Por Mario Sales
Um deles é a visualização estática, em vários aspectos.
Um desses aspectos, cuja natureza me veio num insight recente,
é aquele de supor que nossa visualização será o produto da imagem que desejamos
e não da imagem que desejaríamos realizar.
Explico: quando pensamos em uma casa, quando visualizamos uma
nova casa, pensamos que a materialização dessa casa trará em si a concretização
de todos os atributos importantes em nossa visualização mental, que a casa já
virá pronta, acabada, e apenas deveremos entrar e sentar em seus sofás macios e
confortáveis.
Não olhamos a materialização de um desejo mental como o
produto do fluxo de oportunidades, o fluxo inerente a todo tecido vivo, que é
como o místico vê a realidade.
A imagem que me veio à mente, de caráter didático, é do
observador a beira do rio, que visualiza uma navegação tranquila nos momentos seguintes,
quando colocará seu barco no fluxo do rio.
Na verdade, para que a navegação seja tranquila rio abaixo, devemos compreender que condições aleatórias deverão somar-se de tal forma que ocorrências desagradáveis não nos atinjam, e para isso o imponderável nos prepara um caminho cuja dinâmica só ele conhece.
O rio flui todo o tempo, atravessando áreas mais largas e
mais estreitas, galhos de árvores nas margens caem dentro do rio e se
transformam certas vezes em obstáculos a nossa navegação. Além disso, existem
as pedras, que sempre estarão no curso de qualquer rio e que só poderão ser
evitadas se passarmos ao lado delas ou sobre elas, desde que a vazão do rio
permita que nosso casco se eleve acima das rochas.
Os movimentos de elevação e diminuição de nível no rio
dependem da vazão dos afluentes e das chuvas.
São todos estes fatores coisas além de nosso controle, mas
não do controle do Altíssimo, que sabe e pode todas as coisas, e em última análise
é o responsável pelo sucesso ou fracasso de nossa jornada.
Portanto, o momento de colocar nosso barco na água não tem a
ver necessariamente com a situação do rio naquele ponto em que entramos, mas
sim com todas as outras condições que encontraremos rio abaixo de acordo com o somatório
de acontecimentos que acontecerão nas horas seguintes ao início de nossa aventura.
Vida é fluxo.
Entramos no fluxo como quando entramos em uma auto estrada
com nosso carro, tentando nos adaptar a velocidade dos outros carros, nunca
devagar demais, nem rápido demais, mas em uma velocidade que se adapte ao
fluxo de automóveis no qual estamos entrando.
Todos somos “nós e nossa circunstância”, dizia Ortega e
Gasset. E nossa circunstância é todo o resto além de nós, sobre o qual só o
Alto tem comando e conhecimento exato.
Quando visualizamos, por exemplo, uma casa, não receberemos
necessariamente a casa que visualizamos, mas a casa que se transformará em
alguns meses ou anos na casa que sonhamos em nossa imaginação criativa. Ela
será aquilo que tiver potencial para ser.
Realizaremos algo em potencial, não o já manifesto, mas o
que poderá tornar-se o que sonhamos e mesmo ultrapassar nossas expectativas
iniciais, pois nossa visão na imaginação é limitada, mas o fluxo é ininterrupto,
eterno, inexorável.
Recebemos em nossas materializações de visualizações aquilo
que produzirá os melhores resultados, não aquilo que já está pronto e acabado.
Aquilo que já está pronto só tende a se desgastar e
desaparecer, mas aquilo que é promessa tornar-se-á, dia após dia, melhor e
melhor.
Portanto, rezemos para recebermos sementes e não árvores.
Porque além de a semente ser a certeza da árvore, também nos permite o prazer
da semeadura, do acompanhar o crescimento da planta e de desfrutar da sensação
de termos, como temos, participação ativa na materialização de nossos sonhos.
Não sabemos fazer sementes, só o altíssimo sabe. Somos semelhantes
aos agricultores, instrumentos de plantio e supervisão do jardim que criamos
com nossa semeadura.
Nossa vida será melhor se formos apenas bons jardineiros, mas a terra já está dada; as sementes já estão dadas.
E o tempo, ah o tempo, este flui sem cessar, tornando real aquilo que, um dia, foi apenas promessa.
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