por Mario Sales
3° SUB SIMBOLO: O CÍRCULO AZUL DOS ESTADOS DA MATÉRIA DENTRO DO LOSANGO OU O PESCOÇO PARTE 2
Mais uma vez relembro que este belo conjunto está ornado pela frase “Ó Natureza! Tu és verdadeiramente uma” do lado esquerdo, e do lado direito, “imagem criada a semelhança de Deus”.
Temos imediatamente a tentação de atribuir um sentido a esta divisão, mas como lembrava Freud, “às vezes um charuto é apenas um charuto”, podendo não haver razão especial nenhuma para esta separação em duas partes desta frase, a não ser no arbítrio estético do simbolista.
NATURA ATQUE RES OMNES EX CENTRO IN CENTRUM.
Das 12 frases divididas em duas partes elencadas pelo ESQUEMA 5 a 11ª é “Natura atque res omnes”, do lado esquerdo, e depois “ex centro in centro”, do lado direito, que em uma tradução livre seria “ A Natureza e todas as coisas vem do centro e vão para o centro. ” Esta frase me causou grande angustia interpretativa e linguística porque até amigos que conhecem a língua latina foram unanimes na avaliação de que a frase não faz sentido, a forma de escrever está errada em Latim, e é fato que esse Latim vulgar e tosco era comum em documentos alquímicos, algo como uma forma não culta de redigir em língua latina, o que acrescenta um complicador a mais. Exatamente por isso os tradutores automáticos enlouquecem e fornecem versões sem sentido para a frase, que a colocam fora de contexto lógico, como por exemplo, “e que as coisas estão todas fora do centro, no centro da natureza do”, ou em inglês, “Nature and every matter (thing) is from the Center and goes toward the Center”[1], que em tradução livre seria “Natureza e cada matéria está no Centro e vai para o Centro”, o que, cá entre nós, não faz o menor sentido.
Curioso é que há pouco eu dizia que a colocação de frases divididas em duas partes não tinha nenhum motivo profundo ou estratégico. Só que, estranhamente, ao me debruçar nesta frase em particular, percebi que se traduzisse a parte da esquerda de maneira separada da direita, surgiria um conjunto de maior compreensibilidade.
Vejam, a tradução da frase inteira aproximadamente seria “E as coisas estão todas fora do centro, no centro da Natureza”, mas se isolamos o trecho “Natura atque res omnes” fica “E as coisas são todas da Natureza”, o que me lembrou Espinoza, que considerava a Natureza, Deus, a Substancia que suporta e de onde provém todas as coisas, ou em suas palavras em Latim, Natura Naturante. Todas as outras manifestações da matéria seriam Natura Naturata, ou variações sobre o tema.
E o trecho “ex centro in centrum” fica “ a partir do centro do centro”. Ora, para o Alquimista, que antes de tudo é um homem que busca a união com o Altíssimo, o Centro do Centro é Deus. Então arrisco concluir que esta frase descreve o fato de que todas as coisas são naturais e enquanto naturais provêm de Deus, o Centro no Centro, a mesma fonte, embora manifestem-se em diversas e variadas aparências. Faz sentido, no contexto Alquímico.
Mesmo vendo uma compreensão espinozana nesse trecho e embora sejam produtos culturais (o símbolo e a filosofia de Espinosa) contemporâneos (século XVI) é impossível afirmar com segurança haver relação entre o trabalho do filosofo e o que o Simbolista colocou neste símbolo; mas é uma especulação possível e sensata.
Convém lembrar que o símbolo das águas
está presente em cada um dos círculos que compõem este sub símbolo, (ver ESQUEMA 14) e, se tomarmos como correta a interpretação de que ÁGUA representa a criação material, colocar este símbolo como moldura dos modos desta matéria se manifestar é bastante coerente. É preciso esclarecer que, a rigor, este não é o símbolo alquímico para a ÁGUA, (ver ESQUEMA 15) mas sim o símbolo do signo de Aquário, sendo o símbolo da água este:
Tomei a decisão audaciosa, admito, de entender o simbolo
como representando “AS ÁGUAS” em caráter mais amplo, porque não encontrei sentido em entendê-lo como manifestação do signo astrológico de Aquário, seu outro significado.
Estou aberto a críticas.
Só que, como falei no início deste ensaio, O, L, A, B, sempre serão o que são, mas combinados darão origem a outros conceitos. E estamos tentando contextualizar os simbolos componentes deste subsímbolo dentro de uma compreensão harmoniosa, e que possa expressar uma noção inserida na simbologia Alquimica, o ambiente aonde estamos trabalhando. Por isso optei por esta alternativa, para a qual, repito, aceitarei de muito bom grado, comentários que possam enriquecer esta interpretação.
Estou aberto a críticas.
Só que, como falei no início deste ensaio, O, L, A, B, sempre serão o que são, mas combinados darão origem a outros conceitos. E estamos tentando contextualizar os simbolos componentes deste subsímbolo dentro de uma compreensão harmoniosa, e que possa expressar uma noção inserida na simbologia Alquimica, o ambiente aonde estamos trabalhando. Por isso optei por esta alternativa, para a qual, repito, aceitarei de muito bom grado, comentários que possam enriquecer esta interpretação.
ESQUEMA 14
Antes de seguir em frente, comentemos a frase abaixo desta que acaba de ser analisada.
Refiro-me à “O Sol Criado em sua Atividade e Qualidades”, frase que está separada em duas partes e que tem no mesmo nível, entre suas duas partes a expressão em Latim, “LUMEN NATURAE”, “a luz da natureza”, em português.
Ora, o Sol é o símbolo de Deus, no céu astronômico. Os rosacruzes dizem, lindamente que o Sol, que os egípcios chamavam Rá, era a Luz Menor, símbolo da Luz Maior.
Quando o simbolista se dá ao trabalho de adjetivar o Sol de “Criado”, ele procura ser específico e o confina à sua condição astronômica, de Luz Menor, de símbolo do que foi produzida pela Luz Maior, o Sol Criador, portanto.
Uma vez estando definido que se trata do astro Sol, ele afirma que sua luz tem efeito sobre a natureza criada, tema do sub-símbolo que a frase circunda, pois, a proximidade no desenho geral, de um determinado texto e uma determinada imagem também são indicativos de conexão entre ambos.
O simbolista insinua, pois, que a Luz do Sol tem um papel na atividade e no funcionamento da natureza, o que é um fato científico, seja através do calor que beneficia os animais, racionais e irracionais, ou da radiação que beneficia os vegetais pela fotossíntese. Esta é a sua atividade que determinam qualidades de ação diversas sobre toda a criação. Embora novamente nos venha a tentação de uma compreensão biológica e astronômica desta afirmação, relembramos aquela advertência anterior: “Entende de acordo com a filosofia Celeste e não (a) Terrestre”.
Mesmo que todas as afirmações estejam de acordo com a moderna ciência devemos nos lembrar da presença da Vontade Divina e de sua Divina Interferência nesses processos que, não os que não crêem, mas os que não conseguem sentir, supõem um delírio religioso. Deus e sua divina presença é uma percepção, não uma crença, e aqueles que não o sentem não devem ser julgados ou condenados da mesma maneira que não é sensato condenar o cego por não ver as cores. Faltam-lhe instrumentação para isso, que nada tem a ver com o intelecto, mas sim com a sensibilidade espiritual, que mais uma vez afirmo, nada tem a ver com fé ou crença. Muitos que dizem ter fé em Deus jamais o sentiram ao seu lado, e muitos que se calam por pudor sentem esta presença de modo às vezes até angustiante. Portanto, fica a advertência: ao interpretar este símbolo, principalmente na área que já pertence a realidade criada da Natureza, devemos entende-lo, sempre “...de acordo com a filosofia Celeste e não (a) Terrestre”.
Resta um elemento a considerar neste levantamento: as quatro (sempre quatro) expressões nas bordas do desenho.
UM ESPÍRITO, UMA VIDA, UMA LUZ E UM FOGO.
Meditei sobre isso. A repetição do conceito de Unidade talvez seja a chave de compreensão. (ESQUEMA 14). Embora esta não seja uma fase interpretativa, mas de inventário, sem prejuízo da gradualidade e da prudência, podemos fazer algumas suposições. E como o conceito de Unidade, Um isso, Um aquilo, é enfatizado, estando como estamos no nível da criação, palco da diversidade, centenas de espécies animais e vegetais, e mantendo em mente a primeira instrução, concluímos que esta também é uma afirmação da Unidade na Diversidade. Uma declaração que envolve o trecho em análise, que o cerca, que o guarnece contra o erro e a ilusão de supor que a Heterogeneidade da forma na criação signifique Heterogeneidade também no seu conteúdo.
A mesma energia, o mesmo Fogo, sustenta todas as coisas, árvores, pássaros, peixes, homens. Em todos encontramos o mesmo Espírito, a mesma Luz, a mesma Vida. Mesmo com as manifestações de estados diversos, Frio, Quente, o Seco, o Úmido, ainda assim estamos diante de variações sobre o mesmo tema, contemplando apenas e tão somente as múltiplas e infinitas sinfonias que surgem da mesma escala musical de apenas sete notas. A Unidade é o fundamento da aparente Diversidade, lembra o simbolista.
Essa é nossa avaliação do significado deste contorno que, tal qual muralha, circunda o interior do símbolo.
ESQUEMA 15
Comparação dos símbolos dos elementos
Vejam neste esquema que, salvo discretas variações, os símbolos dos elementos na Alquimia são os mesmos em diferentes tabelas, com exceção da ÁGUA, para o qual temos dois símbolos, destacados abaixo, à direita.
Nenhum comentário:
Postar um comentário