Aniax Klebstsvs
Junho de 2008
Bernardo: Como tem passado amigo?Comenius: Bem, e você?
Bernardo: Preocupado, confesso.
Comenius: E o que o preocupa?
Bernardo: O número cada vez maior de frateres e sorores que manifestam sem pudor suas superstições no ambiente da Ordem. Nada contra aqueles que não puderam superar estas limitações da mente, mas, pelo menos, deveriam resguardar-se de expor tamanha fragilidade em público. E como nossos três mais importantes princípios são tolerância, tolerância e tolerância, toleramos, mesmo com o risco de sermos condescendentes e até coniventes com tais coisas.
Comenius: Posso externar minha posição?
Bernardo: Diga, você sabe como respeito seu pensamento.
Comenius: Superstições num ambiente rosacruciano devem ser entendidas como grave falha de caráter místico que necessitam de intervenção firme, não pela espada, mas pela pena e pela língua. Não se deve nem se pode ser indulgente com tais coisas sob o risco de que aquele que chegue aos nossos portais, desavisado, entenderem que por que toleramos a superstição em nosso meio, compactuamos com ela, e a endossamos.
Bernardo: Você como sempre me comove com seu zelo, com o qual compartilho. Não é a reputação da Ordem, entretanto, que me preocupa.
Comenius: Nem a mim. Mas se somos uma instituição cuja finalidade na terra é oferecer um portal e uma senda àqueles que desejam trilhar com segurança o caminho em busca da iluminação, devemos zelar pela integridade mental dos que nos procuram, aqueles que chamamos de neófitos, para que encontrem sempre um ambiente propício ao crescimento espiritual.
Bernardo: Entendo.
Comenius: Penso que a médio e longo prazo, o risco de contaminação de nossas fileiras por este tipo de perspectiva deformada do misticismo, infelizmente muito comum, é imenso.
Bernardo: Talvez para tratar deste assunto, fosse adequado organizarmos uma espécie de seminário itinerante entre as diversas comunidades, pronaoi, capítulos e lojas que a Ordem tem na nossa região.
Comenius: Conte comigo.
Bernardo: Voltaremos a conversar sobre isto, semana que vem. O que acha?
Comenius: Concordo. Trarei algum material para discutirmos.
Bernardo: Muito bem.
Uma semana mais tarde, Bernardo e Comenius encontram-se no mesmo café em que sempre conversam. Comenius traz consigo um calhamaço de papéis. O vento é forte e por pouco, partes do manuscrito não voam de suas mãos.
Comenius: Trouxe o que lhe prometi.
Bernardo: Vamos lá. Mostre-me.
Comenius: É um texto intitulado “Superstição”. Tome, leia você mesmo.
Bernardo pega os papéis e começa a estudá-los.
Superstição
Crença ou noção sem base na razão ou no conhecimento que leva a criar falsas obrigações, a temer coisas inócuas, a depositar confiança em coisas absurdas, sem nenhuma relação racional entre os fatos e as supostas causas a eles associadas; crendice, misticismo.
(Dicionário Houaiss da Língua portuguesa ,pág. 2642 , 2001, 1ª edição)
“Guran: -Fantasma , você não deve ir nesta missão, é muito perigoso. E se você insistir , eu lanço um feitiço em você ”
"Fantasma - (Rindo): - Ora Guran, deixe de bobagem. Eu sou um bruxo. Eu não acredito em bruxaria.”
(Diálogo entre o Fantasma, o Espírito que Anda, e seu fiel amigo Guran, feiticeiro da tribo Bandar, dois personagens de uma famosa história em quadrinhos.)
A superstição, ou crença em poderes sobrenaturais de objetos ou coisas, ou números, ou mesmo em sacrifícios religiosos, sempre foi associada às camadas mais pobres da raça humana. Países onde a miséria e a desorganização social aparecem em destaque são, tradicionalmente, o berço de culturas extremamente supersticiosas, com é exemplo do Haiti, das Antilhas Holandesas, ou países da África Central como Nigéria, Zâmbia, ou mesmo tribos isoladas como ilhas da Polinésia, etc.
Embora não se possa negar a existência de uma socio-antropologia da superstição, relação estreita entre miséria espiritual e material, esta não é nem nunca foi prerrogativa de países pobres.
Encontramos cultos baseados em poderes dos objetos e no medo desses poderes em todos os países da face da Terra, tanto nos países nórdicos (com a revitalização do culto dos druidas) quanto na Europa e EUA (com o advento do culto Wicca)
As crendices não são apenas produto da pobreza, mas sim da ignorância, que induz ao medo infundado de maldições ou efeitos pirotécnicos de rituais os mais obscuros.
A história da superstição é antiga. Há relatos na Bíblia da adoração de estátuas de deuses, como o bezerro de ouro destruído por Moisés, ou o sacrifício de animais (cordeiros) na intenção de agradar o Deus de Israel, no Velho Testamento.
Infelizmente, por uma imprecisão semântica, nas definições de dicionário , como vimos na epígrafe deste texto, relaciona-se o termo misticismo com esta prática , deixando claro que, na mente das pessoas racionais, todas as práticas supersticiosas são práticas místicas, ou pior, ao contrário, todas as práticas místicas são supersticiosas.
Ora , misticismo é apenas a expressão da religiosidade no homem, para além da religião.
A necessidade da expressão de uma religiosidade ou da vivência de algo transcendental está em todos os seres vivos.
Mesmo aqueles que se recusam a crer na existência de um Ser Supremo, Todo Poderoso, inundados por um intelecto rígido, acabam manifestando esta busca do transcendental na filosofia.
Por isso, ter, de alguma forma, a necessidade do religioso, não implica em superstição, obrigatoriamente.
A Ordem Rosacruz e outras Ordens místicas lidam com esta dicotomia. Parte importante do seu trabalho é esclarecer a distinção entre superstição e conhecimento, entre o ocultismo e o oculto, entre mistificação e misticismo. O exemplo mais simples é o do Mago e seu cajado: a diferença entre o mago verdadeiro e o aprendiz de feiticeiro, é que o primeiro sabe que seu poder não vem de seu cajado, mas dele mesmo, ou de outra forma, que seu poder não está na varinha de condão, mas em si mesmo.
Estas distinções simples, claras, ilustram o trabalho árduo que é a luta contra a superstição dentro do meio místico.
O processo alquímico de transformar uma pessoa comum em um místico, e depois o místico em Mago, demoram mais de uma vida e é uma chave de poder difícil de ser conseguida.
Não é uma coisa simples. A noção de simplicidade em si é um conceito perigoso. Simplicidade não quer dizer, na maioria das vezes, evolução, mas sim mediocridade espiritual.
A alma “simples” dá mais valor aos símbolos do que aquilo que eles simbolizam. Por isso confunde a vela, objeto sem vida e feito de cera, com a luz que ela representa.
A única forma de desfazer este equívoco é pela educação cuidadosa, progressiva, tanto no aspecto místico como mundano. O ser humano só se enriquece com o conhecimento, ainda mais se atrela a este conhecimento a sensibilidade artística, porque, como todos podem compreender, a arte, principalmente a música, é o caminho mais direto para a percepção do Eterno.
Psíquico, Psicológico e Psicanalítico
Freud ,na psicanálise , falava em decifrar a “gramática do inconsciente.”
Achamos que fazemos certas coisas por que queremos, ou que somos como somos apenas por que somos. Segundo aquele médico austríaco, na verdade, nossa educação familiar, o relacionamento com nossos pais e pessoas de convívio doméstico, os traumas de infância associados, moldam em nós as bases de nosso comportamento social.
Aquilo que achamos que é decisão livre e pessoal, na verdade, muitas vezes, é conseqüência da educação e de programações inconscientes de nossa mente que nos fazem reproduzir comportamentos de outras pessoas (pais e mães) como se fossem nossos.
A única forma de quebrar esse círculo vicioso é o conhecimento científico, a auto-análise ou a análise com auxílio profissional e a cultura intelectual. À medida que vamos estudando a psicologia comportamental e entendendo os mecanismos que nos fazem ser do jeito que somos , tornamos-nos capazes de isolar os componentes de nossa personalidade e administrá-los melhor. Não há nada de errado em parecer com seu pai ou com sua mãe. O problema é reproduzirmos comportamentos sem critério de distinção entre aquilo que é fundamentado na nossa reflexão e o que é apenas produto de hábitos de compreensão adquiridos. Assim, com o auxílio do conhecimento psicológico, começa a desconstrução de nossa personalidade e o estudo de seus componentes: qual parte de nós reflete a influência de nossa mãe, qual reflete a influência de nosso pai, qual reflete a influência da convivência com nossos avós, qual parte vem de nosso ambiente sócio econômico cultural, etc.
A importância deste processo está em não repetir sofrimentos inconscientemente. Algumas estatísticas mostram que filhos de pais separados tendem a ter mais dificuldade em estabelecer relações matrimoniais estáveis bem como filhos de pais alcoólatras, ou tendem a ser alcoólatras ou a casar com alcoólatras, reproduzindo o ambiente doméstico em que cresceram. Assim, prevenidos pela educação e auto-análise podemos evitar repetir situações como conseqüência de simples programações que, devidamente esclarecidas podem ser deletadas de nossa personalidade.
O Terror do Umbral
Pela educação a posteriori poderemos recusar este ou aquele condicionamento, mas nunca estaremos totalmente purificados de todas as influências que recebemos na infância, e nem é bom que assim seja pois são essas influências que nos fazem ser o que somos, que nos tornam aquilo que seremos como cidadãos, estudantes, etc. Precisamos nos livrar, isto sim, da parte ruim desta educação e deste condicionamento, aquela que nos induz a crer em coisas absurdas e no poder de objetos mortos, ou mesmo temer certas circunstâncias apenas porque para isto fomos treinados.
A parte mais importante da transformação do HOMEM COMUM em um MAGO, é a depuração alquímica de sua personalidade mundana e a parte mais importante desta depuração é a auto-análise, a busca de motivos ocultos na memória do subconsciente.
Não é um trabalho fácil. Um psicólogo profissional pode ajudar e muito.
Afinal de contas, não vamos identificar apenas memórias intelectuais, mas, principalmente, memórias emocionais.
Estas estarão misturadas dentro de nós e desfazer este emaranhado exige paciência, humildade , tempo e qualificação.
Sem este esforço, infelizmente, a verdadeira senda mística será praticamente impossível de ser percorrida.
Na cabeça do buscador tantos serão os conflitos, as dúvidas, os medos, que ele não terá energia psicológica suficiente para empreender a jornada.
Jamais passará da primeira iniciação pois não poderá vencer o “Terror do umbral”.
Terror , esta é a chave.
O Medo , este é o grande inimigo da luz.
É o medo que o faz invocar, em cerimônias bizarras, forças ocultas que o ajudem a combater as ameaças para ele assustadoras as quais distingue a sua volta, sem que ele perceba que é exatamente o mesmo medo que provoca essas alucinações assustadoras em sua mente, tornando sua vida um verdadeiro inferno de ansiedade e inquietação.
O psicólogo falará dos medos da infância, não superados: o medo da solidão no berço, o medo da escuridão, o medo da dor inexplicada.
A vida para o indivíduo que não teve um desenvolvimento psicológico completo, é sempre assustadora.
Esta imaturidade psicológica é base para a superstição.
Para o supersticioso, por exemplo, o ritual místico não é um drama iniciático, como uma peça de teatro montada para criar um certo estado na alma daquele que a assiste.
O ritual místico não é um meio para um fim.
É o próprio fim em si.
Repetindo a imagem: a vela é mais importante do que a luz que ela representa.
Os paradoxos da Superstição
Por isso ele coleciona amuletos, cristais, pequenas estatuetas, achando que o acúmulo desses objetos é muito mais importante para ter poder do que melhorar a si mesmo.
Por outro lado, a superstição encerra um sinal de intenso orgulho e soberba, pois faz com que o supersticioso suponha que, de posse dos objetos certos, ele pode comandar a criação a sua volta, ou seja, o supersticioso quer controlar a divindade e toda a criação, tornar-se mais poderoso que Deus.
É comum ver-se tribos da Nigéria invocando espíritos contra seus desafetos, numa espécie de convocação de guarda costas do astral que por sua ordem irão realizar algum desejo seu. Esta crença está representada na história de Aladim e a lâmpada mágica, uma versão árabe dos cultos africanos.
Em ambas as situações, invoca-se um ser, escravizado por algum poder àquele que o conjura, para que ele faça pelo conjurador aquilo que ele acha que não pode fazer.
E, feito o encantamento, supõe o supersticioso que o ser fantasmagórico, rápida e eficientemente, vai realizar o seu desejo.
Esta é outra característica do supersticioso.
Ele crê que espíritos os quais ele é capaz de comandar, inferiores a ele, portanto, sejam capazes de fazer por ele aquilo que ele não conseguiu ou acha que não pode fazer.
Claro que estes paradoxos, que não resistem análise mais simples, não são considerados pelos supersticiosos.
Suas crenças estão tão arraigadas que dificilmente, sairão para a luz do conhecimento com facilidade.
Superstições são os verdadeiros vampiros: vivem na escuridão de nossos receios, sugam nossa energia, se alimentam de nosso medo e, quando expostas ao sol da verdade, se desfazem como pó.
Místicos e mistificadores
E para isto o esforço não é muito grande já que basta o domínio da palavra e alguns truques teatrais para sugestionar uma massa imensa de pessoas.
Hitler fazia isto. Outros atualmente também o fazem.
O líder místico verdadeiro também tem habilidade em encantar as pessoas com seu magnetismo pessoal.
Nada o difere do charlatão a não ser suas intenções, em seu coração as quais não podem ser contempladas.
O critério do homem comum, incapaz de uma distinção mais sutil entre um e outro, é o critério financeiro. Alguns acham que o místico verdadeiro jamais manipulará quaisquer bens materiais e muitos místicos têm um cuidado especial com este aspecto, sabendo do preconceito contra a matéria que a Igreja implantou na mente de todas as pessoas ao longo dos séculos, transformando paradoxalmente a miséria material no único sinal de dignidade de um ser humano.
Por causa disto, místicos que não se apresentam em farrapos e que não vivem em pobreza e penúria, enfrentam muita desconfiança das pessoas comuns.
É, portanto, um trabalho muito difícil separar o místico do mistificador.
O estranho é que sempre que um charlatão como Simão, o mágico da Bíblia, que pensou poder comprar com moedas os segredos místicos dos apóstolos, no Pentecostes, aparecer apregoando que tem um conhecimento poderoso e que o venderá para quem quiser pagar uma alta soma por ele, haverá alguém disposto a comprar.
Era assim naqueles tempos e é assim ainda hoje.
As pessoas são realmente muito estranhas.
A psicoterapia, com a análise das noções de valor e das correlações e preconceitos que temos quanto a esta ou aquela categoria de comportamento, seria útil em nos prevenir sobre erros de julgamento que podemos cometer ao seguir padrões do tipo “o pobre é bom e o rico é mau”, ou do tipo “pessoas ignorantes são mais dignas por serem “simples”, do que aquelas que tem grande conhecimento intelectual”, as quais, por serem cultas, inspiram desconfiança.
O Processo Iniciático como alternativa
Antes das pessoas analisarem a si mesmas em busca do aumento de seu autoconhecimento existia a religião e a educação do caráter, forjadores de espíritos sólidos e estruturas morais equilibradas. Falo da religião e da educação daquela época. Era um outro mundo. Não podem haver comparações. O que podemos dizer é que dentro daquelas limitações de época, religião e educação do caráter, seja na família ou na escola, eram os únicos recursos de formação de uma personalidade temente a Deus e devotada ao serviço da humanidade. Na época era considerado suficiente.
Tudo, no entanto, é muito relativo. Com certeza antigamente os homens não eram melhores do que hoje.
Toda esta educação de religião e fé não impediram práticas sociais abomináveis como a escravidão dos negros, considerada natural até dois séculos atrás; e o machismo, que reservava a mulher um papel secundário na sociedade.
Da mesma forma o rigor do caráter não impedia a hipocrisia da época em relação a moral e a sexualidade, ou a ingenuidade acerca de noções rígidas do que é bem e do é mal.
Sim, havia mais caráter e religião, aparentemente, mas era um mundo, não só física, mas psicologicamente, mais primitivo e ingênuo do que aquele que hoje conhecemos.
Só um conhecimento existia na época e que ainda existe hoje, claro , de modo aperfeiçoado, que poderia ser usado para elevar o nível de consciência das pessoas, homens ou mulheres, pobres ou nobres: o processo iniciático.
As iniciações, com seu apelo ao emocional, com sua provocação de transformações íntimas, através de símbolos e rituais, lembram o processo psicoterápico, na sua característica mais importante: ir mais fundo do que a linguagem e do que o intelecto na natureza do ser.
Se a psicoterapia, com seus métodos de busca interior, pode ser entendida como um tipo de processo iniciático profano, o processo iniciático, por sua vez, têm funcionado todos esses séculos como uma psicoterapia esotérica.
O stress emocional é um fixador de conhecimento, é o cimento entre um e outro conceito. Conceitos meramente intelectuais não são sólidos até ter entre eles a liga da emoção, do significado humano daquela informação.
Seja este stress emocional a necessidade de responder a um desafio acadêmico, seja o fato deste conhecimento significar a nossa sobrevivência, o fato é que todo conhecimento revestido de emoção se consolida em nós, passa a fazer parte de nós.
As iniciações usam este conceito. Pelo drama teatral iniciático, o indivíduo é levado, pela via emocional, a perceber valores que o intelecto não poderia lhe transmitir. E pela beleza da iniciação, pela sua riqueza cênica, ele fixa com mais intensidade estes valores ali apreendidos.
Tudo que é dito pela arte, pela emoção, cala mais fundo
dentro de nós. Infelizmente, a superstição também é assim.
Ela nasce exatamente no local onde estamos mais frágeis e mais sujeitos à influência psicológica, mais vulneráveis, numa palavra, à sugestionabilidade: a nossa família, a nossa cultura de berço, a cidade onde nascemos.
Quando perseveramos uma superstição, damos continuidade a um tipo de comportamento que entrou em nós antes que tivéssemos instrumentos críticos para dizer não aquilo que não nos parece correto, do ponto de vista científico ou do ponto de vista do simples bom senso.
Por que quando somos crianças, todos os acontecimentos são iniciáticos, tudo nos marca como experiências emocionais, e aprendemos pelo coração e não pelo cérebro, tal qual deve ser na infância e tal qual deve ser no processo de iniciação.
A marca que fica em nós é difícil de tirar, como a hera que entra pelo muro, e do qual só sai se o quebrarmos e derrubarmos.
Misticismo x Superstição
Assim antes de místicos, somos seres humanos, fomos crianças, ouvimos histórias de nossas mães e pais e avós, e mesmo com uma formação educacional sólida, estas informações estão arraigadas em nós e é muito, muito difícil arrancá-las de nosso coração.
Por isso somos presas fáceis desse tipo de comportamento, e não fosse pela educação, seríamos também prisioneiros de enganadores de toda espécie.
Não haveria charlatães se não houvesse supersticiosos sedentos para serem iludidos.
A construção de uma mente equilibrada é difícil e exige tempo, mas com certeza o resultado final é um tesouro impossível de ser comprado ou vendido.
É preciso, para levar a termo este empreendimento, superar não só nossa ignorância, mas também sacrificar algum tipo de conhecimento que tenhamos em nós, não como uma reeducação, mas como uma deseducação, um descondicionamento de programas instalados em nós quando não tínhamos antivírus em nosso disco rígido mental.
Cada mente que consegue superar os limites da superstição obtém uma vitória tão importante em termos evolutivos quanto solitária. Ninguém, neste ou em outro mundo, pode viver por nós ou realizar nada por nós .
A maturidade ensina que tudo que nos acontece, resulta de nossa responsabilidade e de nossas escolhas.
Atalhos sempre nos serão propostos e estamos livres para tentar ir por eles, mas a vantagem desta estrada verdadeira é segui-la, até o fim, aprendendo com cada centímetro percorrido.
Saltar etapas, ou supor que isto seja possível, através de amuletos ou pactos com seres invisíveis, só nos atrasará mais e mais e aumentará o tempo do percurso.
Transformar-se em um Verdadeiro Mago depende diretamente de maturidade emocional e psicológica e de saber, como diz o personagem dos quadrinhos, o Fantasma , o Espírito que Anda , que um bruxo verdadeiro não pode acreditar em bruxaria.
Então , como podemos finalmente conceituar a diferença básica entre misticismo verdadeiro,como praticado em várias escolas de mistério e a charlatanice pura e simples, supersticiosa, que encontramos todos os dias?
São, de alguma forma, as técnicas místicas, supersticiosas ?
Essa excelente e oportuna questão é fundamental.
A diferença básica entre uma técnica mística e a superstição é a mesma entre a superstição e o conhecimento científico. O que torna científico um conhecimento é o fato de ele atender duas características:
1.Reprodutibilidade : as técnicas místicas devem ser reproduzíveis por tantos quantos tentem fazê-lo, desde que sejam dadas as condições necessárias para isso.
2.Verificabilidade : Uma técnica mística deve ser testada quanto à sua autenticidade. Nenhuma técnica mística deve deixar de ser verificada quanto a sua propalada eficácia por quem quer que a use. Ela não deve depender de fé, mas de confiança resultante de resultados alcançados de forma consistente e repetitiva.
Toda técnica mística rosacruciana é reprodutível e verificável, não dependendo do humor ou da fé, sendo por isso capaz de demonstrar sua eficiência por si mesma, sempre que for necessário. Aliás, um pressuposto de qualquer teoria ou postulado que se diga científico: defender-se sozinho da análise crítica daqueles que a examinem, resistindo incólume a essas análises, ou não, mas apenas por seus méritos internos.
É desse modo que os Rosacruzes são alimentados com um conhecimento sólido, através das monografias que recebem, fundamentadas na Tradição Rosacruz, o qual os ajudará a mudar a qualidade de suas vidas.
As monografias nos trazem dois tipos de informações: aquelas de natureza educacional, que aprimoram nossa sensibilidade e cultura, e aquelas de natureza técnica, que nos dão instrumentos para proceder a uma existência mais rica e digna, do ponto de vista humano e material.
Sem a perspectiva educacional, nossa rigidez mental e nossas crenças não aceitariam as técnicas propostas, considerando-as banais e inverossímeis, mas uma vez que seja adequadamente flexibilizado pelo desenvolvimento da sensibilidade, o espírito se mostra mais apto a experimentar o novo e recusar o antigo, que em hipótese alguma é melhor apenas por ser antigo.
Esta é a mais importante função da educação rosacruciana.
E se a psicoterapia puder ajudar neste processo educacional, não devemos recusá-la, como não devemos em sã consciência recusar qualquer recurso que nos ajude a melhorar nosso autoconhecimento.
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Bernardo: Belíssimo.
Comenius: Você gostou mesmo? Acha que podemos iniciar um seminário discutindo este texto?
Bernardo: O texto é maravilhoso, abrangente e didático, com o tudo que você elabora.
Comenius: Fico muito feliz que você tenha gostado. Sua opinião é muito importante para mim.
Bernardo: Então vamos em frente. Vou distribuir um aviso à comunidade e você apresentará sistematicamente este trabalho, seguido de um debate acerca do assunto.
Comenius: Perfeito. Estou a sua disposição.
Bernardo: Não poderia ser de outro modo. Ao lutar contra crendices e aberrações comportamentais, não lutamos só pelo conhecimento, mas pela qualidade dos quadros de nossa Ordem. Afinal de contas, nós não somos importantes, apenas a Ordem importa. Nós somos passageiros, mas a Ordem é eterna.
Comenius: A Ordem é eterna.
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