Por Mario Sales, FRC.:,S.:I.:,M.:M.:
Lá nas profundezas do Blog ( setembro de 2010) existe um vídeo maravilhoso de um colega médico da USP, Dr Sergio Felipe de Oliveira, que embora pertença a uma linha de pensamento pela qual eu não nutra simpatia, descreve conceitos espiritualistas, para mim, de forma extremamente interessante e didática.
Entre estes aquele em que ele explicita sua particular compreensão do processo mental, de maneira sintética e original. Diz ele: “Supor que as imagens que surgem em nossa mente são apenas produto do nosso cérebro é a mesma coisa que imaginar que os atores de uma novela moram dentro do aparelho.”
Sergio Filipe de Oliveira
Este trecho de sua fala me tocou pela precisão como ele aborda um problema hoje sem discussão no meio científico, mas que nas próximas décadas deverá surgir como polêmico e inovador.
O cérebro ainda é considerado como o produtor dos pensamentos, o produtor das imagens, fala-se em impulsos elétricos e químicos que são transformados, de modo ainda desconhecido em idéias e crenças.
Que o cérebro tem um papel local no corpo não se discute. O que se pergunta é se apenas este papel local deve ser considerado, ou se, através do cérebro temos a capacidade de captar idéias, que de forma semelhante a entrada do ar na respiração, pela inspiração, também entram em nós, com o mesmo nome inclusive, numa alusão tácita a captação de idéias e conceitos do ar a nossa volta.
Indivíduo inspirado. É desse modo que nos referimos de maneira inconsciente das repercussões deste título, àqueles que demonstram a capacidade de manifestar de modo generoso um sem número de perspectivas e combinações originais de idéias, às vezes antigas, mas que, sob uma nova ótica ou viés apresentam novas cores, novas e interessantes facetas.
De onde vêm os pensamentos? De onde vêm as idéias para grandes romances, os grandes concertos e obras musicais? Os compositores alegam “ouvir” em suas cabeças a obra pronta, e quando se sentam para escrever apenas registram aquilo que já está em seus ouvidos mentais, não pedindo, mas exigindo manifestação.
Falei algumas semanas para minha filha que bons escritores na verdade são bons descritores e que o que fazem é apenas escrever acerca das imagens que já estão inteiras em suas mentes.
De onde vêm estas impressões, estas imagens claras e distintas que nos obrigam a manifestá-las pela letra, pelo som ou pelas tintas?
Neurologistas contemporâneos, com razão, torcerão o nariz para tais considerações. E sua razão estará no fato de que, racionalmente, não existem evidências de que exista outra fonte para nossas idéias a não ser o interior de nossos neurônios.
Lembro, no entanto, de Jean Jacques Rousseau ao dizer que se a razão vai contra o que sentimos de maneira intensa em nosso espírito, pior para a razão.
E eu sinto intensamente que essas coisas não são fantasias ou delírios e que, em algum momento, deveremos discutir a natureza dos pensamentos e do cérebro, como produtor ou como captador de idéias, o que modificaria por completo a noção que hoje defendemos de propriedade intelectual.
Hoje por exemplo, acordei com a mente em silêncio. Senti com extrema nitidez que as imagens não estavam em mim, que não passavam pelos meus olhos mentais, e que, se podemos dizer deste modo, havia um inquietante silêncio em minha inspiração.
Não sei quanto a outras pessoas, mas essa sensação me incomoda sobremaneira. É como se perdesse a conexão com meu provedor e através dele, com a Internet Cósmica.
E da mesma maneira que a Internet faz falta em nossa vida cotidiana, a conexão com a Mente Cósmica, pelo menos para mim, desfalca minha capacidade de trabalho e produção intelectual.
Gostaria de ter uma produção eminentemente horizontal, que versasse sobre assuntos cotidianos e facilmente reconhecíveis pelas pessoas que os lessem, como os trabalhos de um Nelson Rodrigues, o que ele chamava de o óbvio-onulante.
Minha sina, no entanto, é horizontalizar o que desaba sobre a minha mente de forma vertical, é dar forma escrita ao que surge em minha mente sem pedir permissão, não sempre, mas na grande maioria das vezes.
E quando por alguma razão, provavelmente por razões mais pessoais do que cósmicas, esta conexão é interrompida, mesmo que temporariamente, a sensação é de desconforto, e é como se faltasse uma perna ou um braço ao conjunto.
Acredito que outros se sintam desta forma, mas até Sergio comentar em sua fala no vídeo esta possibilidade, jamais tinha visto alguém, de forma tão corajosa, considerando as implicações e conseqüências para sua reputação profissional, falar sobre estas obviedades.
Vejamos se nas próximas décadas alguma coisa, algum evento, trará densidade para tais especulações.
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