Por Mario
Sales, FRC,SI
“...deixe o
Sol bater no meu rosto
(e as) Estrelas preencherem meus sonhos.
Sou um viajante de ambos, tempo e espaço
Para estar onde eu estive,
Sou um viajante de ambos, tempo e espaço
Para estar onde eu estive,
Para sentar
com anciões da raça gentil
Que este mundo raramente viu;
Eles falam sobre os dias pelos quais eles sentam e esperam
Quando tudo será revelado”
Que este mundo raramente viu;
Eles falam sobre os dias pelos quais eles sentam e esperam
Quando tudo será revelado”
Trecho da letra de “Kashmir”, Led
Zepelin
Minha ignorância
inevitável sobre muitas coisas, embora não seja uma virtude, me absolve de ser
incriminado por cometer enganos.
Portanto admito que
posso estar errado em minha insatisfação; mesmo errado, o que não posso fazer é
ignorá-la.
É por isso que me
entristece que o esoterismo não seja como a ciência, e se tem, como diz ter, recursos mais avançados para fazer mais
e melhor as mesmas coisas mundanas que a ciência faz, não reparta a informação
com todos, de maneira clara e desinibida, como qualquer conhecimento científico
não iniciático faz.
Ao contrário do
esoterismo, que esconde no segredo suas alegadas capacidades, que raramente são
demonstradas e que poucos testemunharam, cientistas compartilham não só suas
descobertas, mas também a sua busca.
Tudo que a ciência descobre,
desde antibióticos até a lâmpada elétrica ou de L.E.D., ela compartilha.
Nenhum cientista em
sã consciência, se soubesse como curar a cegueira simplesmente misturando cuspe
ao barro, jamais se negaria a dividir essa informação. E em sã consciência não
a chamaria de milagre, mas de produto de um saber.
Quanto mais pessoas
tem acesso a esta informação, maior o número de pessoas beneficiadas. Faz parte
do trabalho científico ser algo compartilhado. Mais cabeças pensando sempre
ajudam a acelerar a compreensão de problemas matemáticos ou cosmológicos que
surgem das observações e do cálculo. E isto ao longo de séculos.
Não é possível
entender o trabalho de Einstein sem a colaboração de Newton e James Maxwell. Ou
o de Hawking sem Einstein. Trata-se não apenas de uma corrida de obstáculos, mas também
de revezamento, onde um passa o bastão para o outro, até que o último consiga
fazer a conclusão do circuito.
Esoteristas, eruditos
do chamado conhecimento oculto, ao contrário, nada repartem daquilo que afirmam conhecer ou se o fazem, cercam esse compartilhamento de tantos mistérios e véus
que acabam por prejudicar qualquer possibilidade de permitir que outros possam
entender e conhecer também aquilo que afirmam conhecer. Leva-se tempo demais apenas para entender o querem dizer com suas afirmações confusas e obscuras.
Digo afirmam conhecer, e não que conhecem, porque tanto segredo às vezes nos causa a suspeita de que por trás desta cortina, como num truque barato de mágica, nunca houve nada escondido. Ou se um dia houve, hoje, como já a muito tempo, não existe mais.
Digo afirmam conhecer, e não que conhecem, porque tanto segredo às vezes nos causa a suspeita de que por trás desta cortina, como num truque barato de mágica, nunca houve nada escondido. Ou se um dia houve, hoje, como já a muito tempo, não existe mais.
E os esoteristas
contemporâneos vivem e respiram lendas não confirmadas e declarações não comprovadas
de fatos que nunca testemunharam, mas que “sentem” que são verdadeiros.
Vejam, quem está
afirmando isso sou eu, um esoterista também, e não alguém de fora do ambiente
iniciático.
O esoterismo é hoje,
se é que já não era antes, uma espécie de religião, tão cheio de dogmas e
cacoetes filosóficos quanto qualquer das muitas linhas religiosas no mundo. São
rituais demais, palavras secretas demais, afirmações sem demonstração alguma
demais, para se sustentar apenas na crença de alguns ingênuos defensores
acríticos.
Já faz muito tempo
que a inquisição ou mesmo o poder da Igreja acabou. Mesmo assim alguns se
comportam como se houvesse alguma razão para manter este sigilo estupido e
improdutivo, que mais serve para atrair pessoas crédulas para suas fileiras do
que para gerar conhecimento. Já falei e repito: ninguém mais nos persegue,
ninguém mais se interessa por nós, somos apenas um grupo curioso de crentes com
suas peculiares praticas religiosas.
Não abandonei minha
religião inicial para me tornar membro de outra; tornei-me um esoterista por
acreditar no que Lewis garantia em seu discurso: junte-se aos rosacruzes e nós
lhe revelaremos técnicas que lhe demonstrarão a exatidão de nossos
ensinamentos. De lá para cá já se vão mais de 40 anos. Conheci algumas técnicas
sensacionais, mas nem metade da expectativa que eu alimentava em meus primeiros
anos. O mais importante: não conheci quase ninguém que dominasse quaisquer
dessas técnicas de modo indiscutível e possível de demonstração.
São relatos e
relatos, na maioria das vezes, apenas relatos, histórias de se ter feito isto e
aquilo em circunstâncias muito particulares e muito pessoais, fora o caráter
interpretativo de cada experiência pessoal, o qual enriquece a narrativa, seja
ela qual for, com expressões como “tenho certeza que era isso” ou “senti naquele
instante que era aquilo”.
Sinto falta de fatos
e embora admire o Cristo continuo sem entender porque seus dons foram usados,
mas não compartilhados, já que como todo rosacruz sei que dons especiais são
produto do esforço, do estudo e do aprimoramento pessoal acessível a qualquer
ser humano que possa ser adequadamente treinado.
Se ele sabia como
curar doenças sem remédios, se sabia como curar leprosos sem remédios, se sabia
como trazer de volta a lucidez doentes psiquiátricos considerados possuídos por
demônios, não deu a qualquer de seus seguidores um programa de treinamento
detalhado, pelo menos que eu saiba, capaz de ser estudado e garantisse a
repetição dos mesmos feitos que foram, comodamente, classificados como
irreprodutíveis, milagres, e nada mais.
Qualquer conhecimento
fantasticamente avançado para sua época ou mesmo aqueles que são demasiado
complexos na nossa época parecem para pessoas intelectualmente mais simples
verdadeiros milagres quando, na verdade, são o produto de um saber, de um
conhecimento, provavelmente compreensível por mentes elaboradas, se compartilhado.
Ao contrário,
guarda-se segredo, alega-se repetidas vezes que a finalidade do segredo é
proteger este conhecimento de um uso inadequado.
Ora para que serve um conhecimento inútil, escondido? Para nada. Se existe uma Lei de Karma, qual seria a retribuição para pessoas que, tendo em seu poder a capacidade de aliviar o sofrimento de muitos, não compartilham essas informações, seja pelo motivo que for?
Ora para que serve um conhecimento inútil, escondido? Para nada. Se existe uma Lei de Karma, qual seria a retribuição para pessoas que, tendo em seu poder a capacidade de aliviar o sofrimento de muitos, não compartilham essas informações, seja pelo motivo que for?
Quem disse que impedir
o acesso a essas técnicas as tornam mais protegidas?
Das opções possíveis
duas me passam pela cabeça: ou estes conhecimentos não são assim tão
importantes, ou se um dia existiram, ninguém mais os possui e foram perdidos
nas areias do tempo e do espaço.
Minha sensação é de
impaciência com a minha própria ignorância e com a ignorância que o segredo me
obriga a aceitar como parte da minha vida esotérica.
Eu vejo o sofrimento
todos os dias e me indago quem foi que disse, fora Nietzsche, que a dor pode de alguma forma ajudar as
pessoas. Este é um mundo apático, onde a dor e o sofrimento são apenas isso:
dor e sofrimento, nunca ensinamento.
Mesmo esoteristas
continuam a morrer das mesmas doenças que os não iniciados, a ter os mesmos
problemas profissionais e de relacionamento afetivo que eles, não demonstrando
na maioria das vezes, em suas vidas pessoais, nada de especial em relação
aqueles que não conhecem este mundo de iniciações, máscaras e toques secretos
que eu frequento a tantas décadas, aonde conheci centenas de pessoas comuns e
limitadas como eu.
Acredito que já
viajamos muito no tempo e no espaço e que hoje, não só estamos prontos, mas
acima de tudo, necessitamos testemunhar algo mais concreto que este mundo esotérico
insiste em dizer que tem a oferecer, porém jamais nos mostra.
Nós só nos tornaremos a “raça
gentil” de que fala a canção se algum dia o conhecimento refinado de que o
esoterismo fala em seus textos estiver a nossa disposição.
Quando o sol bate no
meu rosto, sonho com o dia em que tudo será revelado, não apenas para mim, mas
para todos aqueles que necessitam de alento, cura e conforto.
Neste dia saberei que
não desperdicei 40 anos da minha vida acreditando em coisas inexistentes ou em
declarações fantasiosas.
Se o esoterismo não
serve para ajudar a melhorar a qualidade da vida das pessoas, para que
servirá então?
Para que?
Essa é minha angústia
mais profunda.
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