Por Mario Sales
Na revisão que temos feito nos últimos seis anos, com dois
veneráveis mestres martinistas, de Ísis sem Véu, de 1877 e da Doutrina Secreta,
de 1888, de Helena Petrovna Blavatsky, duas obras clássicas do esoterismo e da Sociedade
Teosófica, encontramos várias e elogiosas referências aos rosacruzes.
Ísis sem Véu Inicialmente foi intitulada “O Véu de Ísis,
um título que permanece no cabeçalho de cada página, mas teve que ser renomeado
uma vez que Helena descobriu que este título já havia sido usado para um
trabalho Rosacruz de
W.W. Reade, em 1861”
William Winwood Reade[1]
É importante frisar que Blavatsky[2], por
ter passado pela transição em 1891, não conheceu a iniciativa de Spencer Lewis,
a AMORC, e nem seu trabalho de reorganizador dos trabalhos rosacruzes na
América do Norte, já que a Ordem foi restaurada nos EUA apenas em 1915.
Quando citava os rosacruzes, portanto, ela se referia a
nossa Ordem tradicional, que teve papel fundamental no esoterismo europeu, de
maneira mais visível entre o século XIV e XIX.
Tobias Churton
Ao contrário de Tobias Churton, professor inglês da Exeter
University, especialista em esoterismo, autor de “A História secreta da
Rosacruz, os invisíveis”, publicado em português pela Ed. Madras, Blavatsky não
tem senão boas referências sobre nossa Ordem, mas como ele, romanticamente crê
que jamais nos reunimos em grupos, jamais nos organizamos em comunidades e que
nossa ligação era tão mística quanto nossos interesses, provavelmente baseada
em telepatia e projeção astral e não em conversações humanas hodiernas, comuns.
A Rosacruz autêntica sempre foi menor que a sua lenda. Sua
sombra, neste caso particular, é mais forte do que a luz que a projeta, ou por
outra, aqueles que se debruçam sobre sua história são, tornam-se,
frequentemente, prisioneiros de uma visão ingênua e irrealistica.
Churton, nascido em 1960 e por isso um historiador
contemporâneo, diz, por exemplo, com todas as letras, que os Rosacruzes
modernos são apenas uma pálida alegoria dos antigos e tradicionais rosacruzes e
que a AMORC é uma fraude, produto do trabalho do publicitário Spencer Lewis.
Diz ainda, demonstrando seu pouco bom senso, que se fossemos
rosacruzes autênticos, seríamos absolutamente secretos e ninguém saberia de
nossa existência.
O que chama a atenção nesse comentador é a enorme erudição
por trás das tolices que afirmam. Mesmo sendo membro da Universidade, nota-se
que mesmo assim é capaz de fazer declarações absurdas e descabidas, fruto de
seu preconceito, da sua pouca maturidade, do seu pouco conhecimento da natureza
humana e do verdadeiro trabalho esotérico.
Os rosacruzes, antes de rosacruzes, são seres humanos. Como
tal, estão sujeitos a todas as limitações ligadas a esta condição. Em uma ordem
tolerante e livre como a nossa, internacional, a única coisa que se repete,
monotonamente, é a diferença de comportamento, de credo religioso, cultura e
nacionalidades, entre nossos fratres e sorores.
Churton supõe, infantilmente, que todos os autêntico
rosacruzes são seres iluminados e isentos de ligações com o Carma, esquecendo
fatos históricos (o que é grave para um historiador) como os problemas pessoais
e reais enfrentados por nossos mais destacados representantes ao longo dos
séculos, desde o assassinato bárbaro de nosso fundador, o faraó Akhenaton, em
um golpe de estado, até a vida conturbada de nosso maior esoterista no século
XIV, John Dee, vítima de um charlatão que destruiu sua vida privada, e mesmo
assim dono de grande conhecimento alquímico, conhecimento este que inspirou
Francis Bacon, nascido em Londres, em 1561, (Galileu nasce em 1564 e Descartes,
filosofo e rosacruz, em 1596) no século
XVI, filosofo, chanceler inglês e nosso imperator, que de modo súbito saiu de
uma situação de prestigio para a prisão na Torre de Londres, se bem que por um
breve período, tendo sido condenado por pratica de corrupção, a pagar pesada
multa e proibido de exercer a advocacia, em 1621, aos 60 anos; ou das
dificuldades de Giusepe Bálsamo no século XVIII, o Conde de Cagliostro,
responsável pelo moderno ritual em nossas ritualísticas, e que, infelizmente,
fez a sua transição na masmorra da Bastilha, em Paris, vítima indefesa da
calunia e da perseguição.
Não, rosacruzes não são santos, nem anjos ou espíritos
invisíveis como supõe o tolo professor inglês supracitado, e muito menos estão
a margem da existência comum, sujeita a ventos e tempestades. São, como
repetimos sempre, um conjunto de homens e mulheres dedicados ao estudo das leis
universais e a sua aplicação na vida cotidiana. São estudantes, e apenas nisto
se harmonizam uns com os outros: nós, rosacruzes, somos um grupo de curiosos
investigadores da natureza, mesmo que por meios às vezes diferentes do
consagrado método científico, para o qual aliás, nossos pensadores (Descartes,
com o Discurso do Método; Bacon com o Novum Organum; e Newton com Princhipia
Matematica) contribuíram decisivamente.
Da mesma maneira, Blavatsky tem também tem de nós uma visão
idealizada, se bem que mais simpática, e em sua poderosa erudição, que ela
afirma não ser sua, mas de Ku Thu Mi, Morya e Saint German, ela nos atribui
conhecimentos e conceitos ausentes de nossas modernas monografias e talvez mais
relacionados ao período anterior a publicação da Doutrina Secreta e Isis sem
Véu.
Lemos no volume 1 da Doutrina Secreta, no Proêmio da
Cosmogênese, que "O conhecimento do Espírito absoluto, tal como a refulgência
do sol e o calor do fogo, não é outra coisa senão a própria Essência
absoluta", diz Sankarâchârya. É "o Espírito do Fogo", não o Fogo
em si mesmo; portanto, "os atributos deste último, o Calor e a Chama, não
são atributos do Espírito, e sim daquilo de que o Espírito é a causa
inconsciente". Não é a proposição anterior a verdadeira chave da filosofia
dos últimos Rosacruzes?”(chamo a atenção para o adjetivo “últimos” que sugere
nossa extinção como Ordem física)
Mais à frente, nos comentários do segundo verso da Estancia 3, “O despertar do Cosmos”,
escreve HPB: “Segundo os ensinamentos dos Rosacruzes, tais como
interpretados pelos profanos (e desta vez em parte corretamente), "a Luz e
as Trevas são idênticas em si mesmas, sendo separáveis tão-só na mente
humana"; e, segundo Robert Fludd, "a escuridão se fez iluminar para
se tornar visível".[3] Fludd, ou “Robertus de
Fluctibus (Milgate House, Thurnham, Kent, 17 de janeiro de 1574 -Londres, 8 de setembro de 1637 ),
foi mais um dos famosos rosacruzes dos séculos XVI e XVII.
Diga-se de passagem, que também não era um “invisível”. Estudou
artes em Oxford,
no Saint John the Baptist College, e medicina no College of Physicians de
Londres. Médico, exerceu sua profissão até sua morte, em Londres.
E o que dizer de John Dalton, rosacruz e químico do século
XIX, contemporâneo de Blavatsky, nascido em 1776 e falecido em 1844, trinta e
três anos antes da publicação de Isis sem Véu. Foi ele o primeiro cientista a
propor a natureza atômica da matéria. Publicou livros, ministrou palestras e de
modo algum poderia ser classificado como um ser social invisível.
Blavatsky demonstra aqui que mesmo grandes esoteristas,
orientados por mestres cósmicos, podem incorrer em equívocos.
Mais à frente, nos comentários ao oitavo verso da Estancia
3, numa belíssima passagem que revela todo seu conhecimento universalista e
esotérico, diz ela:
“É ainda igualmente significativo o estranho símbolo
adotado; seu verdadeiro sentido místico é a idéia de uma matriz universal,
representada pelas Águas Primordiais do Abismo, ou abertura para a recepção e a
subsequente saída daquele Raio Uno (o Logos), que contém em si os outros Sete
Raios Procriadores ou Poderes (os Logos ou Construtores). Daí terem os Rosacruzes
eleito por símbolo o pássaro aquático (seja o cisne ou o pelicano) com os seus
sete filhotes (símbolo modificado e adaptado à religião de cada país. Ain Sof é
chamado no Livro dos Números a "Alma de Fogo do Pelicano". Surge em
cada Manvantara como Nârâyana ou Svâyambhuva, o Existente por Si, e, penetrando
no Ovo do Mundo, dele sai no final da divina incubação, como Brahmâ ou
Prajâpati, o progenitor do Universo futuro, no qual se expande.
É Purusha (o Espírito), mas também é Prakriti (a
Matéria).”
Ora, qualquer rosacruz que tenha pertencido ou pertença à
Ordem Maçônica, em qualquer de suas potências aceitas, verá que aqui não temos
um símbolo rosacruz, mas sim um símbolo eminentemente maçônico, ligado ao
chamado "Grau do Cavaleiro Rosacruz", ou Grau 18, que foi equivocadamente
atribuído aos rosacruzes em si.
Na verdade, a simbologia do Pelicano que morde o próprio
peito e tira seu próprio sangue para dar como alimento aos seus sete filhotes refere-se
a este grau da maçonaria e representa, na simbologia maçônica, o desenvolvimento
da virtude da misericórdia, como lembra talvez o mais importante autor maçônico
brasileiro, o alagoano Nicola Aslan.
Os símbolos realmente secretos dos rosacruzes no século XVI
e XII, estão descritos na preciosa obra que AMORC reeditou juntamente com a
Editora Renes, em 1978, e que foi publicado originalmente em ALTONA, Alemanha,
em 1785 e editado e impresso por J. D. A. Ackhardt.
Estou aberto a críticas, mas nas pesquisas que fiz não
encontrei nenhuma referência a este símbolo fora do ambiente da maçonaria.
Ainda em referência a esta citação, transcrevo a nota de
rodapé, a qual, como não tem identificação, atribuo a escritora:
“Que espécie de ave seja, cygnus, anser ou pelicanus, não
importa, pois é sempre uma ave aquática que flutua ou nada sobre as águas, como
o Espírito, saindo depois para dar nascimento a outros seres. A verdadeira
significação do símbolo do grau dezoito dos Rosacruzes é exatamente essa, embora depois o
tivessem poeticamente convertido no sentimento maternal do pelicano que
dilacera o próprio peito para alimentar com seu sangue os sete filhos
pequeninos.”[4]
Salvo, como lembra sempre meu bom irmão Flavio Bazzeggio, um
grave erro de tradução ou de impressão, aqui a declaração é mais embaraçosa,
considerando a importância da obra e o indiscutível conhecimento da autora-escritora,
como ela mesma se identifica, em certas passagens. Fala-se em um Grau Dezoito
dos Rosacruzes. Que se saiba, não existe tal grau, nem nunca existiu,
já que ao contrário da Ordem Maçônica e do Martinezismo de Vilermoz e Papus,
que sempre se organizaram através do sistema de graus, a Ordem Rosacruz, a não
ser na pratica contemporânea, mais recente, da AMORC, tradicionalmente sempre
formou comunidades que transmitiam a todos todo o conhecimento disponível
através de seus rituais, de acordo com sua capacidade e maturidade, exceção
feitas às práticas esotéricas das pirâmides escolas, no antigo Egito, onde
haviam sim níveis diferentes de ascensão ao conhecimento mais profundo.
Assim tanto na colônia da Philadelphia[5] quanto
sob o comando de Hyeronimus, último imperator europeu e transmissor das
credenciais que permitiram a Spencer Lewis continuar o trabalho rosacruz na
América do Norte, o que havia era uma comunidade discreta de iniciados que
trocavam entre si os textos e as informações tradicionais guardadas e
retransmitidas por séculos.
Gostaria de insistir que, embora os seguidores de mestre Johanes
Kelpius, que fundaram a comunidade rosacruz da Filadélfia, fossem discretos,
não eram de maneira algumas invisíveis, como desejaria Churton, citado no início
desta fala. Eram homens e mulheres comuns no aspecto e nos gestos, mas incomuns
na busca sincera de uma espiritualidade mais profunda.
Blavatsky continua seu raciocínio na mesma página, mais
abaixo dizendo, ao comentar a Estancia 9:
“9. [A Luz é a Chama Fria, e a Chama é o Fogo, e o
Fogo produz oCalor, que dá a Água — a Água da Vida na Grande Mãe.]
Convém ter
presente que os termos "Luz", "Chama" e "Fogo"
foram adotados pelos tradutores do vocabulário dos antigos "Filósofos do
Fogo" a fim de tornar mais claro o significado dos termos e símbolos
arcaicos empregados no original.”
E, em uma nota de rodapé, em relação à expressão Filósofos
do Fogo, HPB explica:
“Não os alquimistas da Idade Média, mas os Magos e os
Adoradores do Fogo, de quem os Rosacruzes ou os filósofos per ignem, sucessores
dos teurgistas, houveram todas as idéias referentes ao Fogo, como elemento
místico e divino.”
Para a grande mestra e fundadora do esoterismo moderno, o
Fogo é um símbolo primordial na compreensão do significado intrínseco do mundo
místico.
Lembro a todos, como fiz em ensaio anterior analisando na
época o linguajar esotérico de Martinez de Pasqually, que a palavra Fogo
pode e deve ser considerada no mesmo sentido de sua sucessora, Energia,
como modernamente nomeamos esta noção de força motor invisível da vida.
Neste aspecto, Blavatsky afirma a importância dos rosacruzes
no conhecimento deste conceito.
Diz ela:
“Que diz o ensinamento esotérico a respeito do Fogo?
"O Fogo é o reflexo mais perfeito e não adulterado, assim no Céu como na
Terra, da Chama Una. É a Vida e a Morte, a origem e o fim de todas as coisas
materiais. É a Substância divina." Assim é que não só os Adoradores do
Fogo, os parses, mas até as tribos errantes e selvagens da América, que se
dizem "nascidas do fogo", demonstram mais ciência em sua fé e mais
verdade em suas superstições que todas as especulações da física e da erudição
moderna. O cristão que proclama "Deus é um Fogo vivente", e fala das
"Línguas de Fogo" do Pentecostes e da "sarça ardente" de Moisés,
é tão adorador do fogo como qualquer "pagão". Dentre os místicos e cabalistas,
os Rosacruzes foram os que definiram mais corretamente o Fogo.”[6]
Esta menção de Blavatsky demonstra o respeito e a admiração
que a nobre esoterista nutria por nossa sublime Ordem. É preciso ler outros
esoteristas para ter a dimensão correta da nossa importância, nós, rosacruzes,
ao longo da história do esoterismo e do misticismo.
Ela, Blavatsky, nos considerava como referenciais históricos
da compreensão mais perfeita de um dos mais esotéricos conceitos do misticismo:
a noção da Energia Essencial do Universo, que nós chamamos em nosso jargão
rosacruz, NOUS.
Além disso, na acepção de HPB, nossa Ordem é também
referencial para a própria noção do que seja a prática verdadeiramente
esotérica.
No rodapé da página 313, da mesma publicação, diz HPB:
“A palavra Mysterium é assim explicada pelo Dr. Hartmann,
segundo os textos de Paracelso, que ele tinha diante de si: “De acordo com o
eminente Rosacruz, "Mysterium é tudo aquilo que é capaz de desenvolver
algo que aí se acha apenas em estado de germe. Uma semente é o Mysterium de uma
planta, o ovo é o de um pássaro etc."
Esta é uma belíssima formulação do conceito do mistério. Existem
momentos na leitura da Doutrina Secreta que são pura poesia. E esse é um deles.
Entender o Mistério como o potencial oculto no
germe das coisas, e o Místico como aquele que é capaz de percebê-lo,
é compreender o mais recôndito significado do termo Misticismo.
Forçoso é referir-se ao quadro de Magritte[7]
abaixo, como representação pictórica do que foi dito.
Místico, pois, é aquele que vê para além da forma exterior,
para o mistério por trás do além das aparências, para além do comum dos
mortais.
Não se trata de um dom paranormal, mas do desenvolvimento da
mais comum das capacidades do intelecto e do espírito: o aprimoramento da
sensibilidade, presente naquele que contempla com enlevo uma escultura ou
naquele que se emociona ao ouvir uma peça de Debussy ou de Erik Satie, para
ficar apenas nos pianistas também rosacruzes.
É a sensibilidade aperfeiçoada que faz do místico ou da
mística, indivíduos capazes de olhar o mundo pelos olhos de Deus.
É condição si ne qua non para dizer-se místico, ser uma
pessoa sensível, capaz de ouvir no silêncio a melodia do Cosmos, o OM
silencioso dentro e fora de nós.
E aqueles que não se emocionam ao contemplar o desabrochar
de uma planta ou com as imagens magníficas do Universo que o Huble, este
maravilhoso telescópio que tanto fez por nosso conhecimento astrofísico, às
vias de aposentar-se, nos deu, não pode considerar-se místico verdadeiramente.
É isso que aprendemos ouvindo a grande mestra não rosacruz,
porém discípula pessoal do mesmo Hierofante ao qual prestamos reverência,
Ku-Thu-Mi.
Lembremos: foi HPB que nos informou em primeira mão da
existência da Fraternidade Branca e de alguns de seus membros; foi através de
seus textos que incendiaram a imaginação de milhares de pessoas, que esses
seres habitavam o mesmo mundo que nós habitamos, revelando-se de tempos em
tempos àqueles que demonstrassem merecimento kármico.
Dos dois grandes esoteristas escritores do século XIX,
Eliphas Levi dedicou-se a detalhar procedimentos e métodos ligados a prática da
Magia, enquanto Blavatsky preocupou-se em desvelar a história esotérica da
humanidade, nos revelando uma outra realidade que jaz por trás desta realidade
que tanto nos aflige e angustia.
Um exemplo desta contribuição foi levado ao cinema nos
Estados Unidos, em uma película patrocinada na época pela Ordem Rosacruz.
Chamou-se Horizonte Perdido, e sua produção é de 1937, dirigida por Frank
Capra, um cineasta interessante para qualquer rosacruz.
No filme, revela-se a existência de uma comunidade oculta
nas montanhas onde um povo simples e ordeiro cultiva a saúde através da
serenidade, da alimentação balanceada e dos bons pensamentos.
A comunidade chamava-se Shangri-Lá, e a saga foi
originalmente apresentada em um livro do escritor inglês radicado nos EUA, James
Hilton, em 1933, para ser depois levada ao cinema. Alguns aqui se lembrarão da
refilmagem feita em 1973, com musica de Burt Bacharah, mas foi a primeira
versão a mais impactante, mostrando a quem fosse capaz de ver um retrato vivo
da comunidade de iniciados que viviam no Himalaia, gozando de segurança para
preservar os textos mais sagrados da humanidade.
Essas revelações baseiam-se primeiramente nas informações
trazidas a luz por Blavatsky através da sua monumental obra A Doutrina Secreta,
a qual sucede os volumes anteriores de Ísis sem Véu, seu outro grande trabalho.
É pela importância desta senhora na história do esoterismo
que muito nos envaidece que ela nos cite, a nós rosacruzes, com tanto respeito
e admiração.
Blavatsky travou uma luta desigual com os céticos e
cientistas da época, o que a levou a tratar de maneira injusta a própria
ciência em si.
Mas mesmo assim, ela revela grande interesse em fundamentar
em bases sólidas suas informações e afirmações, de maneira que em muitas
passagens revela grande simpatia por alguns dos luminares da ciência da sua e
de outras épocas, da opinião dos quais se socorre para defender seus pontos de
vista.
É assim que encontramos em Ísis sem véu um comentário positivo
acerca de um dos mais notáveis rosacruzes de todas as épocas, Isaac Newton.
Diz ela:
“Há cientistas e cientistas; e se as ciências ocultas
sofrem, na instância do Espiritismo moderno, da malignidade de uma classe, elas
tiveram, não obstante, os seus defensores em todos os tempos entre os homens
cujos nomes derramaram luzes sobre a própria ciência. No primeiro posto está
Issac Newton, "a luz da Ciência", que acreditava plenamente no
Magnetismo tal como fora ensinado por Paracelso, Van Helmont e os filósofos
do fogo em geral. Ninguém ousará negar que a sua doutrina do espaço e da
atração universal é tão-só uma Teoria do Magnetismo. Se as suas próprias
palavras significam alguma coisa, elas querem dizer que ele baseou todas as
suas especulações na "alma do mundo", o grande agente universal e
magnético que ele chamava de divine sensorium. "Aqui", diz ele,
"trata-se de um espírito muito sutil que penetra tudo, mesmo os corpos
mais duros, e que está oculto na sua substância. Pela força e pela atividade
desse espírito, os corpos se atraem uns aos outros e se mantêm juntos quando
colocados em contato. Através dele, os corpos elétricos operam à distância mais
remota, tanto quanto se estivessem próximos, atraindo-se e repelindo-se; por
este espírito a luz também flui e é refratada e refletida, e aquece os corpos.
Todos os sentidos por esse espírito e por ele os animais movem os seus membros.
(...) Mas estas coisas não podem ser explicadas com poucas palavras e não temos
experiência suficiente para determinar plenamente as leis pelas quais opera
esse espírito universal".
No segundo volume, em um trecho, ela reforça a impressão de
que os rosacruzes autênticos haviam desaparecido, o que na verdade confirma
nossa discrição em todas as eras.
Diz ela, ao comentar sobre espíritos da Natureza:
“Embora os espiritistas procurem desacreditá-los tanto
quanto possível, esses espíritos da Natureza são realidades. Se os gnomos,
silfos, salamandras e ondinas dos Rosa-cruzes existiram em seus dias,
eles devem existir agora.”
Deste trecho depreendemos duas coisas: primeiro, que os dias
de existência dos rosacruzes na época em que ela escreve, são considerados
coisas do passado e segundo que, a nós rosacruzes, ela atribui a concepção da
existência de seres elementais, seres dos elementos da natureza,
florestas, montanhas e rios, ou pelo menos, que ao longo de nossas práticas
mágicas desenvolvemos a capacidade de vê-los e interagir com estes seres de
dimensões diferentes da nossa. Também esta é uma informação que não está nas
monografias.
O que é mais curioso é que, ao que tudo indica, já nos
textos de Ísis sem Véu, em 1877, ela aparenta ter estudado o trabalho esotérico
de nossa Ordem, nos dando a autoria de teorias e formulações originais sobre a
Criação.
Assim afirma lá pelas tantas que:
“A teoria Rosa-cruz de que todo o universo é um
instrumento musical é a doutrina pitagórica da música das esferas.”[8]
Neste particular lembro a todos que ao longo de seus estudos
receberam um teclado musical que é parte dos ensinamentos monográficos,
estabelecendo a relação entre certos sons e certos órgãos do corpo, bem como
pela prática de sons vocálicos em nossos rituais afetamos voluntaria e
conscientemente a ação de certas glândulas e plexos do corpo.
Em nenhum texto que li nestes 43 anos de rosacrucianismo encontrei,
no entanto, referência explicita ao entendimento de que todo o universo fosse
um instrumento em si.
Essa informação só encontramos em Ísis sem Véu, informação
que enriquece nossas concepções históricas acerca de nossa Ordem.
[1]William
Winwood Reade (26 dezembro 1838 – 24 abril 1875) foi um historiador,
explorador e filosofo Britânico, Escocês.
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