Mario Sales
Quai de Tournelle com Notre Dame ao fundo
Mergulhado no
“Silencio de Deus” e aguardando seus desígnios, ouço Erick Satie e permito que
suas notas fortes e minimalistas façam em mim uma acupuntura sonora em meus
ouvidos, mobilizando minhas energias, meu Ki, meu Nous, meu Orgon.
Minha existência
depende agora das doses de Satie em minha alma, 3 x ao dia, com ou sem um
pedaço de chocolate dietético. A música de um rosacruz feita para outros Rosacruzes,
plena de intensidade e vigor chopiniano.
Quando ouço
as Gnossiennes, que estranho, é o rosto de Gurdieff que me vem à mente, não o de
Satie ou mesmo de Debussy, nosso irmão de fraternidade na comunidade de Paris
do fim do XIX, início do XX.
Ponte de Archeveche, hoje
Nessa época
também, Papus caminha, elegante, pelos boulevard, senta e toma um copo de vinho
enquanto espera a hora de se encontrar com o Marquês de Guaita.
Paris é a
capital do esoterismo, como da arte.
Consigo me
transportar para a mente deste médico peculiar enquanto contempla os
transeuntes em suas vestes exuberantes, passeando às margens do Sena, em uma
tarde de outono onde as folhas que caem já são um espetáculo à parte.
São os sons
dos cavalos que passam puxando carruagens, em um transito que nada fica a dever
ao de agora, na margem esquerda, andando a esmo pela Quai de Tournelle, Rue de
Poissy, a Pontoise e a Bernadins, até achar a ponte de La Archeveche, olhando
as barracas de livros do muro do rio, folheando alguns, algo indiferente, na
expectativa de grandes descobertas de antigos textos menosprezados por outros
menos cônscios da importância de livros preciosos pelos quais ninguém, a não
ser alguns poucos, se interessam.
Uma
caminhada pela pequena ponte, com sua elegante bengala, até a área de Notre
Dame.
Mais um
café. E a música de Chopin agora a fazer o fundo, os Noturnos.
Paris e
Suzano se fundem.
E aí eu
penso: como a imaginação é preciosa; ó meu Deus, como é preciosa.
Esse é o livro para se ter: "Martinisme Et Franc-Maconnerie" (Papus). Nele algumas lacunas são preenchidas. Há que ser cauteloso com a ideia de que toda mudança é benéfica. É preciso ser muito criterioso na revisão de textos oficiais, pois há uma máxima britânica muito antiga que, se transportada para a fala do século XX, seria algo como "de tanto fazer upgrades, o X virou Y", ou, se preferir, "de tanto reformar a casa, ela virou galpão". É preciso muito discernimento com a questão revisional de textos antigos. Afinal, revisar é mesmo necessário ou se trata de marketing para conferir aparência de algo novo e, por conseguinte, atrativo? Há mesmo algo de novo, em textos e tradições antigas, ou o 'frescor' da novidade é um fetiche cuja única finalidade é mobilizar ou entusiasmar o destinatário? É o entusiasmo fator de motivação, ainda que provocado artificialmente. Por outro lado, se tivéssemos em mãos uma edição 'revista e atualizada' do Sepher Yetzirah poderíamos mesmo denominá-lo assim? Essas são perguntas sobre as quais temos de nos debruçar vez ou outra.
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