Por Mario Sales
“Nós não podemos ir além
Se não conseguirmos sentir o amor comum
Nós não podemos ir mais alto
Se não conseguirmos lidar com o amor comum”
Se não conseguirmos sentir o amor comum
Nós não podemos ir mais alto
Se não conseguirmos lidar com o amor comum”
U2, in “Ordinary Love”
Meus anos dedicados ao Misticismo e ao Esoterismo me deram,
no início, a falsa impressão de que conseguir distância das coisas da Terra
fosse o caminho para encontrar as coisas de Deus.
Foram necessárias várias décadas para que eu percebesse o
erro conceitual de minha premissa, um traço romântico e fantasioso de minha
personalidade, difícil de aperfeiçoar.
Hoje minha jornada está na mesma direção, mas em sentido
inverso.
Eu imaginei que o caminho para o espírito fosse olhar para
dentro saltando por cima do corpo. Hoje entendo que se não vivenciar minha
experiência corpórea jamais chegarei a entender a minha natureza espiritual.
A falsa dualidade platônica denunciada por Espinoza me
iludiu, confundiu e constrangeu minha capacidade de perceber a santidade existente
nesta manifestação física que ora habito.
Negar a mim mesmo enquanto corpo não me tornará mais
refinado, percebo agora, algo óbvio do ponto de vista intelectual, mas não tão
óbvio do ponto de vista existencial.
Hoje suponho ter percebido este simples fato: é mantendo com
carinho e cuidado minha casa, minha morada, que crio as condições externas adequadas
para quem a habita, ou seja, eu mesmo. E cuidar da morada, do corpo, não é
apenas garantir a satisfação de suas necessidades básicas como ar, água,
alimento e abrigo. É preciso cuidar do afeto, com tanta ou mais importância que
os outros quatro itens anteriores.
Precisamos amar o corpo e as coisas do corpo, sem que isso
signifique tornarmo-nos escravos do corpo. É dar a César o que é de César, fator
sem o qual a equação estará desbalanceada.
Com certeza ninguém elevará sua alma pela negação de sua
própria carne. Só tolos como eu, poderiam cometer este terrível equívoco.
Alguns pensadores já mostraram os perigos implícitos na
expressão “amar a humanidade e odiar o próximo”. E ninguém é mais próximo de
nós do que nosso próprio corpo.
Da mesma maneira é estúpido supor que nosso amor será mais
espiritual e elevado se não conseguimos lidar com o Amor Comum. Toquemos a nós
mesmos. Sintamos nossa pele.
Ela tem, com certeza, muitas lições a nos ensinar.
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