Comenius: Sabe, meu bom amigo, o mais difícil para o místico, que antes de místico é um ser humano, é conviver com o mal do mundo.
Bernardo: Para todas as pessoas isto causa desconforto, sejamos ou não estudantes de misticismo.
Comenius: É difícil entender que em um Universo regido por Deus estas coisas tenham lugar, e daí tantos eruditos tenham tentado dar uma explicação plausível para a existência deste lado, no mínimo difícil, da existência.
Bernardo: Mas é disto que estamos falando. Do outro lado da criação, da inevitável segunda coluna.
Comenius: Explique.
Bernardo: A criação é dual em essência e trina em manifestação, lembra?
Comenius: Como não.
Bernardo: Portanto, o outro lado, o lado oposto, complementar, é inevitável, e aliás, estratégico.
Comenius: Em que sentido? O mal, no seu ponto de vista, não só é inevitável como necessário?
Bernardo: Sim.
Comenius: Meu Deus, Bernardo, eu vou ter que digerir isto com mais calma.
Bernardo: Não há nada de indigesto nisto. Eu volto ao tema sobre o qual você mesmo discorria.
Comenius: Qual tema?
Bernardo: Da excessiva moralização dos aspectos espirituais. E se a existência fosse como é apenas por uma intercorrência física do mergulho, e não uma conseqüência de uma causa moral? Lembra quando você falava sobre a individualidade e a totalidade?
Comenius: Sim, lembro.
Bernardo: Eu argumentava que o que me incomodava era a construção de uma individualidade e de uma ilusão de separação para depois destruí-la, em busca da identificação com o Absoluto. E você contra-argumentou que não lhe parecia que estivéssemos construindo uma ilusão. Você achava que não poderíamos dar conta deste mergulho nesta densidade sem esta sensação de individualidade. E que você acreditava que tudo não passasse de um fenômeno meramente físico.
Comenius: Sim, foi isso.
Bernardo: Agora eu uso o mesmo raciocínio para falar do que se costuma chamar de “O Mal”. O fato de termos situações ruins e desagradáveis na existência faz parte de uma conspiração de um anjo mau, chamado de Diabo, ou é conseqüência da dualidade inerente à manifestação neste plano mais denso, no qual a característica é a formação de pólos que permitem o dinamismo do fluxo da Vida?
Um único pólo, uma única coluna, seria o mesmo que a morte. Com dois pontos de referência, apenas dois, tudo se movimenta. O contraste cria a perspectiva, a noção de tridimensionalidade, de profundidade. E precisamos de ambos os aspectos, a figura e o fundo. Veja Comenius, precisamos disto.
Comenius: Você não crê que exista o Mal?
Bernardo: Creio que exista o erro Cartesiano e que ele traga reações kármicas, nada mais. Nada disso é mal ou bom, apenas confortável ou desconfortável do ponto de vista psicológico ou físico. As dores, o sofrimento, são os nomes, para ser eufêmico, de experiências extremamente desconfortáveis.
Comenius: A Dor é real para quem a sente.
Bernardo: Com certeza. Isto não quer dizer que Deus a tenha elaborado visando o sofrimento humano.
Lembrando o mergulhador escafandrista, a roupa faz com que o indivíduo dentro dela tenha grande desconforto e dificuldade de locomoção ao se deslocar pelo oceano, mas isto é decorrente de um problema de desenho e não de maldade dos projetistas. Afinal o escafandro tinha a finalidade de proteger o mergulhador da enorme pressão do fundo do oceano,
Comenius: Então a existência de problemas e sofrimentos é apenas uma questão de projeto e circunstancialidades operacionais da criação?
Bernardo: Veja, como você explicaria anos atrás o que estou dizendo agora? Você falaria em problemas da dinâmica de funcionamento do Cosmos ou contaria uma história sobre legiões rebeldes criadas por um ser Perfeito e Onisciente, o que em si já é uma contradição? Estes relatos não resistem ao menor ataque lógico, mas foram úteis, didaticamente, em criar uma tradição espiritual, naquele contexto histórico. Hoje em dia, no entanto, não se sustentam nas próprias pernas e nós, místicos e exegetas, temos ainda que ficar interpretando estas histórias de Mal versus Bem, como se um e outro lado do Universo não fossem, veja bem, absolutamente necessários um ao outro para que a própria criação existisse. Se um dos lados for aniquilado, veja bem, qualquer dos dois, seria o Caos reinstalado, como no princípio, sem distinção, sem contraste , sem troca e movimento entre os pólos.
Comenius: Então não é o objetivo do Bem destruir o Mal?
Bernardo: Na minha opinião, não, Comenius. O que buscamos não é aniquilar o Mal, ou aquilo que chamamos “O Mal”, mas sim harmonizar as duas colunas que nos sustentam, em nós. Uma harmonia dinâmica, mas que não prescinde de nenhum dos dois lados da balança.
Comenius: O Bem não pode destruir o Mal?
Bernardo: Não poderia nem existir sem ele, se é que podemos colocar assim. Pelo menos não na manifestação material. Como o que chamamos Mal também não pode existir sem o Bem. Ambas são realidades independentes e antagônicas, mas, repito, complementares, partes da mesma realidade, como o elétron e o próton que criam a nuvem que costumamos chamar de átomo e que considerávamos, em passado recente, a menor parte da matéria. Por isso eu prefiro as clavículas de Fu-Hi como símbolo do universo do que os símbolos ocidentais estáticos.
Neste maravilhoso símbolo não existe este conflito permanente que permeia a mitologia religiosa ocidental mas o dinamismo e o equilíbrio que não despreza nenhum dos lados e que , até os integra numa única realidade.
Olhe para a Vida: ela existe por causa de seus contrastes, ao contrário do senso comum de que os contrastes são um problema a descaracterizar a existência. Não: toda a existência é dual em essência , diz o axioma, ou seja, é assim que foi imaginada e posta para funcionar. Não é um defeito, é a sua própria forma de ser.
O Homem comum não convive em harmonia com os dois lados. Por isso, sofre. Quer a vida mas não quer sentir dor. Quer a comida, mas não quer plantar ou semear a Terra.
Só que o contraste é inerente à existência.
Embora pareça que o mundo vive um momento único de avanço e civilização, os milhões de famintos e miseráveis nos mostram que não é assim.
Os contrastes permanecem e nunca, veja, nunca deixarão de existir pois é deste estofo que é feita a Criação.
Não é um defeito. É assim que ela é. O que nos obriga a fazer a síntese em nós, o equilíbrio entre os dois aspectos, em nós.
Somos um único indivíduo, embora sejam duas as nossas pernas.
Comenius: Sim, é verdade.
Bernardo: O que nos causa sofrimento é o nosso apego aos valores filosóficos que aprendemos desde criança, os quais nos dizem que devemos ser “apenas” certos, “apenas” dignos e nobres, quando na verdade, somos humanos, duais, falhos, e por causa disto, com muita freqüência, errarmos.
Pensemos criticamente o Bem através do exemplo do sacrifício físico.
O que pensar da bondade e generosidade permanentes que nos leva ao sacrifício, como demonstração de superioridade espiritual?
O que sacrificamos? O corpo, vítima constante de nossas crenças. Eu pergunto: destruir a vida do corpo apenas para demonstrar a fé no espírito é prova de santidade ou de desrespeito a Vida em si, este bem tão precioso, que Deus, em sua sabedoria, dotou de um mecanismo de autopreservação?
Comenius: Mas Bernardo, o sacrifício do santo nada tem a ver com suicídio ou baixa auto estima, ele está ligado a fé.
Bernardo: Que fé é esta que considera descartável o segundo bem mais precioso de nossa existência?
Comenius: Dar a vida por um amigo não lhe parece prova de altruísmo?
Bernardo: Sim, por alguém sim, com certeza, mas fazer isto por uma crença lhe parece adequado? Demonstra superioridade ou uma baixa auto estima?
São posturas.
Comenius: E o que me diz do sacrifício do Cristo?
Bernardo: Este foi um acontecimento triste e vergonhoso, de barbárie e ignorância, e que por isso mesmo, não pode se tornar um modelo de comportamento para aqueles que buscam a santidade como se para se ser santo, verdadeiramente, todos precisassem ser martirizados. O que aliás foi o que aconteceu. O martírio, a auto imolação, foi instaurada , não pelo Cristo, mas pelos Doutores da Igreja, num modus operandi para a santidade. Tornou-se um modelo para todos os seguidores, aprender a morrer. Esta é apenas a parte mais fácil do problema. Eu pergunto, o que é mais importante: aprender a Morrer ou aprender a Viver?
O Cristo foi reproduzido em seu momento de maior sofrimento, ensangüentado e agonizante, na cruz, em toda a parte, numa verdadeira propaganda do sofrimento. Só recentemente, entretanto, vi figuras religiosas que o colocavam à saída de seu túmulo, íntegro, vitorioso sobre a morte, ressurecto. Este momento de vitória sim deveria ser objeto de ênfase, não o outro.
Nenhum educador, nenhum avatar, vem ao mundo para ensinar apenas um dos lados da equação. É nossa deficiência de compreensão que nos leva a valorizar apenas um lado, a Morte e não o outro, a Vida.
Talvez a culpa não esteja no exemplo Cristão, que nem é original, e que repete o modelo Socrático, 400 anos antes, na Grécia.
Veja, quando Sócrates foi condenado, teve chance de escapar e permaneceu na prisão, porque acreditava ser o certo, mesmo que não concordasse com o veredicto.
Já Aristóteles, quando preso, também teve a chance de escapar e o que fez? Escapou, dizendo que não permitiria que se matasse o filósofo duas vezes. Um valorizou sua vida, o outro desprezou-a, não por um amigo ou para salvar outra vida, mas porque não deu valor maior a sua existência do que às normas de uma sociedade tacanha e conservadora que o condenara. Pergunto? Que sentido faz tal comportamento?
Comenius: O ponto é que esses homens levavam tão a sério suas palavras que morrem e morreram por elas.
Bernardo: Esta é uma forma de pensar. Outra é compreender que, para eles, a vida material sempre foi desagradável, triste, melancólica, sem qualquer atrativo.
Portanto, para quem, como Sócrates, viveu sonhando com o mundo das causas primeiras, este mundo de cópias e simulacros nada tinha a oferecer. Para quem está triste em qualquer lugar, a morte pode ser muito atraente. Não é apego à matéria respeitar a vida: é apenas prova de equilíbrio.
Comenius: É um ponto de vista.
Bernardo: Aliás que foi combatido pela Igreja, de forma a validar todos os privilégios de seus sacerdotes ao longo da idade média independente de toda a miséria do mundo.
Nós, seres humanos, somos pródigos em explicações e mestres em justificações, não em fatos. Esta é nossa maldição.
O sacrifício como norma de vida, o desprezo pela vida material, o nojo do corpo, acusado de ser a fonte do mal, são apenas as conseqüências históricas de uma educação sinistra que pregou estes valores por séculos, escudada no discurso religioso, e convenceu milhares de mentes fracas e indefesas de sua veracidade.
Tudo, no fim, resume-se a isto: as mentes mais fortes dominam as mentes mais fracas pela palavra, a verdadeira magia revelada.
A voz que sai de nossa boca, se bem modulada, arrasta multidões, convence milhares de homens e mulheres.
E assim foi.
Muito bem elaborado pelos princípios da lógica, os textos daqueles que tinham interesse nisto, convenceram os mais fracos, sem defesa mental, de que viver com alegria era errado e que a melancolia deveria ser instaurada na Terra como prova de religiosidade.
Propagar a Morte como purificadora da Vida, este sim é o discurso do Diabo.
A uma Igreja rica e abastada de fato, opunha-se o discurso da miséria como fonte de salvação. E este mantra foi repetido por séculos, num autêntico trabalho de lavagem cerebral. Hoje, toda pessoa próspera materialmente não consegue evitar uma sensação de culpa pela sua felicidade, mesmo que ela seja fruto de seu esforço e trabalho, graças a este demoníaco trabalho de condicionamento secular.
Comenius: Sim, é verdade.
Bernardo: Então, onde está o Mal, senão nos olhos de quem olha? Onde o pecado senão na mente pervertida do ser melancólico? E onde está o Bem verdadeiro, a verdadeira generosidade de espírito, que permite a felicidade e não sente culpa em função disto?
Só nossa consciência pode dizer.
O Relativismo nas noções de Bem e de Mal
O grande erro Agostiniano e de todos que debateram este assunto foi partir da premissa de que existe um Mal definido e um Bem também absoluto, e não pessoas que interpretam fenômenos, ora como bons, ora como maus, de acordo com as circunstâncias e com sua informação sobre o fenômeno. Quando um pai adverte verbalmente um filho para que não incorra em um erro que poderia lhe causar dano ou mesmo a morte, como brincar com um fósforo aceso perto de um bujão de gás, para a criança que não entende o risco que corria aquela advertência é considerada o mal, embora o pai saiba que o faz para o bem e para a segurança de seu filho.
O que é o mal e o que é o bem, senão nomes que damos a situações específicas de acordo com nossa compreensão?
Quando estamos sendo realmente bons ou maus?
Nossa bondade e sinceridade só pode ser avaliada por nós mesmos pois Deus está em nossos corações e nossos corações sabem quais são as nossas reais intenções.
Ninguém pode por fim nos julgar e muito menos nos condenar por nossos atos, pois ao fazê-lo baseia-se em suas próprias noções do que é certo e errado como a criança que julga mal a bronca que leva de seu pai e não o risco de explosão iminente de que seu pai a salvou.
Quem pode julgar a maldade e a bondade de outro coração além do próprio Todo Poderoso?
Sim , existem os crimes contra a sociedade, mas aí não são julgamentos de intenção, mas de conduta. Podemos apenas avaliar o externo e não o interno e por isso, com freqüência, erraremos.
Punir em função daquilo que achamos que é o Mal
Agora veja a Igreja Medieval: como justificar o massacre de pessoas e a destruição de vidas baseando-se numa concepção particular do que seja o Mal? Em vez de combater este Mal, não seria o combate, ele mesmo, uma expressão do Mal em si? Perseguir o “ Diabo”, matando e torturando pessoas, não é em si uma ação do próprio “Diabo”?
Comenius: Tanta maldade em nome da Fé e do Cristo realmente denuncia a contradição entre o discurso e a prática.
Bernardo: De fato. E é nisto que me baseio para afirmar que o Mal , como é chamado, é uma verdade construída, tanto por nosso medo e ignorância, quanto pelos interesses mais nefastos.
No entanto, até este Mal construído tem o seu papel. Ele faz o contraste, de forma que o herói só surge quando surge a Besta.
Não existiria Belerofonte sem a Quimera.
Com a saga e o “conflito”, os contrários não só se movimentam em seu balé cósmico, como todos os componentes complementares à sua volta são por eles arrastados. Movimentação dá origem ao calor e o calor à Vida, pois Vida é Movimento.
Assim, meu bom amigo Comenius, creio haver um papel definido de contraparte naquilo que chamamos de O Mal, o qual recusamos por olharmos com receio e desconforto para os dissabores que são inevitáveis à existência, principalmente aquelas existências desregradas e sem um fundamento espiritual.
Nós,seres humanos, exercemos, é minha crença pessoal, uma influência importante sobre a realidade à nossa volta, com a qualidade que nosso pensamento possua.
Se possuirmos um padrão mental caótico e passional, tudo a nossa volta será caótico e passional e o que chamamos “O Mal” parecerá dominar a cena.
Se, pelo contrário, cultivarmos a disciplina mental e hábitos mentais positivos, se enchermos nosso espírito de beleza e nossa mente do conhecimento dos séculos, o mundo a nossa volta mostrará um sentido de ordem e equilíbrio, onde o que chamamos de “O Mal” fará sua aparição dentro de um contexto muito reduzido. Veremos, com a mente clara e calma, pela qualidade de nossa vida interior, aquilo que chamamos de “O Mal” se desvanecer em acontecimentos absolutamente comuns, sem a gravidade alardeada pelos covardes e pelos passionais.
O medo tudo deforma. O apego tudo dificulta.
Fortalecidos pela educação mental, não seremos corajosos, mas equilibrados, e como espiritualistas, nos educaremos para nos libertar do apego.
Esta é a receita da felicidade.
Comenius: Se temos tanta influência sobre a realidade, então se trabalharmos mentalmente a idéia da existência do Mal estaremos igualmente dando densidade ao Mal em Si?
Bernardo: Brilhante, meu caro, brilhante. Este é o ponto. Tratar o Mal pelo nome de “O Mal”, só dá ao mesmo, mais densidade. É o que Blavatsky chamava de “forma-pensamento” . Chame pelo Diabo várias vezes e se baterem a sua porta, adivinhe quem é?
Assim, o chamado “Combate ao Mal” fortalece imensamente este mesmo pseudo-mal combatido.
Forças antagônicas sempre existirão no Universo.
Dizer que uma é Boa e a outra é Má é primário e infantil. Com certeza civilizações mais avançadas ririam de tal entendimento. Tais forças são apenas complementares, com funções diferentes de como conduzir o Cosmos.
Ambas, entretanto, encontram abrigo em nós , em nossa dualidade íntima.
Afinal, o que chamamos de Mal ?
Três coisas principais: a doença, a dor e a morte que nos vitima e aqueles que amamos.
Três secundárias: Infligir a dor à outros seres vivos, psicológica e/ou física, ou provocar sua morte, em virtude de motivos vis (a inveja, a cobiça, a avareza, luxúria, etc).
Tanto as principais como as secundárias tratam do respeito à vida e da sua preservação, principalmente no sentido físico, seja a nossa ou daqueles que amamos, aos quais estamos emocionalmente ligados.
As principais são vicissitudes decorrentes da natureza da existência, que o tempo e a sabedoria nos faz compreender e aceitar quando inevitáveis.
As secundárias são produto do nível de educação de uma sociedade.
Toda sociedade capaz de desprezar a importância da vida física dá demonstração de pouco desenvolvimento moral e científico.
Portanto, a marca da evolução de um indivíduo é o respeito ao seu corpo e ao corpo do outro, e não só ao seu espírito.
Se este corpo é ilusório, se ele é Maya e na verdade não existe morte, como querem os místicos hindus, não importa.
A intenção de ferir é que denuncia o atraso espiritual e mental.
E o respeito ao corpo começa por nós mesmos, quando perdemos o medo de nossa carne e passamos a nutrir por ela o carinho que Deus tem pela sua criação, seu Universo, que não é outra coisa que seu próprio corpo.
E este carinho só pode vir do Conhecimento.
Todas as vidas são sagradas.
Mesmo os animais e as vidas inferiores são sagrados e o respeito a estas vidas não pode surgir a não ser do aumento do Conhecimento. Só respeitamos o que conhecemos e que, por isso, compreendemos
Só quem conhece e compreende a maravilha da Criação pode respeitá-la. A Ignorância gera o Medo e, como dizia Mestre Yoda, o Medo gera a Raiva e a Raiva gera Violência.
Atacamos o que não faz parte de nosso Universo, o diferente, que em nossa ignorância e primitividade, supomos nos ameaçar.
Na ignorância, somos como crianças que gritam de Terror ao ver pessoas com máscaras de monstros.
Repito, Comenius, com você: a ignorância não é e nunca foi uma bênção.
Veja por exemplo um inseto. Que poder, que complexidade. Mas para entender isto é preciso que sejamos todos entomólogos.
Comenius: Quanto mais você falava, mais eu consolidava esta idéia que você agora conclui: ignorância-medo-violência, aí está a verdadeira tríade do Mal, o verdadeiro Mal.
Bernardo: Sim meu amigo. Estes são os elos desta corrente maligna.
Bernardo: Para todas as pessoas isto causa desconforto, sejamos ou não estudantes de misticismo.
Comenius: É difícil entender que em um Universo regido por Deus estas coisas tenham lugar, e daí tantos eruditos tenham tentado dar uma explicação plausível para a existência deste lado, no mínimo difícil, da existência.
Bernardo: Mas é disto que estamos falando. Do outro lado da criação, da inevitável segunda coluna.
Comenius: Explique.
Bernardo: A criação é dual em essência e trina em manifestação, lembra?
Comenius: Como não.
Bernardo: Portanto, o outro lado, o lado oposto, complementar, é inevitável, e aliás, estratégico.
Comenius: Em que sentido? O mal, no seu ponto de vista, não só é inevitável como necessário?
Bernardo: Sim.
Comenius: Meu Deus, Bernardo, eu vou ter que digerir isto com mais calma.
Bernardo: Não há nada de indigesto nisto. Eu volto ao tema sobre o qual você mesmo discorria.
Comenius: Qual tema?
Bernardo: Da excessiva moralização dos aspectos espirituais. E se a existência fosse como é apenas por uma intercorrência física do mergulho, e não uma conseqüência de uma causa moral? Lembra quando você falava sobre a individualidade e a totalidade?
Comenius: Sim, lembro.
Bernardo: Eu argumentava que o que me incomodava era a construção de uma individualidade e de uma ilusão de separação para depois destruí-la, em busca da identificação com o Absoluto. E você contra-argumentou que não lhe parecia que estivéssemos construindo uma ilusão. Você achava que não poderíamos dar conta deste mergulho nesta densidade sem esta sensação de individualidade. E que você acreditava que tudo não passasse de um fenômeno meramente físico.
Comenius: Sim, foi isso.
Bernardo: Agora eu uso o mesmo raciocínio para falar do que se costuma chamar de “O Mal”. O fato de termos situações ruins e desagradáveis na existência faz parte de uma conspiração de um anjo mau, chamado de Diabo, ou é conseqüência da dualidade inerente à manifestação neste plano mais denso, no qual a característica é a formação de pólos que permitem o dinamismo do fluxo da Vida?
Um único pólo, uma única coluna, seria o mesmo que a morte. Com dois pontos de referência, apenas dois, tudo se movimenta. O contraste cria a perspectiva, a noção de tridimensionalidade, de profundidade. E precisamos de ambos os aspectos, a figura e o fundo. Veja Comenius, precisamos disto.
Comenius: Você não crê que exista o Mal?
Bernardo: Creio que exista o erro Cartesiano e que ele traga reações kármicas, nada mais. Nada disso é mal ou bom, apenas confortável ou desconfortável do ponto de vista psicológico ou físico. As dores, o sofrimento, são os nomes, para ser eufêmico, de experiências extremamente desconfortáveis.
Comenius: A Dor é real para quem a sente.
Bernardo: Com certeza. Isto não quer dizer que Deus a tenha elaborado visando o sofrimento humano.
Lembrando o mergulhador escafandrista, a roupa faz com que o indivíduo dentro dela tenha grande desconforto e dificuldade de locomoção ao se deslocar pelo oceano, mas isto é decorrente de um problema de desenho e não de maldade dos projetistas. Afinal o escafandro tinha a finalidade de proteger o mergulhador da enorme pressão do fundo do oceano,
Comenius: Então a existência de problemas e sofrimentos é apenas uma questão de projeto e circunstancialidades operacionais da criação?
Bernardo: Veja, como você explicaria anos atrás o que estou dizendo agora? Você falaria em problemas da dinâmica de funcionamento do Cosmos ou contaria uma história sobre legiões rebeldes criadas por um ser Perfeito e Onisciente, o que em si já é uma contradição? Estes relatos não resistem ao menor ataque lógico, mas foram úteis, didaticamente, em criar uma tradição espiritual, naquele contexto histórico. Hoje em dia, no entanto, não se sustentam nas próprias pernas e nós, místicos e exegetas, temos ainda que ficar interpretando estas histórias de Mal versus Bem, como se um e outro lado do Universo não fossem, veja bem, absolutamente necessários um ao outro para que a própria criação existisse. Se um dos lados for aniquilado, veja bem, qualquer dos dois, seria o Caos reinstalado, como no princípio, sem distinção, sem contraste , sem troca e movimento entre os pólos.
Comenius: Então não é o objetivo do Bem destruir o Mal?
Bernardo: Na minha opinião, não, Comenius. O que buscamos não é aniquilar o Mal, ou aquilo que chamamos “O Mal”, mas sim harmonizar as duas colunas que nos sustentam, em nós. Uma harmonia dinâmica, mas que não prescinde de nenhum dos dois lados da balança.
Comenius: O Bem não pode destruir o Mal?
Bernardo: Não poderia nem existir sem ele, se é que podemos colocar assim. Pelo menos não na manifestação material. Como o que chamamos Mal também não pode existir sem o Bem. Ambas são realidades independentes e antagônicas, mas, repito, complementares, partes da mesma realidade, como o elétron e o próton que criam a nuvem que costumamos chamar de átomo e que considerávamos, em passado recente, a menor parte da matéria. Por isso eu prefiro as clavículas de Fu-Hi como símbolo do universo do que os símbolos ocidentais estáticos.
Neste maravilhoso símbolo não existe este conflito permanente que permeia a mitologia religiosa ocidental mas o dinamismo e o equilíbrio que não despreza nenhum dos lados e que , até os integra numa única realidade.
Olhe para a Vida: ela existe por causa de seus contrastes, ao contrário do senso comum de que os contrastes são um problema a descaracterizar a existência. Não: toda a existência é dual em essência , diz o axioma, ou seja, é assim que foi imaginada e posta para funcionar. Não é um defeito, é a sua própria forma de ser.
O Homem comum não convive em harmonia com os dois lados. Por isso, sofre. Quer a vida mas não quer sentir dor. Quer a comida, mas não quer plantar ou semear a Terra.
Só que o contraste é inerente à existência.
Embora pareça que o mundo vive um momento único de avanço e civilização, os milhões de famintos e miseráveis nos mostram que não é assim.
Os contrastes permanecem e nunca, veja, nunca deixarão de existir pois é deste estofo que é feita a Criação.
Não é um defeito. É assim que ela é. O que nos obriga a fazer a síntese em nós, o equilíbrio entre os dois aspectos, em nós.
Somos um único indivíduo, embora sejam duas as nossas pernas.
Comenius: Sim, é verdade.
Bernardo: O que nos causa sofrimento é o nosso apego aos valores filosóficos que aprendemos desde criança, os quais nos dizem que devemos ser “apenas” certos, “apenas” dignos e nobres, quando na verdade, somos humanos, duais, falhos, e por causa disto, com muita freqüência, errarmos.
Pensemos criticamente o Bem através do exemplo do sacrifício físico.
O que pensar da bondade e generosidade permanentes que nos leva ao sacrifício, como demonstração de superioridade espiritual?
O que sacrificamos? O corpo, vítima constante de nossas crenças. Eu pergunto: destruir a vida do corpo apenas para demonstrar a fé no espírito é prova de santidade ou de desrespeito a Vida em si, este bem tão precioso, que Deus, em sua sabedoria, dotou de um mecanismo de autopreservação?
Comenius: Mas Bernardo, o sacrifício do santo nada tem a ver com suicídio ou baixa auto estima, ele está ligado a fé.
Bernardo: Que fé é esta que considera descartável o segundo bem mais precioso de nossa existência?
Comenius: Dar a vida por um amigo não lhe parece prova de altruísmo?
Bernardo: Sim, por alguém sim, com certeza, mas fazer isto por uma crença lhe parece adequado? Demonstra superioridade ou uma baixa auto estima?
São posturas.
Comenius: E o que me diz do sacrifício do Cristo?
Bernardo: Este foi um acontecimento triste e vergonhoso, de barbárie e ignorância, e que por isso mesmo, não pode se tornar um modelo de comportamento para aqueles que buscam a santidade como se para se ser santo, verdadeiramente, todos precisassem ser martirizados. O que aliás foi o que aconteceu. O martírio, a auto imolação, foi instaurada , não pelo Cristo, mas pelos Doutores da Igreja, num modus operandi para a santidade. Tornou-se um modelo para todos os seguidores, aprender a morrer. Esta é apenas a parte mais fácil do problema. Eu pergunto, o que é mais importante: aprender a Morrer ou aprender a Viver?
O Cristo foi reproduzido em seu momento de maior sofrimento, ensangüentado e agonizante, na cruz, em toda a parte, numa verdadeira propaganda do sofrimento. Só recentemente, entretanto, vi figuras religiosas que o colocavam à saída de seu túmulo, íntegro, vitorioso sobre a morte, ressurecto. Este momento de vitória sim deveria ser objeto de ênfase, não o outro.
Nenhum educador, nenhum avatar, vem ao mundo para ensinar apenas um dos lados da equação. É nossa deficiência de compreensão que nos leva a valorizar apenas um lado, a Morte e não o outro, a Vida.
Talvez a culpa não esteja no exemplo Cristão, que nem é original, e que repete o modelo Socrático, 400 anos antes, na Grécia.
Veja, quando Sócrates foi condenado, teve chance de escapar e permaneceu na prisão, porque acreditava ser o certo, mesmo que não concordasse com o veredicto.
Já Aristóteles, quando preso, também teve a chance de escapar e o que fez? Escapou, dizendo que não permitiria que se matasse o filósofo duas vezes. Um valorizou sua vida, o outro desprezou-a, não por um amigo ou para salvar outra vida, mas porque não deu valor maior a sua existência do que às normas de uma sociedade tacanha e conservadora que o condenara. Pergunto? Que sentido faz tal comportamento?
Comenius: O ponto é que esses homens levavam tão a sério suas palavras que morrem e morreram por elas.
Bernardo: Esta é uma forma de pensar. Outra é compreender que, para eles, a vida material sempre foi desagradável, triste, melancólica, sem qualquer atrativo.
Portanto, para quem, como Sócrates, viveu sonhando com o mundo das causas primeiras, este mundo de cópias e simulacros nada tinha a oferecer. Para quem está triste em qualquer lugar, a morte pode ser muito atraente. Não é apego à matéria respeitar a vida: é apenas prova de equilíbrio.
Comenius: É um ponto de vista.
Bernardo: Aliás que foi combatido pela Igreja, de forma a validar todos os privilégios de seus sacerdotes ao longo da idade média independente de toda a miséria do mundo.
Nós, seres humanos, somos pródigos em explicações e mestres em justificações, não em fatos. Esta é nossa maldição.
O sacrifício como norma de vida, o desprezo pela vida material, o nojo do corpo, acusado de ser a fonte do mal, são apenas as conseqüências históricas de uma educação sinistra que pregou estes valores por séculos, escudada no discurso religioso, e convenceu milhares de mentes fracas e indefesas de sua veracidade.
Tudo, no fim, resume-se a isto: as mentes mais fortes dominam as mentes mais fracas pela palavra, a verdadeira magia revelada.
A voz que sai de nossa boca, se bem modulada, arrasta multidões, convence milhares de homens e mulheres.
E assim foi.
Muito bem elaborado pelos princípios da lógica, os textos daqueles que tinham interesse nisto, convenceram os mais fracos, sem defesa mental, de que viver com alegria era errado e que a melancolia deveria ser instaurada na Terra como prova de religiosidade.
Propagar a Morte como purificadora da Vida, este sim é o discurso do Diabo.
A uma Igreja rica e abastada de fato, opunha-se o discurso da miséria como fonte de salvação. E este mantra foi repetido por séculos, num autêntico trabalho de lavagem cerebral. Hoje, toda pessoa próspera materialmente não consegue evitar uma sensação de culpa pela sua felicidade, mesmo que ela seja fruto de seu esforço e trabalho, graças a este demoníaco trabalho de condicionamento secular.
Comenius: Sim, é verdade.
Bernardo: Então, onde está o Mal, senão nos olhos de quem olha? Onde o pecado senão na mente pervertida do ser melancólico? E onde está o Bem verdadeiro, a verdadeira generosidade de espírito, que permite a felicidade e não sente culpa em função disto?
Só nossa consciência pode dizer.
O Relativismo nas noções de Bem e de Mal
O grande erro Agostiniano e de todos que debateram este assunto foi partir da premissa de que existe um Mal definido e um Bem também absoluto, e não pessoas que interpretam fenômenos, ora como bons, ora como maus, de acordo com as circunstâncias e com sua informação sobre o fenômeno. Quando um pai adverte verbalmente um filho para que não incorra em um erro que poderia lhe causar dano ou mesmo a morte, como brincar com um fósforo aceso perto de um bujão de gás, para a criança que não entende o risco que corria aquela advertência é considerada o mal, embora o pai saiba que o faz para o bem e para a segurança de seu filho.
O que é o mal e o que é o bem, senão nomes que damos a situações específicas de acordo com nossa compreensão?
Quando estamos sendo realmente bons ou maus?
Nossa bondade e sinceridade só pode ser avaliada por nós mesmos pois Deus está em nossos corações e nossos corações sabem quais são as nossas reais intenções.
Ninguém pode por fim nos julgar e muito menos nos condenar por nossos atos, pois ao fazê-lo baseia-se em suas próprias noções do que é certo e errado como a criança que julga mal a bronca que leva de seu pai e não o risco de explosão iminente de que seu pai a salvou.
Quem pode julgar a maldade e a bondade de outro coração além do próprio Todo Poderoso?
Sim , existem os crimes contra a sociedade, mas aí não são julgamentos de intenção, mas de conduta. Podemos apenas avaliar o externo e não o interno e por isso, com freqüência, erraremos.
Punir em função daquilo que achamos que é o Mal
Agora veja a Igreja Medieval: como justificar o massacre de pessoas e a destruição de vidas baseando-se numa concepção particular do que seja o Mal? Em vez de combater este Mal, não seria o combate, ele mesmo, uma expressão do Mal em si? Perseguir o “ Diabo”, matando e torturando pessoas, não é em si uma ação do próprio “Diabo”?
Comenius: Tanta maldade em nome da Fé e do Cristo realmente denuncia a contradição entre o discurso e a prática.
Bernardo: De fato. E é nisto que me baseio para afirmar que o Mal , como é chamado, é uma verdade construída, tanto por nosso medo e ignorância, quanto pelos interesses mais nefastos.
No entanto, até este Mal construído tem o seu papel. Ele faz o contraste, de forma que o herói só surge quando surge a Besta.
Não existiria Belerofonte sem a Quimera.
Com a saga e o “conflito”, os contrários não só se movimentam em seu balé cósmico, como todos os componentes complementares à sua volta são por eles arrastados. Movimentação dá origem ao calor e o calor à Vida, pois Vida é Movimento.
Assim, meu bom amigo Comenius, creio haver um papel definido de contraparte naquilo que chamamos de O Mal, o qual recusamos por olharmos com receio e desconforto para os dissabores que são inevitáveis à existência, principalmente aquelas existências desregradas e sem um fundamento espiritual.
Nós,seres humanos, exercemos, é minha crença pessoal, uma influência importante sobre a realidade à nossa volta, com a qualidade que nosso pensamento possua.
Se possuirmos um padrão mental caótico e passional, tudo a nossa volta será caótico e passional e o que chamamos “O Mal” parecerá dominar a cena.
Se, pelo contrário, cultivarmos a disciplina mental e hábitos mentais positivos, se enchermos nosso espírito de beleza e nossa mente do conhecimento dos séculos, o mundo a nossa volta mostrará um sentido de ordem e equilíbrio, onde o que chamamos de “O Mal” fará sua aparição dentro de um contexto muito reduzido. Veremos, com a mente clara e calma, pela qualidade de nossa vida interior, aquilo que chamamos de “O Mal” se desvanecer em acontecimentos absolutamente comuns, sem a gravidade alardeada pelos covardes e pelos passionais.
O medo tudo deforma. O apego tudo dificulta.
Fortalecidos pela educação mental, não seremos corajosos, mas equilibrados, e como espiritualistas, nos educaremos para nos libertar do apego.
Esta é a receita da felicidade.
Comenius: Se temos tanta influência sobre a realidade, então se trabalharmos mentalmente a idéia da existência do Mal estaremos igualmente dando densidade ao Mal em Si?
Bernardo: Brilhante, meu caro, brilhante. Este é o ponto. Tratar o Mal pelo nome de “O Mal”, só dá ao mesmo, mais densidade. É o que Blavatsky chamava de “forma-pensamento” . Chame pelo Diabo várias vezes e se baterem a sua porta, adivinhe quem é?
Assim, o chamado “Combate ao Mal” fortalece imensamente este mesmo pseudo-mal combatido.
Forças antagônicas sempre existirão no Universo.
Dizer que uma é Boa e a outra é Má é primário e infantil. Com certeza civilizações mais avançadas ririam de tal entendimento. Tais forças são apenas complementares, com funções diferentes de como conduzir o Cosmos.
Ambas, entretanto, encontram abrigo em nós , em nossa dualidade íntima.
Afinal, o que chamamos de Mal ?
Três coisas principais: a doença, a dor e a morte que nos vitima e aqueles que amamos.
Três secundárias: Infligir a dor à outros seres vivos, psicológica e/ou física, ou provocar sua morte, em virtude de motivos vis (a inveja, a cobiça, a avareza, luxúria, etc).
Tanto as principais como as secundárias tratam do respeito à vida e da sua preservação, principalmente no sentido físico, seja a nossa ou daqueles que amamos, aos quais estamos emocionalmente ligados.
As principais são vicissitudes decorrentes da natureza da existência, que o tempo e a sabedoria nos faz compreender e aceitar quando inevitáveis.
As secundárias são produto do nível de educação de uma sociedade.
Toda sociedade capaz de desprezar a importância da vida física dá demonstração de pouco desenvolvimento moral e científico.
Portanto, a marca da evolução de um indivíduo é o respeito ao seu corpo e ao corpo do outro, e não só ao seu espírito.
Se este corpo é ilusório, se ele é Maya e na verdade não existe morte, como querem os místicos hindus, não importa.
A intenção de ferir é que denuncia o atraso espiritual e mental.
E o respeito ao corpo começa por nós mesmos, quando perdemos o medo de nossa carne e passamos a nutrir por ela o carinho que Deus tem pela sua criação, seu Universo, que não é outra coisa que seu próprio corpo.
E este carinho só pode vir do Conhecimento.
Todas as vidas são sagradas.
Mesmo os animais e as vidas inferiores são sagrados e o respeito a estas vidas não pode surgir a não ser do aumento do Conhecimento. Só respeitamos o que conhecemos e que, por isso, compreendemos
Só quem conhece e compreende a maravilha da Criação pode respeitá-la. A Ignorância gera o Medo e, como dizia Mestre Yoda, o Medo gera a Raiva e a Raiva gera Violência.
Atacamos o que não faz parte de nosso Universo, o diferente, que em nossa ignorância e primitividade, supomos nos ameaçar.
Na ignorância, somos como crianças que gritam de Terror ao ver pessoas com máscaras de monstros.
Repito, Comenius, com você: a ignorância não é e nunca foi uma bênção.
Veja por exemplo um inseto. Que poder, que complexidade. Mas para entender isto é preciso que sejamos todos entomólogos.
Comenius: Quanto mais você falava, mais eu consolidava esta idéia que você agora conclui: ignorância-medo-violência, aí está a verdadeira tríade do Mal, o verdadeiro Mal.
Bernardo: Sim meu amigo. Estes são os elos desta corrente maligna.
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