Por Mario Sales, FRC.:,S.:I.:,M.:M.:
Em um artigo para o jornal O Estado de São Paulo (que, abençoadamente, pude ler com calma hoje, nesse maravilhoso domingo, doméstico, ao sabor de um delicioso chocolate dietético como diabético disciplinado que sou), o Dr. Carlos Granés, colombiano, doutor em Antropologia Social pela Universidade Complutense de Madri, tece comentários sobre Jorge Luis Borges e seu mundo ficcional.
Carlos Granés
Lá pelas tantas, diz:
"Mas o mais significativo de Borges, seu legado mais importante, foi ter mostrado que a ficção se confunde com a vida real. Seus contos ilustram metaforicamente como a ficção desliza para a vida humana para transformá-lá. Depois de Borges nós sabemos que a vida humana não é feita apenas de acontecimentos e realidades, mas também de fantasias, desejos, aspirações e ficções que se tecem sobre as pessoas e as coisas. Não podemos escapar da ficção do mesmo modo que não podemos escapar da realidade. Temos um pé em cada mundo. Nossas vidas" conclui ele "se desenvolvem em espaços concretos, reais, rodeados de pessoas de carne e osso, mas a forma como nos relacionamos com tudo isso é mediada por nossas crenças, desejos e expectativas."
Jorge Luis Borges
A mente como intermediária entre o homem e a realidade.
A noção kantiana que até agora não teve a repercussão que poderia ter tido se compreendida em toda a sua extensão, agora, nas palavras do antropólogo colombiano, ganha as dimensões de um artigo de jornal.
Não creio que agora seja totalmente compreendida, mas , de qualquer forma, é gratificante ver que uma das mais antigas verdades do misticismo, a de que construímos todos os dias universos absolutamente pessoais com nossas mentes, ganhe agora as linhas de um periódico.
Existe toda uma ciência positivista baseada em consenso de opiniões sobre determinados assuntos. Mas o que é um consenso a não ser um conjunto de pessoas que pensam de maneira semelhante?
E se todos estiverem errados? Reza a Escola de Frankfurt(1) que para evitar o subjetivismo, estas pessoas devem ser sumidades em suas áreas e referências científicas que dêem a este consenso credibilidade e sustentabilidade. Repito, entretanto: e se todos estiverem errados? Tudo o que temos são boas opiniões acerca de certos fenômenos e a ciência concede que, mudados os paradigmas, mudem-se os postulados. Estamos todos em um mundo provisório com a estabilidade possível de se ter. Mas até positivistas sabem disso.
Ser um cientista ou um filósofo é ter esta consciência do fluxo das coisas, de sua eterna mutabilidade, é não acreditar na solidez, principalmente levando em consideração que não podemos ver o mundo a não ser através da mente, o que necessariamente deforma a imagem como o prisma desvia a luz que o atravessa.
É um problema de física, de ótica, não só de filosofia , ciência ou epistemologia.
Nossas concepções modificam o mundo a nossa volta. Precisamos nos concentrar nas lentes de nossos óculos e não nas imagens que vemos através delas.
Nossas concepções modificam o mundo a nossa volta. Precisamos nos concentrar nas lentes de nossos óculos e não nas imagens que vemos através delas.
Como dizia um monge budista lá do Rio, com um nome muito estranho, Don, de um mosteiro que fica em Santa Teresa, vemos o mundo por nossas lentes coloridas: se a lente é vermelha, o mundo é todo vermelho sangue; mas se a lente é azul, o mundo todo é azulado, como o Mágico de Oz e a Cidade das Esmeraldas.
Lembra muito o ensinamento das escolas esotéricas só que elas são mais radicais. Falam mesmo de criação de mundos sólidos e não só de idéias de mundo. Transformação da realidade e não apenas de idéias sobre o real.
Lembra muito o ensinamento das escolas esotéricas só que elas são mais radicais. Falam mesmo de criação de mundos sólidos e não só de idéias de mundo. Transformação da realidade e não apenas de idéias sobre o real.
Por isso são conhecimentos esotéricos.
Tão complexos e revolucionários em seus paradigmas de compreensão do que chamamos vida real que necessitam ainda ultrapassar a fase de serem considerados dignos de credibilidade para depois serem estudados e praticados, o que os místicos rosacruzes fazem todos os dias de suas vidas.
Misticismo não é religião, nem fantasia. Apenas ciência e psicologia avançada.
Diz uma piada rosacruz que quando os cientistas chegarem no alto da montanha os místicos já estarão por lá fazendo um piquenique.
Vamos ver. Só o tempo dirá. Mas é bem provável.
(1) Escola de Frankfurt (em alemão: Frankfurter Schule) refere-se a uma escola de teoria social interdisciplinar neo-marxista, particularmente associada com o Instituto para Pesquisa Social da Universidade de Frankfurt. A escola inicialmente consistia de cientistas sociais marxistas dissidentes que acreditavam que alguns dos seguidores de Karl Marx tinham se tornado "papagaios" de uma limitada seleção de ideias de Marx, usualmente em defesa dos ortodoxos partidos comunistas. Entretanto, muitos desses teóricos experimentaram que a tradicional teoria marxista não poderia explicar adequadamente o turbulento e inesperado desenvolvimento de sociedades capitalistas no século vinte. Críticos tanto do capitalismo e do socialismo da União Soviética, as suas escritas apontaram para a possibilidade de um caminho alternativo para o desenvolvimento social.
Apesar de algumas vezes apenas espontaneamente afilhados, os teóricos da Escola de Frankfurt falaram com um paradigma comum em mente, compartilhando, portanto, os mesmos pressupostos e sendo preocupados com questões similares.
A fim de preencher as percebidas omissões do marxismo tradicional, eles solicitaram extrair de outras escolas de pensamento, por isso usaram ensaios de sociologia antipositivista, psicanálise, filosofia existencialista e outras disciplinas. As principais figuras da escola foram solicitadas a aprender e sintetizar os trabalhos de variados pensadores, como Kant, Hegel, Marx, Freud, Weber e Lukács.
Seguindo Marx, eles estavam preocupados com as condições que permitiam mudanças sociais e o estabelecimento de instituições racionais.
A sua ênfase no componente "crítico" da teoria foi derivada significativamente da sua tentativa de superar os limites do positivismo, materialismo e determinismo retornando à filosofia crítica de Kant e aos seus sucessores no idealismo alemão, principalmente a filosofia de Hegel, com sua ênfase na dialética e contradição como propriedades inerentes da realidade.
Desde a década de 1960, a teoria crítica da Escola de Frankfurt tem sido crescentemente guiada pelo trabalho de Jürgen Habermas na razão comunicativa, intersubjetividade linguística e o que Habermas chama de "discurso filosófico da modernidade".(WiKipedia)
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