por Mario Sales, FRC,SI,CRC
Foi lendo a Doutrina Secreta com Ir.: Flavio que me ficou
mais claro a dualidade que marca a vida dos esoteristas.
Sim, dos esoteristas, não dos místicos, pois são categorias
de seres humanos absolutamente diferentes.
Místicos são seres que buscam a dimensão divina através de
experiências pessoais e incompartilháveis, solitárias, cujo única finalidade é
a beatitude pessoal e a bem aventurança, o estado de Graça, enfim.
Já esoteristas são os intelectuais do misticismo. Muitas
vêzes, muito bons escritores, mas apenas isto. Não são necessariamente grandes
místicos ( seres da prática) mas sim pensadores (seres da teoria).
Místicos não precisam de confirmação para suas constatações
pois estas ocorrem no seu próprio organismo. Suas experiências, como o nome bem
diz, são fenômenos dos quais participam diretamente, sobre os quais não lêem
relatos, mas que fazem parte de seu cotidiano, em suas mentes e corpos.
Já o esoterista anseia por uma experiência desta natureza e
muitas das vêzes submete-se a experimentos de seriedade discutível para chegar
a usufruir de tais sensações chamadas incomuns. É notório o caso de John Dee,
talvez uma das mais fortes influências teóricas para Sir Francis Bacon,
chanceler inglês e Imperator da Ordem Rosacruz para o século XVI. Dee, homem
sábio e pesquisador sincero do hermetismo, deixou-se seduzir por um charlatão
chamado Edward Kelley, que além de ajudar a destruir sua carreira científica
causou-lhe com seus engodos grande sofrimento pessoal e afetivo, destruindo o
relacionamento de Dee com sua esposa.
Esta aparente falta de discernimento em homens de grande
conhecimento esotérico apenas confirma o fato de que teóricos são apenas isto,
enunciadores de conceitos e não mestres da prática mística.
Grandes místicos jamais escreveram coisa alguma. Foram seus
discípulos que se preocuparam em redigir com um senso de urgência, algum texto
que preservasse para as gerações vindouras os pensamentos destes homens.
Exatamente por isso, místicos não precisam de comprovação
para suas afirmações e conceitos. Eles vivem estes conceitos, eles são aquilo
que dizem e não existe conflito entre o que fazem e o que pregam. Já
esoteristas tentam fortalecer seus argumentos e afirmações com outros
argumentos e outras afirmações e , vez por outra, envolvem em suas
argumentações grupos que nada ou quase nada tem a ver com sua linha de
pensamento, leia-se aqui cientistas e vez por outra a própria prática
científica.
É por isso que Blavatsky fala tanto da
"inevitável" comprovação científica de suas afirmações, senão naquela
época, em um futuro próximo. Ou Eliphas Levy, Stanislas de Guaita e Papus, que
sendo médico, sempre ambicionou uma ponte entre ambas as linhas de pensamento,
a mágica e a ciência positivista.
Tudo se resume aos dons. O Dom da Profecia, seja através ou
não do sonho, da Leitura de Mentes, o Dom da Telecinese , da Projeção
Espiritual, e o mais importante dos Dons, o Dom da Cura.
Alguns místicos, por estarem muito próximos de fundirem-se
com o poder divino, arrastam para si gotas do Oceano de Luz e manifestam
poderes extraordinários, mas seu objetivo primordial não é este. Dons ou
Sidhis, como chamamos em hinduísmo, são efeitos colaterais do desenvolvimento
espiritual, não devem ser o foco, o objetivo primordial. A maioria dos
esoteristas, no entanto, são dominados pelo fascínio com os dons, que, a rigor,
distraem o homem de algo mais importante, a busca do Divino.
Portanto esoteristas não são, necessariamente, místicos.
Misticismo, nas palavras de Sóror Diva Ogeda, toma-se na
veia. Esoterismo, entretanto, pode ser um intenso exercício intelectual,
externo ao espírito, e por isso flerta com as coisas da matéria,inclusive a
ciência ortodoxa, o saber que trabalha não com a essência, o númeno, mas com as
manifestações exteriores desta essência, o fe-nômeno.
Há apenas um lugar aonde o númeno se funde com o fenômeno: o
próprio homem, o centro da criação, pelo menos no entender da própria vaidade
humana.
Quando um saber recorre a outro pode ser por necessidade
conceitual legítima, mas às vêzes, é por mera admissão de falta de substância e
fundamentação.
Essas referências cruzadas precisam deixar de ser apenas uma
boia de salvação para pensadores pouco rigorosos e que não conseguem permanecer
dentro de suas próprias áreas de interesse. Elas podem e devem ser diálogos
entre campos, mantidas as definições que sustentam cada um, frequentemente
desrespeitadas e gerando uma salada de explicações mal definidas que não
colaboram com o esclarecimento daqueles que as lêem.
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