Multi pertransibunt et augebitur scientia (Muitos passarão, e o conhecimento aumentará).

domingo, 17 de março de 2019

REFLEXÕES ROSACRUCIANAS



Por Mario Sales




Neste fim de semana o capítulo rosacruz de São José dos Campos promoveu um debate com o título “O Mundo que Temos e o Mundo que Queremos” iniciativa do querido Frater Bispo, referência na região de capacidade e serviço a Ordem. Quatro expositores fizeram breves falas sobre temas variados: Frater Hugo de Paulo contemplou aspectos do Aquecimento Global e das Alterações climáticas; o Frater Carlos Alberto Balo di Giacomo, atual mestre do capítulo, abordou o impacto e os problemas do trabalho humano versus a entrada no mercado da inteligência artificial, que vem progressivamente substituindo um grande número de profissionais; soror Eni Alvim de Oliveira fez considerações sobre o difícil e bem sucedido processo ainda em curso de empoderamento feminino, como se convencionou chamar; e finalmente, eu fiz uma rápida análise dos problemas metodológicos educacionais, defendendo o papel da arte, principalmente a música, como elemento fundamental para reequilibrar a qualidade do ser humano e desfazer a angustiante situação de unilateralismo do pensamento racional-materialista.




Frater Raimundo Bispo

O que achei simpático é que sem prévia concordância, todos fizeram alusão ao fato de que as conquistas tecnológicas não podem ser descartadas, mas devem, isso sim, serem enriquecidas por uma mudança nos paradigmas espirituais e psicológicos na sociedade humana, tanto na modificação da relação com o meio ambiente (Frater Hugo), como na administração do ócio causado pela automação cada vez maior (Frater Carlos) e no aperfeiçoamento do caráter colaborativo e coletivo de trabalho, característica da abordagem feminina, na produção tanto de conhecimento quanto de bens e serviços. Para tal, sugeriram a necessidade de superar as inúteis conceituações de gênero (soror Eni) e passar para uma nova fase de trabalho humano menos hierarquizado e mais compartilhado.


Houve o consenso de que o problema da melhoria das condições de vida da espécie humana só será possível quando abandonarmos as fronteiras imaginárias que até hoje separam grupos étnicos, homens e mulheres, seres humanos e outras espécies que coabitam este planeta, e assim por diante. Após o fim do debate, coordenado por Frater Bispo, comentamos acerca da falta de sentido nas fronteiras entre nações. Em um planeta tão pequeno, com tantos problemas e escassez de recursos, supor que os que compartilham esse espaço geográfico e cósmico podem se dar ao luxo de viver separadamente é absurdo.


Soror Eni e Frater Carlos Alberto


Todos, entretanto, concordaram que o momento histórico ainda não é o desejado para um governo mundial, para a aplicação da simples regra de um planeta, uma espécie, um mesmo povo.
Acrescentei que os discursos antiglobalização são descabidos porque a globalização é inevitável, e sua implantação já está em andamento. Não se trata de uma tática de dominação de uns sobre outros mas do reconhecimento de que nossos destinos estão intrinsecamente associados e que a derrota de um é a derrota de todos.


Frater Hugo de Paula à esquerda


Economicamente já é assim. Resta superar o medo para que socialmente também o seja.
Salvo, no entanto, uma intercorrência de grande magnitude, realisticamente falando, exércitos, bandeiras e bravatas e ameaças de parte a parte continuarão por mais algumas décadas.
A humanidade, no entanto, continua em transformação, queira ou não, e os conceitos retrógrados e separatistas pouco a pouco estão cada vez mais ameaçados de extinção. A internet é um dos motivos. Em poucos anos, todo o planeta tornou-se um grande conjunto de mentes compartilhando idéias, boas ou más, mas compartilhando e descobrindo de forma não intermediada as semelhanças entre os diversos povos e regiões do planeta.
A ameaça que a internet representa para governos isolacionistas ou ditatórias é tão grande que a China já fala em restringir a rede ao seu próprio território, tentando com isso evitar o contágio de liberdade que o compartilhamento digital provoca. A Rússia também anunciou a intenção de bloquear o acesso da rede a sites internacionais, com objetivos semelhantes aos chineses.
O fato é que, queiram ou não os governos, tenham ou não os países medo desta súbita descoberta de seres humanos por outros seres humanos, ela já está em marcha.
Enquanto Frater Carlos Alberto falava do inevitável desaparecimento de profissões em função da entrada da IA no mercado de trabalho, eu pensava em como deve ter sido a chagada da luz elétrica para os profissionais conhecidos como acendedores de lampiões; ou do rádio e do telégrafo para os correios, hoje inclusive restritos apenas a entrega de encomendas e não mais de cartas.
O que hoje parece assustador vem acontecendo desde o século passado. Não é novo e não vai parar.
E é natural que assim seja porque tudo evolui e muda, e a permanente mudança é, de fato, a única coisa imutável na existência.
Resta modificar os seres humanos e não as coisas em volta deles. E urge a intensificação da atenção à melhoria da sensibilidade, mudando a relação com a realidade de manual para visual e auditiva.
Precisamos contemplar mais quadros e esculturas, precisamos ouvir mais música, precisamos despertar o lado direito do cérebro, tão relegado ao segundo plano.
É importante fortalecer nosso lado subjetivo sem prejudicar o lado objetivo.
Temos e precisamos dar atenção de modo objetivo à nossa subjetividade e a Arte é o caminho. É aí, neste campo do conhecimento, que expressamos nossos desejos e sentimentos mais profundos, onde conseguimos transmitir de modo mais claro e sem a necessidade da linguagem ideias e impressões pessoais acerca das coisas e do mundo.
E tudo que aumenta nossa capacidade de comunicação interpessoal é útil no processo de reunião da espécie em um corpo único. Aliás, o fato de que a arte pictórica ou musical transcendam a linguagem e além disso, o tempo e o espaço, já que a grande arte é eterna e transnacional, fazem dessa opção de comunicação entre o homem atual e o próximo homem, aquele ser humano que queremos, mais solidário, mais altruísta, mais empático a ponto de ser capaz de se colocar no lugar de seu interlocutor e compreendê-lo de modo mais profundo.
É esse talvez o horizonte que nesse debate deixamos implícito.
A mudança, como eu disse, já começou.

2 comentários:

  1. Moro em Jambeiro, uma cidade pequena de cinco mil habitantes que fica cerca de 40 km perto de São José dos Campos, gostaria muito de ter ido até o capítulo neste dia para assistir o debate e cumprimentar a todos os palestrantes, pena que não foi possível.
    Até...

    ResponderExcluir
  2. Me preocupo principalmente com os jovens ( meus alunos) que tem o mundo nas mãos, e não conseguem se relacionar. Não querem aprender. Não querem se conhecer

    ResponderExcluir