térmico na água desaparece, torna-se familiar, previsível, por isso
cada vez menos relevante. A experiência repetitiva de mergulhar nos torna
íntimos das sensações decorrentes, conectados com a natureza das sensações
corporais ligadas ao mergulho.
Conexão, pois, vem da experimentação, é uma experiência em
si, e não uma crença.
Pode-se ter Fé em alguma coisa, mas não é necessário Fé em
uma Conexão já manifesta, da mesma forma que não se discute sobre experiências consensuais,
como a presença de pratos e talheres à mesa do almoço não precisa ser problematizada, já que é
uma presença que todos os convivas desfrutam, não existindo pois necessidade de
explicação intelectual ou Fé na existência dos talheres e dos pratos.
É na Ausência que o intelecto comparece.
A fala só se manifesta na Ausência pois toda Presença
verdadeira é emudecedora.
O que falar daquilo que tocamos?
Para que descrever aquilo que sentimos?
Não há necessidade.
Para que descrever aquilo que sentimos?
Não há necessidade.
Falar e descrever serve apenas para tentar informar a outros
algo que não testemunharam como nós, mas sempre com as limitações que a
linguagem encerra de não poder dizer com símbolos o que é imagem, tato, som.
A experiência de Deus ou como queiram chamar, em nós, é exatamente
assim. Uma vez lá, mesmo indescritível, é perceptível, indubitável, e gera em
nós a sensação de estarmos vivos, animados pelo seu hálito, o Aleph Divino.
Tosca e titubeante, a linguagem é um substituto do fato.
Fé é crença em algo que não se sente nem se vê; Conexão é um fato indubitável,
que não carece de explicação, fato do qual desfrutamos ou não.
Misticismo não é uma prática de Fé, mas de Conexão,
portanto. Lida com sensações e experiências internas, não com conceitos.
E cada um tem maneiras de descrever sua Conexão do seu modo,
mas isto não tem a ver com a singularidade da experiência apenas, mas também e
principalmente com as limitações da própria linguagem, seja no aspecto pessoal,
do vocabulário disponível ao narrador, seja no aspecto geral, de limitação das
palavras em si.
E com este texto, sinto, com grande alívio, minha Conexão,
que havia me abandonado por todo o Sábado, voltar.
E isto me conforta.
Cada um expressa sua conexão de seu modo.
Eu me expresso escrevendo.
É minha forma de dar testemunho desta inefável presença em mim. E se, como eu disse, a Presença é emudecedora, nada impede que nos aventuremos a tentar descrever, com limitações, o que em si é indescritível.
É minha forma de dar testemunho desta inefável presença em mim. E se, como eu disse, a Presença é emudecedora, nada impede que nos aventuremos a tentar descrever, com limitações, o que em si é indescritível.
Que somos afinal, nesta vida, senão manifestações
peculiares da mesma Presença?
Talvez seja este o sentido mais profundo da fala de Paulo em
Gálatas 2:20 e possamos, sem prejuízo do sentido, mudar o texto de “...e vivo,
não mais eu, mas Cristo vive em mim”, por “...e vivo, não mais eu, mas a Presença
vive em mim...”.
É isso.
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