Por Mario Sales
Quando eu digo que Maya tem um proposito e que discutir se é
ou não ilusória não é o mesmo que discutir se é boa ou má é porque não tem sido
essa a linha de comentários sobre esta dimensão fundamental de nossa
manifestação ao longo dos textos esotéricos que consultei nestas quatro décadas
de esoterismo.
Os textos mais tradicionais, sejam indianos do período clássico
ou europeus, do século XIX ou início do XX sempre trabalham o tema sob o viés
de ilusão versus realidade.
Já argumentei e repito que um filme de cinema, (coisa que
não existia no tempo de Platão e de seu Mito da Caverna, no diálogo “A República”),
é um espetáculo de ilusão altamente divertido e instrutivo, pelo qual as pessoas
estão dispostas a pagar para experimentar.
Ninguém na contemporaneidade sentir-se-ia mal se alguém lhe
dissesse: “Ei, esse filme, é pura fantasia, nada disso existe”. A Resposta mais
provável seria “Sim, é fantasia, e daí?”, com uma face perplexa acompanhando a
declaração.
Porque o cerne da questão não é esse, mas sim o grau de
utilidade aquela “fantasia” tem para mim em termos de diversão, prazer e
aprendizado.
Um filme, feito por atores e cenários teatrais, efeitos
especiais e truques com recursos digitais traz uma hora e meia, às vezes duas
de entretenimento e emoção.
E é por isso que pagamos. Queremos aprender, queremos nos divertir e isso vale alguma coisa. Traz benefícios.
A “ilusão” tem um papel,
tem uma função artística e educacional em nossa existência.
É como discutir se um quadro de Magritte ou Dali retratam
uma cena real, ou melhor, são reais, independente da emoção que desencadeiam em
nós ou dos estímulos à nossa imaginação que provocam.
Olhar uma obra surrealista e não considerar seu impacto emocional
e estético, é uma abordagem no mínimo estranha além de equivocada.
Da mesma maneira, discutir a realidade de Maya, ou seu
aspecto ilusório como um defeito ou algo que a desabone é desconsiderar que
nossa existência, nós que estamos mergulhados nesta simulação a partir da qual
fazemos esta análise, é rica de emoções e sentimentos exatamente graças a este
ambiente simulado.
O problema não é este, real X irreal.
O problema é como lidamos com esta experiencia.
Quem entra em uma sala de cinema concorda em,
temporariamente, deixar-se envolver pelo enredo e pela historia narrada, como
se real fosse. Em nenhum momento pode supor que está participando realmente de
uma guerra, de uma batalha, de uma exploração no fundo do mar ou no pico do Everest.
Sabe que não está viajando em uma nave espacial pelo espaço e muito menos que
seja protagonista de uma trama de espionagem internacional.
É apenas cinema, arte, ilusão para nosso deleite e
divertimento.
E uma hora, as luzes se acendem e tudo termina, e voltamos a
nossa “outra realidade”, fora da sala de projeção.
Portanto, não é estar em um meio ilusório ou não que faz de
Maya um problema ou uma solução, mas sim confundi-la com realidade, se bem que
até hoje não sei bem o que é isto, o real, a não ser sob o ponto de vista do
consenso de muitas pessoas que compartilham percepções semelhantes, o mesmo
sol, a mesma lua, a mesma cidade, essas coisas.
Aí eu pergunto: em uma sala de cinema, não compartilhamos
com a audiência que está na sala, simultaneamente, a mesma ilusão
cinematográfica?
Por acaso isso a torna real?
Algo a pensar.
Não falemos mal de Maya. Usemo-la a nosso favor.
Esta é a sua função.
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