Mario Sales
“Na candente manhã de fevereiro em
que Beatriz Viterbo morreu, depois de uma imperiosa agonia que em nenhum
instante se rebaixou ao sentimentalismo ou ao medo, notei que os porta-cartazes
de ferro da praça Constitución tinham renovado não sei que anuncio de cigarros;
o fato me tocou, pois compreendi que o incessante e vasto universo já se
afastava dela e que aquela mudança era a primeira de uma série infinita.”
“O Aleph”, um conto de Jorge Luis
Borges (1949), Companhia das Letras, 2008
A energia fugiu de mim,
como a corça do leão e do guepardo
Ideias ou inspirações, nenhuma,
Só esse silêncio na cabeça e na alma
Que me preenche
Como só o vazio pode preencher alguém.
Mas o tempo lá fora não se importa e segue em frente
Fluxo inexorável, implacável, inesgotável,
Que antes de impressionar, causa inveja.
Queria para mim, esta imperturbabilidade
Essa incapacidade de se desviar ou distrair do foco
Do horizonte a alcançar
Determinação inabalável e rítmica
Que só o tempo tem.
Nada, nem ninguém
é capaz de impedir que flua
Livre, perene, indiferente.
Mesmo que os eventos
tenham significado,
quer sejam de vida
ou de morte
Não são capazes de abalar,
em um segundo, a sorte
e o passar incontrolável das horas,
O Devir contínuo
Do qual somos, tão somente,
Espectadores passivos.
Ou não.
O tempo segue em frente,
Célere, Inconsciente
daqueles que o preenchem
E aos quais atravessa.
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