Por Mario Sales
“Estudar tanto que se deixe de rezar,
de se recolher, que não se leia mais a Palavra Sagrada nem as palavras dos
santos, nem as das grandes almas; estudar tanto que se esqueça de si mesmo e que,
de tão concentrado nos objetos de estudo, se negligencie o hóspede interior, é
um abuso e uma trapaça. Supor que assim haverá maior progresso e que se
produzirá mais é achar que o riacho fluirá melhor se lhe secarmos a fonte.”
A.D. Sertillanges
in “A Vida Intelectual”, pág. 44, Ed.Kirion
O intelecto sem um compromisso com o sagrado coloca nossa alma em risco.
Parece uma declaração melodramática, mas na verdade trata-se de uma constatação banal já que sinaliza a força do personalismo e da vaidade na destruição da espiritualidade.
Humildade, como sempre repito, não é virtude, é técnica.
Quanto menos atrapalharmos o fluxo livre das inspirações divinas, supondo-nos
fonte daquilo que apenas captamos da Verdadeira Fonte, mais qualidade e
profundidade terão nossas reflexões.
Quando temos um compromisso com o Sagrado em nós mesmos
tornamo-nos canal, instrumento nas mãos de Deus Todo Poderoso, que nos usará
como lhe aprouver na realização de seus desígnios e na transmissão de sua
vontade e orientação.
Ora, supõe-se que aquele que conviva com o sábio, de alguma
forma receba parte de sua sabedoria.
Da mesma maneira aquele que convive intimamente com o
Altíssimo, independente de sua fragilidade, e inseguranças, será com certeza
bafejado pela Sua magnificente presença, e já estará abençoado apenas por esta
convivência. O intelecto, como organizador da escrita ou da oratória estará em
seu devido lugar, de servir de pincel com o qual o Grande Artista traça as
linhas de Suas obras para expressar Suas cores e visão do mundo.
Essas considerações me vêm a mente por que, na minha
opinião, não há local aonde esse casamento entre razão e devoção esteja mais
presente do que em corpos afiliados de AMORC.
Pela própria natureza do trabalho rosacruz, nesses locais cultua-se
o bom senso, as boas atitudes, os conselhos de sabedoria, os textos de autores
místicos ou filosóficos que buscaram integrar em sua obra o homem e a
divindade.
Os nossos corpos afiliados são escolas de espiritualidade,
espalhadas pelo mundo, onde todas as formas de pensamento religioso e linhas de
conduta tem espaço para se manifestar livremente, com respeito e seriedade.
O que desejamos, enquanto estudantes rosacruzes, é
investigar, discutir e aprofundar nosso conhecimento das muitas maneiras que a
humanidade elaborou de relacionar-se com a Tradição, aqui entendida como um
conhecimento em princípio único de normas éticas e comportamentais, que assumiu
em cada região do planeta características locais que disfarçaram, mas não
ocultaram sua origem comum.
Entre os muitos locais aonde este nobre trabalho intelectual
e espiritual se desenrola, cito dois pelos quais tenho particular apreço: a
Loja Rosacruz Guarulhos e a Loja Rosacruz Recife.
A primeira porque foi lá que encontrei um lar espiritual que
me proporcionou amizades fundamentais depois que me mudei para São Paulo, como
também 11 iniciações rosacruzes de templo (o primeiro grau de templo fiz na
loja Jacareí) além de três iniciações martinistas.
A segunda, a Loja Recife, porque, da mesma maneira, me
presenteou com amizades das quais muito me orgulho, a começar por meu saudoso
mestre e amigo Frater Reginaldo Leite, o qual me introduziu aos relacionamentos
com outros queridos irmãos como Frater Antonio de la Maria, Paulo Dutra e José
Marcelo Sobral.
A equipe atual que coordena brilhantemente os trabalhos
virtuais durante a pandemia dinamizou as relações nordeste-sudeste de forma admirável
e impensável, não fossem as atuais circunstâncias.
Refiro-me ao nobre frater Rodrigo Marinho, mestre da loja,
ao querido frater Marcos de Andrade Filho e a gentilíssima soror Angelica Kazue
Uejima, através dos quais saúdo a toda a confraria desta que é o mais diligente
centro de cultura rosacruz do Nordeste.
Nesta oportunidade em que a loja comemora seus 61 anos de existência,
venho trazer minha homenagem e gratidão a este grupo seleto de trabalhadores
silenciosos que nas palavras em epígrafe souberam unir seus objetos de estudo
ao “hóspede interior” com elegância, equilíbrio e competência.
Meus mais sinceros votos de parabéns a todos.
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