por Mario Sales
“Perigos, infortúnios, necessidades, dores e padecimentos, isto é o que, a mais ou menos, aguarda com certeza todo homem que vem ao mundo. Cabe a ti, portanto, ò filho da calamidade, fortalecer desde cedo tua mente, com coragem e paciência, para que possas suportar com a devida resolução a parte dos males humanos que te espera.
Assim como o camelo suporta o labor, a canícula, a fome e a sede pelos desertos de areia, e não sucumbe, assim a fortaleza do homem o sustenta através de todos os perigos. O espírito nobre desdenha as adversidades da fortuna; sua grandeza de alma está em não desfalecer. Ele não deixa que sua felicidade dependa dos sorrisos da sorte e, por isso, não desanima quando lhe franze o cenho. Como a rocha na praia, ele se mantém firme, e a rebentação das ondas não o perturba. Ele ergue a cabeça como uma torre sobre a colina, e as flechas da fortuna caem a seus pés. No momento do perigo, a coragem de seu coração o sustenta e a firmeza de sua mente o mantém incólume. Ele enfrenta os males da vida como o homem que vai para uma batalha e retorna com a vitória nas mãos. Diante da pressão das desgraças, sua calma alivia seu peso e sua constância as sobrepuja. Mas o espírito pusilânime do homem timorato o atraiçoa, entregando-o a vergonha. Encolhendo-se diante da pobreza, curva-se até a mesquinhez; e, ao suportar docilmente os insultos, abre caminho à injúria. Assim como os juncos que são sacudidos pela brisa, a sombra do mal o faz tremer. Em horas de perigo ele fica embaraçado e confuso; em dias de infortúnio cai e sua Alma é arrebatada pelo desespero. ”
Do livro “à Vós Confio” lemos sobre “A Fortaleza”
Problemas
todos enfrentamos ou enfrentaremos, perseguições, constrangimentos, situações
difíceis súbitas e inesperadas.
Diante
de tal contexto, tudo nos mobiliza para buscar uma solução, uma reversão da
estranha maré de acontecimentos que nos tenha atingido.
Certas
situações, às vezes, não são de curta duração, ou de fraca intensidade.
Independente
de nossos esforços, sentimos nestas situações a perda progressiva de nossas
possibilidades de resolver nossos problemas através, apenas, de nossas próprias
habilidades.
É
aí que oramos.
Oramos
por receio da derrota, do fracasso, da dor.
Oramos
por forças para atravessar esta fase ou pela simples manutenção da serenidade
enquanto aquele drama se desenrola.
Oramos
por necessidade, portanto. E nossa fé nestas horas é testada pela intensidade
de nosso medo. Pois todos nós, que temos bom senso, sabemos que somos mortais e
frágeis e que não temos nada em torno de nós que evite que passemos pelas
mesmas atribulações que tantos antes de nós passaram.
Sabemos
que nestas horas é importante termos a Fortaleza de Espírito preconizada no
texto em epígrafe, mas somos humanos e nossa nobreza depende de nossa
capacidade de superar nosso próprio medo do qual não podemos nos separar pela
simples e banal vontade.
Ele
estará lá, à espreita, tentando sabotar nossa confiança, nossa fé.
Fé
e Medo conviverão, lado a lado, como o anjo bom e o anjo mau, cada um de um
lado, a nos sussurrar ideias, posturas, de acordo com seus pontos de vista.
Ficaremos,
sempre, como ouvintes passivos de suas mensagens, tentando não prestar atenção
a um e focar nossa atenção a outro, de acordo com a escolha que façamos. Esta
escolha, prestar atenção à esquerda ou à direita, ao Medo ou a Fé, é a essência
deste teste de serenidade que atravessaremos com ou sem sucesso, dependendo de
nossa Fortaleza e determinação.
A
vida às vezes pode ser muito difícil.
Precisamos
relaxar e crer que sempre existe uma boa razão par o que acontece e como diz a
máxima do movimento Hare – Krishna, “tudo
que Krishna faz é bom”.
A
tendência é que nos desequilibremos, que nosso espírito se desespere, mas nada,
nada é mais incorreto do que isso em momentos de grande provação. É para estes
momentos exatamente que todo nosso treinamento mental é focado. É aí que
precisamos lembrar de tudo que aprendemos sobre a necessidade do equilíbrio
interior e da paz de espírito serem independentes das coisas que ocorrem fora
de nós.
Aliás
este é o segredo: o fora e o dentro. Embora estes mundos se tangenciem em nossa
mente e, em certas situações, até se interpenetrem, são mundos diferentes e podem
ser mantidos estanques, sendo que o mundo interior serve, às vezes, como uma
cápsula de sobrevivência diante dos transtornos que acontecem em Maya, em torno
de nós.
Manter
esta separação nítida e clara ajuda a separar o Medo da Fé e a diminuir o
efeito enfraquecedor daquele sobre esta, nos ajudando a atravessar momentos difíceis
com mais serenidade.
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