Multi pertransibunt et augebitur scientia (Muitos passarão, e o conhecimento aumentará).

quinta-feira, 15 de junho de 2017

FIGURA DIVINA, UM SIMBOLO ALQUÍMICO : VIIIa PARTE

por Mario Sales




FRASES E MAIS FRASES





Do nosso estudo anterior, separei propositalmente as frases que fazem a transição do sub-símbolo do ESQUEMA 14 para o seguinte.
A primeira:
“VINDE A MIM -------------------------------AQUI TU QUE QUERES MEU SEGREDO. ---------EU TE ILUMINAREI
E REFRESCAREI. ”


Esta frase, me parece óbvio, se destina tanto aos alquimistas quanto aos cientistas. Homens de saber em geral tornaram-se ao longo dos séculos cada vez mais avessos a considerações espiritualistas. Achavam-nas supersticiosas, sem utilidade para a ciência em si. Alquimistas, ao contrário, tinham para si, no mais puro espirito rosacruz, como secundário o processo científico ortodoxo, considerando-o um auxiliar de sua busca, eminentemente espiritual. É parte da tradição rosacruciana recolocar na equação do conhecimento a variável da Divindade. A sentença relembra que conhecer, verdadeiramente, passa pela percepção de uma inteligência subjacente e inerente a todas as coisas, que organiza e propicia a existência. O trecho “...meu segredo...” tanto serve a crentes como a ateus. Deus é parte fundamental dessa busca, aceite-o ou não, segundo o simbolista. Só com a sua participação, o balanceamento de toda equação é possível. A sua ausência, embora não pareça a alguns, mais atrapalha que ajuda, além de retirar da atividade científica o balizamento ético necessário no serviço à toda a humanidade e às hostes da luz.

A segunda: [na tradução da Renes, AMORC] 
“O grande, superior, móvel, mundo superior” do lado esquerdo. Em inglês “O grande, superior, móvel, superior mundo das Causas”

A terceira: [na tradução da Renes, AMORC] 
“O pequeno, inferior, repousado, mundo corpóreo, em seu Centrum” e em inglês “O pequeno, inferior, movimentado, corpóreo mundo dos Efeitos, em seu Centrum” do lado direito.
Também me parecem frases de sentido óbvio, e a tradução em inglês me pareceu muito mais fiel ao sentido, mostrando a oposição dos dois mundos componentes da Criação, seguindo o padrão de Platão, com um mundo das Causas superior, espiritual, e um mundo material dos Efeitos abaixo.
Chama a atenção os adjetivos “móvel”, quanto ao superior, e “mexido”, “movimentado”, quanto ao mundo inferior, que entendo como sinônimo de “movimentado no seu íntimo”.
A estabilidade quase total da matéria, já que existe movimento nos átomos, mesmo em perfeito repouso, é coerente com o termo escolhido, movimentado, ao invés de imóvel, o que surpreende considerando a época em que este texto foi escrito. É como se o Alquimista soubesse dessa condição de instabilidade permanente da natureza, menor nos sólidos, maior nos líquidos e gases, mas sempre lá, determinando que a mudança e a instabilidade são normas em toda a criação, ou seja, que a mudança e o movimento são as únicas coisas que nunca mudam na matéria. É uma compreensão química e atômica demasiado profunda para um homem do século XVI, só que não sei como evitar de fazer essas suposições. Novamente estou aberto a críticas, já que seria impossível esgotar as possibilidades de símbolo e sub-símbolos tão ricos de detalhes.
Me chamou a atenção também a expressão “Centrum”, em vez de simplesmente “centro” na segunda frase, mantida em Latim pela Ed. Renes e pelo tradutor do símbolo em Inglês.
Parece uma pista deixada pelo simbolista do significado da palavra na frase “Natura atque res omnes ex centro in Centrum” que me deu tanto trabalho de interpretar.
Eu tinha chegado à conclusão de que se tratava de uma expressão representativa do Criador, “o Centro do Centro”, mas aqui, Centrum está relacionado com o mundo inferior, o mundo material, o que possibilita a interpretação de que não é correta a tradução “Centro do Centro”, mas sim “do Centro para dentro do Centro”, (“ex centro in Centrum”) sendo que o primeiro Centro refere-se a Origem Divina da Natureza e o segundo Centro ao coração da criação material.
É uma possibilidade que não se deve desprezar e que demonstra o quanto é delicado este processo de hermenêutica de símbolos esotéricos, onde devemos estar abertos a revisões desde que novos fatos surjam os quais sugiram um novo arranjo das partes do conjunto.
Símbolos esotéricos são menos como linhas retas e mais como esferas. Sua interpretação deve sempre pressupor três dimensões, embora sua representação seja bidimensional.
E manter o equilíbrio das partes componentes em três dimensões é muito mais difícil que em duas.
Embora já estejamos avançados na interpretação nada impede que novas descobertas nos façam retornar a pontos anteriores e revisá-los, portanto.
As próximas frases estão já na altura do próximo sub-símbolo e devem estar mais relacionadas com ele. Estamos mais fundo na criação material, nos afastando da cabeça, mais e mais, em direção a parte baixa do Grande Símbolo.


Quarta frase: [na tradução da Renes, AMORC]
“ Casa celestial, e palácio espiritual da Natureza. ”, do lado esquerdo. Em inglês igual, sem a vírgula depois de “celestial”.


Quinta frase: [na tradução da Renes, AMORC]
“Morada terrena e corpórea da Natureza”. Em inglês “Morada terrena e habitação corpórea da Natureza”.

A quarta e a quinta frases parecem continuar na confirmação da existência de dois planos de manifestação da Criação, um perceptível e palpável e outro impalpável, invisível, conceito que está presente em várias tradições.
É sempre interessante mostrar que o chamado “mundo invisível”, no mundo contemporâneo, cresceu enormemente com a melhoria dos aparelhos de medição e observação. Mundo invisível este que, por ser invisível, de modo algum pode ser concebido como espiritual, mas apenas com uma fase material menos densa, como um gás em oposição à um sólido, ambos reais e pertencentes ao assim chamado “pequeno mundo inferior”.
As mentes do século XVI, que às vezes com sua intuição e sensibilidade podem nos impressionar com propostas demasiado avançadas para uma ciência desarmada como a daquela época, não deixam por causa disso de serem mentes de seu tempo, e sua compreensão do mundo é tão simples às vezes como se espera, no senso comum.
A situação atual do conhecimento, se aceitarmos a ideia de dois planos, um etéreo e um denso, empurra os limites do espiritual cada vez mais para o alto.
Ao que parece, o que a ciência de hoje revela é que não apenas dois, mas milhares de planos de densidade ainda devem ser contemplados pela melhoria dos aparelhos de identificação de vibrações cada vez mais sutis.
Mesmo assim, intuímos que em algum lugar essa fronteira será transposta, entre o que consideramos material, mesmo que sutil, e o que consideramos espiritual, mesmo que perceptível a sensibilidade de pessoas de espírito refinado. Só que já não sabemos aonde esta fronteira estará. Ou mesmo se ela existe.
Dito isso, estamos prontos para trabalhar o próximo sub símbolo, na posição direita da figura e esquerda de quem olha, o que me leva a considera-lo um dos pulmões, uma região material que abriga uma matéria pouco densa e invisível, o ar que nos sustenta.

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