por Mario Sales, FRC,SI,CRC
Talvez por estarmos quase sempre em estado não reflexivo, repetimos
sem pensar conceitos que, ou são vazios de sentido, ou tão profundos e amplos
que, se compreendidos, anulariam várias elementos da equação da existência.
Um conceito que lembra este último perfil são os chamados "Atributos
da Divindade", que, se fossem levados realmente a sério, desautorizariam
toda a lenda do Gênesis, impossibilitariam a existência de outros conceitos
como o da "Rebelião dos Anjos Caídos", ou a própria noção de um Deus
Bíblico real, e não apenas literário.
Eu explico: se eu aceitar que Deus é Todo Poderoso (o nome
já diz), não posso entender ou aceitar diálogos Bíblicos como aquele entre Deus
e Caim, após este último matar seu único irmão. Pois é dito que Deus faz a Caim
a seguinte indagação: "Caim, aonde está Abel teu irmão?" Gênesis 4:9.
Onisciência, saber todas as coisas, implica em não precisar
perguntar nada, a ninguém, quanto mais a um assassino.
Significa poder antecipar tudo o que ocorre e poder impedir
aquilo que não condiz com Sua Divina Vontade. Se não o fez, não o fez por que
não quis, pois sabia e acompanhava os acontecimentos através de Sua Mente Todo
Poderosa.
E que dizer da tentação da Serpente? Como poderia Eva ser
tentada, sem que Aquele que Tudo Sabe não acompanhasse os fatos em Sua
Onisciência, e , se o desejasse, o impedisse? Se o Ser Supremo é, como se diz
Onisciente e Onipotente, sabe tudo e pode tudo, e aquilo que ocorre não ocorre
sem sua permissão e nunca, nunca contra a Sua Toda Poderosa Vontade.
Ou Deus é Onisciente e portanto não poderia ser traído por um
grupo de Seus próprios anjos, ou não é Onisciente e tem sim, zonas mortas em Sua
dita perfeita visão.
Onipotência
Ou Ele é Onipotente e o Caos e as contradições do Universo e
da Existência são produto de Sua Santa Vontade, ou Seu Poder não é completo e
certos fenômenos tem uma insuspeita autonomia e independência , já que nesta perspectiva existiriam áreas sem lei na Criação onde forças cegas e sem propósito ditariam, caprichosamente, o ritmo dos acontecimentos.
O Olho que Tudo Vê
Essas questões dilaceram a mente dos pensadores místicos,
mas não mais a dos filósofos, que de há muito mergulharam suas atenções em uma
realidade onde o conceito de uma Divindade, seja ela qual for, foi substituído
pelo conceito de natureza, ou Natura Naturante, como gostava de dizer Baruch de
Espinoza.
Só retornei a estas insustentáveis contradições, manifestas no
desenho de Deus da mente dos religiosos, para falar da terceira grande
contradição das três descritas: a Onipresença.
Onipresença
É comum falarmos na característica de Onipresença de Deus na
Criação. Onipresença é como se sabe, estar em toda e qualquer parte, na Luz ou
na Sombra desta vastidão que chamamos nossa realidade.
Ora, se assim é, a mera suposição que a presença de Deus Todo Poderoso
está entre nós ou mesmo ao nosso lado, torna, por definição, o nosso lado ou
mesmo a nós mesmos, presenças sacralizadas pela Divina Presença.
Nada mais será comum ou mundano esteja em nossos pulmões ou nos nossos intestinos. Nenhuma praça, nenhuma rua ou viela, nenhuma poça, seja de água da chuva ou de lama, será mais ou menos santa, já que a magnífica presença
do Todo Poderoso sacralizará estes locais, estas coisas, este mundo.
Não seria possível, se considerarmos como correta ou se ao menos
aceitarmos o conceito de Onipresença, que exista algum local ou espaço não
sagrado.
Desaparece assim o chamado mundano, o profano, o terreno. Tudo, em toda
parte, torna-se imediatamente sagrado pela Divina e ostensiva presença.
Os animais, suas lutas e necessidades; os insetos, mesmo os mortais; as
serpentes e os pássaros; os vírus e as bactérias; os homens bons e os assassinos; os
chamados de boa vontade como também os de má vontade, todos estarão
automaticamente abençoados pela presença de Deus, dentro e fora deles,
bem como entre eles.
Isso é Onipresença.
Ou Deus está em toda parte, ou não está. E se está, não existem "locais
santos", mas tudo, em toda parte é santo e nossos pés sempre estarão em solo
sagrado.
Se acreditarmos nisso, retiremos nossas sandálias, também
santas. Deixemos que nossos santos pés toquem o santo solo abaixo de nós.
E sintamos-nos embevecidos com isso.
A Bem aventurança, portanto, depende de nossa compreensão do
mundo, e não do mundo em si.
Ele, o mundo chamado profano, será tão sagrado quanto
permitirmos em nossa mente, em nosso modo de olhar este mundo.
E o Deus Onipresente lá estará se olharmos a Criação com olhos de ver.
PP caro amigo Sales,
ResponderExcluirCá na minha ignorância de simples estudante R+C, fico perplexa com tantos questionamentos, e, este Texto Inspirador vai ser mais um que me fará refletir..e refletir..e refletir..Que a Divina Sabedoria Cósmica continue iluminando sua mente, seus pensamentos e ações. Um abraçãooooo, bem forte. Obrigada. Su
Brigado Su.Bjs e PP
ResponderExcluirA onipresença, a onisciência e a onipotência de D'us, não são problemas de D'us, é problema do homem (com sua velha soberba). Texto presunçoso, desligado totalmente de toda e qualquer tradição, inclusive a indiana e a cabalista. Bem típico dos enlatados ditos esotéricos.
ResponderExcluirBoa noite. O senhor Mario está corretíssimo no seu pensar. Eu acho estranho estes aspectos mundanos no ser chamado DEUS. Li tempos atrás que a divindade REAL é feminina ou matriarcal e não este patriarcal, ditatorial e sanguinário do AT o oposto de Jesus no NT. Vai entender! ..
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