Mario Sales
Vejo com curiosidade a expressão “falar com Deus”, figura de linguagem muito em voga entre religiosos e místicos.
Perceber esta conexão com o Altíssimo através de uma sensação psicológica de bem estar ou por uma profunda paz que nos envolva pode ser sim sinal de que conseguimos penetrar em esferas mais altas, no plano de Yetzirah, o mundo dos Anjos, pelo menos.
Nos momentos de angustia, no entanto, a percepção desta conexão com Deus passa pelos acontecimentos, pelos resultados de nossas preces, pela modificação de situações angustiantes por outras que sejam mais agradáveis.
Alguns períodos de dificuldade são mais demorados que outros e esta conexão, muitas vezes, é percebida de maneira unilateral.
Procuramos o contato com o Alto por falta de esperança ou de alternativas no mundo material, mas em vigência de problemas de ordem material, antes de qualquer sensação espiritual ou psicológica íntima, precisamos de resultados, sinais de que o nosso sofrimento está sendo mitigado, e sem querer com isso afirmar que só intervenções visíveis e claras da providência divina são as que importam, já que cada fase tem seu tempo, sua dinâmica própria, esperamos sim que com a prece algo ocorra que reflita que nossas preces foram ouvidas.
E muitas vezes, nada ocorre.
É o que eu chamo de “O Silêncio de Deus”.
Os acontecimentos se sucedem, os dias passam, e a nós, que estamos em meio a uma provação resta a paciência e a fé, já que a resposta não vem.
Que fazer nestes momentos? Continuamos a orar em busca ao menos de resignação e tolerância, ou pela inspiração do sentido daquelas situações, mas isto, diante do “Silêncio”, é às vezes, insuficiente.
Talvez sejam reflexões unicamente pessoais, talvez outros me julguem excessivamente exigente, talvez se satisfaçam com menos que isso, mas minha fantasia é de que tenho com Deus uma relação pessoal, e que sim, de um amigo como esse, se eu fizer alguma pergunta, eu espero respostas, porque o Altíssimo não é um interlocutor comum, mas sim um companheiro Onisciente, Onipotente.
Esta Shekinah, esta Divina Presença em mim, conhece o mais fundo da minha alma, e na minha concepção, me protege e suporta, me aconselha e orienta todo o tempo.
A hipótese de que a surdez espiritual seja minha não foi afastada, e em nossa insignificância diante de Deus Todo Poderoso, é a mais provável. Só que em minha limitação psicológica e mística, a impressão de que todas as minhas preces, todos os meus pleitos, entram no Ain Sof e não ecoam em respostas é forte.
É desta impressão que falo, é esta sensação, mesmo que falsa, que descrevo.
Porque não vivemos em uma realidade, mas em um contexto que consideramos real, somatório de nossa compreensão e de nossa capacidade de percepção do mundo ao nosso redor.
Esta é a minha Maya, e nela é que experimento estas inseguranças, esta dúvidas e incertezas.
E considerando todas as minhas limitações, esta Ilusão é o que eu chamo de Realidade.
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