por Mario Sales, FRC,SI,CRC
Um velho monge e um jovem monge estavam
andando por uma estrada quando chegaram a um rio que corria veloz. O rio não
era nem muito largo nem muito fundo, e os dois estavam prestes a atravessá-lo
quando uma bela jovem, que esperava na margem, aproximou-se deles. A moça
estava vestida com muita elegância, abanava o leque e piscava muito, sorrindo
com olhos muito grandes.
– Oh – disse ela –, a correnteza é tão
forte, a água é tão fria, e a seda do meu quimono vai se estragar se eu o
molhar. Será que vocês poderiam me carregar até o outro lado do rio?
E ela se insinuou sedutora para o lado
do monge mais jovem.
O jovem monge não gostou do
comportamento daquela moça mimada e despudorada. Achou que ela merecia uma
lição. Além do mais, monges não devem se envolver com mulheres. Então ele a
ignorou e atravessou o rio. Mas o monge mais velho deu de ombros, ergueu a moça
e a carregou nas costas até o outro lado do rio. Depois os dois monges
continuaram pela estrada.
Embora andassem em silêncio, o monge mais
novo estava furioso. Achava que o companheiro tinha cometido um erro ao ceder
aos caprichos daquela moça mimada. E, pior ainda, ao tocá-la tinha desobedecido
às regras dos monges. O jovem reclamava e vociferava mentalmente, enquanto eles
caminhavam subindo montanhas e atravessando campos. Finalmente, ele não
agüentou. Aos gritos, começou a repreender o companheiro por ter atravessado o
rio carregando a moça. Estava fora de si, com o rosto vermelho de tanta raiva.
– Ora, ora –, disse o velho monge. -
Você ainda está carregando aquela mulher? Eu já a pus no chão há uma hora.
E, dando de ombros, continuou a
caminhar.
Este conto, intitulado Trabalho Inútil, faz parte do lindo livro
de coletânea Contos Budistas, recontados por Sherab Chödzin e Alexandra Kohn, ilustrados
por Marie Cameron, editado no Brasil
pela Editora Martins Fontes, tradução de Monica Stahel, São Paulo,
2003
Existem
várias histórias sobre a importância psicológica e física de superar mágoas de
qualquer espécie, e superando-as, tirá-las de dentro de nós.
Trata-se de
um processo em tudo e por tudo terapêutico.
Perfeição
será quando nem tivermos que retirar de nós qualquer coisa indesejada, ou quando
não formos capazes de receber a energia ruim que vem de outros fora de nós ou
de dentro de nós mesmos, e atinge com força nossa mente.
Se falamos
em abandonar mágoas é porque estas mesmas mágoas já estão em nós, o que
pressupõe que, mesmo temporariamente, nos deixamos atingir por seus malefícios,
outorgamos a pensamentos íntimos produto de uma educação pregressa,
preconceitos enfim, ou a outras pessoas, a capacidade e a possibilidade de
roubar nossa serenidade.
Mesmo que a
recobremos depois, fracassamos.
Em nós ainda
existe Ego a ser ferido, orgulho a ser dissipado.
E isto não é
o ideal, mas faz parte do caminho do ser humano.
Sejamos
tolerantes conosco como com os outros a nossa volta.
Nosso tempo
de serenidade perfeita vai chegar.
Já estamos a
caminho.
Basta que
continuemos a andar, sem pressa, dentro do nosso próprio ritmo.
E o destino
luminoso será inevitavelmente alcançado.
Paciência.
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