Por Mario Sales
Como já disse várias vezes, faço, arbitrariamente, uma
distinção entre as palavras misticismo, esoterismo e ocultismo, considerando a
primeira uma prática voltada a comunhão com o divino dentro de nós, ligada a
preces e percepções sutis, a segunda uma atividade essencialmente intelectual e
racional, ligada ao estudo dos textos e símbolos da tradição, e a terceira, o
conjunto de práticas voltadas a aplicação da Magia ou Teurgia, especificamente.
Claro que são universos que se interpenetram.
Só que esta distinção facilita meu raciocínio ao lidar com
este campo vasto chamado em geral por um ou por outro nome, como se fossem sinônimos.
O trabalho que estou realizando e publicando fazem nove
semanas, mais de dois meses, portanto, de interpretação do símbolo rosacruz cognominado
Figura Divina, é um trabalho, dentro da classificação acima, eminentemente esotérico.
Esoterismo é, como indicam as figuras de alquimistas decorativas que coloco em
epígrafe de cada uma das partes, muitas vezes um enfadonho e sistemático
trabalho interpretativo, que levanta detalhadamente os elementos componentes de
um símbolo complexo e polimorfo, como se traduzisse trechos de um documento em língua
estrangeira. Não é algo que fascine a todos.
É trabalhoso, demorado, requer paciência e foco,
concentração. Não se trata de algo espetacular ou fascinante, a não ser para os
que são tocados pela mosca violeta, os Iniciados.
Meu blog é um blog muito específico. Em um oceano de tendências
e ideias como é a Internet, blogs místicos não são novidades, mas muitas vezes
o que chamamos de misticismo não passa de textos de autoajuda, piegas, ou que
apelam aos chamados fatores de popularização, como o apelo ao obscuro, à
sexualidade, ou ao medo.
Olhar o esoterismo, com entusiasmo, mesmo que seja um
trabalho intelectual e muitas vezes monótono, é, como eu disse, para poucos.
Só que arrisco dizer que esses poucos são os verdadeiros
esoteristas. A começar pela constatação de que um alquimista (um esoterista,
portanto) dedica, não um ou dois dias, mas toda a sua vida a experimentos de caráter
alquímico, dependendo de ritmos cósmicos e de acontecimentos que não estão sob
seu controle, ligados aos ciclos naturais das estações e das conjunções
astrais.
Escrever “toda a sua vida” é simples.
Vivenciar essa experiência é outra coisa muito, mas muito
diferente.
Primeiro, é preciso que o que move este indivíduo seja muito
mais do que simples curiosidade.
Lembremos a parábola do semeador, narrada pelo Mestre e descrita
em Lucas 8, versículos 5-17.
Minha audiência sempre foi pequena, mas é impressionante ver
o quanto ela é formada de meros curiosos, na maioria, já que um trabalho
esotérico não suscita nenhum interesse, como tem acontecido com a publicação em
partes do estudo que fiz sobre um símbolo alquímico rosacruz.
Durante esta sequência de publicações, o relógio de acessos
ao blog só fez diminuir, caindo de novecentos, ou mesmo mil acessos, para
míseros 360, por semana.
E ao ver esta semana a pesquisa de publicações mais
populares, nenhum dos trechos ligados a sequência supracitada aparece, o que
leva a concluir que estes ensaios foram um fracasso de público.
O curioso é, como disse, que publicações assim são exatamente
o esoterismo prático, um exercício intelectual de análise de textos ou símbolos.
É isso que esoteristas fazem a vida inteira: tentam extrair
sentido, por seus próprios meios e esforço, dos símbolos e dos textos que
permanecem secretos para muitos apenas porque não se deram ao trabalho de
tentar compreendê-los.
Papus dizia que tentar ocultar voluntariamente quaisquer
textos dos profanos era um cuidado desnecessário já que só os que tivessem sido
tocados pela vocação mística se interessariam por eles.
Concordo.
Não há nada que precise ser escondido.
Ninguém se interessa mais, ou pelo menos por muito tempo, por
uma determinada prática ou agremiação, apenas por que ela se diz secreta. É
preciso que eventualmente o que se disse secreto seja revelado e que a revelação
não seja decepcionante para aquele que aguarda, imatura e ansiosamente, por
esta revelação. Senão o que resta é a decepção e uma terapêutica desilusão.
E práticas esotéricas são obras para toda uma existência, não
para alguns dias ou meses.
São compromissos sagrados e prazerosos para quem os contrai,
nada tendo de obrigação desagradável ou de esforço desumano.
Se não houver prazer e gratificação em um determinado
empreendimento, não seremos constantes nem dedicados a ele, ou por outra,
sofreremos desnecessariamente com ele.
Não é esta a natureza do esoterismo. Ele não visa a dor, mas
a sabedoria pelo conhecimento.
E com certeza é para poucos, muito poucos, aqueles poucos que
são chamados de Iniciados.
Paciência.
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